Capítulo 1 - O Último Conselho
— Você acha que vai demorar muito para sair a sentença? — Clary perguntou.
Ela não tinha ideia de quanto tempo estiveram esperando, mas parecia ter passado umas dez horas. Não havia relógios no extravagante quarto preto e rosa choque de Isabelle, só pilhas de roupas, amontoados de livros, montes de armas, uma caixa de maquiagem transbordando de sombras cintilantes, pincéis usados e gavetas abertas derramando rendas, meias-calças e bons emplumados. Tinha certo padrão estético dos bastidores da Gaiola das Loucas, mas após duas semanas, Clary tinha passado tempo demais entre a bagunça brilhante para começar a achá-la reconfortante.
Isabelle, de pé perto da janela com Church em seus braços, alisava distraidamente a cabeça do gato. Church a observava com sinistros olhos amarelos. Lá fora, uma tempestade de novembro estava em plena formação, a chuva riscando as janelas como tinta clara.
— Não muito — Isabelle respondeu lentamente. Ela não usava nenhuma maquiagem, o que a fazia parecer mais jovem, e seus olhos escuros maiores. — Provavelmente, cinco minutos.
Clary, sentada na cama de Izzy entre uma pilha de revistas e um chacoalhante monte de lâminas serafim, engoliu em seco contra o sabor amargo em sua garganta.
Eu voltarei logo. Cinco minutos. Fora a última coisa que tinha dito ao garoto que amava mais do que qualquer outra coisa no mundo. Agora, ela pensava que essa poderia ser suas últimas palavras para ele.
Clary se lembrava do momento perfeitamente. No jardim da cobertura. A cristalina noite de outubro, as estrelas ardendo em um branco gelo contra o céu negro sem nuvens. As pedras do pavimento manchadas com runas negras, salpicadas com fluído e sangue. A boca de Jace sobre a dela, a única coisa quente em um mundo arrepiante. Apertando o anel Morgenstern em volta do seu pescoço. O amor que move o sol e as outras estrelas. Virando-se para olhar para ele enquanto o elevador a levava embora, sugando-a de volta para as sombras do edifício.
Ela se juntara aos outros no saguão, abraçando sua mãe, Luke, Simon, mas uma parte dela, como sempre, ainda havia ficado com Jace, flutuando sobre a cidade naquela cobertura, os dois sozinhos no frio e na agitada cidade brilhante.
Maryse e Kadir tinham sido os primeiros a entrar no elevador para se juntar a Jace na cobertura e ver o que sobrara do ritual de Lilith. Passaram-se mais dez minutos antes que Maryse retornasse sozinha. Quando as portas se abriram e Clary avistara a face dela – branca, rígida e frenética – ela soube.
O que havia acontecido em seguida foi como um sonho. A multidão de Caçadores de Sombras no saguão havia se precipitado em direção a Maryse; Alec se afastou de Magnus e Isabelle saltou de pé. Rajadas brancas de luz cortaram através da escuridão, como explosões suaves de flashes de câmera na cena de um crime enquanto, uma após outra, lâminas serafim iluminavam as sombras.
Abrindo caminho a frente, Clary ouviu a história em pedaços isolados – o jardim da cobertura estava vazio; Jace se fora. O caixão de vidro que continha Sebastian havia sido arrebentado; vidro repousava em toda parte em fragmentos. Sangue, ainda fresco, pingava do pedestal onde o caixão esteve.
Os Caçadores de Sombras estavam fazendo planos rapidamente para espalharem-se em um raio e fazer busca na área ao redor do edifício. Magnus estava lá, suas mãos soltando faíscas azuis, virando-se para Clary para perguntar se ela tinha algo de Jace para que pudessem rastreá-lo. Entorpecida, deu a ele o anel Morgenstern e se retirou para um canto para ligar para Simon. Ela só havia aproximado o telefone quando a voz de um Caçador de Sombras soou acima do resto.
— Rastrear? Isso apenas funcionará se ele estiver ainda vivo. Com todo aquele sangue não é muito provável...
De alguma forma, foi a última gota. Hipotermia prolongada, exaustão e o choque tomaram conta, e ela sentiu os joelhos cederem. Sua mãe a segurou antes que acertasse o chão. Houve um borrão escuro após isso. Clary acordou na manhã seguinte em sua cama na casa de Luke, sentando-se ereta com seu coração batendo forte, certa de que fora tudo um pesadelo.
Enquanto ela lutava para sair da cama, os hematomas se desvanecendo em seus braços e pernas contavam uma história diferente, bem como a falta de seu anel. Vestindo-se com um jeans e um agasalho, ela cambaleou para fora do quarto para encontrar Jocelyn, Luke e Simon sentados com expressões sombrias em seus rostos. Ela nem mesmo precisava perguntar, mas o fez de qualquer modo.
— Eles o acharam? Ele está de volta?
Jocelyn se levantou.
— Querida, ele ainda está desaparecido...
— Mas não morto? Eles não encontraram um corpo? — Ela desmoronou no sofá junto a Simon. — Não... ele não está morto. Eu saberia.
Ela lembrou de Simon segurar suas mãos enquanto Luke contava o que sabiam: que Jace ainda estava desaparecido, e Sebastian também. A notícia ruim é que o sangue no pedestal havia sido identificado como o de Jace. A notícia boa era que havia menos do que haviam pensado; o sangue estava misturado com a água do caixão para dar a impressão de um grande volume. Agora pensavam que era bem possível que Jace tivesse sobrevivido ao acontecido.
— Mas o que aconteceu? — ela exigiu.
Luke balançou a cabeça, seus olhos azuis sombrios.
— Ninguém sabe, Clary.
As veias dela pareciam como se seu próprio sangue tivesse sido substituído por água gelada.
— Eu quero ajudar. Quero fazer algo. Não quero apenas ficar sentada aqui enquanto Jace está desaparecido.
— Eu não me preocuparia com isso — Jocelyn disse sinistramente — a Clave quer vê-la.
O gelo invisível rachou nas juntas e tendões de Clary enquanto ela se levantava.
— Ótimo. Tanto faz. Eu direi qualquer coisa que queiram se encontrarem Jace.
— Você dirá qualquer coisa que queiram por que eles têm a Espada Mortal — havia desespero na voz de Jocelyn — ah, querida, eu lamento tanto.
E agora, depois de duas semanas de um repetitivo testemunho, depois de dezenas de testemunhas terem sido chamadas, depois que ela havia segurado a Espada Mortal uma dúzia de vezes, Clary ficava no quarto de Isabelle e esperava que o Conselho decidisse seu destino. Ela não podia se impedir de lembrar como havia sido segurar a Espada Mortal. Era como minúsculos anzóis encravados em sua pele, puxando a verdade para fora dela. Ela havia se ajoelhado, segurando-a no círculo das Estrelas Falantes e havia escutado sua própria voz contando tudo ao Conselho: como Valentim invocou o Anjo Raziel, e como ela teve o poder de controlar o Anjo apagando o nome de Valentim na areia e escrevendo o dela no lugar. Contou a eles que o Anjo tinha-lhe oferecido um desejo, e ela o usou para ressuscitar Jace. Contou a maneira que Lilith havia possuído Jace e tinha planejado usar o sangue de Simon para ressuscitar Sebastian, o irmão de Clary, a quem Lilith considerava como um filho. Explicou sobre a Marca de Caim de Simon, que havia acabado com Lilith e que eles pensaram que Sebastian havia sido destruído também, não sendo mais uma ameaça.
Clary suspirou e abriu seu celular para checar a hora.
— Eles já estão lá há uma hora. Isso é normal? É um mau sinal?
Isabelle largou Church, que soltou um miado. Ela veio para a cama e se sentou ao lado de Clary. Isabelle parecia mais esguia do que o costume – como Clary, ela havia perdido peso nas últimas duas semanas – mas estava elegante como sempre, em calças cigarretes pretas e uma regata de veludo. Rímel manchava os olhos de Izzy, o que deveria fazê-la parecer com um guaxinim, mas apenas a deixava como uma estrela de filme francês. Ela esticou os braços e seus braceletes de electrum com runas retiniram musicalmente.
— Não, não é um mau sinal. Apenas significa que eles têm muito a discutir — ela girou o anel Lightwood em seu dedo — você ficará bem. Você não quebrou a Lei. Essa é a coisa importante.
Clary suspirou. Mesmo o calor do ombro de Isabelle ao lado do dela não podia derreter o gelo em suas veias. Ela sabia que, tecnicamente, não havia quebrado a lei, mas também sabia que a Clave estava furiosa com ela. Era ilegal para um Caçador de Sombras ressuscitar os mortos, mas não era o Anjo fazê-lo. Porém, era uma coisa enorme o que ela havia feito ao pedir a vida de Jace de volta e Jace concordado em não contar a ninguém sobre isso.
Agora que fora revelado, havia balançado a Clave. Clary sabia que eles queriam puni-la, mesmo porque, sua escolha teve tais consequências desastrosas. De algum modo, ela desejou que a punissem. Quebrar seus ossos, arrancar suas unhas, deixar os Irmãos do Silêncio escavar através de seu cérebro com seus pensamentos afiados. Uma espécie de barganha do diabo – sua própria dor pelo retorno seguro de Jace. Diminuiria o seu sentimento de culpa por ter deixado Jace para trás naquela cobertura, embora Isabelle e os outros houvessem dito a ela umas cem vezes que estava sendo ridícula – que todos pensaram que Jace estava completamente seguro ali, e que se Clary tivesse ficado, provavelmente estaria desaparecida também.
— Pare com isso — Isabelle disse.
Por um momento, Clary não teve certeza se Isabelle estava falando com ela ou com o gato. Church estava fazendo o que sempre fazia quando largado – estava deitado de costas com as quatro patas no ar, fingindo estar morto para dispor culpa em seus donos.
Então Isabelle colocou o seu cabelo de lado, encarando, e Clary percebeu que ela era quem estava sendo repreendida, não o gato.
— Parar com o quê?
— De pensar morbidamente sobre todas as coisas horríveis que vão te acontecer, ou o que você deseja que acontecesse, porque está viva e Jace está... desaparecido.
A voz de Isabelle saltou, como um disco pulando uma ranhura. Ela nunca falou de Jace como se estivesse morto ou mesmo desaparecido – ela e Alec se recusavam a aceitar a possibilidade. E Isabelle nunca reprovou Clary por manter aquele imenso segredo ou por ter feito algo que os tinha levado, mesmo se querer, ao lugar onde estavam agora.
Durante todo o tempo, de fato, Isabelle tinha sido sua leal defensora. Ao encontrar-se com ela todos os dias à porta do Salão do Conselho, ela tinha apoiado Clary firmemente em seus braços enquanto marchavam firmemente passando por grupos murmurantes de Caçadores de Sombras encarando-a. Isabelle tinha esperado por interrogatórios infindáveis, atirando olhares afiados a qualquer um que ousasse olhar de lado para Clary.
Clary tinha ficado atônita. Ela e Isabelle nunca foram muito próximas, ambas sendo do tipo de garota que estavam mais confortáveis com meninos do que outra companhia feminina. Mas Isabelle não a deixou. Clary estava tão confusa quanto grata.
— Não posso impedir — Clary respondeu — se me permitissem patrulhar... se me permitissem fazer qualquer coisa, acho que não estaria tão mal.
— Não sei.
Isabelle soava cansada. Pelas últimas duas semanas, ela e Alec ficaram exaustos e desgastados pelas dezesseis horas de patrulha e buscas. Quando Clary tinha descoberto que fora banida da busca por Jace até que o Conselho decidisse o que fazer sobre o fato de que ela o tinha trazido de volta dos mortos, ela tinha aberto um buraco na porta de seu quarto com um chute.
—Algumas vezes parece tão inútil — Isabelle adicionou.
Os ossos de Clary gelaram de cima a baixo.
— Você quer dizer que acha que ele está morto?
—Não, eu não é isso. Quero dizer que não há como ele ainda estar em Nova York.
— Mas eles estão patrulhando outras cidades, certo?
Clary colocou a mão na garganta, esquecendo-se que o anel Morgentern não estava mais pendurado lá. Magnus ainda estava tentando rastrear Jace, embora não tenha funcionado.
—É claro que eles estão — Isabelle ergueu a mão curiosamente e tocou o delicado sino de prata que se pendurava no pescoço de Clary agora, no lugar do anel. — O que é isso?
Clary hesitou. O sino tinha sido um presente da Rainha Seelie. Não, isso não estava certo. A rainha das fadas não dava presentes. Um toque do sino significaria um sinal para a Rainha Seelie que Clary queria a ajuda dela. Clary descobriu sua mão pairando nele cada vez mais frequentemente enquanto os dias se arrastavam sem sinal de Jace. A única coisa que parava Clary era o conhecimento de que a Rainha Seelie nunca dava nada sem esperar algo terrível em troca.
Antes que Clary pudesse responder, a porta se abriu. Ambas as garotas se sentaram eretas, Clary agarrando um dos travesseiros rosa de Izzy tão forte que as miçangas escavaram a pele de sua palma.
— Ei.
Uma figura esbelta entrou no quarto e fechou a porta. Alec, o irmão mais velho de Isabelle, estava usando vestes do Conselho – um robe preto enfeitado com runas prateadas, agora aberto sobre o jeans e uma camiseta de mangas longas preta. Todo aquele preto fazia sua pele pálida parecer mais pálida, seus olhos azuis cristalinos mais azuis. Seu cabelo era preto e liso como o da irmã, porém mais curto, cortado um pouco acima da linha do queixo. Sua boca estava apertada em uma linha fina.
O coração de Clary começou a martelar. Alec não parecia feliz. Qualquer que fossem as notícias, elas não poderiam ser boas.
Foi Isabelle quem falou.
— Como foi? — perguntou ela. — Qual é a sentença?
Alec se sentou à penteadeira, balançando-se em volta da cadeira para encarar Izzy e Clary por sobre as costas da cadeira. Noutro tempo isso teria sido cômico – Alec era muito alto, com longas pernas de um dançarino, e o modo como ele se dobrava desajeitadamente em volta da cadeira a fazia parecer um móvel de uma casa de bonecas.
— Clary — ele disse — Jia Penhallow entregou o veredicto. Você está livre de qualquer delito. Não quebrou nenhuma lei, e Jia acha que você já foi punida o suficiente.
Isabelle exalou uma respiração audível e sorriu. Por um momento, uma sensação de alívio quebrou a fina camada de gelo sobre todas as emoções de Clary. Ela não ia ser punida, trancada na Cidade do Silêncio, presa em algum lugar onde não poderia ajudar Jace. Luke, o representante dos lobisomens no Conselho, esteve presente no veredito e tinha prometido avisar Jocelyn tão logo o encontro terminasse, mas Clary mesmo assim buscou seu celular; a perspectiva de dar boas notícias a sua mãe era uma mudança muito tentadora.
— Clary — Alec disse enquanto ela abria seu telefone — espere.
Ela olhou para ele. Apesar das boas noticias, a expressão dele era ainda tão séria quanto de um coveiro. Com um súbito senso de presságio, Clary colocou seu celular de volta na cama.
— Alec... o que é?
— Não foi a sua sentença que fez o Conselho demorar — Alec contou —houve outro assunto sob discussão.
O gelo estava de volta. Clary estremeceu.
— Jace?
— Não exatamente — Alec se inclinou a frente, dobrando suas mãos nas costas da cadeira — um relatório chegou mais cedo esta manhã do Instituto de Moscou. As barreiras da Ilha Wrangel foram destruídas ontem. Eles enviaram um grupo de reparos, mas ter tais barreiras importantes caídas por tanto tempo é a prioridade do Conselho.
Barreiras – que ao entender de Clary, serviam como um tipo de sistema de defesa mágico – cercavam a Terra, colocadas lá pela primeira geração de Caçadores de Sombras. Elas afastavam demônios, mas não facilmente, e mantinha a vasta maioria deles para fora, prevenindo o mundo de ser inundado por uma massiva invasão de demônios. Ela se lembrou de algo que Jace disse para ela, que pareceu ser anos atrás: costumava ser apenas pequenas invasões de demônio neste mundo, facilmente contidas. Mas, mesmo em minha época, mais e mais deles têm se espalhado através das barreiras.
— Bem, isso é ruim — Clary disse — mas não vejo o que isso tem haver com...
— A Clave tem suas prioridades — Alec interrompeu — procurar por Jace e Sebastian tem sido a maior prioridade nas últimas duas semanas. Mas eles exploraram tudo, e não há sinal de qualquer um deles em nenhum local do assombrado Território do Submundo. Nenhum feitiço de rastreamento de Magnus tem funcionado. Elodie, a mulher que criou o verdadeiro Sebastian Verlac, confirmou que ninguém tentou entrar em contato com ela. Aliás, isso foi o suficiente. Nenhum espião reportou qualquer atividade incomum entre os conhecidos membros do antigo Círculo de Valentim. E os Irmãos do Silêncio não foram capazes de descobrir exatamente qual ritual Lilith queria fazer, ou se ele teve êxito. O consenso geral é que Sebastian – é claro, eles o chamaram de Jonathan quando falaram sobre ele – sequestrou Jace, mas isso não é nada que não saibamos.
— Daí? — Isabelle perguntou. — O que isso significa? Mais buscas? Mais patrulhamento?
Alec sacudiu a cabeça.
— Não há discussão sobre aumento de buscas — ele respondeu com calma — não estão mais priorizando isso. Já faz duas semanas e não descobriram nada. Os grupos trazidos de Idris especialmente para a função estão sendo enviados de volta. A situação com a barreira é prioridade agora. Sem mencionar que o Conselho está no meio de delicadas negociações, atualizando as leis para permitir a nova composição do Conselho, nomeando um novo Cônsul e Inquisidor, determinando um tratamento diferente para os Seres do Submundo – eles não querem ser deixados completamente de fora.
Clary o fitou.
— Eles não querem que o desaparecimento de Jace os afaste da mudança de um bando de leis antigas estúpidas? Eles estão desistindo?
— Eles não estão desistindo...
— Alec — Isabelle disse agudamente.
Alec tomou fôlego e ergueu as mãos para cobrir o rosto. Ele tinha dedos longos, como os de Jace, cicatrizados tal qual os de Jace também. O olho, a marca dos Caçadores de Sombras, estava nas costas da sua mão direita.
— Clary, para você – para nós – será sempre a procura por Jace. Para a Clave, é a busca por Sebastian. Jace também, mas principalmente Sebastian. Ele é o perigo. Ele destruiu as barreiras de Alicante. É um assassino em massa. Jace é...
— Só outro Caçador de Sombras — Isabelle completou — nós morremos e desaparecemos o tempo todo.
— Ele tem algo a mais por ser um herói da Guerra Mortal — Alec continuou — mas, no fim a Clave foi clara: a procura será mantida, mas agora é apenas um jogo de espera. Eles esperam que Sebastian faça um novo movimento. Neste ínterim, essa é a terceira prioridade da Clave. Esperam que voltemos à vida normal.
— Vida normal? — Clary não podia acreditar. Uma vida normal sem Jace?
— Foi o que eles nos disseram quando Max morreu — Izzy disse, seus olhos negros sem lágrimas, queimando com fúria — que nós superaríamos nossa dor mais rápido se voltássemos à nossa vida normal.
— Era para ser um bom conselho — Alec disse por trás de seus dedos.
— Diga isso a papai. Ele nem sequer voltou de Idris para o encontro?
Alec sacudiu a cabeça, deixando suas mãos caírem.
— Não. Se serve de consolação, houve um bando de gente na reunião falando com raiva, no intuito de manter a procura por Jace com força total. Magnus, obviamente, Luke, a Cônsul Penhallow, até mesmo o Irmão Zacarias. Mas, no fim do dia, não foi o suficiente.
Clary olhou para ele firmemente.
— Alec. Você não sente nada?
Os olhos de Alec alargaram, seu azul escurecendo, e por um momento, Clary se lembrou do garoto que a tinha odiado quando ela chegou pela primeira vez no Instituto, o garoto com unhas roídas, furos em seus casacos e um senso de inferioridade impossível.
— Eu sei que você está chateada, Clary — ele falou , sua voz aguda —mas se está sugerindo que Izzy e eu nos importamos menos com Jace do que você...
— Não estou. Estou falando de sua conexão de parabatai. Eu estava lendo sobre a cerimônia no Codex. Eu sei dos laços de parabatai de vocês dois. Você pode sentir coisas sobre Jace. Coisas que ajudarão quando estão lutando. Então acho que quero dizer... você pode sentir se ele ainda está vivo?
— Clary — Isabelle soou preocupada — pensei que você não...
— Ele está vivo — Alec respondeu, cautelosamente — você acha que eu estaria bem se ele não estivesse vivo? Há com certeza algo errado. Posso sentir. Mas ele ainda está respirando.
— A coisa “errada” pode ser Jace sendo mantido como prisioneiro? — Clary perguntou em voz esganiçada.
Alec olhou em direção à janela, o céu cinza de chuva.
— Talvez. Eu não posso explicar. Nunca senti nada como isso antes.
— Mas ele está vivo.
Alec olhou diretamente para elas.
— Tenho certeza disso.
— Então dane-se o Conselho. Nós mesmos o encontraremos — Clary disse.
— Clary... se isso fosse possível... você não acha que nós já teríamos — Alec começou.
— Nós estávamos fazendo o que a Clave esperava que fizéssemos antes — Isabelle apontou — patrulhas, buscas. Há outros meios.
— Meios que quebram a Lei, você quer dizer — Alec traduziu.
Ele soou hesitante. Clary esperava que ele não fosse repetir o lema dos Caçadores de Sombras quando tinha a ver com a Lei. Sed lex, dura lex. A lei é dura, mas é a lei. Ela não achou que podia suportar.
— A Rainha Seelie me ofereceu um favor — Clary contou — na festa de fogos em Idris — a lembrança daquela noite, como ela tinha estado feliz, fez se coração contrair por um momento, e ela teve que parar e recuperar seu fôlego — e um modo para contatá-la.
— A Rainha do Povo das Fadas não dá nada de graça.
— Eu sei disso. Eu tomarei qualquer débito em meus ombros.
Clary se lembrou das palavras da garota fada que tinha estendido a ela o sino. Você faria qualquer coisa para salvá-lo, custe o que custar, não é mesmo?
— Eu só quero que um de vocês venha comigo. Não sou boa em traduzir língua de fadas. Pelo menos se vocês estiverem comigo, poderão limitar qualquer dano que for. Mas se não houver nada que ela possa fazer...
— Eu vou com você — Isabelle disse imediatamente.
Alec olhou para sua irmã sombriamente.
— Nós já falamos com o Povo das Fadas. O Conselho os questionou exaustivamente. E eles não podem mentir.
— O Conselho perguntou se sabiam onde Jace e Sebastian estavam — Clary rebateu — não se estariam dispostos a procurar por eles. A Rainha Seelie sabia sobre meu pai, sabia sobre o anjo invocado e capturado, sabia a verdade sobre meu sangue e o de Jace. Acho que não há muito neste mundo que ela não saiba.
— É verdade — Isabelle concordou, um pouco de animação entrando em sua voz — eu sei que você tem que perguntar às fadas a coisa exata para conseguir informação útil deles, Alec. Eles são difíceis de questionar, mesmo se tem que dizer a verdade. Um favor, entretanto, é diferente.
— E seu potencial para o perigo é literalmente ilimitado — Alec replicou — se Jace soubesse que eu deixei Clary ir até a Rainha Seelie, ele iria...
— Não me importo — Clary interrompeu — ele o faria por mim. Diga que ele não faria. Se eu estivesse desaparecida...
— Ele poria o mundo todo abaixo até que pudesse arrancar você das cinzas, eu sei — Alec disse, soando exausto — Inferno, você acha que eu não quero por o mundo abaixo agora mesmo? Eu só estou tentando ser...
— Um irmão mais velho — Isabelle sugeriu — saquei.
Alec pareceu como se estivesse lutando para se controlar.
— Se algo acontecer a você, Isabelle, depois de Max, e Jace...
Izzy ficou de pé, cruzou o quarto e colocou seus braços ao redor de Alec. Seus cabelos negros, precisamente da mesma cor, estavam misturados juntos enquanto Isabelle sussurrava algo no ouvido de seu irmão.
Clary os observou com um pouco de inveja. Ela sempre tinha desejado um irmão. E tinha um agora, Sebastian. Era como esperar ter um filhotinho de animal de estimação e, ao invés disso receber um cão infernal. Ela observou Alec puxar o cabelo de sua irmã, carinhosamente, acenar e soltá-la.
— Devemos todos ir — ele falou — mas tenho que dizer a Magnus, pelo menos, o que estamos fazendo. Não seria justo não fazê-lo.
— Você quer usar meu telefone? — Isabelle perguntou, oferecendo um descuidado objeto rosa para ele.
Alec sacudiu sua cabeça.
— Ele está esperando lá embaixo com os outros. Você tem que dar a Luke também algum tipo de satisfação, Clary. Tenho certeza que ele está esperando que você vá para casa com ele. E ele disse que sua mãe tem estado bastante cansada sobre essa coisa toda.
— Ela se culpa pela existência de Sebastian — Clary ficou de pé — mesmo que pensasse que ele estivesse morto depois de todos aqueles anos.
— Não é culpa dela — Isabelle puxou seu chicote dourado de onde estava pendurado na parede e o envolveu ao redor de seu pulso, fazendo parecer uma cascata de braceletes brilhantes — ninguém a culpa.
— Isso nunca importa — Alec apontou — não quando você culpa a si mesmo.
Em silêncio, os três fizeram seu caminho através dos corredores do Instituto, estranhamente abarrotado de Caçadores de Sombras, alguns dos quais eram parte da comissão especial que tinha sido enviada de Idris para lidar com a situação. Nenhum deles olhou realmente para Isabelle, Alec ou Clary com muita curiosidade.
Inicialmente, Clary sentiu como se estivesse sendo observada – tinha ouvido palavras sussurradas “filha de Valentim” tantas vezes que começou a temer vir para o Instituto, mas ficou a frente do Conselho vezes o suficiente agora que a novidade tinha se desgastado.
Eles tomaram o elevador no térreo. A nave do Instituto estava iluminada com luz de bruxa, as costumeiras velas e estava preenchida com membros do Conselho e suas famílias. Luke e Magnus estavam sentados em um banco, conversando entre si. Ao lado de Luke estava uma mulher alta de olhos azuis que parecia com ele. Ela tinha cacheado seu cabelo e tingido-o castanho grisalho, mas Clary ainda a reconhecia – a irmã de Luke, Amatis.
Magnus se levantou com a visão de Alec e veio falar com ele. Izzy pareceu reconhecer alguém do outro lado dos bancos e se lançou em seu jeito costumeiro, sem parar para dizer onde estava indo. Clary foi cumprimentar Luke e Amatis. Ambos pareciam cansados, e Amatis estava dando tapinhas no ombro de Luke com simpatia.
Luke ficou de pé e abraçou Clary quando a viu. Amatis a cumprimentou por ter sido inocentada pelo Conselho, e a menina acenou. Ela sentia que não prestava sua inteira atenção, a maior parte estava entorpecida e o resto respondendo no piloto automático.
Podia ver Magnus e Alec pelo canto do olho. Eles estavam conversando, Alec se inclinando para perto de Magnus, do modo que casais frequentemente pareciam se curvar um sobre o outro quando conversavam em seu próprio universo. Estava feliz por vê-los felizes, mas doía também. Ela se perguntava se teria aquilo de novo, ou mesmo se queria de novo. Se lembrou da voz de Jace: Eu não quero mais ninguém além de você.
— Terra para Clary — Luke chamou — você quer ir para casa? Sua mãe está louca para vê-la, e ela adoraria pôr as coisas em dia com Amatis antes que ela volte para Idris amanhã. Pensei que poderíamos jantar. Você escolhe o restaurante.
Ele estava tentando esconder a preocupação em sua voz, mas Clary podia ouvi-la. Esteve comendo muito pouco ultimamente, e suas roupas tinham começado a se pendurar mais frouxas em sua estrutura.
— Eu realmente não sinto vontade de celebrar — ela respondeu — não com o Conselho não priorizando a busca por Jace.
— Clary, isso não significa que eles vão parar de procurar — Luke disse.
— Eu sei. É só que... é como quando eles dizem que uma missão de resgate é agora uma busca por corpos. É como soa — ela engoliu em seco — além do mais, eu estava pensando em sair para jantar no Taki‘s com Isabelle e Alec. Só... para fazer algo normal.
Amatis perscrutou em direção a porta.
— Está chovendo bem forte lá fora.
Clary sentiu seus lábios esticarem em um sorriso. Ela se perguntou se parecia tão falso quanto sentia.
— Eu não vou derreter.
Luke dobrou um pouco de dinheiro na mão dela, claramente aliviado por ela estar fazendo algo normal como sair com amigos.
— Só prometa comer algo.
— Ok.
Através da ponta de culpa, ela conseguiu dar um meio sorriso verdadeiro para ele antes de se afastar.
***
Magnus e Alec não estavam mais no mesmo lugar que há um instante atrás. Olhando ao redor, ela viu o familiar cabelo longo e preto de Izzy através da multidão. Estava de pé nas largas portas duplas do Instituto, falando com alguém que ela não podia ver.
Clary foi na direção de Isabelle, e enquanto se aproximava, reconheceu alguém do grupo com um leve choque de surpresa: Aline Penhallow. Seu brilhante cabelo negro fora cortado refinadamente um pouco acima dos ombros. Em pé, perto de Aline, estava uma garota esguia com cabelos branco dourados que se enrolava em cachos puxado para trás de seu rosto, mostrando suas orelhas que eram levemente pontiagudas. Ela usava as vestes do Conselho, e enquanto Clary se aproximava, percebeu que os olhos da garota brilhavam num incomum azul esverdeado, um tom que fez os dedos de Clary ansiarem por seus lápis coloridos pela primeira vez em duas semanas.
— Deve ser estranho sua mãe ser a nova Consulesa — Isabelle estava dizendo a Aline enquanto Clary se juntava a elas — não que Jia não seja muito melhor que... hey, Clary. Aline, você se lembra da Clary.
As duas garotas trocaram acenos. Clary uma vez surpreendeu Aline beijando Jace. Tinha sido horrível, mas a lembrança guardada não doía agora. Ela ficaria aliviada ao ver Jace beijando alguém agora. Pelo menos significaria que ele estava vivo.
— E esta é a namorada de Aline, Helen Blackthorn — Isabelle apresentou com uma forte ênfase.
Clary atirou um olhar para ela. Isabelle achava que ela era idiota? Além do mais, ela se lembrou de Aline dizendo que tinha beijado Jace apenas como uma experiência para ver se algum cara era do seu tipo. Aparentemente, a resposta tinha sido não.
— A família de Helen dirige o Instituto de Los Angeles. Helen, esta é Clary Fray.
— A filha de Valentim — Helen observou. Ela pareceu surpresa e um pouco impressionada.
Clary piscou.
— Eu tento não pensar muito sobre isso.
— Desculpe, posso ver o porquê você não o faria — Helen enrubesceu — a propósito, eu votei no Conselho para manter a prioridade na busca por Jace. Lamento por sermos indeferidos.
— Obrigada. — sem esperar mais, Clary se virou para Aline — parabéns por sua mãe ganhar o título de Consulesa. Deve ser muito excitante.
Aline deu de ombros.
— Ela está mais ocupada agora — mudou sua atenção para Isabelle — você sabia que seu pai deu o nome dele para a posição de Inquisidor?
Clary sentiu Isabelle ficar ereta ao seu lado.
— Não. Não, eu não sabia disso.
— Eu fiquei surpresa — Aline adicionou — pensei que ele estava bastante comprometido em dirigir o Instituto daqui — ela se interrompeu, olhando além de Clary — Helen, acho que seu irmão está tentando fazer a maior poça de cera derretida do mundo ali. Você devia querer pará-lo.
Helen soltou um suspiro exasperado, murmurando algo sobre garotos de doze anos, e desapareceu no meio da multidão, enquanto Alec abria caminho à frente. Ele cumprimentou Aline com um abraço – Clary se esquecia, às vezes, que os Penhallow e os Lightwood eram amigos há muito – e olhou para Helen na multidão.
— Essa é sua namorada?
Aline acenou.
— Helen Blackthorn.
— Ouvi dizer que há um pouco de sangue de fada nessa família — Alec comentou.
Ah, Clary pensou. Isso explica as orelhas pontudas. Sangue nephilim era dominante, e a criança de uma fada e um Caçador de Sombras seria um Caçador de Sombras também, mas algumas vezes o sangue de fada podia se mostrar de estranhos modos, mesmo após gerações.
— Um pouco — Aline respondeu — olha, eu queria te agradecer.
Alec pareceu honestamente aturdido.
— Pelo quê?
— O que você fez no Salão dos Acordos. Beijar Magnus daquele jeito. Isso me deu o empurrão que eu precisava para contar aos meus pais... para me abrir com eles. E se eu não tivesse feito isso, não acho que, quando conheci Helen, eu teria tido coragem de dizer alguma coisa.
— Oh — Alec pareceu surpreso, como se nunca tivesse considerado que o impacto de suas ações poderia ecoar em alguém fora de sua família — e seus pais... eles estão bem quanto a isso?
Aline revirou os olhos.
— Eles estão meio que ignorando, como se isso pudesse ir embora se eles não falarem sobre. — Clary se lembrou do que Isabelle tinha dito sobre a atitude da Clave em relação a membros gays; Se acontece, você não fala sobre isso. — Mas poderia ser pior.
— Definitivamente, poderia ser pior — Alec concordou, e havia um tom sombrio em sua voz que fez Clary olhar para ele bruscamente.
O rosto de Aline se derreteu em um olhar de simpatia.
— Lamento se seus pais não estão...
— Eles estão bem com isso — Isabelle interrompeu um pouco bruscamente demais.
— Bem, de qualquer forma, eu não devia ter falado qualquer coisa agora. Não com Jace desaparecido. Vocês todos devem estar muito preocupados — ela tomou um profundo fôlego — conheço pessoas que provavelmente tem falado todo tipo de coisas estúpidas para vocês, do modo que fazem quando realmente não sabem o que dizer. Eu só... eu queria te dizer algo — ela se afastou de um transeunte com impaciência e se aproximou dos Lightwood e de Clary, baixando sua voz. — Alec, Izzy... lembro de uma vez quando vocês vieram nos ver em Idris. Eu tinha treze e Jace tinha... acho que tinha doze. Ele queria ver a floresta Brocelind, então pegamos emprestado alguns cavalos e fomos lá um dia. É claro, nós nos perdemos. A impenetrável Brocelind. Ficou mais escuro e o bosque mais denso, eu estava aterrorizada. Pensei que morreríamos lá. Mas Jace nunca ficou assustado. Ele nos tirou de lá. Eu fiquei tão grata, mas ele apenas olhou para mim como se fosse louca. Falhar não era uma opção. Eu só estou dizendo... ele descobrirá um meio de voltar para vocês. Eu sei disso.
Clary nunca tinha visto Izzy chorar, e ela estava claramente tentando não o fazer agora. Seus olhos estavam suspeitamente grandes e brilhantes. Alec estava olhando para seus sapatos. Clary sentiu uma onda de tristeza querendo saltar dentro dela, mas a forçou para baixo. Não conseguia pensar em Jace quando tinha doze anos, não podia pensar nele perdido na escuridão, ou ela pensaria sobre ele agora, perdido em algum lugar, preso em algum lugar, precisando de sua ajuda, esperando por ela, e ela quebraria.
— Aline — Clary respondeu vendo que nem Isabelle, nem Alec podiam falar — obrigada.
Aline deu um sorriso tímido.
— É sério.
— Aline!
Era Helen, sua mão fechada firmemente ao redor do pulso de um garoto cujas mãos estavam cobertas de cera azul. Ele devia estar brincando com os funis dos imensos candelabros que decoravam as laterais da nave. Parecia ter cerca de doze anos, com um sorriso travesso e os mesmos chocantes olhos azuis esverdeados de sua irmã, embora seu cabelo fosse castanho escuro.
— Voltamos. Provavelmente devíamos ir antes que Jules destrua o lugar todo. Sem mencionar que eu não tenho ideia de onde se meteram Tibs e Livvy.
— Eles estavam comendo cera — o garoto, Jules, prestativamente forneceu.
— Oh, Deus — Helen gemeu, e então olhou se desculpando — não se preocupem comigo. Tenho seis irmãos mais novos e um mais velho. É sempre um zoológico.
Jules olhou de Alec para Isabelle e então para Clary.
— Quantos irmãos e irmãs vocês tem? — ele perguntou.
Helen empalideceu.
Isabelle respondeu em uma voz consideravelmente estável:
— Há três de nós.
Os olhos de Jules focaram em Clary.
— Vocês não se parecem.
— Não tenho laços de sangue com eles — Clary explicou — não tenho irmãos.
— Nenhum? — Descrença registrava o tom do menino, como se ela tivesse dito a ele que tinha os pés grudados. — É por isso que você parece tão triste?
Clary pensou em Sebastian, com seu cabelo branco gelo e olhos negros. Se apenas, ela pensou, se apenas eu não tivesse um irmão, nada disso teria acontecido. Um pequeno pulsar de ódio passou através dela, esquentando seu sangue gelado.
— Sim — ela confirmou suavemente — é por isso que estou triste.
pelo anjo... livvy, ty e jules...
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