Capítulo 13 - Onde Há Tristeza

Clary acordou sem ar de um sonho de anjos sangrando, os lençóis torcidos ao redor dela em um apertado espiral. Estava bastante escuro e fechado no quarto sobressalente de Amatis, era como estar trancada em um caixão. Se aproximou e puxou as cortinas. Luz do dia verteu adentro. Ela franziu as sobrancelhas e as fechou novamente.
Caçadores de Sombras cremavam seus mortos, e desde o ataque dos demônios, o céu a oeste da cidade tinha sido marcado com fumaça. Olhar para ele da janela fez Clary se sentir mal, então ela manteve as cortinas fechadas.
Na escuridão do quarto fechou seus olhos, tentando se lembrar do sonho. Havia anjos nele, piscando mais e mais contra o interior de suas pálpebras como um sinal de ANDE. Era uma runa, tão simples quanto um nó, mas não importava o quão forte ela se concentrasse, não podia lê-la, não podia entender qual o significado. Tudo que sabia era que parecia de algum modo incompleta para ela, como se quem tivesse criado o padrão não tivesse acabado inteiramente.
Este não foi o primeiro sonho que eu mostrei a você, Ithuriel tinha dito. Ela pensou nos seus outros sonhos: o de Simon com cruzes queimando em suas mãos, Jace com asas, lago de gelo rachando que brilhava como o vidro de um espelho. O anjo enviou esses sonhos também?
Com um suspiro, Clary se sentou. Os sonhos podiam ser ruins, mas as imagens que marchavam através de seu cérebro não eram muito melhores. Isabelle, chorando no piso do Salão dos Acordos, puxando com tal força o cabelo negro trançado entre seus dedos que Clary imaginou se ela ia arrancá-lo. Maryse gritando para Jia Penhallow que o garoto que eles trouxeram para sua casa tinha feito isso, seu primo, e se ele era tão próximo a Valentim, o que se diria sobre eles? Alec tentando acalmar sua mãe, pedindo ajuda de Jace, mas Jace apenas ficou lá enquanto o sol se elevava sobre Alicante e resplandecia no teto do salão.
— É o amanhecer — Luke tinha dito, parecendo mais cansado do que Clary já tinha visto — hora de trazer os corpos para dentro.
Ele tinha enviado patrulhas para recolher os mortos. Caçadores de Sombras e licantropos deitados nas ruas foram levados para a praça do lado de fora do salão, a praça que Clary tinha cruzado com Sebastian quando tinha comentado que o salão parecia com uma igreja. Tinha parecido um lindo lugar para ela então, alinhado com caixas de flores e lojas brilhantemente pintadas.
E agora estava cheio de corpos. Incluindo o de Max. Pensar no garotinho sério que falava sobre mangás fez seus estômago revirar. Ela tinha prometido uma vez que o levaria para o Forbidden Planet, mas isso nunca aconteceria agora. Eu teria comprado mangás para ele, ela pensou. Quaisquer que ele quisesse. Não que isso importasse.
Não pense nisso.
Clary baixou seus calcanhares e se levantou. Depois de um rápido banho ela vestiu os jeans e o suéter que tinha usado no dia em que chegou de Nova York. Pressionou seu rosto no material antes de colocar o suéter, esperando pegar um sentimento do Brooklyn, ou o cheiro de detergente de lavanderia – algo que a lembrasse de casa – mas a roupa tinha sido lavada e cheirava a sabão de limão.
Com outro suspiro, ela se guiou escadas abaixo.
A casa estava vazia, exceto por Simon, sentado no sofá na sala de estar. As janelas abertas atrás dele jorravam luz do dia. Ele tinha se tornado quase como um gato, Clary pensou, procurando por trechos de luz entrando nos recintos. Não importava quanto sol ele pegava, de qualquer forma, sua pele permanecia o mesmo branco marfim.
Ela pegou uma maçã da tigela sobre a mesa e afundou no sofá próxima a ele, encolhendo suas pernas debaixo dela.
— Conseguiu dormir?
— Um pouco — ele olhou para ela — eu é quem deveria te perguntar. Você é a com olheiras. Muitos pesadelos?
Ela encolheu os ombros.
— O de sempre. Morte, destruição, anjos maus.
— Logo, muito parecida com a vida real então.
— Yeah, mas pelo menos quando eu acordei, acabou — Clary deu uma mordida na maçã — deixa eu adivinhar. Luke e Amatis estão no Salão dos Acordos, tendo outra reunião.
— Yeah. Acho que eles estão tendo a reunião onde se reúnem e decidem quais outras reuniões eles precisam de ter — Simon brincou preguiçosamente com a franja de uma almofada — você ouviu algo de Magnus?
— Não.
Clary estava tentando não pensar sobre o fato de que fazia três dias desde que tinha visto Magnus, e ele não enviou nenhuma palavra. Ou o fato de que não havia realmente nada para impedi-lo de ficar com o Livro Branco para si e sumir do mapa. Ela se perguntou por que pensou que podia confiar em alguém que usava aquela quantidade de delineador.
Ela tocou o pulso de Simon levemente.
— E você? E sobre você? Ainda está bem aqui?
Ela queria que Simon fosse para casa no momento em que a luta tinha acabado – em casa, onde ele estaria a salvo. Mas ele tinha sido estranhamente resistente. Por qualquer que fosse a razão, parecia querer ficar. Clary esperava que não fosse por que ele pensasse que tinha que cuidar dela – ela quase não saía e falou a ele que não precisava de sua proteção. Parte dela não podia suportar vê-lo ir embora. Então ele ficou, e Clary estava secretamente e culpadamente feliz.
— Você está conseguindo... você sabe... o que precisa?
— Você quer dizer sangue? Maia continua me trazendo garrafas todo dia. Embora não me pergunte onde ela consegue.
Na primeira manhã que Simon tinha ficado na casa de Amatis, um sorridente licantropo tinha aparecido nos degraus da porta com um gato vivo para ele.
— Sangue — ele tinha dito, em uma acentuada voz com sotaque — para você. Fresco!
Simon tinha agradecido ao lobisomem, mas esperou até que ele saísse e deixou o gato ir embora, sua expressão ligeiramente verde.
— Bem, você vai ter que conseguir seu sangue de algum lugar — Luke comentou, parecendo divertido.
— Eu tenho um gato de estimação — Simon respondeu — não tem jeito.
— Vou dizer a Maia — Luke prometeu, e desde então o sangue tinha vindo em discretas garrafas de leite.
Clary não tinha ideia de como Maia estava arranjando-o e, como Simon, não quis perguntar. Ela não tinha visto a garota lobisomem desde a noite da batalha. Os licantropos estavam acampados em algum lugar próximos à floresta, com apenas Luke permanecendo na cidade.
— E aí? — Simon inclinou sua cabeça de volta, olhando para ela através de seus cílios baixados. — Você parece que quer me perguntar alguma coisa.
Havia várias coisas que Clary queria perguntar, decidiu ir para um dos tópicos mais seguros.
— Hodge — ela disse, e hesitou — quando você estava na cela... você realmente não sabia que era ele?
— Eu não podia vê-lo. Eu só podia ouvi-lo através da parede. Nós conversamos... bastante.
— E você gostou dele? Quero dizer, ele era legal?
— Legal? Eu não sei. Torturado, triste, inteligente, misericordioso em breves momentos – yeah, eu gostava dele. Acho que de alguma forma eu o lembrava de si mesmo, de alguma forma...
— Não diga isso! — Clary se sentou ereta, quase derrubando sua maçã — você não é nada como Hodge.
— Você não acha que eu sou torturado e inteligente?
— Hodge era mau. Você não — Clary falou decididamente — isso é tudo o que existe para ele.
Simon suspirou.
— Pessoas não nascem boas ou más. Talvez elas nasçam com tendências de algum modo, mas é a maneira como você vive sua vida que importa. E as pessoas que você conhece. Valentim era amigo de Hodge, e não acho que Hode realmente tinha alguém mais em sua vida que o desafiasse ou o fizesse ser uma pessoa melhor. Se eu tivesse aquela vida, não sei o que teria me tornado. Mas eu não tive. Eu tenho minha família. E tenho você.
Clary sorriu para ele, mas suas palavras tocavam dolorosamente em seus ouvidos. Pessoas não nascem boas ou más. Ela sempre tinha pensado que isso era verdade, mas pelas imagens que o anjo tinha mostrado, ela tinha visto sua mãe chamar sua própria criança de má, um monstro. Desejou que pudesse dizer a Simon sobre isso, dizer a ele tudo o que o anjo tinha mostrado a ela, mas não podia. Isso teria significado dizer o que tinham descoberto sobre Jace, e ela não podia fazer isso. Era segredo dele, não dela. Simon tinha perguntado uma vez o que Jace tinha querido dizer quando falou com Hodge, chamando a si mesmo de monstro, mas Clary só tinha respondido que era difícil de entender o que Jace queria nas melhores vezes. Ela não estava certa de que Simon tinha acreditado, mas ele não perguntou novamente.
Ela foi salva de dizer qualquer coisa por uma alta batida na porta. Com uma careta, Clary colocou seu miolo da maçã na mesa.
— Eu atendo.
A porta aberta deixou entrar uma onda de frio ar fresco. Aline Penhallow se estava nos degraus da frente, usando uma jaqueta escura de seda rosa que quase combinava com os círculos debaixo de seus olhos.
— Eu preciso falar com você — ela disse sem preâmbulos.
Surpresa, Clary só pôde acenar e segurar a porta aberta.
— Tudo bem. Entre.
— Obrigada.
Aline passou por ela bruscamente e foi para a sala de estar. Ela congelou quando viu Simon sentado no sofá, seus lábios se partindo em espanto.
— Esse não é...
— O vampiro? — Simon sorriu.
Os pequenos, embora não-humanos incisivos, só eram aparentes contra seu lábio inferior quando ele sorria daquele jeito. Clary queria que ele não tivesse sorrido.
Aline se virou para Clary.
— Eu posso falar com você sozinha?
— Não — Clary respondeu, e se sentou no sofá próxima a Simon. — Qualquer coisa que você tem a dizer, pode dizer para nós dois.
Aline mordeu seu lábio.
— Ótimo. Olha, eu tenho algo que quero dizer a Alec, Jace e Isabelle, mas não tenho ideia de onde encontrá-los agora.
Clary suspirou.
— Eles moveram alguns pauzinhos e foram para uma casa vazia. A família nela partiu para o campo.
Aline acenou. Muita gente tinha deixado Idris desde os ataques. A maioria tinha ficado – mais do que a Clave tinha esperado – mas uns poucos tinham feito as malas e partido, deixando suas casas vazias.
— Eles estão bem, se é isso o que quer saber. Olha, eu não tenho visto eles também. Não desde a batalha. Eu podia passar uma mensagem através de Luke se você quiser...
— Eu não sei — Aline estava mastigando seu lábio inferior — meus pais tiveram que contar a tia de Sebastian o que ele fez. Ela ficou realmente triste.
— Como alguém ficaria se seu sobrinho se tornasse um gênio do mal — Simon observou.
Aline atirou a ele um olhar escuro.
— Ela disse que era completamente o contrário dele, que deve ter sido algum engano. Então ela me enviou algumas fotos dele — Aline alcançou seu bolso e puxou várias fotos ligeiramente dobradas, que ela segurou para Clary — olhe.
Ela olhou. As fotografias mostravam um garoto de cabelo escuro sorrindo, bonito de um modo fora de equilíbrio, com um sorriso torto e um nariz ligeiramente grande. Parecia com o tipo de garoto que seria divertido de sair. Ele também não parecia em nada com Sebastian.
— Este é seu primo?
— Este é Sebastian Verlac. O que significa...
— Que o garoto que estava aqui, que chamava a si mesmo de Sebastian, é alguém diferente? — Clary disparou através das fotos com crescente agitação.
— Eu pensei... — Aline estava mastigando seu lábio de novo — pensei que se os Lightwood conhecessem Sebastian – ou quem quer que aquele garoto fosse – que não era realmente nosso primo, talvez ele me perdoassem. Nos perdoassem.
— Eu tenho certeza — Clary fez sua voz tão gentil quanto podia — mas é maior do que isso. A Clave vai querer saber que Sebastian não era apenas algum garoto Caçador de Sombras que mudou de lado. Valentim o enviou aqui deliberadamente como um espião.
— Ele era tão convincente — Aline falou — sabia de coisas que só minha família sabia. Sabia de coisas da nossa infância...
— É o tipo de coisa que faz você se perguntar — Simon disse — o que aconteceu com o verdadeiro Sebastian. Seu primo. Soa como se ele tivesse deixado Paris e vindo para Idris, sem nunca realmente chegar aqui. Então o que aconteceu com ele no caminho?
Clary respondeu.
— Valentim aconteceu. Ele deve ter planejado isso tudo e sabia onde Sebastian estaria e como interceptá-lo. E se fez isso com Sebastian...
— Então deve haver outros — Aline completou — você deve dizer à Clave. Diga a Lucian Graymark — ela capturou o olhar surpreso de Clary — as pessoas o escutam. Meus pais disseram que sim.
— Talvez você devesse ir ao salão conosco — Simon sugeriu — dizer a ele.
Aline balançou a cabeça.
— Eu não posso enfrentar os Lightwood. Especialmente Isabelle. Ela salvou minha vida, e eu... eu apenas fugi. Não pude parar a mim mesma. Eu apenas corri.
— Você estava em choque. Não é sua culpa.
Aline pareceu não convencida.
— E agora o seu irmão... — ela se interrompeu, mordendo o lábio novamente. — Enfim. Olha, há algo que eu tenho precisado te dizer, Clary.
— Me dizer? — Clary estava confusa.
— Sim — Aline tomou um profundo fôlego — quando você entrou, eu e Jace, não foi nada. Eu o beijei. Era... uma experiência. E ela realmente não funcionou.
Clary se sentiu corar, e imaginou que deve ter sido verdadeiramente um espetacular vermelho. Por que ela está me dizendo isso?
— Olha, tudo bem. Isso é da conta de Jace, não minha.
— Bem, você pareceu bastante chateada naquela hora — um pequeno sorriso surgiu nos cantos da boca de Aline — e acho que sei por quê.
Clary engoliu o sabor ácido em sua boca.
— Você sabe?
— Olha, seu irmão fica por aí. Todo mundo sabe disso, ele sai com um monte de garotas. Você estava preocupada que se ele mexesse comigo, ele ficaria com problemas. Afinal, nossas famílias são... eram... amigas. Você não precisa se preocupar, no entanto. Ele não é o meu tipo.
— Eu não acho que tenha ouvido uma garota dizer isso antes — Simon comentou — pensei que Jace fosse o tipo de cara que era o tipo de todo mundo.
— Eu pensei que sim também — Aline respondeu lentamente — e é por isso que eu o beijei. Eu estava tentando descobrir se algum cara é meu tipo.
Ela beijou Jace, Clary pensou. Ele não a beijou. Ela o beijou. Ela encontrou os olhos de Simon por cima da cabeça de Aline. Simon estava parecendo divertido.
— Bem o que você decidiu?
Aline deu de ombro.
— Não tenho certeza inda. Mas, hey, pelo menos você não tem que se preocupar com Jace.
Se somente fosse isso.
— Eu sempre tenho que me preocupar com Jace.
O espaço no interior do Salão dos Acordos tinha sido reconfigurado rapidamente desde a noite da batalha. Com a Garde perdida, ele agora servia como uma câmara do Conselho, um lugar de encontro para as pessoas procurando por membros perdidos da família, e um lugar para saber das últimas notícias. A fonte central estava seca, e em ambos os lados dela, longos bancos foram puxados em fileiras em frente a um estrado levantado na extremidade da sala. Enquanto alguns Nephilim estavam sentados nos bancos no que parecia como uma sessão do conselho, nos corredores e debaixo das arcadas que rodeavam o grande salão, dezenas de outros Caçadores de Sombras estavam se movendo ansiosamente. O salão já não parecia um lugar onde alguém poderia dançar. Havia uma peculiar atmosfera no ar, uma mistura de tensão e antecipação.
Apesar da reunião da Clave no centro, conversas murmuradas aconteciam em todo lugar. Clary pegou trechos de conversas enquanto ela e Simon se moviam através do salão: as torres demoníacas estavam funcionando novamente. As barreiras tinham voltado, mas mais fracas do que antes. Demônios tinham sido avistados nas colinas ao sul da cidade. As casas de campo estavam abandonadas, mais famílias tinham deixado a cidade, e algumas tinham deixado a Clave totalmente.
Sobre o estrado, cercados de mapas pendurados da cidade, estavam o Cônsul, irritado como um guarda-costas ao lado de um pequeno e rechonchudo homem em cinza. O homem rechonchudo estava gesticulando irritado enquanto falava, mas ninguém parecia estar prestando nenhuma atenção.
— Ah, merda, esse é o Inquisidor — Simon murmurou no ouvido de Clary, apontando — Aldertree.
— E lá está Luke — Clary disse, enxergando-o na multidão.
Ele estava próximo à fonte desligada, em profunda conversa com um homem em pesada vestimenta degastada e uma faixa cobrindo a metade direita do rosto. Clary procurou ao redor por Amatis e finalmente a viu, sentada silenciosamente no fim de um banco, tão longe dos outros Caçadores de Sombras quanto podia. Ela pegou o “oi” de Clary com uma expressão assustada, começando a se levantar.
Luke viu Clary, fechou o rosto, e falou para o homem enfaixado em uma voz baixa, se desculpando. Ele cruzou o salão para onde Clary e Simon estavam, perto de um dos pilares, sua carranca aumentando enquanto ele se aproximava.
— O que você está fazendo aqui? Você sabe que a Clave não permite crianças em seus encontros, e quanto a você... — ele olhou para Simon — não é provavelmente a melhor ideia mostrar a sua cara na frente do Inquisidor, mesmo que não haja nada realmente que ele possa fazer sobre isso — um sorriso torceu o canto de sua boca — não sem comprometer qualquer aliança que a Clave possa querer ter com os Seres do Submundo no futuro, de qualquer modo.
— Está certo — Simon balançou seus dedos em aceno para o Inquisidor, que Aldertree ignorou.
— Simon, pare com isso. Nós estamos aqui por uma razão — Clary empurrou as fotografias de Sebastian para Luke — este é Sebastian Verlac. O verdadeiro Sebastian Verlac.
A expressão de Luke se fechou. Ele passou as fotografias sem dizer nada enquanto Clary repetia a história que Aline tinha contado. Simon, entretanto, não ficou à vontade, olhando irritadamente através do salão para Aldertree, que estava persistentemente ignorando-o.
— Então o verdadeiro Sebastian parece muito com a versão impostora? — Luke perguntou finalmente.
— Não realmente. O falso Sebastian era mais alto. E acho que ele provavelmente é loiro, por que estava definitivamente tingindo seu cabelo. Ninguém tem aquelecabelo preto.
E a tinta veio para os meus dedos quando eu toquei, ela pensou, mas manteve o pensamento para si.
— Enfim, Aline queria que nós mostrássemos isso para você e para os Lightwood. Ela pensou que se talvez eles soubessem que “Sebastian” não era realmente parente dos Penhallow, então...
— Ela não disse a seus pais sobre isso, disse? — Luke indicou as fotos.
— Ainda não, eu acho — Clary respondeu — acho que ela veio direto a mim. Queria que eu te contasse. Ela disse que as pessoas te escutam.
— Talvez algumas o façam — ele olhou de volta para o homem com o rosto enfaixado — quero apenas falar com Patrick Penhallow, na verdade. Valentim era um bom amigo de seu passado e pode ter mantido o olho sobre a família dos Penhallow, de um modo ou de outro, nos anos desde então. Você disse que Hodge falou que ele tinha espiões aqui — ele deu as fotos de volta para Clary — infelizmente, os Lightwood não estão fazendo parte do conselho hoje. Esta manhã foi o funeral de Max. Eles provavelmente estão no cemitério — vendo o olhar no rosto de Clary, ele adicionou: — foi uma cerimônia pequena, Clary. Só a família.
Mas eu sou a família de Jace, uma pequena e protestante voz dentro da sua cabeça falou. Mas havia outra voz, uma mais alta, surpreendendo com sua amargura. E ele disse que estar perto de você era como sangrar até a morte, lentamente. Você realmente acha que ele precisa disso quando já está no funeral de Max?
— Então você pode dizer a eles hoje à noite, talvez — Clary sugeriu — quero dizer... eu acho que serão boas notícias. Sebastian seja quem for, não tinha relação com seus amigos.
— Seriam notícias melhores se eles soubessem onde ele está — Luke murmurou — ou quais outros espiões Valentim têm aqui. Deve ter havido vários deles, pelo menos, envolvidos na derrubada das barreiras. Pode ter sido feito de dentro da cidade.
— Hodge disse que Valentim tinha descoberto como fazer isso — Simon acrescentou — disse que precisa do sangue de demônio para derrubar as barreiras, mas que não havia jeito de conseguir sangue de demônio dentro da cidade. Exceto que Valentim tenha descoberto um modo.
— Alguém pintou uma runa com sangue de demônio sobre uma das torres — Luke respondeu com um suspiro — então, claramente, Hodge estava certo. Infelizmente, a Clave sempre confiou demais em suas barreiras. Mas mesmo o mais engenhoso enigma tem uma solução.
— Isso me parece com o tipo de esperteza que faz seu traseiro ser chutado em um jogo — Simon observou — no segundo em que você protege a fortaleza com um Feitiço de Total Invencibilidade, vem alguém e calcula como destruir o lugar.
— Simon — Clary disse — cala a boca.
— Ele não está tão distante — Luke disse — nós apenas não sabemos como eles conseguiram colocar sangue de demônio dentro da cidade sem desligar as barreiras desligadas em primeiro lugar — ele deu de ombros — este é o menor dos nossos problemas no momento. As barreiras estão de volta, mas nós já sabemos que elas não são infalíveis. Valentim pode retornar a qualquer momento com uma força ainda maior, e duvido que possamos lutar com ele. Não há Nephilim o suficiente, e aqueles que estão aqui estão completamente desmoralizados.
— Mas e os Seres do Submundo? Você disse ao Cônsul que a Clave tinha que lutar junto com os Seres do Submundo.
— Eu posso dizer isso para Malachi e Aldertree até eu ficar com a cara azul, mas não significa que eles vão escutar — Luke falou secamente — a única razão de estarem me deixando ficar aqui é por que a Clave votou para me manter como um conselheiro. E só fizeram isso por que alguns deles tiveram suas vidas salvas pelo meu bando. Mas isso não significa que eles querem mais Seres do Submundo em Idris...
Alguém gritou.
Amatis estava de pé, a mão sobre a boca, olhando em direção a frente do salão.
Um homem em pé na entrada, emoldurado no brilho da luz do sol lá fora. Ele era só uma silhueta, até ele dar um passo a frente, para dentro do salão, e Clary pôde ver seu rosto pela primeira vez.
Valentim.
Por alguma razão, a primeira coisa que Clary notou foi que ele estava barbeado. Isso o fazia parecer mais jovem, mais como o garoto zangado nas memórias que Ithuriel tinha mostrado a ela. Em vez de uma roupa de batalha, ele usava um terno elegantemente cortado e uma gravata. Estava desarmado. Ele poderia ser qualquer homem caminhando nas ruas de Manhattan. Poderia ter sido o pai de alguém.
Ele não olhou em direção a Clary, nem mostrou ter notado sua presença de modo algum. Seus olhos estavam em Luke enquanto ele caminhava pelo corredor estreito entre os bancos.
Como ele pôde vir aqui assim sem nenhuma arma? Clary se perguntou, e teve sua pergunta respondida um momento depois: o Inquisidor Aldertree fez um ruído como um urso ferido, se lançou para longe de Malachi, que estava tentando segurar ele para trás; oscilou nos degraus da plataforma e se jogou em Valentim.
Ele passou através do corpo de Valentim como uma faca cortando através do papel. Valentim se virou para observar Aldertree com uma expressão de brando interesse, enquanto o Inquisidor tropeçava e colidia com um pilar, e esparramava-se desastradamente no chão.
O Cônsul, o seguindo, se curvou para ajudá-lo a ficar de pé – havia um olhar de oculto desgosto em seu rosto enquanto ele fazia isso, e Clary se perguntou se o desgosto era direcionado a Valentim ou Aldertree, por agir como um tolo.
Outro fraco murmúrio foi dirigido em torno da sala. O Inquisidor guinchou e lutou como um rato em um armadilha. Malachi o segurou firmemente pelos braços enquanto Valentim avançava pela sala sem outro olhar para nenhum deles.
Os Caçadores de Sombras tinham se agrupado em torno dos bancos puxados para trás, como as ondas do mar vermelho se separando para Moisés, deixando um caminho limpo no centro da sala. Clary estremeceu enquanto Valentim se aproximava de onde ela estava com Luke e Simon. Ele é só uma projeção, disse para si mesma. Não está realmente aqui. Ele não pode machucar você.
Ao lado dela, Simon estremeceu. Clary pegou a mão dele exatamente no momento em que Valentim pausava nos degraus do estrado e virava seu olhar diretamente para ela. Seus olhos a sondaram uma vez, casualmente, como se a medindo; passou sobre Simon inteiramente e veio descansar sobre Luke.
— Lucian — ele falou.
Luke retornou seu olhar, firme e uniforme, sem dizer nada. Era a primeira vez que eles tinham estado juntos na mesma sala desde Renwick, Clary pensou, e naquela hora, Luke tinha estado meio morto da luta e coberto de sangue. Era mais fácil marcar as diferenças e as semelhanças entre os dois homens – Luke estava em sua camiseta de flanela e jeans, Valentim em seu bonito e caro terno; Luke com um digno cinza em seu cabelo arrepiado, Valentim parecendo como se tinha vinte e cinco – somente mais frio, de algum modo, e mais duro, como se o passar dos anos o transformasse lentamente em pedra.
— Ouvi que a Clave te trouxe para o conselho agora — Valentim disse — isso só seria adequado para uma Clave diluída pela corrupção e alcoviteira, para se encontrar infiltrada por meia-raças degeneradas.
Sua voz era plácida, até alegre – tanto que era difícil sentir o veneno em suas palavras, ou realmente acreditar que ele quis dizê-las. Seu olhar se moveu de volta para Clary.
— Clarissa, aqui com o vampiro, eu vejo. Quando as coisas estiverem resolvidas um pouco, nós realmente precisamos discutir sua escolha sobre animais de estimação.
Um baixo ruído de rosnado veio da garganta de Simon. Clary apertou sua mão, forte – forte o suficiente que há um tempo ele teria se afastado com dor. Agora ele não parecia sentir.
— Não — ela sussurrou — apenas não.
Valentim já tinha virado sua atenção para longe deles. Ele subiu os degraus do estrado e virou seu olhar abaixo para a multidão.
— Tantos rostos familiares — ele observou — Patrick. Malachi. Amatis.
Amatis ficou rígida, seus olhos brilhantes com o ódio. Malachi ainda estava lutando na contenção do Inquisidor. O olhar de Valentim tocou sobre ele, meio divertido.
— Mesmo você, Aldertree. Eu ouvi que você foi indiretamente responsável pela morte do meu velho amigo Hodge Starkweather. Um pena, isso.
Luke encontrou sua voz.
— Você admite, então. Você trouxe as barreiras abaixo. Enviou os demônios.
— Eu os enviei — Valentim confirmou — e posso enviar mais. Certamente a Clave... mesmo a Clave, estúpida como é – deve ter esperado por isso. Você esperava por isso, não esperava, Lucian?
Os olhos de Luke estavam seriamente azuis.
— Eu esperava. Mas eu te conheço, Valentim. Então você veio para negociar ou para se exibir?
— Nem um, nem outro — Valentim considerou a silenciosa multidão — eu não tenho necessidade de negociar — ele disse, e embora seu tom fosse calmo, sua voz era carregava como se amplificada — e não desejo me exibir. Eu não aprecio causar as mortes de Caçadores de Sombras; já existem poucos de nós, em um mundo que precisa de nós desesperadamente. Mas assim é como a Clave gosta, não é? É apenas mais outra de suas absurdas regras, as regras que eles utilizam para triturar Caçadores de Sombras até o pó. Eu fiz o que fiz porque tive que fazer. Fiz porque era o único modo de fazer a Clave escutar. Caçadores de Sombras não morreram por minha causa; eles morreram porque a Clave me ignorou.
Ele encontrou os olhos de Aldertree através da multidão; o rosto do Inquisidor estava branco e se contorcendo.
— Muitos de vocês aqui foram uma vez do meu Círculo — Valentim continuou lentamente — eu falo para vocês agora, e para aqueles que conheciam o Circulo, mas ficaram fora dele. Se lembram do que eu previ quinze anos atrás? Que a menos que nós agíssemos contra os Acordos, a cidade de Alicante, nossa preciosa capital, seria invadida pelos choramingos e bajulantes grupos de meia-raças, as degeneradas raças atropelando tudo o que nos é querido? E tal como eu previ, tudo isso tem acontecido. A Garde incendiou até o chão, o Portal destruído, nossas ruas inundadas com monstros. A escória meio-humana presumindo nos liderar. Então, meus amigos, meus inimigos, meus irmãos abaixo do Anjo, eu pergunto a vocês – vocês acreditam em mim agora? — Sua voz cresceu para um grito: — VOCÊS ACREDITAM EM MIM AGORA?
Seu olhar varreu a sala como se ele esperasse uma resposta. Não havia nenhuma – só um oceano de faces fitando.
— Valentim — a voz de Luke, embora suave, quebrou o silêncio — você pode ver o que fez? Os Acordos que você temia tanto, não igualaram os Seres do Submundo aos Nephilim. Não garantiram aos meio-humanos um lugar no conselho. Todos os velhos ódios estavam ainda neste lugar. Você devia ter confiado neles, mas não fez – você não podia – e agora você deu a nós uma coisa que pode possivelmente ter unido todos nós — seus olhos procuraram os de Valentim — um inimigo comum.
Um rubor passou pelo rosto pálido de Valentim.
— Eu não sou um inimigo. Nem dos Nephilim. Você é. Você é o que está tentando atraí-los para uma luta sem esperança. Você pensa que aqueles demônios que você viu é tudo o que eu tenho? Eles são uma fração do o que eu posso invocar.
— Existem mais de nós também — Luke replicou — mais Nephilim, e mais Seres do Submundo.
— Seres do Submundo — Valentim zombou — eles vão correr ao primeiro sinal do verdadeiro perigo. Nephilim nasceram para ser guerreiros, para proteger este mundo, mas o mundo odeia sua espécie. Existe uma razão para a prata pura te queimar, e a luz do dia ferir as Crianças da Noite.
— Ela não me fere — Simon falou em uma dura e clara voz, apesar do aperto da mão de Clary — eu estou aqui, de pé na luz do sol...
Mas Valentim apenas riu.
— Eu vi você engasgar com o nome de Deus, vampiro. Enquanto ao motivo de você poder ficar na luz do sol... — ele se interrompeu e sorriu — você é uma anormalidade, talvez. Uma aberração. Mas ainda um monstro.
Um monstro. Clary pensou em Valentim no navio, do que ele tinha dito lá: sua mãe disse que eu tornei seu primeiro filho em um monstro. Ela me deixou antes que eu pudesse ter a chance de fazer o mesmo com seu segundo.
Jace. Ela pensou no seu nome com um dor aguda. Depois de tudo o que Valentim disse, ele está aqui, falando sobre demônios...
— O único monstro aqui — Clary falou, apesar de tudo e apesar de sua resolução de manter o silêncio — é você. Eu vi Ithuriel — ela continuou quando ele se virou para olhar para ela em surpresa — eu sei de tudo...
— Eu duvido disso — Valentim respondeu — e se você soubesse, manteria sua boca fechada. Pelo amor de seu irmão, senão pelo seu próprio.
Nem mesmo fale de Jace para mim! Clary queria gritar, mas outra voz veio e a cortou, uma fria e inesperada voz feminina, sem medo e amarga.
— E sobre o meu irmão? — Amatis se moveu para ficar ao pé da plataforma, olhando acima para Valentim.
Luke se surpreendeu e balançou sua cabeça para ela, mas ela o ignorou.
Valentim fechou o rosto.
— O que tem Lucian?
A pergunta de Amatis, Clary sentiu, tinha abalado-o, ou talvez fosse só porque Amatis estava lá, perguntando, confrontando-o. Ele tinha descrito-a anos atrás como fraca, incapaz de desafiá-lo. Valentim nunca gostava quando as pessoas o surpreendiam.
— Você me disse que ele não era mais meu irmão — Amatis continuou — levou Stephen para longe de mim. Você destruiu minha família. Disse que não era um inimigo dos Nephilim, mas colocou cada um de nós contra o outro, família contra família, arruinando vidas sem compaixão. Disse que odeia a Clave, mas você fez o que ela é agora – insignificante e paranoica. Nós costumávamos confiar um no outro, nós Nephilim. Você mudou isso. Eu nunca vou te perdoar por isso — sua voz tremeu — ou por me fazer tratar Lucian como se ele não fosse mais meu irmão. Eu não vou perdoar você por isso, também. Nem vou perdoar a mim mesma por ter te escutado.
— Amatis...
Luke deu um passo a frente, mas sua irmã ergueu uma mão para pará-lo. Seus olhos estavam brilhando com lágrimas, mas suas costas estavam eretas, sua voz firme e resoluta.
— Houve um tempo em que todos nós estávamos dispostos a te ouvir, Valentim. E todos nós temos isso em nossa consciência. Mas não mais. Não mais. Aquele tempo acabou. Há alguém aqui que discorda comigo?
Clary virou a cabeça e olhou para os Caçadores de Sombras reunidos: eles pareciam para ela como um rude esboço de uma multidão, com borrões brancos de rostos. Ela viu Patrick Penhallow, seu queixo apertado, e o Inquisidor, que estava tremendo como uma frágil árvore em um vento forte. E Malachi, cujo escuro e polido rosto era estranhamente ilegível. Ninguém disse uma palavra.
Se Clary tivesse esperado que Valentim ficasse com raiva desta falta de resposta dos Nephilim que ele tinha esperado liderar, ela ficaria desapontada. Exceto por um contorcer no músculo de sua mandíbula, ele estava inexpressivo. Como se tivesse esperado esta resposta. Como se tivesse planejado isso.
— Muito bem. Se vocês não ouvem pela razão, irão ouvir pela força. Eu já mostrei a vocês que posso derrubar as barreiras ao redor da cidade. Eu vejo que vocês as colocaram de volta, mas não tem importância; eu posso facilmente fazer isso de novo. Vocês terão que aceitar as minhas exigências ou enfrentar cada demônio que a Espada Mortal pode invocar. Eu irei dizer que eles não irão poupar um único de vocês, nem um homem, mulher ou criança. É a sua escolha.
Um murmúrio varreu em torno da sala.
Luke estava fitando seu antigo amigo.
— Você iria deliberadamente destruir sua própria espécie, Valentim?
— Às vezes, plantas doentes precisam ser extirpadas para preservar todo o jardim. E se todas estão doentes... — ele se virou para enfrentar toda multidão horrorizada — é sua escolha. Eu tenho o Cálice Mortal. Se eu devo, irei começar com um novo mundo de Caçadores de Sombras, criados e ensinados por mim. Mas posso dar a vocês esta única chance. Se a Clave der todos os poderes do conselho para mim e aceitar minha inequívoca soberania e governo, eu manterei minha mão. Todos os Caçadores de Sombras irão prestar um juramento de obediência e aceitar uma permanente runa de lealdade que obriga eles a mim. Estes são meus termos.
Os olhos de Clary em um borrão girando. Eles não podem ceder a ele, ela pensou.Eles não podem. Mas que escolha eles têm? Que escolha qualquer um deles tem? Eles estão encurralados por Valentim. Ela pensou sombriamente, tanto quanto eu e Jace fomos encurralados pelo o que ele fez conosco. Todos nós estamos presos a ele pelo nosso próprio sangue.
Foi apenas um momento, embora fosse como uma hora para Clary, antes que uma voz fina cortasse através do silêncio – a alta, e araneiforme voz do Inquisidor.
— Soberania e governo? — ele gritou. — Seus termos?
— Aldertree... — o cônsul se moveu para segurá-lo, mas o Inquisidor era muito rápido.
Ele esquivou-se e se lançou em direção a plataforma. Ele estava gritando alguma coisa, as mesmas palavra mais e mais, como se tivesse perdido sua cabeça completamente, seus olhos rolaram praticamente para os brancos. Ele empurrou Amatis de lado, vacilando sobre os degraus da plataforma para enfrentar Valentim.
— Eu sou o Inquisidor, você entende, o Inquisidor! — ele gritou. — Eu sou parte da Clave! O Conselho! Eu faço as regras, não você! Eu governo, não você! Eu não vou deixar você fazer isso, seu arrogante, amante de demônios...
Com um olhar muito próximo ao tédio, Valentim estendeu uma mão, quase como se tencionasse tocar o Inquisidor sobre o ombro. Mas Valentim não podia tocar nada – ele era apenas uma projeção – e então Clary arfou enquanto a mão de Valentim passava através da pele do Inquisidor, ossos e carne, desaparecendo dentro de suas costelas. Houve um segundo – apenas um segundo – durante o que todo o salão pareceu ficar boquiaberto ao braço esquerdo de Valentim, enterrado de algum modo, impossivelmente, profundamente no peito de Aldertree. Então Valentim sacudiu seu pulso fortemente e subitamente à esquerda – um movimento de torção, como se ele estivesse virando teimosamente uma maçaneta enferrujada. O Inquisidor deu um único grito e caiu como uma pedra.
Valentim puxou sua mão de volta. Ela estava molhada com sangue, uma luva escarlate alcançando até metade do seu cotovelo, manchando a cara lã de seu terno. Baixando sua mão ensanguentada, ele olhou através da multidão horrorizada, seus olhos vindo descansar por último em Luke. Ele falou lentamente:
— Eu vou dar a vocês até amanhã à meia-noite para considerar meus termos. No momento eu vou trazer meu exército, em toda sua força, para a planície Brocelind. Se eu ainda não receber uma mensagem de rendição da Clave, irei marchar com meu exército para Alicante, e dessa vez nós não deixaremos nada vivo. Vocês tem tempo para considerar os meus termos. Usem-no sabiamente.
E com isso, ele desapareceu.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Trono de Vidro

Os Instrumentos Mortais

Trono de Vidro