Capítulo 5 - Inferno atrai Inferno

O apartamento de Kyle acabou por ser uma agradável surpresa. Simon esperava uma imunda quitinete na avenida, com baratas rastejando nas paredes e uma cama feita de colchão de espuma sobre engradados de leite. Na realidade, era um dois-quartos limpo com uma sala pequena, uma tonelada de estantes e muitas fotos nas paredes de praias famosas de surfe. Kyle parecia estar plantando maconha na escada de incêndio, mas você não podia ter tudo.
O quarto de Simon era basicamente uma caixa vazia. Quem morou ali antes não tinha deixado nada para trás, além de um colchão futon. Tinha as paredes lisas e os assoalhos gastos, e uma única janela onde Simon podia ver um sinal de néon do restaurante chinês do outro lado da rua.
— Você gostou? — Kyle perguntou, pairando na entrada da porta, com os seus olhos cor de avelã, grandes e amigáveis.
— É ótimo! — Simon respondeu honestamente. — Exatamente o que eu precisava.
A coisa mais cara do apartamento era a TV de tela plana na sala de estar. Eles se jogaram no sofá-futon improvisado e assistiram a TV ruim enquanto a luz do sol ia embora.
Kyle era legal, Simon decidiu. Ele não se intrometia, não bisbilhotava e não fazia perguntas. E parecia não querer nada em troca pelo quarto, exceto que Simon contribuísse com o dinheiro para os mantimentos. Ele apenas era um cara amigável. Simon se perguntou se tinha esquecido como seres humanos comuns eram.
Depois de Kyle ter saído para trabalhar no turno da noite, Simon entrou no quarto, desabou no colchão e ficou ouvindo o tráfego na Avenida B. Tinha sido assombrado pela lembrança do rosto de sua mãe desde que partiu: o modo que ela olhou-o com ódio e medo, como se ele fosse um intruso em sua casa. Mesmo que ele não precisasse respirar, a lembrança do que tinha acontecido ainda comprimia seu peito. Mas agora...
Quando Simon era criança, sempre gostou de viajar, porque estar em um novo lugar significava estar distante de todos os seus problemas. Mesmo aqui, apenas um rio de distância do Brooklyn, as memórias o consumiam como ácido – a morte do ladrão, a reação de sua mãe ao saber a verdade – pareciam confusas e distantes.
Talvez esse seja o segredo, ele pensou. Continue vagando. Como um tubarão. Vá para onde ninguém possa te encontrar. Um fugitivo, um errante na terra.
Mas isso só funcionaria se não houvesse ninguém ali com que você se importasse em deixar para trás.
Ele dormiu esporadicamente durante toda a noite. Seu impulso natural era de dormir durante o dia, apesar de seus poderes Diurno, e ele lutou contra a inquietação e os sonhos antes de acordar tarde com o sol invadindo o quarto pela janela.
Depois de jogar suas roupas limpas na mochila, ele deixou o quarto para encontrar Kyle na cozinha, fritando ovos e bacon numa panela de teflon.
— Ei, colega de quarto — Kyle cumprimentou alegremente — quer ovos com bacon?
A vista do café da manhã fez Simon sentir um vazio enjoado em seu estômago.
— Não, obrigado. Eu vou pegar só um café — ele ajeitou-se ligeiramente em um dos bancos de bar meio desigual.
Kyle empurrou uma caneca lascada pelo balcão para ele.
— O café da manhã é a refeição mais importante do dia, bro. Mesmo sendo meio-dia.
Simon colocou as mãos em volta da caneca, sentindo o calor infiltrar por sua pele fria. Ele procurou um assunto para conversar – um que não fosse o quão pouco ele comia.
— Então, eu não te perguntei ontem – o que você faz parar viver?
Kyle pegou um pedaço de bacon de dentro da panela e o mordeu. Simon notou que a medalha de ouro em seu pescoço tinha um padrão de folhas, e as palavras Beati bell icosi. “Beati” Simon sabia que tinha algo a ver com santos; Kyle devia ser católico.
— Mensageiro de bicicleta — ele respondeu, mastigando — é fantástico. Eu chego a pedalar por toda cidade, vendo tudo, conversando com todos. Melhor do que ensino médio.
— Você caiu fora?
— Obtive meu ensino médio por uma prova do governo. Eu prefiro a escola da vida.
Simon teria pensado que Kyle soou ridículo, senão fosse o fato de que ele falou com total sinceridade.
— E você? Algum plano?
Ah, você sabe. Vagar pela terra, causando morte e destruição para pessoas inocentes. Talvez beber algum sangue. Viver eternamente, mas nunca ter qualquer diversão. O de costume.
— Estou meio que indeciso no momento.
— Você quer dizer que não quer ser músico? — Kyle perguntou.
Para alívio de Simon, seu telefone tocou antes que pudesse responder. Ele o pegou do bolso e olhou para tela. Era Maia.
— Oi — ele a cumprimentou — tudo bem?
— Você vai naquela prova de vestido com a Clary nesta tarde? — ela perguntou, sua voz crepitante pela linha. Ela provavelmente estava ligando do quartel-general da matilha em Chinatown, onde a recepção não era boa. — Ela me disse que você ia lhe fazer companhia.
— O quê? Ah, certo. Sim. Eu estarei lá.
Clary exigiu que Simon a acompanhasse na prova do seu vestido de dama de honra, então depois podiam ir à loja de revistas em quadrinhos e ela poderia sentir-se, em suas próprias palavras “menos uma menininha de babados.”
— Bem, eu vou junto então. Tenho que dar uma mensagem da matilha para Luke e, além disso, sinto que não te vejo há muito tempo.
— Eu sei. Eu realmente sinto muito...
— Está tudo bem — ela disse gentilmente — mas você vai ter que me deixar saber o que vai vestir para o casamento finalmente, porque caso contrário, não iremos combinar.
Ela desligou, deixando Simon olhando para o telefone. Clary tinha razão. O casamento era o dia-D e, infelizmente, ele estava despreparado para a batalha.
— Uma de suas namoradas? — Kyle perguntou curiosamente. — Aquela garota ruiva da garagem era uma delas? Porque ela era bonita.
— Não. Aquela era Clary; ela é minha melhor amiga — Simon colocou seu telefone no bolso — e ela tem um namorado. Com certeza, realmente, um namorado. Um namorado que é uma verdadeira bomba nuclear. Confie em mim nisso.
Kyle sorriu.
— Eu apenas estava perguntando — ele jogou a panela do bacon, agora vazia, na pia — então, suas duas garotas. Como elas são?
— Elas são muito... muito... diferentes.
De algumas maneiras, Simon pensou, eram opostas. Maia era calma e estável; Isabelle vivia em um alto grau de excitação. Maia era uma luz constante na escuridão; Isabelle era uma estrela em chamas, girando no vazio.
— Quero dizer, ambas são ótimas. Lindas e inteligentes...
— E elas não sabem uma da outra? — Kyle inclinou-se sobre o balcão. — Tipo, apesar de tudo?
Simon se encontrou explicando – que quando voltou de Idris (embora ele não mencionasse o lugar pelo nome), as duas começaram a ligar para ele, esperando sair. E já que gostava das duas, ele foi. E de alguma forma, as coisas começaram a virar casualmente românticas com cada uma delas, mas nunca apareceu uma oportunidade de explicar que estava vendo outra pessoa, também. E de alguma maneira virou uma bola de neve, e ali estava ele, sem querer ferir nenhuma das duas, e não sabendo como prosseguir, também.
— Bem, se você me perguntar — Kyle disse, virando-se para despejar o café na pia — você deve escolher uma delas e desistir de zoar por aí. Só estou dizendo.
Já que suas costas estavam para Simon, Simon não podia ver seu rosto, e por um momento ele se perguntou se Kyle realmente estava zangado. Sua voz soou estranhamente dura. Mas quando Kyle virou, sua expressão era tão aberta e simpática como sempre. Simon decidiu que deve ter imaginado.
— Eu sei. Você está certo — ele olhou de volta para o quarto — olha, você tem certeza que está tudo bem, eu ficar aqui? Posso limpar sempre que...
— Está tudo bem. Você pode ficar o tempo que precisar.
Kyle abriu uma gaveta da cozinha e vasculhou ao redor até que encontrou o que estava procurando – um conjunto de chaves reserva em um chaveiro de borracha.
— Há um conjunto para você. Você é totalmente bem-vindo aqui, ok? Tenho que ir trabalhar, mas pode passar o tempo se quiser. Jogar paciência, ou qualquer coisa. Vai estar aqui quando eu retornar?
Simon encolheu os ombros.
— Provavelmente não. Eu tenho que ir a uma prova de vestido às três.
— Legal — Kyle respondeu, jogando uma mochila no ombro e indo em direção à porta — consiga um tecido vermelho. É totalmente a sua cor.

***

— Então — Clary disse, saindo do provador — o que acha?
Ela fez um rodopio experimental. Simon, equilibrado em uma desconfortável cadeira branca da Loja Karyn’s Bridal, mudou de posição, se encolheu, e disse:
— Você está bonita.
Ela parecia melhor do que bonita. Clary era a dama de honra da sua mãe, por isso ela se permitiu escolher qualquer vestido que quisesse. Ela escolheu um muito simples, de seda acobreada com tiras estreitas que favoreciam seu corpo pequeno. Sua única joia era o anel Morgenstern, usado em uma corrente no pescoço; a corrente de prata muito simples expôs a forma de sua clavícula e a curva de sua garganta.
Não muitos meses atrás, ver Clary vestida para um casamento teria evocado uma mistura de sentimentos em Simon: o desespero assustador (ela nunca iria amá-lo) e alta emoção (ou talvez iria, se ele pudesse chegar com coragem para dizer-lhe como se sentia). Agora isso só o fazia se sentir um pouco melancólico.
— Legal? — Clary ecoou. — É isso? Talvez... — ela virou-se para Maia. — O que você acha?
Maia havia dispensado as cadeiras desconfortáveis e estava sentada no chão, de costas contra uma parede, que era decorada com tiaras e véus longos transparentes. Ela tinha o videogame portátil de Simon equilibrado em um dos joelhos e parecia estar pelo menos em parte absorvida no Grand Theft Auto.
— Não me pergunte. Eu odeio vestidos. Eu usaria jeans no casamento se pudesse.
Isto era verdade. Simon raramente via Maia com outras roupas a não ser jeans e camisetas. Nesse ponto, ela era o oposto de Isabelle, que usava vestidos e saltos até mesmo nos momentos mais inapropriados. (Embora, desde que ele a tinha visto despachar um demônio Vermis com o salto agulha de uma bota, ficou menos propenso a se preocupar com isso.)
O sino da porta da loja tocou e Jocelyn entrou, seguida por Luke. Ambos estavam segurando copos de café fumegante e Jocelyn estava olhando para Luke, suas bochechas coradas e olhos brilhando. Simon lembrou-se do que Clary disse sobre eles estarem totalmente apaixonados. Ela não achava nojento, embora provavelmente fosse porque eles não eram seus pais. Os dois pareciam tão felizes, e ele pensou que isso era realmente muito bom.
Jocelyn arregalou os olhos quando viu Clary.
— Querida, você está linda!
— Sim, você tem que dizer isso. Você é minha mãe — Clary falou, mas mesmo assim ela sorriu — ei, aquilo é café preto por acaso?
— Sim. Considere isso um presente “desculpe-estamos-atrasados” — Luke respondeu, entregando-lhe o copo — conseguimos fazer algumas coisas. Algumas questões do bufê e outras — ele acenou em direção a Simon e Maia — ei, garotos.
Maia inclinou a cabeça. Luke era o chefe da alcateia de lobisomens local, da qual Maia era membro. Embora ela quebrasse o hábito dela chamá-lo de “Mestre” ou “Senhor”, permanecia respeitosa em sua presença.
— Eu trouxe a você uma mensagem da matilha — ela falou, colocando abaixo o console de jogo — eles têm perguntas sobre a festa na Ironworks...
Conforme Maia e Luke caíram na conversa sobre a festa em que a alcateia estava dando em homenagem ao casamento de seu Alfa, a proprietária da loja de noivas, uma mulher alta que esteve lendo revistas atrás do balcão enquanto os adolescentes tagarelavam, percebeu que as pessoas que iriam realmente pagar os vestidos tinham acabado de chegar e correu para a frente para cumprimentá-los.
— Eu tenho o seu vestido, é maravilhoso! — Ela elogiou, levando a mãe de Clary pelo braço em direção ao fundo da loja. — Venha e o prove.
Como Luke começou a andar depois delas, ela apontou um dedo ameaçador para ele.
— Você fica aqui.
Luke, vendo sua noiva desaparecer através de um conjunto de portas giratórias brancas adornadas com sinos de casamento, olhou perplexo.
— Mundanos acham que você não deveria ver a noiva em seu vestido de casamento antes da cerimônia — Clary lembrou-o — traz má sorte. Ela provavelmente também acha estranho você ter vindo para a prova.
— Mas Jocelyn queria a minha opinião... — Luke parou e balançou a cabeça — ah, bem. Costumes mundanos são tão peculiares.
Ele se jogou em uma cadeira e estremeceu enquanto uma das rosetas esculpidas furou suas costas.
— Ai.
— E sobre casamentos de Caçadores de Sombras? — Maia indagou, curiosa. — Eles têm seus próprios costumes?
— Eles têm sim — Luke disse devagar — mas essa não vai ser uma cerimônia clássica de Caçadores de Sombras. Elas, especificamente, não correspondem a uma situação onde um dos noivos não é um Caçador de Sombras.
— Sério? — Maia parecia chocada. — Eu não sabia disso.
— Parte de uma cerimônia de casamento de Caçadores de Sombras envolve um traçado de runas permanente sobre os corpos dos participantes — Luke explicou. Sua voz era calma, mas seus olhos pareciam tristes — runas de amor e compromisso. Mas, evidentemente, os que não são Caçadores de Sombras não podem suportar as runas do Anjo, de modo que Jocelyn e eu apenas estaremos trocando anéis.
— Isso é uma droga — Maia pronunciou.
Com isso, Luke sorriu.
— Na verdade, não é. Casar com Jocelyn foi tudo o que eu sempre quis, e não estou preocupado com os pormenores. Além disso, as coisas estão mudando. Os novos membros do Conselho têm feito muito progresso na direção de convencer a Clave para tolerar esse tipo de...
— Clary! — Era Jocelyn, chamando da parte de trás da loja. — Você pode vir aqui um segundo?
— Estou indo! — Clary respondeu, tomando o restante do café no copo. — Uh. Parece como uma emergência de vestido.
— Bem, boa sorte com isso — Maia ficou de pé, e deixou o Nintendo DS no colo de Simon antes de se inclinar para beijá-lo no rosto — tenho que ir. Vou me encontrar com alguns amigos no Caçador da Lua.
Ela tinha um cheiro agradável de baunilha. Sob isso, como sempre, Simon podia sentir o cheiro acobreado do sangue, misturado com um acentuado cheiro de limão, que era peculiar aos lobisomens. Todo sangue de Seres do Submundo cheirava diferente – fadas cheiravam a flores mortas, feiticeiros como fósforos queimados e outros vampiros como metal. Clary certa vez lhe perguntou como Caçadores de Sombras cheiravam. “Luz do Sol”, ele havia respondido.
— Até logo, baby.
Maia se empertigou, bagunçou o cabelo de Simon uma só vez, e partiu. Quando a porta se fechou, Clary fixou um olhar penetrante nele.
— Você deve arrumar sua vida amorosa até o próximo sábado — ela avisou — quero dizer, Simon, se você não lhes contar, eu contarei.
Luke pareceu confuso.
— Contar o que a quem?
Clary sacudiu a cabeça para Simon.
— Você está sobre gelo fino, Lewis.
Com aquela declaração ela afastou os babados, levantando sua saia de seda enquanto ia. Simon notou divertido que debaixo do vestido, ela usava tênis verdes.
— É evidente — Luke observou — que está acontecendo algo que eu não sei.
Simon olhou para ele.
— Às vezes eu acho que é o lema da minha vida.
Luke ergueu as sobrancelhas.
— Aconteceu alguma coisa?
Simon hesitou. Ele certamente não poderia dizer Luke sobre sua vida amorosa – Luke e Maia eram do mesmo bando, e lobisomens são mais leais do que as gangues de rua. Isso colocaria Luke em uma posição muito embaraçosa. Era verdade, no entanto, que Luke também era um recurso. Como líder da matilha de lobos de Manhattan, ele tinha acesso a todos os tipos de informações, e era bem versado na política dos Seres do Submundo.
— Você já ouviu falar de uma vampira chamada Camille?
Luke fez um som de assobio baixo.
— Eu sei quem ela é. Estou surpreso que você saiba.
— Bem, ela é a chefe do clã de vampiros de Nova York. Eu sei algo sobr eles — Simon disse, um pouco severo.
— Eu não percebi que você sabia. Pensei que você queria viver como um ser humano tanto quanto poderia — não houve julgamento na voz de Luke, apenas curiosidade — no momento em que me tornei o líder da matilha do centro da cidade, ela colocou Rafael no comando. Não acho que alguém saiba aonde ela foi exatamente. Mas ela é uma espécie de lenda. Uma vampira extremamente antiga, pelo o que sei. Famosa por ser cruel e astuta. Ela podia dar um golpe no Povo das Fadas por dinheiro.
— Você já a viu?
Luke sacudiu a cabeça.
— Não, não acho que já a tenha visto. Por que a curiosidade?
— Raphael a mencionou — Simon respondeu, vagamente.
Luke franziu a testa.
— Você viu Raphael ultimamente?
Antes que Simon pudesse responder, o sino da loja soou novamente e, para a surpresa de Simon, Jace entrou. Clary não tinha mencionado que ele estava vindo. Na verdade, ele percebeu, Clary não tinha mencionado muito Jace ultimamente.
Jace olhou de Luke para Simon. Olhou como se tivesse ficado um pouco surpreso por ver Simon e Luke ali, embora fosse difícil de dizer.
Embora Simon imaginasse que Jace conseguisse fazer uma vastidão de expressões faciais quando estava sozinho com Clary, seu padrão em torno de outras pessoas era de um tipo de monotonia feroz. “Ele parece”, Simon tinha dito uma vez para Isabelle, “como se estivesse pensando sobre algo profundo e significativo, mas se você perguntar para ele o que é, ele te dá um murro na sua cara.” “Então não pergunte a ele”, Isabelle havia respondido, como se ela pensasse que Simon estava sendo ridículo. “Ninguém disse que vocês dois precisam ser amigos.”
— Clary está aqui? — Jace perguntou, fechando a porta atrás dele.
Ele parecia cansado. Havia olheiras sob seus olhos, e ele não parecia ter se incomodado em colocar uma jaqueta, apesar do fato de que o vento do outono estivesse forte. Ainda que o frio não pudesse afetar muito Simon, olhar para Jace em apenas jeans e uma camisa o fez sentir frio.
— Ela está ajudando Jocelyn — Luke explicou — mas você é bem-vindo a esperar aqui conosco.
Jace olhou inquietamente para as paredes adornadas com véus, leques e tiaras, tudo incrustado com pérolas e contas brancas.
— Tudo é... tão branco.
— É claro que é branco — Simon rebateu — é um casamento.
— Branco para Caçadores de Sombras é a cor dos funerais — Luke explicou — mas para mundanos, Jace, é a cor do casamento. As noivas se vestem de branco para simbolizar sua pureza.
— Pensei que Jocelyn falou que seu vestido não seria branco — Simon observou.
— Bem — Jace respondeu — suponho que ela perdeu a oportunidade.
Luke se engasgou com o café. Antes que ele pudesse dizer – ou fazer - qualquer coisa, Clary caminhou de volta para a sala. Seu cabelo estava levantado agora por grampos cintilantes, com alguns cachos pendurados frouxos.
— Eu não sei — ela dizia quando se aproximou deles — Karyn colocou suas mãos sobre mim e fez o meu cabelo, mas eu não estou certa sobre os brilhos...
Ela parou quando viu Jace. Ficou claro pela sua expressão que ela não esperava vê-lo também. Seus lábios estavam entreabertos pela surpresa, mas ela não disse nada.
Jace, por sua vez, estava olhando fixo para ela, e pela primeira vez em sua vida Simon podia ler a expressão de Jace como um livro. Era como se todo o resto do mundo tivesse sumido para Jace, restando só ele e Clary, e ele estava olhando para ela com um indisfarçável anseio e desejo que fez Simon se sentir incomodado, como se ele tivesse, de alguma maneira, invadindo um momento privado.
Jace pigarreou.
— Você está linda.
— Jace — Clary parecia mais perplexa do que qualquer outra coisa — está tudo bem? Pensei que você disse que não poderia vir por causa da reunião da Clave.
— Isso mesmo — Luke lembrou — ouvi falar sobre o corpo de um Caçador de Sombras no parque. Há alguma novidade?
Jace sacudiu a cabeça, ainda olhando para Clary.
— Não. Ele não é um dos membros da Clave de Nova York, além disso, ele não foi identificado. Nenhum dos corpos foi. Os Irmãos do Silêncio estão procurando por eles agora.
— Isso é bom. Os Irmãos vão descobrir quem eles são — Luke falou.
Jace não disse nada. Ele ainda estava olhando para Clary, e era a mais estranha espécie de olhar, Simon pensou, um tipo de olhar que você dava a alguém que amava, mas nunca poderia ter. Imaginou que Jace tinha se sentido daquela forma antes a respeito da Clary, mas agora?
— Jace? — Clary chamou, e deu um passo em direção a ele.
Ele mudou o seu olhar para longe dela.
— A jaqueta que eu te emprestei no parque ontem — ele falou — você ainda a tem?
Agora, parecendo ainda mais perplexa, Clary apontou para onde o item de vestuário em questão, uma jaqueta marrom de camurça perfeitamente comum, estava pendurada nas costas de uma das cadeiras.
— Está ali. Eu ia levá-la para você depois...
— Bem — respondeu Jace, pegando-a e enfiando os braços nas mangas apressadamente, como se de repente estivesse com pressa — agora você não precisa.
— Jace — Luke comentou em tom de calma que ele sempre tinha — nós vamos jantar mais cedo no Park Slope depois disso. Você é bem-vindo para vir.
— Não — Jace recusou, fechando a jaqueta — eu tenho treinamento nesta tarde. É melhor eu partir.
— Treinamento? — Clary ecoou. — Mas treinamos ontem.
— Alguns de nós tem que treinar todos os dias, Clary — Jace não parecia zangado, mas houve uma rudeza no seu tom e Clary corou — vejo vocês mais tarde — acrescentou sem olhar para ela, e praticamente se atirou em direção à porta.
Quando a porta se fechou atrás dele, Clary estendeu a mão e puxou furiosamente os grampos do cabelo, e uma cascata de emaranhados caiu abaixo em seus ombros.
— Clary — Luke disse gentilmente. Ele se levantou — o que você está fazendo?
— O meu cabelo.
Ela puxou o último grampo com força. Seus olhos estavam brilhando, e Simon podia dizer que ela fazia força para não chorar.
— Eu não quero usá-lo assim. Parece estúpido.
— Não, não parece — Luke tomou os grampos dela e os colocou em uma das mesinhas brancas — olha, casamentos tornam os homens nervosos, ok? Isso não significa nada.
— Certo.
Clary tentou sorrir. Ela quase conseguiu, mas Simon sabia que a amiga não acreditava em Luke. Ele dificilmente poderia culpá-la. Depois de ver o olhar no rosto de Jace, Simon não acreditaria também.

***

À distância, a Quinta Avenida estava iluminada como uma estrela contra o crepúsculo azul. Simon caminhava ao lado Clary avenida abaixo, Jocelyn e Luke a poucos passos à frente deles. Clary tinha mudado o vestido para um jeans agora, um grosso cachecol branco enrolado ao redor de seu pescoço. De vez em quando ela o alcançava e girava o anel na corrente num gesto nervoso. Ele se perguntou se ela estava ciente disso.
Quando deixaram a loja de noivas, Simon perguntou se ela sabia o que estava errado com o Jace, mas Clary não o respondeu. Ela encolheu os ombros e começou a perguntar-lhe sobre o que estava acontecendo com ele, se já havia conversado com sua mãe, e se importava de estar com Eric. Quando lhe respondeu que estava morando com Kyle, ela se surpreendeu.
— Mas você nem sequer o conhece! Ele poderia ser um serial killer.
— Eu pensei nisso. Eu verifiquei o apartamento, mas se ele tem um refrigerador cheio de armas, não o vi ainda. Enfim, ele parece muito sincero.
— Então, como é o seu apartamento?
— Legal, para Alphabet City. Você devia vir depois, mais tarde.
— Não nesta noite — Clary disse, um pouco distraída. Ela estava brincando com o anel de novo. — Talvez amanhã?
Ela ia ver Jace?, Simon pensou, mas ele não perguntou. Se não queria falar sobre isso, ele não iria forçá-la.
— Aqui estamos nós.
Ele abriu a porta da lanchonete para ela, e uma lufada de ar quente com cheiro desouvlaki os atingiu.
Eles encontraram um local reservado com uma grande televisão de tela plana que cobria a parede. Se aglomeraram ali enquanto Jocelyn e Luke tagarelavam animadamente um com o outro sobre os planos de casamento.
matilha de Luke, ao que parece, se sentiram insultados por não terem sido convidados para a cerimônia – embora a lista de convidados fosse minúscula – e insistiram em fazer a sua própria festa em uma fábrica reformada no Queens.
Clary escutou, sem dizer nada. A garçonete veio para perto, distribuindo menus plastificados tão duros que poderiam ser usados como armas. Simon deixou o seu na mesa e olhou para fora a janela. Havia uma academia do outro lado da rua, e ele podia ver as pessoas através do vidro correndo em esteiras, levantando pesos, fones de ouvido presos em suas orelhas. Todos correndo e não chegando a lugar nenhum, pensou. A história da minha vida.
Ele tentou afastar seus pensamentos sombrios para longe, e quase teve êxito.
Esta era uma das cenas mais familiares de sua vida, pensou – um local reservado no canto em uma lanchonete, ele, Clary e sua família. Luke sempre fez parte da família, mesmo quando não estava prestes a se casar com a mãe de Clary. Simon deveria se sentir em casa. Ele tentou forçar um sorriso, apenas para perceber que a mãe da Clary acabara de pedir-lhe algo e ele não a tinha escutado falar. Todos na mesa estavam olhando para ele com expectativa.
— Desculpe-me. Eu não... o que você disse?
Jocelyn sorriu pacientemente.
— Clary me contou... você adicionou um novo membro à sua banda?
Simon sabia que ela estava apenas sendo educada. Bem, educada da maneira que os pais eram quando fingiam levar os hobbies do filho a sério. Ainda assim, ela foi para vários de seus shows antes, apenas para ajudar a encher a sala. Ela se importava com ele; sempre importou.
Em algum lugar escuro, oculto de sua mente, Simon suspeitava que ela sempre soube como ele se sentia a respeito de Clary, e se perguntou se ela não gostaria que sua filha tivesse feito uma escolha diferente, se tivesse sido algo que ela pudesse controlar. Ele sabia que Jocelyn não gostava realmente de Jace. Era óbvio até mesmo na maneira como ela dizia o seu nome.
— Sim — Simon respondeu — Kyle. Ele é um tipo de cara estranho, mas superlegal.
Encorajado por Luke a expandir o tema sobre a estranheza de Kyle, Simon contou a eles sobre o apartamento de Kyle – tomando cuidado de deixar de fora o detalhe que agora era seu apartamento também – o seu trabalho como mensageiro de bicicleta, e sua velha picape caindo aos pedaços.
— E cresce aquelas plantas estranhas sobre a sacada — acrescentou — nada de vasos – eu chequei. Elas têm uma espécie de folhas prateadas...
Luke franziu a testa, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, a garçonete chegou, carregando um grande jarro de prata de café. Ela era jovem com cabelos claros e descoloridos, amarrados em duas tranças. Quando se curvou para encher copo de café de Simon, uma das tranças roçou seu braço. Ele podia sentir o cheiro do suor nela, e sob isso, o sangue. Sangue humano, o cheiro mais doce de todos.
Ele sentiu um familiar aperto no estômago. Frieza se espalhou por ele. Ele estava com fome, e tudo o que tinha ao retornar para a casa de Kyle, seria sangue em temperatura ambiente que já estava começando a separar o plasma das hemácias – uma perspectiva repugnante, mesmo para um vampiro.
Você nunca se alimentou de alguém puramente humano, não é? Você irá. E quando o fizer, não irá se esquecer. Ele fechou os olhos. Quando os abriu novamente, a garçonete tinha ido e Clary estava olhando para ele com curiosidade do outro lado da mesa.
— Está tudo bem?
— Tudo.
Ele fechou a mão em torno de sua xícara de café. Ela estava tremendo. Acima deles, a TV ainda estava retumbando as notícias da noite.
— Ugh — Clary disse, olhando para a tela — você está ouvindo isso?
Simon seguiu seu olhar. O âncora de notícias estava usando aquela expressão que tendem a usar quando estão relatando sobre algo especialmente deprimente.
— Ninguém se apresentou para identificar o bebê, um menino encontrado abandonado em um beco atrás do hospital Beth Israel há vários dias — o repórter estava dizendo — a criança é branca, pesa dois quilos e duzentos gramas, e é saudável. Foi encontrado preso a um assento infantil para carros atrás de uma caçamba de lixo no beco. O mais perturbador foi a nota manuscrita inserida dentro do cobertor da criança, implorando às autoridades do hospital para aplicar a eutanásia na criança porque “não tenho forças para eu mesma fazer.” A polícia diz que é provável que a mãe da criança estivesse mentalmente doente, e alegam que eles têm “vantagem promissora.” Qualquer um com informação sobre essa criança deve telefonar para o disque-denúncia...
— Isso é tão horrendo — Clary disse, desviando a visão da TV com um estremecimento — eu não posso entender como as pessoas simplesmente abandonam seus bebês como se fossem lixo.
— Jocelyn — Luke disse, sua voz aguda pela preocupação.
Simon olhou para a mãe de Clary. Ela estava tão branca quanto um lençol e parecia estar prestes a vomitar. Ela empurrou o prato para longe de repente, se levantou da mesa e correu para o banheiro. Depois de um momento, Luke largou o guardanapo e foi atrás dela.
— Oh, merda — Clary colocou a mão sobre a boca — não posso acreditar que eu disse isso. Eu sou tão estúpida.
Simon estava completamente perplexo.
— O que está acontecendo?
Clary se esgueirou no seu lugar.
— Ela estava pensando em Sebastian — Clary explicou — quero dizer, Jonathan. Meu irmão. Suponho que você se lembra dele.
Ela estava sendo sarcástica. Não era provável que nenhum deles se esquecesse de Sebastian, cujo verdadeiro nome verdadeiro era Jonathan e que havia assassinado Hodge e Max, e quase conseguiu ajudar Valentim vencer uma guerra que teria sido a destruição de todos os Caçadores de Sombras.
Jonathan, que tinha olhos negros que queimavam e um sorriso como uma lâmina de barbear. Jonathan, cujo sangue tinha sabor de ácido de bateria, quando Simon o mordeu uma vez. Não que ele se arrependesse.
— Mas sua mãe não o abandonou — Simon lembrou — ela ia continuar a criá-lo, mesmo sabendo que havia algo terrivelmente errado com ele.
— Ela o odiava, no entanto. Não acho que ela já superou isso. Imagine odiar o seu próprio bebê. Ela costumava tirar uma caixa que tinha as coisas de bebê dele e chorava sobre ela a cada ano em seu aniversário. Acho que ela estava chorando pelo filho que teria tido – você sabe, se Valentim não tivesse feito o que fez.
— E você teria um irmão — Simon continuou — tipo, um real. Não um psicopata assassino.
Parecendo à beira das lágrimas, Clary empurrou seu prato para longe.
— Eu me sinto mal agora. Sabe aquela sensação quando você está com fome, mas não pode comer?
Simon olhou para a garçonete de cabelos descoloridos que estava encostada no balcão da lanchonete.
— Sim. Eu sei.
Por fim, Luke voltou para a mesa, mas apenas para dizer a Clary e Simon que estava levando Jocelyn para casa. Ele deixou um pouco de dinheiro, que os dois usaram para pagar a conta antes de sair da lanchonete e seguir para Galaxy Comics na Sétima Avenida. Nenhum deles conseguia se concentrar o suficiente para se divertir, então eles se separaram, com a promessa de se verem no dia seguinte.
Simon entrou na cidade com o capuz levantado e seu iPod ligado, explodindo música em seus ouvidos. A música sempre foi sua maneira de bloquear tudo. No momento em que pegou a Segunda Avenida e desceu a Houston, uma chuva fraca começou a cair, e seu estômago revirava.
Ele cortou acima para a First Street, que estava quase deserta, uma faixa de escuridão entre as luzes brilhantes da Primeira Avenida e a Avenida A.
Já que estava com o seu iPod ligado, não os ouviu chegando por trás até que eles estavam quase em cima dele. O primeiro indício que ele teve de que algo estava errado, foi uma longa sombra que surgiu sobre a calçada, sobrepondo a sua própria. Outra sombra se juntou a essa, do outro lado. Simon se virou e viu dois homens atrás dele. Ambos estavam vestidos exatamente como o assaltante que o atacou na outra noite – moletom cinza, capuz cinza puxado para cima para esconder seus rostos. Eles estavam perto o suficiente para tocá-lo.
Simon saltou para trás com uma força que o surpreendeu. Devido a sua nova força de vampiro, isso ainda era capaz de chocá-lo. Quando, um instante depois, ele se viu empoleirado nos degraus da entrada de uma casa geminada, há vários metros de distância dos agressores, ele ficou tão surpreso por estar lá que congelou.
Os atacantes avançaram nele. Estavam falando o mesmo idioma gutural que o primeiro atacante – que, Simon estava começando a suspeitar, não tinha sido assaltante de modo algum. Assaltantes, tanto quanto ele sabia, não trabalhavam em gangues, e era pouco provável que o primeiro atacante tivesse amigos criminosos que decidiram se vingar dele pela morte do seu camarada. Era óbvio que outra coisa estava acontecendo aqui.
Os estranhos chegaram aos degraus da entrada, efetivamente prendendo-o lá em cima. Simon arrancou os fones de ouvido de seu iPod das orelhas e apressadamente ergueu as mãos para cima.
— Olha, eu não sei o que está acontecendo, mas vocês realmente querem me deixar em paz.
Os agressores apenas o encararam. Ou pelo menos Simon achava que estavam olhando para ele. Sob as sombras de seus capuzes, era impossível ver seus rostos.
— Eu tenho a sensação que alguém lhes enviou atrás de mim — disse ele — mas é uma missão suicida. Sério. Eu não sei o quanto estão pagando a vocês, mas não é o suficiente.
Um dos caras de moletom riu. O outro tinha alcançado o seu bolso e puxado algo para fora. Algo que brilhou preto debaixo dos postes de luz.
Uma arma.
— Ah, cara. Você realmente, realmente não quer fazer isso. Eu não estou brincando.
Ele deu um passo para trás, em cima de um dos degraus. Talvez se ele conseguisse altura suficiente, poderia saltar sobre os atacantes, ou passar por eles. Qualquer coisa, exceto deixá-los atacar. Ele não achava que podia enfrentar o que aquilo significava. Não outra vez.
O homem com a arma elevou o braço. Houve um clique à medida que ele puxou o gatilho para trás.
Simon mordeu o lábio. Em seu pânico, suas presas tinham saído. Dor disparou através dele quando elas se afundaram em sua pele.
— Não faça...
Um objeto escuro caiu do céu. A princípio, Simon achou que algo tinha caído de uma das janelas superiores – um ar condicionado solto, ou alguém muito preguiçoso para arrastar o seu lixo para baixo. Mas a coisa em queda, ele percebeu, era uma pessoa – caindo com direção, propósito e graça. A pessoa aterrissou sobre o assaltante, derrubando-o. A arma escorregou da sua mão, e ele gritou, um som estridente e alto. O segundo assaltante se encurvou e pegou a arma. Antes que Simon pudesse reagir, o sujeito levantou-a e puxou o gatilho. Uma faísca de chama apareceu na boca da arma.
E a arma explodiu.
Ela explodiu, e o assaltante explodiu junto com ela, rápido demais até mesmo para gritar. Ele pretendia dar a Simon uma morte rápida, e uma morte muito mais rápida foi o que ele conseguiu em troca. O atacante se partiu em pedaços como vidro, como a cores que voam para o exterior em um caleidoscópio. Houve uma explosão suave – som do ar deslocado – e em seguida, nada além de uma garoa suave de sal, caindo sobre a calçada como chuva solidificada.
A visão de Simon ficou turva, e ele caiu sobre os degraus. Ele estava ciente de um ruidoso zumbido nos ouvidos, e depois alguém o agarrou pelos pulsos e o sacudia com força.
— Simon, Simon!
Ele olhou para cima. A pessoa que o agarrou e o sacudia era Jace. O outro garoto não estava usando traje de luta, mas ainda estava vestindo seus jeans e a jaqueta que ele tinha pegado de volta da Clary. Ele estava despenteado, suas roupas e rosto coberto com sujeira e fuligem. Seu cabelo estava molhado da chuva.
— Que diabos foi aquilo? — Jace perguntou.
Simon olhou para cima e para baixo na rua. Ela ainda estava deserta. O asfalto brilhava, preto, úmido e vazio. O segundo assaltante tinha ido embora.
— Você — ele disse, um pouco grogue — você venceu os assaltantes...
— Aqueles não eram assaltantes. Eles estavam te seguindo desde que saiu do metrô. Alguém mandou aqueles sujeitos — Jace falou com completa segurança.
— O outro — Simon falou — o que aconteceu com ele?
— Ele simplesmente desapareceu — Jace estalou os dedos — viu o que aconteceu com seu amigo, e ele se foi, assim. Eu não sei o que eram exatamente. Não eram demônios, mas não exatamente humanos também.
— Sim, eu percebi essa parte, obrigado.
Jace olhou para ele mais de perto.
— Aquilo – o que aconteceu com o assaltante – foi você, não foi? Sua Marca, nesse caso — ele apontou para a testa de Simon — eu a vi queimar em branco antes de aquele cara apenas... dissolver.
Simon não disse nada.
— Eu já vi muita coisa — Jace continuou. Não havia sarcasmo em sua voz, ou qualquer zombaria - uma mudança do habitual — mas eu nunca vi nada assim.
— Eu não fiz isso — Simon disse suavemente — eu não fiz nada.
— Você não teve que fazer nada  seus olhos dourados ardiam em seu rosto riscado de fuligem — porque está escrito: “A vingança é minha; eu retribuirei, diz o Senhor”.

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