Capítulo 7 - Praetor Lupus

A garrafa deslizou da mão de Simon e caiu no chão, espatifando-se e mandando cacos de vidro por todas as direções.
— Kyle é um lobisomem?
— Claro que é um lobisomem, seu idiota — disse Jace. Ele olhou para Kyle — não é?
Kyle não disse nada. O relaxado bom humor saíra de sua expressão. Os olhos castanhos estavam severos e inflexíveis como vidro.
— Quem está perguntando?
Jace se afastou da janela. Não havia nada abertamente hostil em seu comportamento, e mesmo assim, tudo nele implicava uma clara ameaça. As mãos estavam soltas nos lados, mas Simon se lembrou do jeito que viu Jace, antes, entrar em ação com quase nada, ao que parecia, entre pensamento e reação.
— Jace Lightwood. Do Instituto Lightwood. Você é de qual matilha?
— Jesus — Kyle falou — você é um Caçador de Sombras? — Ele olhou para Simon. — A garota ruiva bonita que estava com você na garagem... ela era uma Caçadora de Sombras também, não era?
Pego de surpresa, Simon assentiu.
— Sabe, algumas pessoas pensam que Caçadores de Sombras são só mitos. Como múmias e gênios — Kyle sorriu para Jace — você pode realizar desejos?
O fato de Kyle ter chamado Clary de bonita não pareceu melhorar seu conceito para Jace, cujo rosto se enrijecia de forma alarmante.
— Isso depende. Você quer ser socado na cara?
— Céus — Kyle comentou — e eu que achava que todos vocês estavam tão dedicados aos Acordos nesses dias...
— Os Acordos se aplicam a vampiros e licantropos com claras alianças — interrompeu Jace — diga-me em que matilha você está ou terei que assumir que é um selvagem.
— Muito bem, já chega — Simon interrompeu — vocês dois, parem de agir como se fossem se bater — ele se virou para Kyle — você devia ter me contado que era um lobisomem.
— Não percebi que você me contou que era um vampiro. Talvez eu tenha achado que não era da sua conta.
O corpo todo de Simon estremeceu em surpresa.
— O quê? — Ele olhou para o vidro quebrado e o sangue no chão. — Eu não... eu não...
— Não importa — Jace falou calmamente — ele pode sentir que você é um vampiro. Assim como você será capaz de sentir lobisomens e outros Seres do Submundo quando tiver um pouco mais de prática. Ele sabe o que você é desde que o conheceu. Não é verdade? — Encontrou os frios olhos castanhos de Kyle com os próprios. Kyle não disse nada. — E aquela coisa que ele está deixando crescer na sacada, a propósito? É acônito. Agora você sabe.
Simon cruzou os braços sobre o peito e encarou Kyle.
— Então, que diabos é isso? Algum tipo de projeto? Por que pediu para eu vir morar com você? Lobisomens odeiam vampiros.
— Eu não. Embora, eu não morra de amores pelos seus tipos — Kyle apontou um dedo para Jace — eles acham que são melhores que todo mundo.
— Não. Eu sei que sou melhor que todo mundo. Uma opinião que tem sido apoiada com ampla evidência.
Kyle olhou para Simon.
— Ele sempre fala assim?
— Fala.
— Alguma coisa o faz calar a boca? Outra além de dar uma surra, é claro.
Jace se afastou da janela.
— Adoraria ver você tentar.
Simon entrou no meio deles.
— Eu não vou deixar vocês lutarem um com o outro.
— E o que você vai fazer se... Ah — o olhar de Jace voou para a testa de Simon, e ele sorriu relutante — então basicamente você está ameaçando me transformar em algo que se pode salpicar na pipoca se eu não fizer o que você diz?
Kyle ficou confuso.
— O que você está...
— Eu só acho que vocês dois deviam conversar — interrompeu Simon — então tá, Kyle é um lobisomem. Eu sou um vampiro. E você não é exatamente o garoto da porta ao lado, também — acrescentou para Jace — digo que vamos descobrir o que está acontecendo e prosseguir daí.
— Essa sua confiança idiota não tem limites — Jace respondeu, mas se sentou no parapeito da janela.
Depois de um momento, Kyle também se sentou no sofá de futon. Ambos se encaravam. Perfeito, pensou Simon. Progresso.
— Certo — Kyle falou — eu sou um lobisomem. Não faço parte de uma matilha, mas tenho uma aliança. Você já ouviu falar no Praetor Lupus?
— Já ouvi falar de lúpus — Simon respondeu — não é uma espécie de doença?
Jace lhe lançou um olhar fulminante.
— “Lupus” significa “lobo” — ele explicou — e os pretorianos eram uma força militar da elite romana. Então acho que a tradução é “Lobos Guardiões” — Jace deu de ombros. — Já topei com relatos casuais sobre eles, mas são uma organização muito secreta.
— E os Caçadores de Sombras não são? — Kyle perguntou.
— Temos bons motivos — Jace rebateu.
— Nós também — Kyle se inclinou para frente. Os músculos em seus braços se flexionaram quando apoiou os cotovelos nos joelhos — há dois tipos de lobisomens. O tipo que nasce lobisomem, com pais lobisomens, e o tipo que é infectado com licantropia através de uma mordida.
Simon olhou para ele em surpresa. Nunca teria pensado que Kyle, o preguiçoso mensageiro de bicicleta, teria conhecimento da palavra “licantropia”, muito menos de como pronunciá-la. Mas esse era um Kyle muito diferente – focado, atento, direto.
— Para aqueles de nós que são transformados por uma mordida, os primeiros anos são fundamentais. A descendência demoníaca que causa licantropia causa um montão de outras coisas – ondas de incontrolável agressão, incapacidade de controlar a raiva, desespero e fúria suicida. A matilha pode ajudar com isso, mas muitos dos que foram infectados recentemente não têm tanta sorte de associar-se a uma matilha. Eles ficam sozinhos, tentando lidar com toda essa situação opressiva, e muitos se tornam violentos – contra outros e contra si mesmos. Há um alto índice de suicídio e um alto índice de violência doméstica — ele olhou para Simon — o mesmo serve para vampiros, exceto que pode ser ainda pior. Um órfão recém-criado não tem literalmente ideia do que aconteceu com ele. Sem ajuda, ele não sabe como se alimentar de forma segura, ou até não ficar na luz do sol. É aonde entramos.
— E fazem o quê? — Simon perguntou.
— Rastreamos Seres do Submundo “órfãos” – vampiros e lobisomens que acabaram de ser transformados e ainda não sabem o que são. Às vezes até bruxos – alguns deles não percebem o que são por anos. Nós intervimos, tentamos colocá-los em uma matilha ou clã tentamos ajudá-los a controlar seus poderes.
— Bons samaritanos, vocês são — os olhos de Jace brilhavam.
— Somos mesmo — Kyle parecia tentar manter a voz neutra — nós intervimos antes que o novo Ser do Submundo possa ficar violento e ferir a si ou a outras pessoas. Eu sei o que teria acontecido a mim se não fosse pela Guarda. Fiz coisas ruins. Muito ruins.
— Ruins a que nível? — Jace perguntou. — Ilegalmente ruins?
— Cala a boca, Jace. Você está de folga. Pare de ser um Caçador de Sombras por um segundo — ele virou para Kyle — então, como você terminou fazendo um teste de audição para a minha banda podre?
— Não percebi que você sabia que era podre.
— Apenas responda a pergunta.
— Chegou uma informação de um novo vampiro – um Diurno, vivendo sozinho, sem clã. O seu segredo não é tão secreto quanto pensa. Vampiros novatos sem um clã para ajudá-los podem ser muito perigosos. Fui despachado para ficar de olho em você.
— Então o que você está dizendo é que não quer que eu me mude agora porque eu sei que você é um lobisomem, e que não vai me deixar mudar?
— Exato — Kyle concordou — quero dizer, você pode se mudar, mas eu vou com você.
— Isso não é necessário — Jace interviu — posso ficar perfeitamente de olho em Simon, obrigado. Ele é o meu Ser do Submundo novato, para zoar e mandar por aí, não o seu.
— Silêncio! — Simon Gritou. — Os dois. Nenhum dos dois estava por perto quando alguém tentou me matar hoje mais cedo...
— Eu estava — Jace apontou — você sabe, no fim.
Os olhos de Kyle brilhavam como os olhos de um lobo na noite.
— Alguém tentou te matar? O que aconteceu?
O olhar de Simon encontrou o de Jace do outro lado da sala. Um acordo silencioso de não mencionar a Marca de Caim passou entre eles.
— Há dois dias, e hoje, fui seguido e atacado por uns caras vestindo agasalhos de moletom cinza.
— Humanos?
— Não sabemos ao certo.
— E você não tem ideia do que querem com você?
— Eles definitivamente me querem morto — Simon disse — com exceção disso, não sei mesmo.
— Temos algumas pistas — Jace falou — estaremos investigando.
Kyle sacudiu a cabeça.
— Tudo bem. O que quer que vocês não estejam me contando, vou descobrir mais tarde mesmo — ele se levantou — e agora, estou morto de cansaço. Vou dormir. Vejo você pela manhã — disse para Simon. — Você — ele falou para Jace — bem, acho que te vejo por aí. Você é o primeiro Caçador de Sombras que já conheci.
— Isso é mau, já que todos os que você conhecer de hoje em diante serão uma terrível decepção.
Kyle revirou os olhos e partiu, fechando com força a porta do quarto quando passou.
Simon olhou para Jace.
— Você não vai voltar para o Instituto, vai?
Jace sacudiu a cabeça.
— Você precisa de proteção. Quem sabe quando alguém pode tentar te matar de novo?
— Essa sua paranoia de evitar Clary realmente se tornou uma virada histórica — Simon comentou, se levantando — algum dia você vai voltar para casa?
Jace fitou-o.
— Você vai?
Simon foi para a cozinha, pegou uma vassoura e varreu o vidro quebrado da garrafa. Era a sua última. Jogou os cacos no lixo e passou por Jace indo em direção ao seu pequeno quarto, onde tirou a sua jaqueta e sapatos e se lançou sobre o colchão.
Um momento depois, Jace entrou no quarto. Olhou em volta, suas sobrancelhas claras erguidas, em sua expressão uma máscara de diversão.
— Você tem bastante espaço aqui. Minimalista. Gostei.
Simon rolou para o lado e fitou Jace em descrença.
— Por favor, me diga que você não está planejando ficar no meu quarto.
Jace se sentou no parapeito da janela e olhou para ele.
— Você não leva a sério esse negócio de guarda-costas, não é?
— Eu nem imaginava que você gostava tanto de mim assim — Simon respondeu — essa é uma daquelas coisas de “mantenha seus amigos por perto e inimigos mais perto ainda”?
— Achei que era para manter seus amigos por perto para ter alguém para dirigir o carro quando você esgueirar-se para a casa do seu inimigo durante a noite e vomitar em sua caixa de correspondências.
— Tenho certeza que não é isso. E isso de me proteger é menos tocante do que assustador, só para você saber. Eu estou ótimo. Você viu o que acontece se alguém tentar me ferir.
— É, eu vi. Porém, mais cedo ou mais tarde a pessoa que está tentando te matar vai descobrir sobre a Marca de Caim. E então eles vão desistir ou encontrar outra maneira de vir até você — Jace se inclinou no caixilho da janela — e é por isso que estou aqui.
Apesar da irritação, Simon não pôde encontrar lacunas no argumento dele, ou pelo menos não uma grande suficiente para se incomodar. Ele deitou-se de barriga para baixo e enterrou o rosto nos braços. Dentro de minutos, adormeceu.
Estava andando no deserto, sobre a areia quente, ossos velhos queimando ao sol. Nunca tivera tanta sede. Quando engoliu, sua boca parecia estar coberta de areia, sua garganta coberta com facas.
O zumbido agudo do celular acordou Simon. Ele rolou na cama e agarrou exausto a sua jaqueta. Quando tirou o aparelho do bolso, já havia parado de tocar.
Ele o virou, para ver quem havia ligado. Era Luke.
Droga. Aposto que minha mãe ligou para a casa de Clary me procurando, ele pensou, sentando-se. Seu cérebro ainda estava vago de sono, e demorou um momento para ele se lembrar que, quando adormecera no quarto, não estava sozinho.
Olhou rapidamente para a janela. Jace ainda estava ali, mas claramente dormia – sentado, sua cabeça encostada no vidro da janela. Uma luz azul clara do amanhecer infiltrava-se sobre ele. Ele parece bastante jovem assim, Simon pensou. Sem escárnio na expressão, sem defensiva ou sarcasmo. Era quase possível imaginar o que Clary viu nele.
Estava claro que Jace não levava seus deveres de guarda-costas tão seriamente, mas aquilo era óbvio desde o começo. Simon se perguntou, não pela primeira vez, que diabos estava acontecendo entre Clary e Jace.
O telefone voltou a zumbir. Levantando-se com um impulso, Simon se direcionou para a sala de estar, atendendo logo antes da ligação cair na caixa postal de novo.
— Luke?
— Desculpe por acordá-lo, Simon — Luke estava, como sempre, infalivelmente cortês.
— Já estava acordado mesmo — mentiu Simon.
— Preciso que você me encontre no Washington Square Park em meia hora. Na fonte.
Agora Simon ficou seriamente alarmado.
— Está tudo bem? Clary está bem?
— Ela está ótima. Não se trata dela — houve um ruído retumbante ao fundo. Simon supôs que Luke estava dando a partida em sua caminhonete — apenas me encontre no parque. E não traga ninguém.
Ele desligou.

***

O barulho da caminhonete de Luke acordou Clary de seus sonhos inquietos. Ela se sentou e estremeceu.
A corrente do colar se prendera em seu cabelo enquanto dormia, e ela a puxou sobre a cabeça, cuidadosamente desfazendo o emaranhado. Baixou o anel na sua palma, a corrente caindo em volta. O pequeno círculo de prata, marcado com seu conjunto de estrelas, parecia piscar zombeteiramente. Lembrou-se de quando Jace o havia dado para ela, enrolado na nota que deixara para trás quando foi caçar Jonathan. Apesar de tudo, não posso suportar o pensamento desse anel ser perdido para sempre, não mais do que posso suportar o pensamento de deixar você para sempre.
Aquilo havia sido dois meses atrás. Ela tinha certeza que Jace a amava, tão certa que a Rainha da Corte Seelie não fora capaz de provocá-la. Como poderia querer outra coisa, quando tinha Jace?
Mas talvez você nunca tivesse tido alguém mesmo, pensou agora. Talvez, independente de quanto vocês se amem, elas podem escorregar dos seus dedos como água, e não há nada que possa fazer a respeito.
Entendia por que as pessoas falavam sobre corações “partidos”; Clary sentia como se o dela fosse feito de vidro quebrado, e os cacos fossem como minúsculas facas dentro de seu peito quando respirava. Imagine sua vida sem ele, a Rainha de Seelie dissera...
O telefone tocou, e seu primeiro pensamento foi o de alívio porque alguma coisa, qualquer coisa, interrompeu a sua miséria. O segundo pensamento foi: Jace. Talvez ele não conseguira ligar para o seu celular e estava ligando para a sua casa. Ela pousou o anel no criado-mudo e estendeu a mão para pegar o fone do gancho. Estava prestes a dizer “alô” quando percebeu que o telefone já havia sido atendido por sua mãe.
— Alô? — Sua mãe parecia ansiosa, e surpreendentemente acordada, apesar de ser tão cedo na manhã.
A voz que respondeu não era familiar, tinha um fraco sotaque.
— É Catarina do hospital Beth Israel. Estou procurando Jocelyn.
Clary congelou. O hospital? Será que algo aconteceu, talvez com Luke? Ele havia saído extremamente rápido...
— Eu sou Jocelyn — sua mãe não parecia assustada, mas era mais como se esperasse a ligação — obrigada por ligar de volta tão rápido.
— É claro. Fiquei feliz em ouvir sobre você. Não é todo dia que se vê as pessoas se recuperarem de uma maldição como a que você estava sofrendo.
Certo, pensou Clary. Sua mãe estivera no Beth Israel, em coma, devido os efeitos da poção que tomara para impedir que Valentim a interrogasse.
— E um amigo de Magnus Bane também é meu amigo.
Jocelyn pareceu cansada.
— Minha mensagem fez sentido? Sabe do que eu estava falando?
— Você queria saber sobre a criança — a mulher do outro lado da linha falou.
Clary sabia que devia desligar, mas não podia. Que criança? O que estava acontecendo?
— A que foi abandonada.
A voz de Jocelyn gaguejou por um instante.
— S-sim. Eu pensei...
— Sinto muito em dizer isso, mas ela faleceu. Morreu ontem à noite.
Por um momento, Jocelyn ficou em silêncio. Clary podia sentir o choque da mãe através da linha telefônica.
— Morreu? Como?
— Não tenho certeza se eu mesma consigo entender. O padre veio na noite passada para batizar a criança, e...
— Ah, meu Deus — a voz de Jocelyn ficou abalada — eu posso... eu poderia ir aí e olhar o corpo?
Houve um longo silêncio. Finalmente a enfermeira respondeu:
— Não acho que seja uma boa ideia. O corpo está no necrotério agora, esperando transferência para o escritório do examinador médico.
— Catarina, acho que sei o que aconteceu com o garoto — Jocelyn soou ofegante — e se eu puder confirmar, talvez possa impedir que aconteça outra vez.
— Jocelyn...
— Estou indo — a mãe de Clary finalizou, e desligou o telefone.
Clary encarou, confusa, o fone por um momento antes de desligar. Ela se levantou, penteou rapidamente o cabelo, vestiu jeans e um suéter e saiu pela porta do quarto bem a tempo de pegar a mãe na sala de estar, escrevendo às pressas uma nota no bloco de papel ao lado do telefone. Ela ergueu a cabeça quando Clary entrou, e olhou para ela com um ar culpado.
— Eu só estou dando uma saída. Algumas coisas de última hora do casamento surgiram, e...
— Nem se preocupe em mentir para mim — Clary interrompeu sem hesitação — eu estava ouvindo no telefone, e sei exatamente para onde você vai.
Jocelyn empalideceu. Lentamente abaixou a caneta.
— Clary...
— Você tem que parar de tentar me proteger. Aposto que você não disse nada para Luke também sobre ligar para o hospital.
Jocelyn puxou o cabelo para trás, nervosa.
— Não parece justo para ele. Com o casamento chegando e tudo...
— Beleza. O casamento. Você vai ter um casamento. E por que isso? Por que vai se casar? Não acha que já é hora de confiar em Luke? E confiar em mim?
— Eu confio em você — Jocelyn falou suavemente.
— Nesse caso, não se importaria de eu ir junto com você para o hospital.
— Clary, eu não acho...
— Eu sei o que você acha. Você acha que é o mesmo que aconteceu com Sebastian – quero dizer, Jonathan. Acha que alguém está lá fora fazendo com bebês o que Valentim fez com meu irmão.
A voz de Jocelyn se abalou levemente.
— Valentim está morto. Mas existem outros que estavam no Círculo que nunca foram pegos. E eles nunca encontraram o corpo de Jonathan.
Não era um dos assuntos favoritos de Clary. Além disso, Isabelle estivera lá e sempre fora inflexível que Jace ceifara a espinha de Jonathan com a lâmina de uma adaga e que Jonathan ficou morto, completamente morto como resultado. Ela mergulhou na água e checou, Isabelle tinha dito. Não havia pulso, nem batimento cardíaco.
— Mãe. Ele era meu irmão. Eu tenho o direito de ir com você.
Lentamente, Jocelyn assentiu.
— Você tem razão. Acho que tem — ela pegou a bolsa pendurada num cabide na porta — bem, vamos, então. E pegue um casaco. A previsão do tempo diz que poderá chover.

***

Pela manhã, o Washington Square Park estava quase deserto. O vento era refrescante e a manhã clara, as folhas já cobrindo a calçada espessas linhas vermelhas, douradas e verde escuras. Simon as chutou para o lado quando passou debaixo da arcada da pedra na ponta sul do parque.
Havia poucas pessoas em volta – alguns sem teto dormindo em bancos, enrolados em sacos de dormir ou cobertores velhos, alguns rapazes vestindo uniformes verde de gari esvaziando as latas de lixo. Havia um homem que empurrava um carrinho pelo parque, vendendo rosquinhas, cafés e bagels já cortados. E no centro do parque, perto da grande fonte de pedra circular, estava Luke.
Ele estava vestindo um blusão verde com o zíper fechado e acenou quando viu Simon.
Simon acenou em retorno, com um pouco de receio. Ele ainda não tinha certeza se estava em algum tipo de problema. A expressão de Luke, conforme Simon se aproximava, só intensificava o seu pressentimento. Luke parecia cansado e mais do que um pouco estressado. Seu olhar, quando caiu em Simon, era de total preocupação.
— Simon. Obrigado por vir.
— Sem problemas — Simon não estava com frio, mas enfiou as mãos nos bolsos de sua jaqueta mesmo assim, só para ter o que fazer — qual é o problema?
— Eu não disse nada sobre problemas.
— Você não me arrastaria para cá no início da manhã se não houvesse nenhum problema — ressaltou Simon — se não tem nada a ver com Clary, então...?
— Ontem, na loja de noivas. Você me perguntou sobre alguém. Camille.
Um bando de pássaros voou, gralhando, das árvores próximas. Simon se lembrou de uma rima que a mãe costumava recitar para ele sobre um tipo de corvo. Você devia contá-los e dizer: Um para sofrimento, dois para alegria, três para casamento, quatro para o nascimento; cinco para a prata, seis para ouro, sete para um segredo vindouro.
— Certo — Simon concordou.
Ele já perdera a conta do número de pássaros que havia ali. Sete, supôs. Um segredo vindouro. Seja lá o que ele fosse.
— Você sabe sobre os Caçadores de Sombras que foram encontrados mortos na cidade, semana passada, mais ou menos, não sabe?
Simon assentiu lentamente. Tinha um mau pressentimento sobre onde aquilo ia chegar.
— Parece que Camille é a responsável — Luke continuou — não pude deixar de lembrar que você perguntou sobre ela. Ouvir o nome dela duas vezes num único dia, depois de anos sem ouvi-lo uma vez sequer – pareceu uma grande coincidência.
— Coincidências acontecem.
— Às vezes, mas raramente são a resposta mais provável. Hoje à noite Maryse vai convocar Raphael para interrogá-lo sobre o papel de Camille nesses assassinatos. Se for descoberto que você sabe algo sobre Camille – que teve contato com ela – não quero que você seja surpreendido, Simon.
— Isso surpreenderia nós dois.
A cabeça de Simon começou a martelar. Vampiros ao menos deviam ter dor de cabeça? Ele não conseguia se lembrar da última vez que tivera uma, antes do que aconteceu nos dias que se passaram.
— Eu encontrei Camille. Faz uns quatro dias. Achei que quem estava me chamando era Raphael, mas não, era ela. Ela me ofereceu um acordo. Se eu trabalhasse para ela, ela me tornaria o segundo vampiro mais importante na cidade.
— Por que queria que você trabalhasse para ela? — O tom de Luke estava neutro.
— Ela sabe sobre a minha Marca. Disse que Raphael a traiu e ela poderia me usar para recuperar o controle do clã. Eu tive a sensação de que ela não tinha grande afeição por Raphael.
— Bastante curioso. A história que ouvi é que Camille ficou ausente por tempo indefinido da liderança do clã por aproximadamente um ano e tornou Raphael seu sucessor temporário. Se ela o escolheu para comandar no seu lugar, por que se moveria contra ele?
Simon deu de ombros.
— Eu não sei. Estou só te contando o que ela disse.
— Por que você não nos contou sobre ela, Simon? — Luke perguntou calmamente.
— Ela me pediu para não fazer isso — Simon percebeu como estava soando estúpido. — Eu nunca encontrei uma vampira como ela antes, só Raphael e os outros no Dumort. É difícil explicar como ela era. Tudo o que dizia, você queria acreditar. Tudo o que te pedia pra fazer, você queria fazer. Queria satisfazê-la mesmo sabendo que só queria me enrolar.
O homem com o carrinho de café e rosquinhas passava novamente. Luke comprou café e um bagel e se sentou na beira da fonte. Depois de um momento, Simon se juntou a ele.
— O homem que me deu o nome de Camille a chamou de “anciã” — contou Luke — ela é, eu acho, uma das vampiras mais velhas desse mundo. Imagino que iria fazer a maioria das pessoas se sentir pequenas diante dela.
— Ela fez eu me sentir um inseto — Simon concordou — prometeu que, em cinco dias, se eu não quisesse trabalhar para ela, nunca me incomodaria novamente. Então eu falei que iria pensar a respeito.
— E fez isso? Pensou a respeito?
— Se ela está matando Caçadores de Sombras, não quero ter nenhuma relação com ela. Só posso te dizer isso.
— Tenho certeza de que Maryse ficará aliviada em ouvir isso.
— Agora você está só sendo sarcástico.
— Não estou — Luke rebateu, parecendo bem sério.
Era em momentos como esse que Simon podia pôr de lado suas memórias de Luke – uma espécie de padrasto de Clary, o cara que estava sempre por perto, que sempre queria lhe dar uma carona para casa do colégio ou emprestar dez pratas para você comprar um livro ou ingressos de cinema – e lembrar que ele liderava a maior matilha de lobisomens da cidade, que era alguém que, em momentos cruciais, toda a Clave ouvia.
— Você se esquece do que é, Simon. Esquece do poder que tem.
— Eu queria poder esquecer — Simon disse amargamente — queria que, se não o usasse, ele simplesmente fosse embora.
Luke sacudiu a cabeça.
— Poder é um ímã. Atrai aqueles que o desejam. Camille é um deles, mas haverá outros. Temos tido sorte, de certa maneira, de ter demorado tanto — ele olhou para Simon — você acha que, se ela o convocar novamente, você poderia contar para mim, ou para a Clave, avisando-nos onde encontrá-la?
— Claro — Simon respondeu lentamente — ela me deu uma maneira de contatá-la. Mas não é como se ela fosse aparecer se eu soprasse um apito mágico. Da última vez que quis falar comigo, fez seus subordinados me surpreenderem e então me levarem até ela. Então apenas ter pessoas andando comigo enquanto tento contatá-la não vai funcionar. Se for assim, vamos conseguir os seus subjugados, não ela.
— Hmm... — Luke pareceu considerar aquilo — teremos então que pensar em algo inteligente.
— Melhor pensar rápido. Ela disse que me daria cinco dias, então isso significa que amanhã irá esperar algum tipo de sinal meu.
— Imagino que sim. Na verdade, estou contando com isso.

***

Simon abriu a porta da frente do apartamento de Kyle com cautela.
— Oi? — Ele chamou, entrando no ambiente e pendurando sua jaqueta. — Tem alguém em casa?
Ninguém respondeu, mas da sala de estar Simon pôde ouvir os familiares barulhos de zap! Bang! Crash! de um vídeo game sendo jogado.
Entrou no cômodo com as mãos estendidas na frente como um pedido de paz, oferecendo o saco branco de bagels que comprara da Bagel Zone na Avenida A.
— Trouxe o café da manhã...
Sua voz falhou. Ele não tinha certeza do que esperava quando os seus guarda-costas autodesignados descobrissem que saíra do apartamento sem ser visto. Definitivamente envolveria alguma frase como “Faça isso de novo e eu te mato.” O que não envolvia era Kyle e Jace, sentados no sofá-futon lado a lado, parecendo melhores amigos.
Kyle estava com um controle de vídeo game nas mãos e Jace estava inclinado para a frente, apoiando os cotovelos nos joelhos, assistindo atentamente. Mal pareceram notar a entrada de Simon.
— O cara ali no canto está olhando totalmente para o outro lado — observou Jace, apontando para a tela da TV — um chute na bunda dele pode deixá-lo fora de serviço.
— Eu não posso chutar as pessoas nesse jogo. Só posso atirar nelas. Está vendo? — Kyle apertou alguns botões.
— Isso é ridículo — Jace levantou o olhar e pareceu ver Simon pela primeira vez — de volta do seu encontro de café-da-manhã, estou vendo — ele disse sem boas-vindas no tom — aposto que se achou muito inteligente, saindo em silêncio daquele jeito.
— Meio inteligente — Simon confessou — como um cruzamento entre George Clooney daquele filme Onze homens e um segredo e aqueles Caçadores de Mitos, mas, sabe, mais bonito.
— Fico tão feliz que não tenho ideia do que você está vagamente falando — Jace respondeu — me enche com uma sensação de paz e bem-estar.
Kyle abaixou o controle, deixando a tela congelada na imagem de uma grande arma com ponta de agulha.
— Quero um bagel.
Simon jogou-lhe um, e Kyle foi para a cozinha, que era separada da sala de estar por um longo balcão, para torrar e passar manteiga no café-da-manhã. Jace olhou para o saco branco e acenou uma mão em sinal de recusa.
— Não, obrigado.
Simon se se sentou à mesa de café.
— Você devia comer alguma coisa.
— Olha só quem está falando.
— Estou sem sangue agora — Simon observou — a menos que você esteja oferecendo.
— Não, obrigado. Já passamos por essa antes, e acho que é melhor sermos apenas amigos.
O tom de Jace era levemente sarcástico como sempre, mas de perto, Simon pôde ver como ele estava pálido, e que os olhos estavam cercados por sombras escuras. Os ossos do rosto pareciam estar mais protuberantes do que antes.
— Cara — disse Simon, empurrando o saco na mesa para Jace — você devia comer alguma coisa. Falando sério.
Jace olhou para o saco de comida e estremeceu. As pálpebras dos olhos estavam azul-acinzentados de exaustão.
— Para ser honesto, o pensamento me dá enjoo.
— Você caiu no sono ontem à noite — Simon comentou — quando devia estar me protegendo. Eu sei que isso de ser meu guarda-costas é mais como uma brincadeira para você, mas mesmo assim. Faz quanto tempo desde que você dormiu pela última vez?
— Você quer dizer, durante a noite? — Jace considerou. — Duas semanas. Talvez três.
Simon ficou boquiaberto.
— Por quê? Quero dizer, o que está acontecendo?
Jace abriu o fantasma de um sorriso.
— Eu poderia viver recluso numa casca de noz e me considerar rei do espaço infinito, se não fosse meus sonhos ruins.
— Na verdade, conheço essa. Hamlet. Então você está dizendo que não pode dormir porque está tendo pesadelos?
— Vampiro — Jace falou, com uma certeza cansada — você não tem ideia.
— Ei —Kyle voltou, passando pelo balcão, e se jogou na poltrona áspera. Ele deu uma mordida no bagel — o que está acontecendo?
— Eu fui encontrar Luke — Simon respondeu, explicando o aconteceu, não vendo motivo para esconder.
Deixou de fora a menção de Camille querê-lo não só porque era um Diurno, mas também por causa da Marca de Caim. Kyle assentiu quando terminou.
— Luke Garroway. Ele é o líder da matilha do centro da cidade. Ouvi falar dele. O maior figurão.
— O nome verdadeiro não é Garroway — Jace notou — antes ele era um Caçador de Sombras.
— Claro. Ouvi isso também. E agora ele colabora com todo esse negócio dos Acordos — Kyle olhou para Simon — você conhece algumas pessoas importantes.
— Pessoas importantes são cheias de problemas — Simon respondeu — Camille, por exemplo.
— Quando Luke contar a Maryse o que está acontecendo, a Clave vai cuidar dela — disse Jace — há protocolos para lidar com Seres do Submundo selvagens.
Nesse ponto, Kyle olhou para ele de lado, mas Jace não pareceu notar.
— Já te disse que não acho que ela seja a pessoa que queira te matar. Ela sabe — Jace parou bruscamente — ela sabe ser mais esperta que isso.
— E, além disso, ela quer te usar — Kyle acrescentou.
— Exatamente. Ninguém iria querer matar um recurso valioso.
Simon olhou de um para o outro, e sacudiu a cabeça.
— Quando vocês dois ficaram tão íntimos? Na noite passada era tudo, “Eu sou o maior guerreiro da elite!” “Não, eu sou o maior guerreiro da elite!” E hoje vocês estão jogando Halo e trocando boas ideias.
— Percebemos que temos algo em comum — Jace explicou — você aborrece a nós dois.
— Dessa mesma maneira, pensei em uma coisa — Simon falou — mas não acho que vocês vão gostar.
Kyle ergueu as sobrancelhas.
— Vamos ouvir o que é.
— O problema de vocês me vigiando todo o tempo. É que se fizerem isso, quem está tentando me matar não vai tentar de novo, e se não tentarem de novo, então não descobriremos quem são, e mais, vocês terão que me vigiar o tempo todo. E assumo que prefiram fazer outras coisas. Bem — disse virando na direção de Jace — possivelmente você não.
— E então? — Kyle perguntou. — Qual é a sua sugestão?
— Os atraímos. Os fazemos atacar outra vez. Tentamos capturar um deles e descobrir quem os está mandando.
— Se eu me lembro bem — Jace comentou — tive essa mesma ideia outro dia e você não gostou muito.
— Eu estava cansado — respondeu Simon — mas agora estou pensando. E até agora, em minha experiência com malfeitores, eles não vão embora só porque você os ignora. Eles continuam vindo de formas diferentes. Então eu faço esses caras virem até mim, ou passo a eternidade esperando eles me atacarem de novo.
— Estou dentro — Jace respondeu, apesar de Kyle ainda estar em dúvida — então você só quer sair e andar por aí até que eles apareçam de novo?
— Achei que seria melhor facilitar para eles. Aparecer onde todo mundo sabe que é onde eu devia estar.
— E você se refere a...? — Kyle indagou.
Simon apontou para o panfleto na geladeira. MILLENNIUM LINT, 16 DE OUTUBRO, O ALTO BAR, BROOKLYN. 9H DA NOITE.
— Me refiro à apresentação. Por que não?
Sua dor de cabeça ainda estava ali, forte. Simon a ignorou, tentando não pensar em como estava exausto, ou como reagiria na apresentação. Tinha que conseguir mais sangue de alguma forma. Tinha.
Os olhos de Jace brilhavam.
— Sabe, essa é na verdade uma ideia muito boa, vampiro.
— Você quer que eles te ataquem no palco? — Kyle perguntou.
— Vai deixar o show mais legal — Simon respondeu, mais divertido do que se sentia.
A ideia de ser atacado outra vez era quase mais do que poderia aguentar, mesmo se não temesse sua segurança pessoal. Ele não tinha certeza se podia suportar ver a Marca de Caim fazer seu trabalho novamente.
Jace sacudiu a cabeça.
— Eles não atacam em público. Irão esperar até depois do show. E estaremos lá para cuidar deles.
Kyle balançou a cabeça.
— Eu não sei...
A discussão demorou mais um pouco, Jace e Simon de um lado e Kyle do outro. Simon sentiu um pouco de culpa. Se Kyle soubesse sobre a Marca, seria muito mais fácil de persuadir. No fim, este desistiu por causa da pressão e relutantemente concordou com o que continuava a insistir que era um “plano estúpido”.
— Mas — disse finalmente, se levantando e tirando migalhas de bagel da camisa — eu só vou fazer isso porque sei que vocês dois vão fazer independente de eu concordar. Então também preciso estar lá — ele olhou para Simon — quem imaginaria que proteger você de si mesmo seria tão difícil.
— Eu poderia ter dito isso a você — Jace observou, quando Kyle vestiu uma jaqueta e foi para a porta.
Ele tinha que trabalhar, explicou. Parecia que ele era mesmo um mensageiro de bicicleta. O Praetor Lupus, apesar de ter um nome durão, não pagava tão bem. A porta se fechou atrás dele, e Jace virou para Simon.
— Então, a apresentação é as nove, certo? O que nós faremos até lá?
— Nós? — Simon olhou para ele em descrença. — Você não vai voltar para casa?
— Que foi, já está cansado da minha companhia?
— Deixe-me perguntar uma coisa. Você me acha fascinante para ter por perto?
— O que foi isso? Desculpe, acho que cai no sono por um instante. Continue com a coisa hipnotizante que estava dizendo.
— Pare com isso — disse Simon — pare de ser sarcástico por um segundo. Você não está comendo, não está dormindo. E tem a Clary. Eu não sei o que está acontecendo com vocês, porque francamente ela não tem dito nada a respeito. E acho que você também não quer falar sobre isso. Mas é bastante óbvio que vocês estão brigando. E se for terminar com ela...
— Terminar com ela? — Jace o encarou. — Você está maluco?
— Se você continuar evitando-a — Simon respondeu — ela vai terminar com você.
Jace se levantou. Seu relaxamento fácil se foi; ele agora estava todo tenso, como um gato alerta. Foi para a janela e puxou a cortina, agitado. A luz da manhã passou pela brecha, clareando a cor dos seus olhos.
— Eu tenho motivos para as coisas que faço — ele disse finalmente.
— Ótimo. E Clary sabe quais são?
Jace não disse nada.
— Tudo o que ela faz é te amar e confiar em você — Simon disse — você deve uma explicação...
— Há coisas mais importantes do que honestidade — Jace interrompeu — você acha que eu gosto de machucá-la? Acha que eu gosto de saber que estou deixando-a zangada, talvez fazendo-a me odiar? Por que acha que eu estou aqui? — Ele olhou para Simon com um tipo gélido de raiva. — Eu não posso ficar com ela. E se não posso ficar com ela, não importa para mim onde estou. Eu poderia também ficar com você porque se pelo menos ela soubesse que eu estava tentando te proteger, isso poderia deixá-la feliz.
— Então você está tentando deixá-la feliz apesar do fato que o motivo de ela estar infeliz é você — Simon rebateu, não muito gentil — parece contraditório, não parece?
— O amor é uma contradição  Jace respondeu, e virou de volta para a janela.

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