Capítulo 17 - Nos Sonhos

Em sonhos me surges. Por isso
Amanhã outra vez melhor me sentirei!
Muito mais consoladora ser-me-á a noite que
A saudade do dia sem esperança.
– Matthew Arnold, Saudade

A consciência ia e vinha em um ritmo hipnótico, como o mar aparecendo e desaparecendo no convés de um barco em uma tempestade. Tessa sabia que estava em uma cama com lençóis brancos no centro de uma longa sala; que havia outras camas, todas iguais na sala, e que havia janelas altas acima dela deixando entrar a luz do amanhecer. Ela fechou os olhos e mergulhou nas trevas novamente.

***

Acordou com vozes sussurrando e rostos pairando sobre ela, ansiosos. Charlotte, seu cabelo amarrado ordenadamente, ainda em sua roupa de combate e ao lado dela o Irmão Enoch. Seu rosto cheio de cicatrizes já não era aterrorizante. Ela podia ouvir a voz dele em sua mente. O ferimento na cabeça é superficial.
— Mas ela desmaiou — Charlotte falou. Para surpresa de Tessa, havia preocupação real em sua voz, ansiedade real — com um golpe na cabeça...
Ela desmaiou por causa dos muitos choques. Você me disse que o irmão dela morreu em seus braços? E ela pode ter pensado que Will estivesse morto também. Você disse que ele a cobriu com o próprio corpo quando a explosão ocorreu. Se ele tivesse morrido, ele teria dado a vida por ela. Este é um grande fardo para suportar.
— Mas você acha que ela vai estar bem de novo?
Quando seu corpo e espírito tiverem descansados, ela vai acordar. Não posso dizer quando isso vai acontecer.
— Minha pobre Tessa — Charlotte tocou o rosto de Tessa levemente. Suas mãos cheiravam a sabão de limão — ela não tem mais ninguém no mundo agora...

***

A escuridão voltou, e Tessa caiu nela, agradecida pela trégua da luz e do pensamento. Ela envolveu-se nele como um cobertor e deixou-se flutuar como os icebergs da costa do Labrador, embalada sob o luar por uma água preta e gelada.
Um grito gutural de dor atravessou seu sonho na escuridão. Ela estava enrolada em um emaranhado mantas, e algumas camas mais longe estava Will, deitado de barriga para baixo.
Ela percebeu, embora em seu estado de dormência e com um choque fraco, que ele provavelmente estava nu. As mantas estavam presas em sua cintura, mas as costas e peito estavam nus. Seus braços estavam cruzados sobre os travesseiros na frente dele, com a cabeça descansando sobre eles, porém seu corpo estava tenso como uma corda. Sangue manchava os lençóis brancos abaixo dele.
Irmão Enoch estava de um lado da cama, e Jem do outro, próximo a cabeça de Will com uma expressão de ansiedade.
— Will — Jem disse urgentemente — Will, tem certeza de que você não quer outra runa para a dor?
— Não... mais — falou entre dentes — apenas acabe logo com isso.
O irmão Enoch levantou o que parecia ser um par de pinças de prata perversamente afiadas. Will engoliu em seco e enterrou a cabeça em seus braços, o cabelo surpreendente escuro contra o branco dos lençóis. Jem estremeceu como se a dor fosse sua quando as pinças cavaram fundo nas costas de Will e seu corpo esticou na cama, os músculos enrijecendo sob a pele, o seu grito de agonia surgindo curto e abafado. Irmão Enoch recuou a ferramenta e um pedaço de metal manchado de sangue estava preso na pinça.
Jem deslizou sua mão em Will.
— Segure minha mão. Vai ajudar na dor. Há apenas um pouco mais.
— Fácil para você dizer — Will arquejou, mas o toque da mão de seu parabatai pareceu relaxá-lo um pouco.
Ele arqueou-se para fora da cama, os cotovelos pressionando o colchão, sua respiração vindo em ondas curtas. Tessa sabia que não deveria olhar, mas não podia evitar. Percebeu que nunca tinha visto tanto do corpo de um garoto antes, nem mesmo o de Jem.
Ela encontrou-se fascinada pela forma como a massa muscular magra deslizava sob a pele lisa, o inchar de seus braços, a barriga dura e plana em convulsão enquanto respirava.
As pinças brilharam novamente, e a mão de Will estava sobre a de Jem, os dedos apertados. Sangue jorrou e derramou para baixo em sua lateral nua. Ele não fez nenhum som, embora Jem parecesse doente e pálido. Moveu a mão como se quisesse tocar o ombro de Will, em seguida puxou-a de volta, mordendo o lábio.
Tudo isso porque Will cobriu o meu corpo com o seu para me proteger, Tessa pensou. Como o irmão Enoch tinha dito, era um fardo para suportar, de fato.

***

Ela estava deitada em sua cama estreita no antigo quarto em Nova York. Através da janela Tessa podia ver o céu cinzento, os telhados de Manhattan. A colcha de retalhos coloridos de sua tia estava na cama, e se agarrou a ela quando a porta se abriu e sua tia entrou.
Ela já deveria saber, Tessa podia ver a semelhança. Tia Harriet tinha olhos azuis, cabelos louros desbotados, mesmo a forma do seu rosto era como o de Nate. Com um sorriso, ela veio e se inclinou sobre Tessa, colocando a mão em sua testa, que era fria contra a pele quente de Tessa.
 Eu sinto muito  Tessa sussurrou — sobre Nate. É minha culpa que ele esteja morto.
 Shhh  disse a tia — não é culpa sua. É dele e minha. Eu sempre me senti culpada, veja bem, Tessa. Saber que era sua mãe, mas não fui capaz de suportar e dizer. Eu o deixava fazer qualquer coisa que queria, até que ele foi estragado além da salvação. Se eu tivesse contado que era a mãe dele de verdade, ele não teria se sentido tão traído quando descobriu a verdade, e não se voltaria contra nós. Mentiras e segredos, Tessa, são como um câncer na alma. Eles devoram o que é bom e deixam só destruição para trás.
 Eu sinto tanto sua falta  Tessa falou  não tenho família agora...
Sua tia se inclinou para beijá-la na testa.
 Você tem mais família do que pensa.

***

— Nós quase certamente perderemos o Instituto agora — disse Charlotte.
Ela não falava com o coração, mas estava distante e indiferente. Tessa estava pairando como um fantasma sobre a enfermaria, olhando para onde Charlotte estava com Jem ao pé da cama de Tessa.
Tessa podia ver-se dormindo, seu cabelo escuro espalhado nos travesseiros. Will dormia algumas camas mais abaixo, de costas e com ataduras, uma iratze preta na nuca. Sophie, com seu chapéu branco e vestido escuro, estava espanando as janelas.
— Perdemos Nathaniel Gray como uma fonte, um dos nossos acabou por ser um espião e não estamos mais perto de encontrar Mortmain do que estávamos há duas semanas.
— Depois de tudo o que temos feito, que aprendemos? A Clave vai entender.
— Eles não vão. Já estão no fim de suas forças e eu estou preocupada. Eu poderia muito bem marchar até a casa de Benedict Lightwood e começar a preencher a papelada. Já passar o Instituto para ele.
— O que Henry disse sobre tudo isso? — perguntou Jem.
Ele não estava mais vestido com sua roupa de Caçador de Sombras, e nem Charlotte. Jem usava uma camisa branca e uma calça marrom, e ela estava em um de seu vestido escuro monótono. Quando Jem virou a mão, no entanto, Tessa viu que ele ainda estava manchado com o sangue seco de Will.
Charlotte bufou de uma forma vulgar.
— Oh, Henry — ela disse, parecendo exausta — penso que ele está chocado com o que um dos dispositivos em que trabalhava fez, ele não sabe o que fazer consigo mesmo. Não consegue suportar a vir aqui. Acha que a culpa é dele que Will e Tessa estejam feridos.
— Sem esse dispositivo, poderíamos estar todos mortos, e Tessa nas mãos do Magistrado.
— Você é bem-vindo para explicar a Henry. Eu desisti de tentar.
— Charlotte... — a voz de Jem era calma — sei o que as pessoas dizem. Sei que você ouviu a cruel fofoca. Mas Henry te ama. Quando ele pensou que você estava ferida lá no armazém de chá, ele quase ficou louco. Atirou-se contra aquela máquina gigante...
— James — Charlotte bateu desajeitadamente no ombro de Jem — aprecio sua tentativa de me consolar, mas falsidade nunca faz nada de bom no fim. Eu há muito tempo aceito que Henry ama suas invenções em primeiro lugar, e eu em segundo, depois de tudo.
— Charlotte... — Jem disse cansado, mas antes que pudesse dizer outra palavra, Sophie se moveu para ficar ao lado deles, o pano empoeirado na mão.
— Sra. Branwell — ela chamou em voz baixa — se eu pudesse falar com a senhora por um momento.
Charlotte olhou surpresa.
— Sophie...
— Por favor, minha senhora.
Charlotte colocou a mão no ombro de Jem, disse algo baixinho em seu ouvido e depois acenou para Sophie.
— Muito bem. Venha comigo para a sala de estar.
Quando Charlotte deixou o quarto com Sophie, Tessa percebeu para sua surpresa que Sophie na verdade era mais alta do que a patroa. A presença de Charlotte muitas vezes a fazia esquecer do quão pequena ela era. E Sophie era tão alta quanto Tessa, como um esbelto salgueiro. Veio-lhe a sua mente a imagem de Gideon Lightwood pressionado Sophie contra a parede do corredor, e Tessa ficando preocupada.
Quando a porta se fechou atrás das duas mulheres, Jem se inclinou para frente, os braços cruzados ao pé da cama de Tessa. Ele estava olhando para ela, e sorrindo um pouco, embora torto, com as mãos soltas e o sangue seco através dos dedos e sob as unhas.
— Tessa, minha Tessa — ele falou em sua voz suave, igual a embalar seu violino — sei que você pode me ouvir. O Irmão Enoch diz que você não está gravemente ferida. Não posso dizer que isso seja o suficiente para me confortar. É um pouco parecido quando Will assegura-me que estamos apenas um pouco perdidos. Eu sei que isso significa que Will não está vendo uma rua familiar há horas.
Ele baixou a voz, tanto que Tessa não tinha certeza se o que ele disse em seguida era real ou parte da escuridão do sonho subindo para reclamá-la, embora ela lutasse contra ele.
— Isso nunca me importou — ele continuou — estar perdido, isto é. Sempre pensei que não poderia me perder verdadeiramente e seguia o meu próprio coração. Mas temo que eu possa estar perdido sem saber como você está.
Ele fechou os olhos, como se estivesse com os ossos cansados, e Tessa viu quão finas suas pálpebras estavam, igual a papel vegetal e quão cansado ele olhou.
 Wo ai ni, Tessa — ele sussurrou — wo shi bu xiang qu ni.
Ela sabia, mesmo sem entender como, o que as palavras significavam. Eu te amo. E não quero te perder.
Eu não quero te perder também, era o que ela queria dizer, mas as palavras não vieram. O cansaço levantou-se em vez disso e uma onda escura cobriu-a no silêncio.

***

Trevas.
Estava escuro, e Tessa estava consciente de um sentimento de grande solidão e do terror. Jessamine estava na cama estreita, seu cabelo pendurado como cordas sobre os ombros. Tessa pairava sobre ela e sentiu-a de alguma forma, como se estivesse tocando sua mente. Podia sentir um grande sentimento de perda dolorosa. De alguma forma, Jessamine sabia que Nate estava morto. Antes, quando Tessa tinha tentado tocar a mente da outra garota, ela encontrou resistência, mas agora sentia só uma tristeza crescente, como a mancha de uma gota de tinta preta espalhada pela água.
Os olhos castanhos de Jessie estavam abertos, olhando para a escuridão. Eu não tenho nada. As palavras eram tão claras como um sino na mente de Tessa. Eu escolhi Nate ao invés dos Caçadores de Sombras, e agora ele está morto. Mortmain vai querer me matar também, e Charlotte me despreza. Eu apostei e perdi tudo.
Enquanto Tessa observava, Jessamine estendeu a mão e tirou um pequeno cordão de seu pescoço sobre a cabeça. Na extremidade havia um anel de ouro com uma reluzente pedra – um diamante. Segurando-o entre os dedos, ela começou a usar o diamante para riscar as letras na parede de pedra.
JG.
Jessamine Gray.
Poderia ser apenas uma homenagem, mas Tessa nunca iria descobrir. Enquanto Jessamine pressionava a pedra preciosa contra a parede, ela se estilhaçou e a mão de Jessamine bateu na parede, machucando os dedos.
Tessa não precisava tocar a mente de Jessamine para saber o que ela estava pensando. Até mesmo o diamante não era real. Com um grito baixo, Jessie rolou e escondeu o rosto nos cobertores ásperos da cama.

***

Quando Tessa acordou novamente, estava escuro. Um brilho estrelar tênue fluía pelas altas janelas da enfermaria, e havia uma pedra enfeitiçada acesa em cima da mesa perto de sua cama. Ao lado estava uma xícara com uma infusão de ervas, vapor saindo dela, e uma pequena bandeja com biscoitos. Tessa levantou-se em uma posição sentada, prestes a chegar perto da xícara e congelou.
Will estava sentado na cama ao lado da dela, vestindo uma camisa, calças largas e um roupão preto. Sua pele estava pálida à luz das estrelas, mas mesmo a penumbra não podia lavar o azul de seus olhos.
— Will — ela falou, assustada — o que você está fazendo de pé?
Ele a estava observando dormir? Era uma coisa estranha para Will fazer.
— Eu trouxe uma infusão — ele respondeu, um pouco tenso — você parecia estar tendo um pesadelo.
— Eu estava? Nem me lembro o que sonhei — ela puxou as cobertas sobre si, embora a camisola modesta estivesse cobrindo-a — pensei a vida real fosse o pesadelo e que o sonho era onde eu poderia encontrar a paz.
Will pegou a caneca e foi se sentar ao lado dela na cama.
— Aqui. Beba isso.
Ela pegou a xícara dele obedientemente. A infusão tinha um gosto amargo, mas atraente, com raspas de limão.
— O que ela faz? — perguntou.
— Vai te acalmar — disse Will.
Ela olhou para ele, o sabor do limão em sua boca. Havia uma névoa em sua visão, Will parecia algo saído de um sonho.
— Como estão seus ferimentos? Você está com dor?
Ele balançou a cabeça.
— Uma vez que todo o metal foi retirado, eles foram capazes de usar uma iratze em mim. As feridas não estão completamente curadas, mas estão melhorando. Até amanhã serão apenas cicatrizes.
— Estou com inveja — ela tomou outro gole da infusão. Estava começando a sentir-se tonta. Ela tocou o curativo na testa — acredito que terei um bom tempo antes que possa sair daqui.
— Enquanto isso, você pode desfrutar de olhar como um pirata.
Ela riu, trêmula. Will estava perto o suficiente para que ela pudesse sentir o calor que emanava de seu corpo. Ele era um forno quente.
— Você está com febre? — ela perguntou antes que pudesse se conter.
— A iratze eleva a temperatura do nosso corpo. É parte do processo de cura.
— Oh.
Tê-lo tão perto estava enviando pequenos arrepios através de seus nervos, mas ela se sentia muito tonta para desviar.
— Eu sinto muito sobre seu irmão — ele disse suavemente, a respiração dele agitando seu cabelo.
— Você não precisa — ela falou com amargura — sei que você acha que ele merecia o aconteceu. Ele provavelmente mereceu.
— Minha irmã morreu. Ela morreu, e não havia nada que eu pudesse fazer sobre isso — ele disse, e havia dor em sua voz — sinto muito sobre o seu irmão.
Ela se virou para ele. Seus olhos, grandes e azuis, um rosto perfeito. A boca arqueou para baixo nos cantos em preocupação. Preocupação com ela. Sentia a pele quente e tensa, a cabeça leve e arejada, como se estivesse flutuando.
— Will — ela sussurrou — Will, eu me sinto muito estranha.
Will se inclinou sobre ela para colocar a caneca em cima da mesa, e seu ombro a roçou.
— Quer que eu chame Charlotte?
Ela balançou a cabeça. Estava sonhando. Tinha quase certeza disso agora, tinha a mesma sensação de estar em seu corpo e ainda não estar, do mesmo jeito quando tinha sonhando com Jessamine. O conhecimento de que era um sonho a deixou mais ousada. Will ainda estava inclinado para frente, o braço esticado; ela se aninhou contra ele, a cabeça em seu ombro, fechando os olhos. Sentiu-o estremecer com surpresa.
— Eu te machuquei? — Ela sussurrou, tardiamente lembrando de seus machucados.
— Eu não me importo — disse ele fervorosamente — eu não me importo.
Seus braços foram ao redor dela e ele a abraçou, e Tessa descansou sua bochecha contra a junção quente de seu pescoço e ombro. Ela ouviu o eco de sua pulsação e sentiu o cheiro dele, sangue, suor, sabão e magia. Não foi igual aquela noite na varanda, fogo e desejo. Ele segurou-a com cuidado, colocando a bochecha contra o cabelo dela. Estava tremendo, mesmo enquanto seu peito subia e descia, até mesmo quando ele hesitante deslizou seus dedos sob o queixo de Tessa, levantando seu rosto...
— Will — Tessa falou — está tudo bem. Não importa o que você fizer. Estamos sonhando, você sabe.
— Tess? — Will soou alarmado.
Seus braços ainda estavam apertados ao redor dela. Ela estava quente, afável e com tonturas. Ah, se Will realmente fosse assim, pensou, não apenas em sonhos. A cama balançou sob ela como um barco à deriva. Ela fechou os olhos e deixou a escuridão levá-la.

***

O ar da noite estava frio, o nevoeiro formando poças intermitentes de luz amarelo-esverdeada sob as lâmpadas a gás enquanto Will fazia o seu caminho pela avenida principal até o endereço que Magnus lhe havia dado em Cheyne Walk, perto do Chelsea Embankment. Will já podia sentir o cheiro familiar do lodo do rio, com a água suja e podre.
Estava tentando manter seu coração estável dentro do peito para que ele não batesse tão forte durante o caminho. Encontrara o bilhete de Magnus dobrado em uma bandeja sobre a mesa ao lado de sua cama. Ele não escrevera nada mais além de um endereço rabiscado secamente: Cheyne Walk, 16. Will estava familiarizado com a caminhada na área em torno dessa rua.
Chelsea, um lugar perto do rio, era muito frequentado por artistas e literatos, e as janelas das pensões brilhavam amarelo-claras dando boas-vindas a quem passava. Ele apertou o casaco em torno de di quando virou uma esquina, fazendo seu caminho para o sul.
As costas e pernas ainda doíam dos ferimentos que tinha sofrido, e apesar das iratzes, ele estava dolorido, como se tivesse sido picado por dezenas de abelhas. Mas mal sentia. Sua mente estava cheia de possibilidades. O que Magnus tinha descoberto? Certamente ele não iria chamar Will se não houvesse conseguido nada.
Seu corpo estava cheio da sensação e do cheiro de Tessa. Seu coração e mente não se concentravam na memória de seus lábios na noite do baile, mas na forma como ela tinha se inclinado contra ele esta noite, a cabeça em seu ombro, a respiração suave contra seu pescoço, como se ela confiasse totalmente nele.
Ele teria dado tudo o que tinha no mundo e tudo o que ele jamais teria só para poder deitar ao seu lado na cama da enfermaria, apoiá-la e acariciá-la enquanto dormia. Afastando os pesadelos dela e puxando para sua própria pele, mas ele teve que sair.
Da maneira como sempre tinha que fazer. Do jeito que sempre se afastava do que queria.
Mas talvez, depois desta noite... Ele atirou o pensamento para longe antes que germinasse em sua mente. Melhor não pensar nisso, melhor não esperar e se decepcionar.
Ele olhou em volta. Estava na Cheyne Walk, agora, com as suas belas casas e suas fachadas georgianas. Parou em frente ao número 16. A casa era alta, com uma cerca de ferro forjado ao redor e uma janela com sacada proeminente. Ele empurrou o portão ricamente trabalhado, estava aberto, e entrou fazendo o seu caminho até a porta da frente, onde tocou a campainha.
Para sua grande surpresa, a porta não foi aberta por um lacaio, mas por Woolsey Scott, seu cabelo loiro emaranhado até os ombros. Ele usava roupão verde escuro de brocado chinês sobre um par de calças escuras e um peito nu. Um monóculo de aro dourado estava empoleirado em um olho. Ele carregava um cachimbo na mão esquerda, e quando examinou Will, ele exalou, enviando uma nuvem de cheiro doce de fumo.
— Finalmente você assumiu que está apaixonado por mim, não é? — falou para Will. — Eu aprecio muito essas declarações-surpresa da meia-noite. — Ele encostou-se à moldura da porta e acenou com a mão lânguida cheia de anéis. — Tudo bem, pode entrar.
Somente uma vez Will ficou sem palavras. Não era uma posição em que encontrou-se muitas vezes, mas foi forçado a admitir que não gostava.
— Ah, deixe-o, Woolsey — disse uma voz familiar de dentro da casa.
Magnus apressava-se pelo corredor. Ele tinha os punhos da camisa dobrados e seu cabelo negro era um emaranhado despenteado.
— Eu disse que Will viria.
Will olhou de Magnus para Woolsey. Magnus estava descalço, assim como o lobisomem. Woolsey tinha uma corrente de ouro brilhando no pescoço. Dali pendia um pingente em forma de pegada de lobo que dizia Beati Bellicosi, ou “Bem-aventurados são os guerreiros.” Scott viu Will observando-o e sorriu.
— Gosta do que vê? — perguntou.
— Woolsey — Magnus alertou.
— Seu bilhete para mim tinha algo a ver com a convocação de um demônio, não é? — Will perguntou, olhando para Magnus. — Esse não é um... chamado para te ajudar, é?
Magnus balançou a cabeça.
— Não. São apenas negócios, nada mais. Woolsey foi gentil o suficiente para me deixar ficar com ele enquanto eu decidia o que fazer em seguida.
— Eu digo para irmos a Roma — disse Scott — eu adoro Roma.
— Tudo bem, tudo bem, mas primeiro preciso usar um quarto. De preferência um com pouco ou nada dentro dele.
Scott tirou o monóculo e olhou para Magnus.
— E o que você vai fazer neste quarto? — Seu tom era mais do que sugestivo.
— Vamos convocar o demônio Marbas — Magnus respondeu, piscando com um sorriso.
Scott engasgou com seu cachimbo.
— Acho que todos nós temos nossas ideias sobre o que constitui uma noite agradável...
— Woolsey — Magnus passou as mãos ásperas pelo cabelo preto — eu odeio falar disso, mas você me deve. Hamburgo? 1863?
Scott jogou as mãos para cima.
— Ah, muito bem. Você pode utilizar o quarto do meu irmão. Ninguém o usa desde que ele morreu. Aproveite. Vou estar na sala de desenho com uma taça de xerez e algumas xilogravuras impertinentes que importei da Romênia.
Com isso, ele se virou e caminhou pelo corredor. Magnus gesticulou para que Will entrasse, e ele entrou com alegria, o calor da casa envolvendo-o como um cobertor. Como não havia criado, ele deslizou seu casaco azul de lã e colocou-o sobre o braço enquanto Magnus observava-o com um olhar curioso.
— Will, vejo que você não perdeu tempo depois leu a minha carta. Eu não estava te esperando até amanhã.
— Você sabe o que isto significa para mim. Realmente acha que eu ia atrasar?
Os olhos de Magnus procuraram seu rosto.
— Você está preparado caso isso não funcione? Caso não seja o demônio correto? Caso a convocação de errado?
Por um longo momento, Will não pôde se mover. Ele conseguia ver seu próprio rosto no espelho que estava pendurado ao lado da porta. Ficou horrorizado quando se olhou, como se não houvesse mais nenhum muro entre o mundo e os desejos de seu próprio coração.
— Não. Eu não estou preparado.
Magnus balançou a cabeça.
— Will... — ele suspirou. — Venha comigo.
Ele virou-se com uma graça felina e fez o seu caminho pelo corredor, subindo depois os degraus de madeira. Will o seguiu através da escada sombria. A escada era coberta por tapetes persa que abafavam seus passos. Nichos definidos nas paredes continham estátuas de mármore polido de corpos entrelaçados. Will olhou para longe deles apressadamente, e depois de volta. Não era como se Magnus tivesse prestando atenção ao que Will estava fazendo, e ele honestamente nunca imaginou que duas pessoas pudessem ficar em uma posição como aquela, muito menos fazer com que parecesse artística.
Eles chegaram ao segundo patamar, e Magnus seguiu pelo corredor abrindo as portas enquanto murmurava algo para si mesmo. Finalmente encontrando a porta correta, ele a abriu e fez um gesto para Will segui-lo.
O quarto do irmão falecido de Woolsey Scott era escuro e frio, e o ar cheirava a poeira. Will automaticamente se moveu para pegar uma pedra enfeitiçada, mas Magnus acenou com uma mão dispensando-o, acendendo um fogo azul de seus dedos.
Fogo rugiu de repente na lareira, iluminando o quarto. Estava mobiliado, embora tudo estivesse coberto com panos brancos: a cama, o armário e as cômodas. Quando Magnus andou pelo quarto, dobrando as mangas da camisa e gesticulando com as mãos, os móveis começaram a deslizar para as laterais. A cama virou-se e ficou contra a parede, as cadeiras, mesas e pia voaram para os cantos da sala.
Will assobiou. Magnus sorriu.
— Facilmente impressionado — disse Magnus, embora soasse um pouco sem fôlego.
Ele ajoelhou-se no centro da sala, agora vazio, e rapidamente desenhou um pentagrama. Em cada ponto do símbolo ele rabiscou uma runa, porém não uma que Will conhecia.
Magnus levantou os braços e os estendeu sobre o pentagrama. Começou a cantar e abriu cortes em seus pulsos, derramando sangue no centro da estrela. Will ficou tenso quando o sangue caiu no chão e começou a queimar com um estranho brilho azul. Magnus dali, ainda cantando e enfiou a mão no bolso retirando o dente do demônio. Quando Will observou, Magnus jogou no centro, agora flamejante, do pentagrama.
Por um momento, nada aconteceu. Então, do coração ardente do fogo, uma forma escura começou a tomar forma. Magnus tinha parado de cantar, ele ficou de pé, com os olhos semicerrados focado no pentagrama e o que estava acontecendo dentro dele, os cortes em seus braços se fechando rapidamente. A sala estava quase silenciosa, se ouvia apenas o crepitar do fogo e a respiração forte de Will, aumentando em seus ouvidos quando a forma escura cresceu em tamanho e finalmente tomou uma forma sólida e reconhecível.
Era o demônio azul, não mais vestido em suas roupas de noite. O corpo era coberto por escamas azuis e atrás dele havia uma cauda longa e amarela com um ferrão na extremidade. O demônio olhou de Magnus para Will, e seus olhos escarlates estreitaram.
— Quem convoca o demônio Marbas? — Exigiu em uma voz que soava como se suas palavras estivessem ecoando do fundo de um poço.
Magnus fez um gesto com o queixo para o pentagrama. A mensagem era clara: este era um negócio de Will agora.
Will deu um passo a frente.
— Você não se lembra de mim?
— Eu me lembro de você — o demônio rosnou — me perseguiu através das terras da casa de campo do Lightwood. Arrancou um de meus dentes — ele abriu a boca, mostrando a lacuna — provei seu sangue — sua voz era um assobio — quando eu sair deste pentagrama, vou prová-lo novamente, Nephilim.
— Não — Will se manteve firme — estou perguntando se você se lembra de mim.
O demônio estava em silêncio. Seus olhos, dançando com o fogo, eram ilegíveis.
— Há cinco anos — Will incentivou — uma caixa. A Pyxis. Eu a abri e você surgiu. Nós estávamos na biblioteca do meu pai. Você atacou, mas minha irmã me defendeu com uma lâmina serafim. Lembra-se de mim agora?
Houve um silêncio longo, longo. Magnus manteve os olhos de gato fixos no demônio. Havia uma ameaça implícita neles, uma que Will não pôde ler.
— Fale a verdade — Magnus disse finalmente — ou vai ser ruim para você, Marbas.
A cabeça do demônio se virou para Will.
— Você — ele disse relutantemente — você é o garoto. Filho de Edmund Herondale.
Will sugou o ar. Ele sentiu-se tonto de repente como se fosse desmaiar. Enfiou as unhas nas palmas das mãos com força, rasgando a pele, deixando a dor clarear a cabeça.
— Você se lembra.
— Eu estive preso por 20 anos dentro daquela coisa — Marbas rosnou — é claro que me lembro de ser libertado. Imagine se puder, mortal idiota, anos de escuridão, sem luz ou movimento e depois disso ser finalmente libertado, e quando percebe, vê o rosto do homem que o prendeu pairando na sua frente.
— Eu não sou o homem que o prendeu.
— Não. Esse foi o seu pai. Mas você tem o rosto dele e os mesmos olhos — o demônio sorriu — lembro-me de sua irmã. Menina corajosa, afastando-me para longe com aquela lâmina que ela mal podia segurar.
— Ela usou bem o suficiente para mantê-lo longe de nós. Por isso nos amaldiçoou. Amaldiçoou-me. Se lembra disso?
O demônio riu.
— Todos os que te amam vão morrer. O amor será a sua destruição. Pode levar algum tempo, pode levar anos, mas qualquer um que olhar para você com amor vai morrer, a menos que você afaste-se deles para sempre. E vou começar com ela.
Will sentia como se estivesse respirando fogo. Seu peito todo estava queimando.
— Sim.
O demônio inclinou a cabeça para o lado.
— E você me chamou para que possamos falar sobre esse evento compartilhado em nosso passado?
— Eu o trouxe, seu bastardo de pele azul, para que retire a maldição de mim. Minha irmã – Ella – morreu naquela noite. Deixei minha família para mantê-los seguros. Já se passaram cinco anos. É o suficiente. Basta!
— Não tente ter minha piedade, mortal — disse Marbas — tenho vinte anos de tortura naquela caixa. Talvez você também deva sofrer por 20 anos. Ou 200.
Will ficou com o corpo inteiro tenso. Antes que ele pudesse atirar-se no pentagrama, Magnus falou em um tom calmo:
— Algo me soa estranho nessa história, Marbas.
Os olhos do demônio viraram em sua direção.
— E o que seria?
— Um demônio, ao ser retirado de uma Pyxis, geralmente está fraco após de ter passado fome durante o tempo que ficou preso. Fraco demais para lançar uma maldição tão sutil e forte como a que você afirma ter lançado sobre Will.
O demônio sussurrou algo em uma língua que Will não conhecia – um dos idiomas demoníacos mais incomuns, não Cthonic ou Purgatic. Magnus estreitou os olhos.
— Mas ela morreu — Will falou — Marbas disse que a minha irmã iria morrer, e aconteceu. Naquela noite.
Os olhos de Magnus ainda estavam fixos no demônio. Algum tipo de batalha de vontades estava ocorrendo em silêncio, deixando Will sem entender nada, e Magnus finalmente perguntou baixinho:
— Quer realmente me desobedecer, Marbas? Gostaria da ira de meu pai?
Marbas cuspiu uma maldição e se virou para Will. Seu focinho se contraiu.
— Ele está certo. A maldição era falsa. Sua irmã morreu porque foi golpeada com o meu ferrão.
Ele balançava o rabo amarelado para a frente e para trás, e Will se lembrou que Ella foi derrubada no chão por aquela cauda, a lâmina serafim caindo de sua mão.
— Nunca houve uma maldição sobre você, Will Herondale. Nunca uma posta por mim.
— Não — Will falou baixinho — não, não é possível.
Ele sentiu como se uma grande tempestade estivesse soprando através de sua cabeça, se lembrou da voz de Jem dizendo que o muro estava caindo, e imaginou uma grande muralha que o cercava e o isolava do mundo há anos desintegrando-se e virando areia. Ele estava livre e sozinho, e sentiu um forte vento gelado através dele como uma faca.
— Não — sua voz tinha tomado uma nota baixa, lamentosa — Magnus...
— Você está mentindo, Marbas? — Magnus estalou. — Jura sobre Baal que está dizendo a verdade?
— Eu juro — Marbas respondeu, revirando os olhos vermelhos — que benefício eu teria ao mentir?
Will deslizou e ficou de joelhos. Suas mãos segurando o estômago, como se estivesse evitando que suas entranhas derramassem no chão. Cinco anos, pensou. Cinco anos desperdiçados. Ele ouvira sua família gritando e batendo nas portas do Instituto e pedira a Charlotte para mandá-los embora. Eles nunca souberam o por que. Haviam perdido uma filha e um filho em questão de dias, sem nem mesmo saber o motivo. E os outros, Henry e Charlotte, Jem e Tessa, as coisas que ele tinha feito...
Jem é o meu grande pecado.
— Will está certo — Magnus falou — Marbas, você é um bastardo de pele azul. Deveria queimar e morrer!
Em algum lugar na beira da visão de Will, chamas vermelhas escuras dispararam para o teto; Marbas gritou, um grito de agonia que se acabou tão rapidamente como tinha começado. O cheiro de carne queimada de demônio encheu a sala. E ainda Will estava de joelhos, o ar entrando e saindo rapidamente de seus pulmões. Oh Deus, oh Deus, oh Deus.
Umas mãos suaves tocaram seus ombros.
— Will — Magnus chamou, e não havia humor em sua voz, somente uma bondade surpreendente — Will, eu sinto muito.
— Tudo o que eu fiz... — seus pulmões pareciam não conseguir ar suficiente — toda as mentiras, as pessoas que magoei, o abandono da minha família e as coisas imperdoáveis que eu disse a Tessa... foram um desperdício. Um desperdício de sangue, e tudo por causa de uma mentira que eu fui idiota o suficiente para acreditar.
— Você tinha 12 anos de idade. Sua irmã estava morta. Marbas era uma criatura astuta. Ele enganou mágicos poderosos, mentir para uma criança que não tinha conhecimento do Mundo das Sombras...
Will olhou para suas mãos.
— Minha vida inteira destruída, destruída...
— Você tem 17 anos. Não pode ter destruído a vida que mal viveu. Entende o que isso significa, Will? Você passou os últimos cinco anos convencido de que ninguém poderia te amar porque se o fizessem, seriam mortos. O simples fato de sua contínua sobrevivência provou sua indiferença para com você. Mas você estava errado. Charlotte, Henry, Jem... sua família.
Will deu uma respiração profunda. A tempestade em sua cabeça estava diminuindo lentamente.
— Tessa — acrescentou.
— Bem.
Havia um toque de humor na voz de Magnus. Will percebeu que o bruxo estava ajoelhado ao lado dele. Estou na casa de um lobisomem, Will pensou, com um bruxo me confortando, e as cinzas de um demônio morto a poucos metros de distância. Quem poderia imaginar?
— Eu não posso lhe dar garantias do que Tessa sente. Caso você não tenha notado, ela é uma menina decididamente independente. Mas você tem uma chance de ganhar seu amor como qualquer homem, Will, e não era isso o que queria?
Ele deu um tapinha no ombro de Will e retirou a mão. Ficando pé, formou uma sombra fina e escura sobre Will.
— Se serve de consolo, pelo o que observei na varanda outra noite, acredito que ela sim gosta de você.



Magnus observou Will fazer seu caminho até a entrada da casa. Quando chegaram à porta, fez uma pausa, com a mão no trinco, como se hesitando no limiar do início de uma longa e difícil jornada. A lua tinha saído detrás das nuvens e refletiu em seu cabelo espesso e escuro e em suas mãos pálidas.
— Muito curioso — disse Woolsey, aparecendo atrás de Magnus na porta.
As luzes quentes da casa transformaram o cabelo loiro escuro de Woolsey em um emaranhado de ouro pálido. Ele olhou como se tivesse dormido.
— Se eu não te conhecesse melhor, diria que você gostava daquele menino.
— Conhecer melhor em que sentido, Woolsey? — Magnus perguntou, distraído ainda olhando para Will, e a luz se deflagrando no Tâmisa atrás dele.
— Ele é um Nephilim. E você nunca cuidou deles. Quanto ele te pagou para invocar Marbas?
— Nada — ele agora não via nada, nem o rio, nem Will, somente as memórias – olhos, rosto, lábios retrocedendo em sua memória, e um amor que ele não poderia colocar um nome — ele me fez um favor. Um que ele nem se lembra.
— Ele é muito bonito — disse Woolsey — para um ser humano.
— Ele está muito quebrado. Como um lindo vaso que alguém derrubou. Apenas sorte e habilidade podem deixá-lo novamente do jeito que era antes.
— Ou mágica.
 — Tenho feito o que posso — Magnus disse suavemente quando Will empurrou o trinco, e enfim e o portão se abriu. Ele saiu para sua caminhada.
— Ele não parece muito feliz — observou Woolsey — seja o que foi que você fez para ele...
— No momento ele está em choque — Magnus respondeu — ele acreditava em uma coisa há cinco anos, e agora percebeu que durante todo esse tempo tem olhado o mundo através de um mecanismo defeituoso, que todas as coisas que sacrificou em nome do que pensava ser bom e nobre, era apenas um grande erro, e que ele apenas feriu a quem o amava.
— Bom Deus. Tem certeza de que o ajudou?
Will passou pelo portão, e ele se fechou atrás dele.
— Muita certeza — disse Magnus — é sempre melhor viver com a verdade do que viver uma mentira. E a mentira o teria mantido sozinho para sempre. Ele pode não ter tido quase nada por cinco anos, mas agora pode ter tudo. Um menino que parece que...
Woolsey riu.
— Que parece ter deixado seu coração há muito — disse Magnus — talvez seja o melhor. O que ele precisa agora é de amor e o amor irá retornar para dentro dele. Ele não teve uma vida fácil para alguém tão jovem. Só espero que ela entenda.
Mesmo a esta distância, Magnus podia ver Will tomar uma respiração profunda, levantar os ombros e começar a descer a rua. Tinha bastante certeza de que não estava imaginando – quase parecia haver uma mola em suas costas.
— Você não pode salvar todos os pássaros caídos — comentou Woolsey, recostando-se contra a parede e cruzando os braços — mesmo os mais bonitos.
— Um eu vou — Magnus respondeu, e quando Will saiu de seu campo de visão, ele fechou a porta da frente.

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