O que comprar para um Caçador de Sombras que tem tudo
Magnus levantou com a luz dourada do meio-dia filtrada através de sua janela, seu gato dormindo em sua cabeça.
Presidente Miau às vezes expressava seu carinho desta forma lamentável. Magnus suavemente, mas com firmeza, desembaraçou o gato de seu cabelo, as pequenas garras fazendo ainda mais danos enquanto Presidente era desalojado com um longo miado triste de desconforto felino.
Em seguida, o gato pulou sobre o travesseiro, aparentemente recuperado de sua provação, e saltou da cama. Ele tocou o chão com um baque macio e correu com um grito de guerra para a tigela de comida.
Magnus rolou na cama de modo que estava deitado de lado sobre o colchão. A janela próxima a sua cama era de vidro trabalhado. Losangos dourados e verdes flutuavam dali, descansando calorosamente contra sua pele nua. Ele levantou a cabeça do travesseiro e então percebeu o que estava fazendo: cheirando o ar pelo traço do cheiro de café.
Isso já havia acontecido algumas vezes nas últimas semanas, Magnus tropeçando para a cozinha em direção ao rico aroma de café, puxando um robe de sua ampla e variada seleção e encontrando Alec lá. Magnus tinha comprado uma máquina de café porque Alec parecera consistentemente aflito pelo pequeno-e-ligeiro-furto-mágico de xícaras de café e chá do Mudd. A máquina extra era incômoda, mas Magnus estava feliz por ter comprado. Alec sabia que a cafeteira era por ele e por sua delicada sensibilidade moral, e parecia sentir uma sensação de conforto em torno da máquina como ninguém, fazia café sem perguntar se podia, trazendo uma xícara a Magnus quando ele estava trabalhando. Em qualquer outro lugar do apartamento de Magnus Alec ainda era cuidadoso, tocava as coisas como se não tivesse direito, como se fosse um convidado.
E é claro que ele era um convidado. Magnus apenas tinha um desejo irracional de que Alec se sentisse em casa em seu apartamento, como se isso fosse significar alguma coisa, que desse a Magnus um direito sobre Alec ou indicasse que Alec queria um direito sobre ele. Magnus supôs que fosse isso. Queria muito que Alec ficasse aqui e era feliz quando ele estava aqui.
Ele não podia sequestrar o filho mais velho dos Lightwood e mantê-lo como uma decoração na casa, no entanto. Alec tinha adormecido duas vezes – no sofá, não na cama. Uma vez depois de uma noite longa e lenta de beijos; e outra quando voltara para um breve café, claramente exausto depois de um longo dia de caça aos demônios, e deslizara para a inconsciência quase instantaneamente. Magnus também deixava a porta aberta, já que ninguém ia roubar o Alto Bruxo do Brooklyn, e Alec às vezes vêm no início da manhã.
Toda vez que Alec havia se deixado ficar – ou nas manhãs após Alec adormecer ali – Magnus tinha acordado com os sons e os aromas de Alec fazendo-lhe café, mesmo sabendo que Magnus podia fazer surgir café do ar com magia. Alec fizera isso apenas algumas vezes, estava ali há um punhado de manhãs. Não era algo que Magnus deveria se acostumar.
Claro que Alec não estava ali hoje, porque era seu aniversário, ele deveria estar com sua família. E Magnus não era exatamente o tipo de namorado com que você poderia sair com a família. Na verdade, falando de passear com a família, os Lightwood nem sabiam que Alec tinha um namorado – muito menos que era um feiticeiro – e Magnus não tinha ideia se eles algum dia saberiam. Não era algo sobre a qual falou com Alec. Ele podia dizer pelo cuidado de Alec que era muito cedo.
Não havia nenhuma razão para Magnus sair da cama, atravessar a sala de visitas e ir até a cozinha para ver a imagem Alec curvado no balcão, fazendo o café e vestindo uma camisa feia, seu rosto concentrado na tarefa simples. Alec ainda era atencioso sobre o café. E ele realmente usa blusas horríveis, Magnus pensou, e ficou consternado quando o pensamento trouxe consigo uma onda de afeto.
Não era culpa dos Lightwood. Eles obviamente tinham dinheiro para se vestir, dado que a irmã de Alec, Isabelle, e Jace Wayland sempre usavam trajes lisonjeiros. Magnus suspeitava que a mãe de Alec escolhia suas roupas, ou Alec as escolhia ele mesmo, com base em pura praticidade – Ah, olha, que bom; cinza não mostrará o icor demais – e então ele usava as roupas funcionais e consequentemente feias sem parecer notar que o tempo estava desgastando-as, ou que o desgaste causava buracos.
Contra sua vontade, Magnus encontrou um sorriso formando em seus lábios enquanto procurava por sua grande xícara de café azul que dizia MELHOR DO QUE GANDALF em letras brilhantes. Ele estava obcecado; estava oficialmente revoltado com si mesmo.
Poderia estar apaixonado, mas tinha outras coisas em que pensar além de Alec hoje. A empresa mundana que o havia contratado para invocar um demônio Cecaelia. Pelo valor que estavam pagando, e considerando que demônios Cecaelia eram demônios menores que dificilmente poderiam fazer muito barulho, Magnus concordara em não fazer perguntas. Ele bebeu um gole de café e contemplou sua roupa para o dia – a convocação do demônio.
Convocação de demônios não era algo que Magnus fazia muitas vezes, por conta de ser técnica e extremamente ilegal. Magnus não tinha grande respeito pela Lei, mas se ia quebrá-la, queria um bom motivo para fazê-lo.
Seus pensamentos foram interrompidos pelo soar da campainha. Ele não deixara a porta aberta para Alec hoje, e ergueu as sobrancelhas ao som. A senhorita Connor chegara vinte minutos mais cedo.
Magnus antipatizava profundamente com pessoas que chegavam cedo para reuniões de negócios. Era tão ruim quanto estar atrasado, ainda pior, as pessoas que chegavam cedo sempre agiam terrivelmente superiores sobre o horário imperfeito dos outros. Agiam como se fosse moralmente correto levantar mais cedo do que ficar acordado até tarde, mesmo que você tivesse a mesma quantidade de trabalho realizado exatamente na mesma quantidade de tempo. Magnus achava que era uma das grandes injustiças da vida.
Era possível que estivesse um pouco irritadiço sobre não conseguir terminar o seu café antes de ter que lidar com o trabalho.
Ele pairou em frente à representante da empresa. Srta. Connor acabou por ser uma mulher em seus trinta anos cuja aparência revelava sua ascendência irlandesa. Ela tinha cabelo vermelho grosso num coque e o tipo de pele branca que Magnus estava preparado para apostar que nunca bronzeava. Ela vestia-se de modo quadrado, mas caro – usava um terno azul, e olhou extremamente interrogativa para a roupa de Magnus.
Esta era a casa de Magnus, ela havia chegado cedo, e Magnus se sentiu inteiramente dentro de seu direito estar vestido com nada além de pijama de seda preta decorado com um padrão de tigres e flamingos dançando. Ele se deu conta de que as calças estavam deslizando um pouco de seus quadris e puxou-as para cima. Viu o olhar de desaprovação da Srta. Connor escorregar por seu peito nu e fixar-se na lisa pele marrom onde um umbigo deveria estar.
A marca do diabo, seu padrasto tinha chamado, dizendo a mesma coisa sobre seus olhos. Magnus há muito não se importava com o julgamento dos mundanos.
— Caroline Connor — disse a mulher. Ela não ofereceu uma mão. — Diretora financeira e vice-presidente de marketing da Sigblad Enterprises.
— Magnus Bane — disse Magnus. — Alto Feiticeiro do Brooklyn e campeão de palavras-cruzadas.
— Você vem altamente recomendado. Ouvi dizer que você é um mago extremamente poderoso.
— Feiticeiro, na verdade.
— Eu esperava que você...
Ela fez uma pausa como alguém pairando sobre uma seleção de chocolates, extremamente duvidosa sobre todos eles. Magnus perguntou-se o que ela iria escolher, qual marca de um confiável usuário de magia que ela tinha sido imaginado ou esperado – idoso, barbudo, branco. Magnus tinha encontrado muitas pessoas no mercado atrás de um sábio. Tinha bem pouco tempo para isso.
Ainda assim, ele teve que admitir que esta fosse talvez o mais não-profissional que já esteve.
— Você esperava que eu estivesse, talvez — ele sugeriu gentilmente — vestindo uma camisa?
A Srta. Connor encolheu os ombros ligeiramente.
— Me disseram que você tem excêntricas escolhas de moda, e tenho certeza de que é o penteado da moda — disse ela. — Mas, francamente, parece que um gato dormiu em sua cabeça.
***
Magnus ofereceu um café a Caroline Connor, que ela recusou. Tudo o que aceitou foi um copo de água. Magnus estava ficando cada vez mais desconfiado dela.
Quando Magnus saiu de seu quarto vestindo calças de couro marrom e uma blusa de capuz com glitter, acompanhada de um pequeno lenço combinando, Caroline olhou para ele com uma distância fria que sugeriu que não percebeu grande melhoria na troca do pijama. Magnus já havia aceitado o fato de que nunca haveria uma amizade eterna entre eles, e não encontrou-se com o coração partido.
— Então, Caroline — ele falou.
— Prefiro “Srta. Connor” — disse Srta. Connor, empoleirada na borda do sofá de veludo dourado de Magnus.
Ela estava olhando em volta para os móveis em desaprovação da mesma maneira que tinha olhado para o peito nu de Magnus, como se pensasse que alguns quadros interessantes e uma lâmpada com sinos fossem equivalentes a orgias romanas.
— Srta. Connor — Magnus emendou facilmente.
O cliente sempre tinha razão, seria a política de Magnus até que o trabalho fosse concluído, ponto em que ele declinaria qualquer proposta feita por esta empresa novamente.
Ela puxou um arquivo de sua pasta, um contrato em uma pasta verde escura, que passou para Magnus para folhear. Magnus tinha assinado dois outros contratos na semana anterior, uma gravação em um tronco de árvore nas profundezas de uma floresta alemã sob a luz de uma lua nova, usando seu próprio sangue. Mundanos eram tão pitorescos.
Magnus analisou o contrato. Invocar um demônio menor, propósito misterioso, obscenas somas de dinheiro. Checado, checado e chegado. Ele assinou com um floreio e entregou-o de volta.
— Bem — disse Connor, cruzando as mãos no colo. — Eu gostaria de ver o demônio agora, se fizer o favor.
— É preciso um pouco de tempo para configurar o pentagrama e o círculo convocação — Magnus disse. — Você pode querer se sentir confortável.
A Srta. Connor olhou assustado e descontente.
— Eu tenho uma reunião no almoço — observou ela. — Não há nenhuma maneira de agilizar o processo?
— Er, não. Esta é a magia negra, a Sra. Connor. Não é exatamente o mesmo que encomendar uma pizza.
A boca da Sra. Connor afinou-se como um papel dobrado ao meio.
— Seria possível que eu voltasse em alguns horas?
A convicção de Magnus que as pessoas que chegavam cedo para reuniões não tinham respeito pelo tempo dos outros estava sendo confirmada. Por outro lado, ele realmente não desejava que esta mulher permanecesse em sua casa por mais tempo do que o necessário.
— Pode ir — disse Magnus, mantendo sua voz educada e encantadora. — Quando voltar, haverá um demônio Cecaelia pronto para que você possa fazer o que quiser.
— Casa Bane — Magnus murmurou enquanto a Srta. Connor saía, sua voz não baixa o suficiente para ter certeza de que ela não iria ouvi-lo. — Demônios quentinhos ou frios saindo, a seu dispor.
Ele não tinha tempo para se sentar e sentir contrariado. Havia trabalho a ser feito.
Magnus começou a organizar seu círculo de velas pretas. Dentro do círculo, desenhou um pentagrama, usando uma vara de madeira recém-cortada por mãos das fadas. Todo o processo levou um par de horas antes que ele estivesse pronto para começar seu cântico.
— Iam tibi impero et praecipio, maligne spiritus! Eu te conjuro pelo poder do sino, do livro e da vela. Conjuro-o a partir do vazio etéreo, das profundezas obscuras. Invoco você, Elyaas que nada na meia-noite por mares de almas se afogando eternamente, Elyaas que se esconde nas sombras que cercam o Pandemônio, Elyaas que se banha em lágrimas e joga com os ossos dos marinheiros perdidos.
Magnus falou as palavras lentamente, batendo as unhas em seu copo e examinando suas unhas polidas. Ele tinha orgulho de seu trabalho, mas esta não era a sua parte favorita, nem seu cliente favorito, e não o dia para ele.
A madeira dourada de seu chão começou a soltar fumaça, e junto com ela veio o cheiro de enxofre. Mas a fumaça subiu em tufos taciturnos. Magnus sentiu uma resistência quando invocou o demônio de outra dimensão para mais perto dele, como um pescador puxando uma linha e arranjando um peixe pronto para brigar.
Era também o início de uma tarde nada esperada.
Magnus falou em voz alta, sentindo o aumento de potência enquanto falava, como se o seu sangue estivesse pegando fogo e enviando faíscas do centro de seu ser para fora no espaço entre os mundos.
— Como o destruidor de Marbas, eu o conjuro. Invoco-o como a cria do demônio que pode fazer secar mares e transformá-los em deserto. Invoco-o do meu próprio poder, e pelo poder de meu sangue, e você sabe quem é meu pai, Elyaas. Você não irá, não ousará, desobedecer.
A fumaça subia mais e mais, tornou-se um véu, e além do véu, por um instante Magnus vislumbrou um outro mundo. Em seguida, a fumaça tornou-se muito grossa para ver através.
Magnus teve que esperar até que ela diminuísse e se unisse numa forma – não exatamente a forma de um homem.
Magnus tinha convocado muitos demônios nojentos em sua vida. O demônio Amphisbaena tinha as asas e o tronco de um grande frango. Histórias mundanas alegavam que tinha a cabeça e a cauda de uma cobra, mas isso não era de fato verdade. Demônios Amphisbaena eram cobertos por tentáculos, com um grande tentáculo contendo um olho e uma boca com presas encaixadas. Magnus podia ver como a confusão tinha surgido. Os demônios Amphisbaena foram os piores, mas demônios Cecaelia não eram os favoritos de Magnus também. Eles não eram esteticamente agradáveis, e deixavam lodo em todo o chão.
A forma de Elyaas era mais um borrão do que qualquer outra coisa. Sua cabeça era um pouco como a do homem, mas os seus olhos verdes ficavam juntos no centro de sua face, e uma fenda triangular servia como nariz e boca. Ele não tinha braços. Seu torso era abruptamente truncado, e as partes inferiores se assemelhavam aos de uma lula, os tentáculos grossos e curto. E da cabeça aos tentáculos grossos ele era revestido por lodo preto-esverdeado, como se tivesse surgido de um pântano fétido e estava exalando putrefação por todos os poros.
— Quem invoca Elyaas? — ele perguntou em uma voz que soava normal, e nada alegre, a voz de homem, com a ligeira sugestão de que estava sendo ouvido debaixo d’água. Era possível que fosse simplesmente porque ele tinha a boca cheia de lodo. Magnus viu a língua do demônio – como a de um ser humano, mas verde e terminando em um ponto espesso – brilhando entre seus dentes afiados e manchados de lodo enquanto falava.
— Eu invoco — disse Magnus. — Mas prefiro acreditar para nossa proteção que quando o estava invocando, você revelou-se recalcitrante.
Ele falou alegremente, mas as chamas azuis e brancas das velas responderam a seu humor e contraíram, formando uma gaiola de luz em torno Elyaas, o que o fez ganir. Seu lodo não teve nenhum efeito sobre o fogo.
— Oh, vamos lá! — Elyaas resmungou. — Não fique assim! Eu estava a caminho. Fiquei preso por alguns assuntos pessoais.
Magnus revirou os olhos.
— O que você estava fazendo, demônio?
Elyaas parecia astuto, na medida do que podia se dizer sob o lodo.
— Eu tinha uma coisa. Então, como você esteve, Magnus?
— O quê?
— Você sabe, desde a última vez que me chamou. Como tem passado?
— O quê? — Magnus perguntou novamente.
— Você não se lembra de mim? — replicou o demônio.
— Eu invoco um monte de demônios — Magnus falou fracamente.
Houve uma longa pausa. Magnus olhou para o fundo de sua xícara e quis desesperadamente que mais café aparecesse. Isto era algo que muitos mundanos desejavam também, mas Magnus passava por cima desses simplórios. Sua xícara lentamente se encheu de novo, até que estava completa com o rico líquido escuro. Ele tomou um gole e olhou para Elyaas, que estava mudando desconfortavelmente de tentáculo em tentáculo.
— Bem — disse Elyaas. — Isso é estranho.
— Não é nada pessoal.
— Talvez se eu estimule sua memória — Elyaas sugeriu amavelmente. — Você me invocou quando estava à procura de um demônio que amaldiçoou um Caçador de Sombras? Bill Herondale?
— Will Herondale — Magnus corrigiu.
Elyaas estalou os tentáculos como se fossem dedos.
— Eu sabia que era algo como isso.
— Sabe — Magnus falou, iluminado — acho que me lembro. Sinto muito por isso. Percebi de imediato que você não era o demônio que eu estava procurando. Você parecia um pouco azul num dos rascunhos, mas obviamente você não é azul, e eu estava gastando o seu tempo. Você foi muito compreensivo sobre aquilo.
— Não foi nada — Elyaas acenou com um tentáculo. — Essas coisas acontecem. E posso parecer azul. Você sabe, com a luz certa.
— Iluminação é importante, é verdade — Magnus comentou.
— Então o que aconteceu com Bill Herondale e a maldição que um demônio azul colocou nele? — O interesse do demônio Cecaelia parecia genuíno.
— Will Herondale — Magnus corrigiu novamente. — É, na verdade, uma longa história.
— Sabe, às vezes nós, demônios, fingimos amaldiçoar as pessoas e realmente não o fazemos — Elyaas falou, inclinado a manter uma conversa. — Como patadas? É um tipo de coisa com a gente. Sabia disso?
— Você poderia ter mencionado isso um século ou dois atrás — Magnus observou friamente.
Elyaas balançou a cabeça, sorrindo um sorriso limoso-e-falso.
— A velha maldição-fingida. Um clássico. Muito engraçado — ele pareceu notar a expressão nada impressionada de Magnus pela primeira vez. — Não da sua perspectiva, é claro.
— Não foi engraçado para Bill Herondale! — Magnus disse. — Oh, droga. Você não me fez dizer isso.
O telefone de Magnus zumbiu sobre o balcão onde ele o havia deixado. Magnus fez um mergulho para pegá-lo, e ficou encantado quando viu que era Catarina. Ele estava esperando sua chamada.
Então percebeu que o demônio estava olhando-o com curiosidade.
— Desculpe — disse Magnus. — Se importa se eu atender?
Elyaas acenou com um tentáculo.
— Oh não, vá direto e em frente.
Magnus apertou o botão verde no telefone e caminhou em direção à janela, para longe do demônio e da fumaça de enxofre.
— Olá, Catarina! Estou muito contente por você finalmente ter me ligado de volta.
Ele poderia ter colocado uma ligeira ênfase no “finalmente”.
— Eu só liguei porque você disse que era urgente — respondeu sua amiga Catarina, que era enfermeira em primeiro lugar e feiticeira em segundo.
Magnus não achou que ela tivesse tido um encontro em quinze anos. Antes teve um noivo com quem pretendia se casar, mas ela nunca encontrava tempo para isso e eventualmente ele morreu de velhice, ainda esperando que um dia ela definisse uma data.
— É urgente — Magnus confirmou. — Você sabe que eu tenho, hã, passado um tempo com um dos Nephilim do Instituto de Nova York.
— Um Lightwood, certo? — Perguntou Catarina.
— Alexander Lightwood — disse Magnus, e ele estava levemente horrorizado ao ouvir como sua voz suavizou-se ao pronunciar o nome.
— Eu não teria pensado que você teria tempo, com todas as outras coisas acontecendo.
Era verdade. Na noite quando Magnus conhecera Alec, ele só queria fazer uma festa, se divertir, fazer o papel de um bruxo cheio de alegria de viver, até que pudesse sentir-se assim. Lembrou-se de como, no passado, a cada poucos anos, ele costumava sentir uma inquieta ânsia de amor, e iria começar a pesquisar a possibilidade do amor em belos estranhos. De alguma forma, desta isso não tinha acontecido. Ele passou os anos oitenta em uma estranha nuvem de miséria, o pensamento em Camille, a vampira que ele tinha amado mais de um século antes. Ele não havia amado mais ninguém, não de verdade, e eles não o amaram de volta, desde Etta nos anos cinquenta. Etta estava morta fazia anos, e o havia deixado antes de morrer. Desde então, houveram pequenos casos, é claro, amantes que iriam deixá-lo ou a quem ele ia abandonar, que agora mal se lembrava, eram lampejos de brilho que piscaram e se apagaram enquanto ele se aproximava.
Magnus não tinha parado de querer amar. Tinha simplesmente, de alguma forma, parado de procurar.
Ele se perguntou se você poderia estar exausto sem saber disso, se a esperança não podia ser perdida toda de uma vez, mas escapava gradualmente, dia por dia, e desaparecer antes que você percebesse.
Então Clary Fray aparecera em sua festa, a menina cuja mãe estava escondendo a herança Caçadora de Sombras de Clary por toda a sua vida. Clary fora trazida para Magnus para que ele pudesse enfeitiçar sua memória e nublar sua visão, e uma ou outra vez enquanto ela ia crescendo, Magnus fazia o serviço. Não era uma coisa amável a fazer a uma menina, mas sua mãe tivera tanto medo por ela, Magnus não se sentiu no lugar de recusar. No entanto, ele não fora capaz de se impedir de tomar um interesse pessoal. Vendo uma criança crescer, ano após ano, tinha sido novo para ele, assim como sentir o peso de suas memórias nas mãos. Ele começara a se sentir um pouco responsável, queria saber o que seria dela e começou a querer o melhor para ela.
Magnus ficou interessado em Clary, a pequena ruiva que tinha crescido – e se tornado uma pequena ruiva um pouco maior, mas não tinha pensado que ficaria bastante interessado nos companheiros que ela havia encontrado para si. Não o garoto mundano não descritível; não o Jace Wayland de olhos dourados, que lembrou Magnus de um passado que ele preferiria esquecer; e certamente nenhum dos irmãos Lightwood, o garoto e a garota de cabelos escuros cujos pais Magnus tinha um bom motivo para não gostar.
Não fazia sentido que seus olhos tenham sido atraídos para Alec, uma e outra vez. Alec ficara na parte de trás de seu pequeno grupo, não fizera nenhum esforço para atrair atenção. Ele tinha um tipo marcante, a rara combinação de cabelos negros e olhos azuis que sempre foi a favorita de Magnus, e Magnus supôs que foi por isso que notara Alec em primeiro lugar. Estranho ver a combinação que fora tão distinta em Will e sua irmã, tantos quilômetros e anos no passado, e em alguém com um nome completamente diferente...
Então Alec sorrira com uma das piadas de Magnus, e o sorriso acendera uma luz em seu rosto solene, fazendo com que seus olhos azuis ficassem brilhantes, travando a respiração de Magnus brevemente. E quando os olhos de Magnus se voltaram para o Caçador de Sombras, ele tinha visto um lampejo de interesse em retornado nos olhos de Alec, uma mistura de culpa, intriga e prazer na atenção de Magnus. Caçadores de Sombras eram antiquados sobre tais assuntos, o que significava intolerantes e inflexíveis, como eram sobre tudo. Magnus tinha sido abordado por Caçadores de Sombras homens antes, é claro, mas sempre em antros e esquinas escuras, sempre como se estivessem fazendo um enorme favor a Magnus e como se tocar o feiticeiro, mesmo desejando, pudesse manchá-los. (Magnus sempre recusou.) Tinha sido um choque ver esses sentimentos abertos e inocentes no rosto de um belo rapaz.
Quando Magnus piscou para Alec e disse a ele para chamá-lo, tinha sido um impulso irresponsável, pouco mais do que um capricho. Ele com certeza não esperava que o Caçador de Sombras aparecesse em seu apartamento, alguns dias depois, perguntando por um encontro. Nem esperava que o encontro fosse tão estranhamente espetacular, ou que gostasse de Alec tanto depois.
— Alec me pegou de surpresa — Magnus falou para Catarina, finalmente, o que foi um grande eufemismo e tão verdadeiro que parecia revelar muito.
— Bem, parece uma ideia louca para mim, mas geralmente dá certo para você — disse Catarina. — Qual é o problema?
Essa era a pergunta de um milhão de dólares. Magnus resolvera parecer casual sobre isso. Não era algo com que ele deveria estar se preocupando tanto quanto estava, e ele queria conselhos, mas não queria deixar ninguém, nem mesmo Catarina, ver o quanto se importava.
— Estou feliz que tenha perguntado. Aqui está: hoje é o aniversário de Alec. Ele faz dezoito anos. E eu gostaria de dar-lhe um presente, porque a celebração do nascimento de alguém é uma época tradicional para dar presentes, e mostra seu afeto por eles. Mas – e neste ponto digo que eu gostaria que você tivesse respondido ao meu apelo mais cedo – eu realmente não tenho ideia do que fazer com isso, e eu apreciaria alguns conselhos. A coisa é, ele realmente não parece se preocupar com bens materiais, incluindo roupas, o que eu não entendo, apesar de eu achar que é estranhamente encantador. É impossível comprar algo para ele. As únicas coisas novas que eu sempre o vejo usar são armas, e nunchakus não são um presente romântico. Além disso, gostaria de saber se você pensou que a compra de um presente pode me fazer parecer muito interessado e fazê-lo desistir. Conheço-o faz bem pouco tempo, e seus pais nem sequer sabem que ele gosta de garotos, muito menos que gosta de feiticeiros degenerados, assim que quero ser sutil. Talvez dar um presente no geral, seja um erro. É possível que ele pense que estou sendo muito intenso. E como você sabe, Catarina, eu não sou intenso. Sou liberal. Sou um sofisticado exausto. Não quero que ele tenha uma ideia errada sobre mim ou pense que o presente significa mais do que deveria. Talvez apenas um presente simbólico. O que você acha?
Magnus respirou fundo. Isso tinha saído um pouco menos frio, calmo, bem fundamentado e sofisticado do que estava esperando.
— Magnus — disse Catarina — tenho vidas para salvar.
Então ela desligou na cara dele.
Magnus olhou para o telefone em descrença.
Ele nunca teria pensado Catarina faria isso. Parecia crueldade grátis. Ele não soou tão ruim no telefone.
— Alec é seu namorado? — Perguntou Elyaas, o demônio cheio de tentáculos.
Magnus encarou-o. Não estava pronto para qualquer um usar a palavra “namorado” para ele com uma gota de lodo escorrendo da palavra. Sentiu que nunca estaria pronto.
— Você deve dar-lhe uma fita caseira — sugeriu Elyaas. — Crianças adoram fitas caseiras. Elas são as coisas legais agora.
— A última vez que você foi chamado foi nos anos oitenta? — perguntou Magnus.
— Poderia ter sido — disse Elyaas defensivamente.
— As coisas mudaram.
— As pessoas ainda ouvem Fleetwood Mac? — perguntou o demônio de tentáculos. Havia um nota melancólica em sua voz. — Eu amo o Mac.
Magnus ignorou o demônio, que tinha começado a cantar suavemente uma canção melosa para si mesmo.
Magnus estava contemplando seu próprio destino escuro. Ele tinha aceitá-lo. Não havia nenhuma resposta em torno dele. Não havia ninguém a quem pudesse recorrer.
Ia ter que chamar Ragnor Fell e pedir conselhos sobre sua vida amorosa.
***
Ragnor ultimamente estava passando bastante tempo na Cidade de Vidro dos Caçadores de Sombras, onde telefones, televisão e Internet não funcionam, e onde Magnus imaginou que os escolhidos do Anjo recorriam a xilogravuras pornográficas quando queriam relaxar depois de um longo dia de caça aos demônios.
Ragnor usou sua magia para instalar um único telefone, mas não podia ficar pendurado nele o dia inteiro. Então Magnus ficou profundamente grato quando o telefone de Ragnor realmente pegou e o feiticeiro atendeu.
— Ragnor, graças a Deus — ele disse.
— O que é? — perguntou Ragnor. — É o Valentim? Estou em Londres, Tessa está na Amazônia e não há como entrar em contato com ela. Certo. Deixe-me acabar com isso rápido. Você chama Catarina, e eu vou estar com vocês em...
— Ah — disse Magnus. — Não é necessário você vir aqui, mas obrigado por sua resposta imediata em meu socorro, meu doce príncipe esmeralda.
Houve uma pausa, então Ragnor disse, sem intenção, mas com uma voz zangada:
— Porque você está me incomodando, então?
— Bem, eu precisava de alguns conselhos. Então me virei para você, como um dos meus mais antigos e queridos amigos, como um feiticeiro camarada e confiável companheiro, como o Alto Feiticeiro de Londres anterior, em quem tenho confiança implícita.
— Adulação vinda de você me deixa nervoso — disse Ragnor. — Significa que quer alguma coisa. Sem dúvida, algo terrível. Eu não vou virar um pirata com você de novo, Magnus. Não importa o quanto pague.
— Não foi isso que eu quis dizer. A minha pergunta para você é de natureza mais... pessoal. Não desligue. Catarina já foi extremamente desagradável.
Houve um longo silêncio. Magnus brincava com o trinco da janela, comtemplando os armazéns que foram transformados em apartamentos. Cortinas de renda esvoaçavam na brisa morna de verão em uma janela aberta do outro lado da rua. Ele tentou ignorar o reflexo do demônio no vidro.
— Espere aí — Ragnor falou, dissimulando uma risada. — Isso tem a ver com o seu namorado Nephilim?
— Nosso relacionamento não está definido ainda — Magnus respondeu com dignidade. Então ele agarrou o telefone e sussurrou: — E como você sabe detalhes confidenciais sobre minha vida pessoal com Alexander?
— Oooooh, Alexander! — Ragnor repetiu com voz melodiosa. — Sei tudo sobre isso. Raphael me ligou e me contou.
— Raphael Santiago — disse Magnus, pensando sombriamente no atual líder do clã de vampiros de Nova York. — Ele tem um coração negro e ingrato e um dia será punido por essa traição.
— Raphael me liga todo mês — Ragnor respondeu. — Ele sabe que é importante preservar as boas relações e manter comunicação regular entre as diferentes facções de Seres do Submundo. Posso acrescentar que Raphael sempre se lembra de ocasiões importantes na minha vida.
— Esqueci seu aniversario apenas uma vez, sessenta anos atrás — disse Magnus. — Você devia esquecer isso.
— Foi há cinquenta e oito anos, para ser exato, e Raphael sabe que precisamos nos manter unidos perante a oposição Nephilim e, de forma alguma, andar sorrateiramente por aí com garotos menores de idade — Ragnor continuou.
— Alec tem dezoito anos!
— Que seja. Raphael nunca sairia com um Caçador de Sombras.
— Claro, porque ele sairia, quando vocês dois estão apaixonados? — perguntou Magnus. — “Ooooh, Raphael é sempre tão profissional.” “Ooooh, Raphael mencionou os pontos mais interessantes nesses encontros que você esqueceu de comparecer.” “Oooh, Raphael e eu estamos planejando nosso casamento para junho.” “Além disso, Raphael nunca sairia com um Caçador de Sombras porque ele tem a política de nunca fazer nada que seja incrível.”
— Runas de energia não são as únicas coisas importantes na vida.
— Então diga isso para alguém que está desperdiçando a própria vida — Magnus falou pra ele. — E, de qualquer forma, não é assim... Alec é...
— Se você me contar sobre seus sentimentos melosos por um dos Nephilim, vou ficar duplamente verde e doente — interrompeu Ragnor. — Estou te avisando.
“Duplamente verde” pareceu interessante para Magnus, mas ele não tinha tempo a perder.
— Muito bem. Apenas me aconselhe com essa questão prática. Devo comprar-lhe um presente de aniversário e, se eu for comprar, que presente deve ser?
— Acabei de me lembrar que tenho negócios muito importantes para lidar — disse Ragnor.
— Não. Espere. Não faça isso. Eu confiei em você!
— Sinto muito Magnus, mas vou desligar.
— Talvez um suéter de lã? O que você acha de um suéter?
— Oops, a ligação está horrível — Ragnor falou, e sons ecoaram no ouvido de Magnus.
Magnus não sabia porque todos os seus amigos imortais tinham que ser tão insensíveis e horríveis. O negócio importante de Ragnor provavelmente era se reunir com Raphael para escrever um livro ardente. Magnus podia vê-los agora, compartilhando um banco e rabiscando alegremente sobre o estúpido cabelo de Magnus.
Magnus estava imerso nessa privada visão obscura, apesar da real visão obscura acontecendo em seu apartamento. Elyaas estava gerando mais e mais lodo. O pentagrama estava constantemente preenchido. O demônio Cecaelia estava chafurdando no material.
— Acho que você deveria comprar uma vela perfumada para ele — Elyaas propôs, sua voz rígida por um momento. Ele ondulou seus tentáculos entusiasticamente para ilustrar sua opinião. — Elas vêm com muitos cheiros excitantes, como mirtilo e flor de laranjeira. Vai deixá-lo mais sereno, e ele vai pensar em você quando for dormir. Todo mundo gosta de vela perfumada.
— Preciso que você fique calado — disse Magnus. — Preciso pensar — continuou, e se jogou no sofá.
Magnus deveria ter esperado que Raphael, como traidor imundo e totalmente afetado que ele era, tivesse contado tudo para Ragnor.
***
Magnus se lembrou da noite em que levou Alec no Taki. Eles geralmente iam em lugares frequentados por mundanos. Os frequentadores do Submundo – fadas, lobisomens, feiticeiros e vampiros – poderiam falar com seus pais, o que claramente deixava Alec nervoso. Magnus pensara que Alec não entendia o quanto Seres do Submundo preferiam se manter longe dos negócios dos Caçadores de Sombras.
O café estava tumultuado e o centro de atenções era um elfo e em lobisomem num tipo de disputa territorial. Ninguém prestou atenção em Alec e Magnus, exceto Kaelie, a pequena garçonete loira, que sorriu quando eles entraram e tinha sido muito atenciosa.
— Você a conhece? — perguntou Magnus.
— Um pouco — disse Alec. — Ela é parte ninfa. Ela gosta de Jace.
Ela não era a única que gostava de Jace, Magnus sabia. Pessoalmente, ele não entendia o motivo de todo esse estardalhaço. Além de o rosto de Jace parecer o de um anjo e ter o abdômen bem marcado.
Magnus começou a contar a Alec a história da ninfa de boate que ele havia sido um dia. Alec estava rindo, e então Raphael Santiago entrou pela porta do café com seus seguidores vampiros mais leais – Lily e Elliott. Rafael detectou Magnus e Alec e então arqueou a sobrancelha.
— Não, não, não e também não — disse Raphael, e ele realmente deu vários passos para trás, na direção da porta de saída. — Virem-se. Eu não quero saber disso. Eu me recuso a estar ciente disso
— Um dos Nephilim — disse Lily, garota má que ela era, e ela tamborilou suas unhas pintadas de azul brilhante sobre o tampo da mesa. — Meu, meu.
— Oi? — disse Alec.
— Espera aí — disse Raphael. — Você é Alexander Lightwood?
Alec pareceu mais assustado a cada minuto.
— Sim? — ele respondeu, como se não tivesse certeza.
Magnus pensou que ele poderia considerar trocar seu nome para Horace Whipplepool e fugir do país.
— Mas você não tem doze anos? — Raphael especulou. — Eu me lembro nitidamente que você existe há doze anos.
— Ah, isso foi há um tempo atrás — disse Alec.
Ele pareceu ainda mais assustado. Magnus supôs que muitas pessoas teriam ficado perturbadas por serem acusadas de terem doze anos por uma pessoa que parecia ter quinze.
Magnus poderia ter achado a situação engraçada em outros tempos, mas ele olhou para Alec. Seus ombros estavam tensos. Ele conhecia Alec bem o suficiente para saber o que ele estava sentindo, os impulsos conflitantes que lutavam dentro dele. Ele era consciente, o tipo de pessoa que acredita que os outros a sua volta são mais importantes do que ele, que também acreditava que ele estava deixando todo mundo para baixo. E ele era honesto, o tipo de pessoa que é naturalmente aberta sobre tudo o que sente e o que quer. As virtudes de Alec tinham feito uma armadilha para ele: essas duas boas qualidades tinham colidido dolorosamente. Ele sentia que não poderia ser honesto sem decepcionar todos que amava. Foi um dilema horrível para ele. Era como se o mundo tivesse planejado fazê-lo infeliz.
— Deixe-o em paz — Magnus disse, e alcançou a mão de Alec debaixo da mesa.
Por um momento, Alec relaxou os dedos sob a mão de Magnus e segurou sua mão de volta. Então ele olhou de relance para os vampiros e agarrou com força sua mão.
Magnus tinha conhecimento de muitos homens e mulheres ao longo dos anos que tinham medo de quem eles eram e o que queriam. Ele havia amado muitos deles e tinha causado sofrimento em todos eles. Tinha amado o mundo mundano quando as pessoas tinham que ser um pouco menos medrosas. Ele amou o tempo nesse mundo, quando ele podia chegar em um lugar público e segurar a mão de Alec.
Isso não fez Magnus sentir mais simpatia pelos Caçadores de Sombras: ver um dos guerreiros do Anjo tocado pelo medo de algo assim. Se eles tivessem que acreditar que eram muito melhores que qualquer outra pessoa, deveriam pelo menos ser capazes de fazer suas próprias crianças se sentirem bem sobre quem eles são.
Elliott inclinou-se sobre o assento de Alec, sacudindo a cabeça, de modo que suas ralas tranças no estilo rastafári golpearam seu rosto.
— O que seus pais iriam pensar? — ele perguntou zombeteiro.
Era engraçado para os vampiros, mas para Alec não.
— Elliott — disse Magnus. — Você é entediante. E não quero ouvir você contando nenhuma mentira tediosa nesse lugar. Você me entendeu?
Ele brincou com a colher de chá, faíscas azuis deslocando-se dos seus dedos para a colher e de volta aos seus dedos. Os olhos de Elliott diziam que Magnus não seria capaz de matá-lo com a colher. Os olhos de Magnus convidavam Elliott para testá-lo.
A paciência de Raphael se esgotou, conhecida como o deserto sem água.
— Dios — falou Raphael asperamente, e os outros dois vampiros se encolheram. — Não estou interessado em seus encontros sórdidos ou em perturbar constantemente suas escolhas de vida, e certamente não estou interessado em bisbilhotar os negócios dos Nephilim. Importo com o que eu disse. Não quero saber nada sobre isso. Não vou saber nada sobre isso. Isso nunca aconteceu. Eu não vi nada. Vamos embora.
E então Raphael foi embora para fazer um relatório a Ragnor. Assim era um vampiro: sempre saindo pela jugular, literalmente e metaforicamente. Eles estavam atrapalhando sua vida amorosa, bem como sendo imprudentes convidados de festa, tinham derramado sangue no aparelho de som de Magnus na última festa e transformaram o amigo idiota de Clary, Stanley, em um rato mal educado.
Magnus nunca tinha convidado vampiros para suas festas antes. Estava sempre dando certo com lobisomens e fadas, mesmo com os pelos e o pó de fada no sofá.
Magnus e Alec tiveram um breve silêncio depois que os vampiros partiram, e então algo aconteceu. A luta entre o elfo e o lobisomem ficou fora de controle. A face do lobisomem se transformou, rosnando, e o elfo virou a mesa de pernas pro ar. A colisão fez barulho.
Magnus começou a desprezar o barulho, e Alec agiu. Ele pulou de pé, puxando o punhal com uma mão, e com a outra pegou uma arma em seu cinto. Ele se moveu mais rápido do que qualquer outra criatura no lugar – vampiro, lobisomem ou fada – poderia se mover.
E se moveu automaticamente para a frente da cabine onde Magnus estava sentado, colocando-se entre Magnus e a ameaça sem ao menos pensar sobre isso.
Magnus tinha visto como ele agia com seus companheiros Caçadores de Sombras, com sua irmã e com seu parabatai, tão próximo quanto um irmão. Ele protegia suas costas, estava alerta, comportava-se o tempo todo como se as vidas deles fossem mais preciosas que a dele próprio.
Magnus era o Alto Feiticeiro do Brooklyn, e durante séculos era poderoso além dos sonhos não só dos mundanos, mas também dos Seres do Submundo. Magnus evidentemente não precisava de proteção, e ninguém nunca nem mesmo pensou em oferecer proteção a ele, certamente não um Caçador de Sombras. O melhor que se poderia esperar de um Caçador de Sombras, se você for do Submundo, é ser deixado em paz. Ele não tinha lembrança de ninguém tentando protegê-lo desde que era muito novo. Nunca quis que alguém fizesse isso, não desde que fugiu da misericórdia fria do Santuário dos Irmãos do Silêncio quando era apenas uma criança. Isso foi há muito tempo, em um país distante, e Magnus nunca mais quis ser tão fraco assim de novo.
Ainda observando Alec saltar para defendê-lo, Magnus sentiu uma dor aguda no centro do peito, que era ao mesmo tempo doce e dolorosa. E os fregueses do café Taki recuaram de Alec, recuaram do poder angelical revelado em uma explosão repentina de fúria. No momento ninguém duvidou que ele pudesse colocar todos em risco.
O elfo e o lobisomem se esgueiraram para o canto oposto do café, e então apressadamente bateram em retirada. Alec se acalmou na cabine oposta a Magnus e lhe enviou um sorriso envergonhado.
Era estranho, surpreendente e terrivelmente amável, como o próprio Alec.
Magnus então arrastou Alec pra fora, empurrou-o contra a parede de tijolos sob o letreiro luminoso invertido do Taki e em meio à total desordem do lugar, o beijou. Os olhos azuis de Alec, que tinham brilhado com a fúria dos anjos, tinham suavizado de repente, e estavam escuros de paixão. Magnus sentiu a força do corpo flexível de Alec se distender sobre o seu. Sentiu suas mãos gentis deslizarem em suas costas. Alec retribuiu o beijo com o entusiasmo abalado, e Magnus pensou: Sim, é isso, ele é adequado, depois de todo esse tempo procurando e falhando, aqui está.
— O que foi isso? — Alec perguntou depois de um longo tempo, os olhos brilhando.
Alec era jovem. Magnus nunca foi velho, nunca saberia como o mundo reagiria a você quando fosse velho e também não lhe foi permitido ser muito jovem durante muito tempo. Ser imortal significava se manter afastado de muitos interesses. Todos os mortais que Magnus amou pareceram mais jovens e mais velhos que ele, ambos ao mesmo tempo. Mas Magnus estava ciente de que esse era o primeiro encontro de Alec. Tinha sido seu primeiro beijo. Magnus gostaria de ser bom para ele, e não sobrecarregá-lo com o peso de sentimentos que Alec poderia não retornar.
— Nada — mentiu Magnus.
***
Pensando sobre a noite no Taki, Magnus descobriu qual seria o presente perfeito para Alec. Ele também descobriu que não fazia ideia de como entregar o presente para ele.
No único momento de sorte em um dia terrível, cheio de lama e amigos cruéis, a campainha tocou. Magnus cruzou a distância com três passos largos e trovejou no interfone:
— QUEM OUSA PERTURBAR O ALTO FEITICEIRO EM SEU TRABALHO?
Houve uma pausa.
— Sério, se você for uma dessas testemunhas de Jeová...
— Ah, não — disse uma voz de mulher, leve, autoconfiante e com um delicado sotaque de Idris. — Sou Isabelle Lightwood. Se importa se eu entrar?
— Claro que não — Magnus respondeu, e apertou o botão para deixá-la entrar.
***
Isabelle Lightwood caminhou direto para a máquina de café e se serviu de uma xícara sem ao menos perguntar se podia. Ela era aquele tipo de garota, pensou Magnus, o tipo que toma posse do que quiser e supõe que você esteja encantado por ela ter pegado e que goste que ela faça isso. Ela cuidadosamente ignorou Elyaas: deu uma olhadela nele quando entrou no apartamento de Magnus e aparentemente decidiu que fazer perguntas sobre a presença do demônio de tentáculos seria indelicado e provavelmente chato.
Ela se parecia com Alec, tinha bochechas pronunciadas, pele pálida de porcelana, cabelos escuros, que ela deixava longos e bem cuidados. Seus olhos eram diferentes, ainda que brilhantes e negros, como ébano laqueado: belos e indestrutíveis. Ela dava a impressão de que poderia ser tão fria quanto sua mãe, como se pudesse ser propensa â corrupção, como tantos de seus ancestrais foram. Magnus sabia muito dos Lightwood, e ele não era impressionado pela maioria deles. Não até que um conseguiu.
Isabelle esperou do outro lado, esticando suas longas pernas. Ela estava usando calça jeans sob medida, botas com finíssimos saltos e uma regata de seda vermelho escuro que combinava com a gargantilha de rubi em seu pescoço, que Magnus tinha comprado pelo preço da casa que possuía em Londres mais de cem anos atrás. Magnus gostou bastante de vê-la usando-o. Sentia como se estivesse observando a sobrinha de Will: impetuosa, rindo, fumando charuto, Ana Lightwood – uma dos únicos Lightwood que ele havia gostado – usando a mesma gargantilha cem anos atrás. Isso o fascinava, o fez sentir como se ele tivesse se importado, nesse espaço de tempo, com essas pessoas. Ele se perguntou quão horrorizados os Lightwood ficariam se soubessem que a gargantilha pertencera a um devasso feiticeiro e foi um presente de amor para uma vampira assassina.
Provavelmente não tão horrorizados quando soubessem que Magnus estava saindo com um dos filhos deles.
Ele encontrou os atrevidos olhos de Isabelle e pensou que talvez ela não ficasse tão horrorizada em saber de onde veio sua gargantilha. Pensou que ela poderia se livrar do colar com um pontapé. Talvez um dia contasse a ela.
— Então, hoje é o aniversário de Alec — Isabelle anunciou.
— Estou ciente disso — disse Magnus.
Ele não disse mais nada. Ele não sabia que Alec tinha contado para Isabelle, mas sabia o quão ardorosamente ele a amava e queria protegê-la, não queria deixá-la chateada, como não queria que ninguém ficasse desanimado e passionalmente temia que ele ficasse. Discrição não funcionava bem com Magnus, que tinha piscado para Alec na noite em que o conheceu, quando Alec tinha sido simplesmente um rapaz deliciosamente lindo observando Magnus com tímido interesse. Mas tudo era mais complicado agora, quando ele sabia que Alec poderia ficar magoado, quando Magnus sabia o quanto importava para ele se Alec sofresse.
— Eu sei que vocês estão... se encontrando — disse Isabelle, selecionando cuidadosamente suas palavras, mas calmamente encontrando os olhos inanimados de Magnus. — Eu não importo. Quero dizer, não vejo problema. Não mesmo.
Ela jogou as palavras desafiadoras para Magnus. Não havia necessidade de ser desafiador com ele, mas ele entendia por que ela fazia isso, entendia que ela devia ter praticado as palavras provocantes que precisaria dizer aos próprios pais um dia, se permanecesse do lado do irmão, mais tarde.
— É bom saber disso — disse Magnus.
Ele sabia que Isabelle Lightwood era bonita, e pensou que ela parecia ser uma pessoa forte e divertida – sabia que ela era alguém com quem ele poderia tomar um drinque ou acompanhar em uma festa. Ele não tinha conhecimento de que havia sentimentos profundos de lealdade e amor nela.
Não era adepto de ler corações de Caçadores de Sombras, o que havia por trás de suas suaves fachadas angelicalmente arrogantes. Pensou que deveria ser por isso que Alec o surpreendeu tanto, tinha correspondido quando Magnus tropeçou nos sentimentos que ele não havia planejado ter. Alec não era falso.
Isabelle anuiu, como se entendesse o que Magnus estava tentando lhe dizer.
— Eu pensei... pareceu importante dizer isso a alguém, no seu aniversário — ela falou. — Não posso dizer para mais ninguém, mesmo se eu quisesse. Não é como se meus pais ou a Clave fossem me ouvir.
Isabelle enrugava os lábios quando falava de seus pais ou da Clave. Magnus estava gostando dela cada vez mais.
— Ele não pode contar pra ninguém. E você não vai contar, certo?
— Não é meu o segredo para sair contando por aí — disse Magnus.
Ele podia não apreciar andar por aí sorrateiramente, mas não contaria o segredo a ninguém. Ele arriscaria causar dor ou medo em Alec.
— Você gosta dele de verdade, certo? — Isabelle perguntou. — Meu irmão?
— Ah, você quis dizer Alec? — Magnus replicou. — Pensei que estava falando do meu gato.
Isabelle riu e chutou uma porta do armário de Magnus com um salto fino, descuidada e radiante.
— Vamos, admita — ela disse. — Você gosta dele.
— Nós vamos conversar sobre rapazes? — Magnus indagou. — Eu não entendi e, honestamente, não estou preparado pra isso. Você pode voltar outra hora, quando eu estiver em um dos meus pijamas? Nós poderemos fazer massagem facial caseira e tranças um no cabelo do outro, e então, apenas então, irei te contar que acho que seu irmão é totalmente um sonho.
Isabelle olhou satisfeita, embora um pouco iludida.
— Muitas pessoas olham para Jace. Ou para mim — ela acrescentou alegremente.
Alec tinha falado algo sobre isso uma vez, parecendo atordoado que Magnus o tivesse notado em vez de olhar para Jace.
Magnus não havia planejado falar sobre por que preferia Alec. O coração tem suas razões, e elas raramente são razoáveis. Você pode muito bem ter se perguntado porque Clary não criou um triângulo amoroso hilário, tendo uma queda por Alec, que era – na humilde opinião de Alec – extremamente bonito, e estivera emburrado com ela, e muitas garotas gostam disso.
Por tudo isso, Magnus tinha inúmeras rações. Os Nephilim eram protegidos, os Nephilim eram arrogantes, os Nephilim deviam ser evitados. Mesmo os Caçadores de Sombras que Magnus conhecera e gostara, tinham sido, cada um, um sundae de problemas com cerejas escuras e secretas no topo. Alec não era nem parecido com esses Caçadores de Sombras que Magnus havia conhecido antes.
— Posso ver seu chicote? — perguntou Magnus.
Isabelle pestanejou, mas para fazer-lhe jus, ela não objetou. Enlaçou a liga de ouro e prata do chicote e emaranhou o comprimento ouro-prateado em volta de suas mãos por um momento, como uma criança brincando de cama-de-gato.
Magnus pegou o chicote cuidadosamente, enrolou em volta de sua mão, como uma cobra, e o levou até a porta do armário que estava aberta. Ele pegou uma poção especial, uma em que ele havia pago um preço exorbitante para ter e que vinha guardando para algo especial. Caçadores de Sombras tinham suas runas para se proteger. Feiticeiros tinham magia. Magnus sempre tinha achado sua magia melhor que a deles. Apenas um Caçador de Sombras pode suportar runas, mas Magnus poderia dar mágica a alguém. Ele colocou a extremidade do chicote na poção – pó de fada e sangue colhido em um dos antigos rituais, hematita e heléboro, além de outros.
Em casos extremos essa arma não falhará; na hora mais escura essa arma irá dominar seu inimigo.
Magnus devolveu o chicote para Isabelle quando acabou o feitiço.
— O que você fez com? — Isabelle perguntou.
— Dei-lhe um toque especial — disse Magnus.
Isabelle o encarou com os olhos estreitados.
— E porque você faria isso?
— Por que você veio me dizer que sabia sobre mim e Alec? — perguntou Magnus. — Isso significa que as pessoas que se importam com ele querem lhe dar o que mais quer. No seu caso, aprovação. No meu, eu sei que, para ele, a coisa mais importante no mundo é te proteger.
Isabelle balançou a cabeça, e seus olhos se encontraram. Magnus tinha falado demais, e se preocupava que Isabelle pudesse ver além.
Ela saiu do balcão em direção a pequena mesa de café com tampo de alabastro, e rabiscou em seu bloco de notas.
— Aqui está o meu número.
— Posso perguntar porque está dando para mim?
— Bem, nossa, Magnus, eu sei que você tem centenas de anos e tudo, mas espero que você acompanhe a tecnologia moderna — Isabelle segurou e mostrou seu telefone para ilustrar sua ideia e moveu-se rapidamente. — Assim você pode me ligar ou mandar mensagem. Sempre que você precisar de ajuda com os Caçadores de Sombras.
— Eu preciso de ajuda com os Caçadores de Sombras? — Magnus indagou, incrédulo. — Depois de – você está certa, centenas de anos – deixe-me dizer-lhe que encontrei outros meios de comunicação por aí, além desse. Presumo que você esteja esperando que eu lhe dê o meu número, e estou pronto para apostar, com base em nada mais que conhecimento prévio sobre seu grupo de amigos, que você está prestes a entrar em uma fria e precisará muito da minha ajuda mágica especializada.
— Sim, talvez — disse Isabelle com um sorriso torto. — Tenho reputação de encrenqueira. Mas não te dei meu número porque preciso de ajuda mágica, e certo, entendo que o Alto Feiticeiro do Brooklyn provavelmente não precise de ajuda para se encontrar com um Nephilim menor de idade. Eu estava pensando que, se você for importante para o meu irmão, nós deveríamos estar prontos para entrar em contato. E também pensei que você poderia querer o número se precisar entrar em contato comigo para saber de Alec. E se eu precisar falar com você.
Magnus entendeu o que a garota queria dizer. Seu número era fácil de conseguir – o Instituto o tinha – mas ele próprio dando a ela, Isabelle estava oferendo troca livre de informação sobre a segurança de Alec. Os Nephilim levam vidas perigosas, perseguindo demônios, seguindo infratores do Submundo, suas runas – a Marca do Anjo – davam-lhe corpos rápidos na linha de defesa para o mundo mundano. Na segunda vez em que Magnus viu Alec, ele estava agonizando com veneno demoníaco. Alec poderia morrer em qualquer uma das batalhas em que ele entrasse. Isabelle seria a única Caçadora de Sombras que saberia com certeza que havia algo entre Magnus e Alec. Ela seria a única que sabia que, se Alec morresse, Magnus precisaria saber.
— Certo — ele concordou devagar. — Obrigado, Isabelle.
Isabelle piscou.
— Não precisa me agradecer. Irei enlouquecê-lo por muito tempo.
— Estarei esperando por isso — disse Magnus, e ela girou em seus saltos altos e armados. Ele admirava quem fazia beleza e utilidade trabalharem juntas.
— A propósito, esse demônio está gotejando lama sobre todo o piso — comentou Isabelle, apontando com a cabeça.
— Oi — disse Elyaas, movendo os tentáculos para perto dela.
Isabelle o examinou com desdém, então ergueu uma sobrancelha na direção de Magnus.
— Pensei que eu já havia exposto minha opinião — ela disse, e fechou a porta.
***
— Eu não entendi o sssssentido do ssseu presente — disse Elyaas. — Ele nem vai ssssaber do presente? Voccccê deveria ter lhe mandado floressss. Rosassss Vermelhassss ssssão tão românticassss. Ou talvezzz tulipasss, ssse vocccê pensssar que rosasss dizem que voccccê o quer apenasss para ssssexo.”
Magnus se sentou em seu sofá dourado e contemplou o horizonte. O sol estava baixo no céu, um clarão dourado desenhado por uma mão descuidada sobre a linha do horizonte de Nova York. O corpo do demônio tinha se tornado mais e mais gelatinoso durante o dia, até ele ficar parecendo nada mais que um monte de lama.
Caroline Connor provavelmente nunca voltaria. Possivelmente Elyaas viveria com Magnus agora. Magnus sempre pensou que Raphael Santiago era o pior colega de quarto que ele poderia ter. Estava prestes a provar o contrário. Ele desejou, com uma profundidade que o surpreendeu, que Alec estive ali com ele.
Magnus se lembrou de uma cidade no Peru cujo nome, Quechua, significava “lugar tranquilo”. Ele se recordou ainda mais vividamente de ter estado obscenamente bêbado e infeliz sobre o seu desgosto da época, e os pensamentos sentimentais que tinham voltado a ele através dos anos, como um convidado indesejado escorregando através da sua porta: e não havia paz para ele, nenhum lugar tranquilo, e nem haveria.
Se pegou lembrando de uma tarde preguiçosa, deitado na cama com Alec, ambos totalmente vestidos, Alec rindo, a cabeça jogada para trás, com as marcas de chupão que Magnus fez em seu pescoço muito evidentes.
Tempo era algo que progredia aos trancos e barrancos para Magnus, se dissipando como névoa ou se arrastando como lesmas, mas quando Alec estava junto, parecia que o tempo diminuía para um ritmo fácil, como dois corações batendo em sincronia. Sentia-se ancorado por Alec, e todo o seu ser se sentia impaciente e rebelde quando ele não estava aqui, porque sabia o quão diferente seria quando Alec estivesse aqui, como o mundo tumultuado ficaria calmo ao som da voz de sua voz.
Era parte da dicotomia de Alec que ele pegasse Magnus desatento e o deixasse fascinado – que Alec parecesse ser mais velho do que realmente era, sério e responsável, e ainda que se aproximasse do mundo como uma maravilha que tornava tudo novo e diferente. Alec era um guerreiro que trouxe paz a Magnus.
Magnus deitou no sofá e admitiu isso a si mesmo. Ele sabia por que estava agindo como louco e porque estava atormentando seus amigos sobre o presente de aniversário. Ele sabia por que, em um dia desagradável normal de trabalho, todos os seus pensamentos eram pontuados com um pensamento de Alec, ansiando insistentemente por ele. Isso era amor, novo, brilhante e aterrorizante.
Ele havia passado por centenas de desgostos, mas encontrou seus próprios medos quando pensou em Alexander Lightwood partindo seu coração. Ele não sabia como o garoto – com seu cabelo escuro despenteado e os olhos azuis preocupados, com suas mãos firmes e seu raro e doce sorriso, que não eram tão raros na presença de Magnus – havia adquirido tanto poder sobre ele. Alec não havia tentado conseguir isso, parecia nunca ter se dado conta de que tinha esse poder ou tentado fazer qualquer coisa com ele. Talvez ele não quisesse isso. Talvez Magnus estivesse se enganando, como se enganara muitas vezes antes. Ele era a primeira experiência de Alec, não um namorado. Alec continuava mantendo sua primeira paixão, por seu melhor amigo, e Magnus era um experimento cauteloso, um passo mais perto da segurança brilhante e muito querida que Jace representava. Jace, que parecia um anjo: Jace, que, como um anjo, como o próprio Deus, nunca amaria Alec de volta.
Magnus podia ser simplesmente um passeio no lado selvagem, uma rebelião por um dos filhos mais cuidadosos de Idris, antes de Alec recuar para o sigilo, a circunspeção. Magnus se lembrou de Camille, que nunca o levou a sério, que nunca o amou. Qual a probabilidade de um Caçador de Sombras sentir-se dessa forma?
Seus tristes pensamentos foram interrompidos pelo som da campainha.
Caroline Connor não se desculpou pelo atraso. De fato, ela passou por Magnus como se ele fosse o porteiro, e imediatamente começou a explicar seu problema para o demônio.
— Faço parte da Pandemônio Interprises, que atende a uma determinada subdivisão de ricos.
— Aquela que tem usado seu dinheiro e influência para obter conhecimento sobre o Mundo das Sombras — disse Magnus. — Estou ciente da sua organização. Já não era sem tempo.
A senhorita Connor inclinou a cabeça.
— Meu trabalho específico é proporcionar entretenimento para nossos clientes em um ambiente náutico. Embora existam outros cruzeiros no porto de Nova York, oferecemos aos nossos clientes uma refeição gourmet servida em um iate com vista para os habitantes mais mágicos da cidade – ninfas, kelpies, sereias e várias outras criaturas marinhas. Nós proporcionamos uma experiência exclusiva.
— Parece elegante — murmurou Elyaas.
— No entanto, não queremos fazer uma experiência tão exclusiva a ponto de sereias rebeldes arrastarem nossos abastados clientes para o fundo do rio — disse a senhorita Connor. — Só que, infelizmente, algumas sereias não gostam de ser observadas e isso vem acontecendo. Eu simplesmente quero que você use seus poderes infernais para despachar essa ameaça à minha companhia do desenvolvimento econômico.
— Espere aí. Você quer amaldiçoar as sereias? — quis saber Magnus.
— Eu poderia amaldiçoar algumas sereias — Elyaas concordou. — Com certeza.
Magnus olhou para ele. Elyaas encolheu os tentáculos.
— Amaldiçoarei uma sereia. Amaldiçoarei um cocker spaniel. Não me importo com nada.
— Não acredito que passei o dia inteiro assistindo uma ascensão de lama sem nenhum motivo. Se tivesse me contado que seu problema eram sereias furiosas, eu poderia tê-lo resolvido sem precisar convocar um demônio para amaldiçoá-las — disse Magnus. — Tenho muitos contatos na comunidade de sereias e, se isso falhasse, sempre há os Caçadores de Sombras.
— Ah, sim. Magnus está namorando um Caçador de Sombras — expôs Elyaas.
— Esse é um detalhe particular e eu agradeço se você não repetir — disse Magnus. — E nós não estamos namorando oficialmente!
— Minhas ordens eram para convocar um demônio — a senhorita Connor disse rispidamente. — Mas se você puder resolver o problema de forma mais eficiente, feiticeiro, tudo bem. Prefiro não amaldiçoar sereias; os clientes gostam de vê-las. Talvez uma recompensa monetária possa ser arranjada. Precisaremos alterar o contrato, feiticeiro, ou estes termos são satisfatórios para você?
Magnus se sentiu tentado a discutir um aumento, mas ele já estava cobrando uma soma satisfatoriamente exorbitante, e queria evitar uma maldição sobre as sereias de Nova York. Isso poderia se complicar muito rapidamente. Ele concordou em assinar o contrato modificado, eles se cumprimentaram, e ela partiu.
Magnus esperava que não precisasse vê-la nunca mais. Outro dia, outro dólar. (Bem, outra pilha enorme de dólares. As habilidades especiais de Magnus não saíam barato.)
Elyaas estava olhando extremamente mal-humorado em volta dos tentáculos porque a oportunidade de causar o caos na cidade de Magnus lhe foi negada.
— Obrigado por ter sido totalmente inútil — disse Magnus.
— Boa sorte com um dos escolhidos do Anjo, filho do demônio — disse Elyaas, sua voz subitamente mais nítida e menos chiada. — Pensa que ele vai fazer algo além de te desprezar, seu coração de todos os corações? Ele sabe aonde você pertence. Todos sabemos disso também. Seu pai o terá no final. Um dia sua vida aqui parecerá um sonho, como um estúpido jogo infantil. Um dia, o Grande Senhor das Trevas virá e irá arrastá-lo para baixo e para baixo, com nóssss...
Sua voz sibilante parou em um grito cada vez mais alto, como a chama de uma vela listrada, até que alcançou o teto. Então ele desapareceu, seu último grito suspenso no ar.
— Deveria ter comprado uma vela perfumada...
Magnus começou a abrir todas as janelas do apartamento. O cheiro persistente de enxofre e lama mal tinha começado a sair quando seu telefone tocou. Magnus o pegou, não sem dificuldade – suas calças eram apertadas, porque ele sentia uma responsabilidade para com o mundo sendo tão lindo, mas isso significava pouco espaço em seu bolso – e seu coração pulou uma batida quando viu quem estava do outro lado da linha.
— Oi — Alec falou quando Magnus atendeu, sua voz profunda e hesitante.
— Porque você me ligou? — Magnus perguntou, tomado por um medo repentino de que seu presente de aniversário tivesse sido imediatamente descoberto de alguma forma e os Lightwood tivessem transportado Alec para Idris por causa de feitiços em chicotes feitos por um desatento bruxo, que Alec não poderia explicar.
— Ahn, eu posso ligar outra hora — Alec falou, soando preocupado. — Tenho certeza de que você tem coisas melhores para fazer...
Ele não disse isso da mesma forma que alguns antigos amantes de Magnus, acusando ou exigindo reafirmação. Ele disse de forma natural, como se aceitasse que era o jeito do mundo, que ele não seria a prioridade de ninguém. Isso fez Magnus querer reafirmá-lo dez vezes mais do que seria necessário, ter Alec dava a impressão de que ele esperava isso.
— Claro que não tenho, Alexander. Estou apenas surpreso ao te ouvir. Imaginei que você estaria com sua família nesse grande dia.
— Oh — disse Alec, e ele parecia tímido e satisfeito. — Eu não esperava que você se lembrasse.
— Passou pela minha cabeça uma vez ou duas durante o dia — Magnus respondeu. — Então você está tendo uma folga maravilhosa de caça às sombras? Alguém te deu um machado gigante embrulhado em um bolo? Onde você está, saiu para comemorar?
— Er — Alec falou. — Eu estou tipo... do lado de fora do seu apartamento?
A campainha tocou. Magnus pressionou o botão para deixá-lo entrar, sem palavras por um momento, porque ele queria que Alec estivesse ali, e lá estava ele. Parecia mais encantador do que qualquer coisa que ele poderia fazer. E então Alec estava lá, de pé na soleira da porta.
— Eu queria te ver — Alec falou com devastadora simplicidade. — Tem algum problema? Posso ir embora se você estiver ocupado ou algo assim.
Devia ter chovido um pouco. Havia gotas brilhantes de água no cabelo escuro despenteado de Alec. Ele estava usando um moletom com capuz que Magnus pensou que ele poderia ter achado em uma lixeira e jeans desbotados, e todo o seu rosto estava iluminado apenas porque ele estava olhando para Magnus.
— Eu acho — disse Magnus, puxando Alec pelas cordinhas do moletom cinza horroroso — que eu poderia ser persuadido a limpar a minha agenda.
Então Alec o estava beijando, e os beijos de Alec eram desinibidos e totalmente sinceros, todo o corpo de seu esguio guerreiro focado no que ele queria, todo o seu coração aberto e bom.
Por um longo momento de euforia selvagem, Magnus acreditou que Alec não queria nada mais do que estar com ele, que eles não iriam se separar. Não por muito, muito tempo.
— Feliz aniversário, Alexander — Magnus murmurou.
— Obrigado por lembrar — Alec sussurrou de volta.
Feitiços de amor que funcionam
ResponderExcluirEstou compartilhando esse testemunho com parceiros que sofrem em seus relacionamentos porque há uma solução duradoura.
Meu marido deixou eu e nossos 2 filhos para outra mulher por 3 anos. Tentei ser forte apenas para os meus filhos, mas não conseguia controlar as dores que atormentam meu coração. Fiquei magoado e confuso. Eu precisava de ajuda, então fiz uma pesquisa na internet e me deparei com um site onde vi o Dr. Paul, um lançador de feitiços, que pode ajudar a recuperar os amantes. Entrei em contato com ele e ele fez uma oração especial e feitiços para mim. Para minha surpresa, depois de alguns dias, meu marido voltou para casa. Foi assim que nos reunimos novamente e havia muito amor, alegria e paz na família.
Você também pode entrar em contato com o Dr. Paul, um poderoso lançador de feitiços para soluções em seu contato astoriashrine@gmail.com ou diretamente no Whats App: +2349051441669
Feitiços de amor que funcionam
ResponderExcluirEstou compartilhando esse testemunho com parceiros que sofrem em seus relacionamentos porque há uma solução duradoura.
Meu marido deixou eu e nossos 2 filhos para outra mulher por 3 anos. Tentei ser forte apenas para os meus filhos, mas não conseguia controlar as dores que atormentam meu coração. Fiquei magoado e confuso. Eu precisava de ajuda, então fiz uma pesquisa na internet e me deparei com um site onde vi o Dr. Paul, um lançador de feitiços, que pode ajudar a recuperar os amantes. Entrei em contato com ele e ele fez uma oração especial e feitiços para mim. Para minha surpresa, depois de alguns dias, meu marido voltou para casa. Foi assim que nos reunimos novamente e havia muito amor, alegria e paz na família.
Você também pode entrar em contato com o Dr. Paul, um poderoso lançador de feitiços para soluções em seu contato astoriashrine@gmail.com ou diretamente no Whats App: +2349051441669