Capítulo 12
— Oi — Jackson disse, sentado no sofá de dois lugares da pequena área de espera no corredor. Ele se levantou, se assomando sobre mim. — Você está linda. A Califórnia te fez bem.
Inclinei a cabeça para o lado, oferecendo-lhe um sorriso em agradecimento.
— Faz só algumas semanas.
Ele baixou o olhar.
— Eu sei.
— Como estão seus pais?
— Meu pai acabou de sair de um resfriado. Minha mãe jurou que, se eu trouxesse flores, você ia mudar de ideia.
Contraí o canto da boca para o lado.
— Vamos dar uma volta.
Jackson me seguiu até o elevador. Apertei o botão do primeiro andar e descemos em silêncio.
Quando as portas se abriram, o saguão estava borbulhando de atividade. Logo pela manhã, os agentes estavam chegando ou saindo para fazer interrogatórios, ir ao tribunal ou cumprir as centenas de outras tarefas que se encaixavam no espectro de nossas funções. Os visitantes estavam sendo verificados, e um pequeno grupo de alunos do ensino médio estava começando um tour.
Caminhamos juntos até os fundos do prédio, e eu empurrei as portas duplas que levavam ao pátio. Aninhada entre os dois edifícios, havia uma linda área de descanso, com móveis rústicos, pedras de rio, canteiros de festuca verde e um monumento em homenagem a agentes mortos. Eu sempre quis passar alguns minutos ali para organizar os pensamentos ou simplesmente ficar sentada em silêncio, mas, entre os almoços com Val e o tempo na academia com Thomas, eu não tivera tempo livre.
Jackson se sentou em um dos sofás de vime. Fiquei em pé diante dele, inquieta. Não falamos durante quase um minuto, depois eu finalmente suspirei.
— Por que você não telefonou antes? — perguntei.
— Você teria me dito para não vir. — Sua voz estava lamentavelmente triste.
— Mas você veio mesmo assim — falei, estreitando os olhos por causa do sol forte da manhã.
Quando Jackson se inclinou para frente e segurou a testa, fiquei feliz por estarmos sozinhos.
Dei um passo para trás, temendo, por um segundo, que ele pudesse chorar.
— Não estou lidando bem com isso, Liisee. Não consigo dormir nem comer. Tive um surto no trabalho.
O apelido que ele tinha me dado me causou um calafrio. Não era culpa dele. Eu nunca tinha dito que odiava o apelido. Vê-lo tão vulnerável, quando geralmente ele estava no controle das emoções, me deixou desconfortável, e minha culpa aumentou umas dez vezes.
Jackson não era um cara ruim. Mas não estar mais apaixonada por ele tornara tudo que ele fazia grotesco, e, quanto mais eu tentava me sentir diferente, menos o suportava.
— Jackson, estou no trabalho. Você não pode fazer isso aqui.
Ele levantou o olhar para mim.
— Desculpa. Eu só queria te convidar para almoçar.
Suspirei e sentei ao lado dele.
— Odeio o fato de você estar sofrendo. Queria me sentir diferente, mas eu... simplesmente não sinto. Tentei durante um ano, como prometi.
— Mas talvez se eu...
— Não foi nada que você fez. Nem nada que você não fez. Nós dois simplesmente não damos certo.
— Você dá certo pra mim.
Coloquei a mão em suas costas.
— Sinto muito. Muito mesmo. Mas o que tivemos acabou.
— Você não sente a menor falta de mim? — ele perguntou.
Seu corpo era tão maior que o meu que me protegia do sol.
Eu me lembrava dele no treinamento. As outras alunas o achavam tão doce e atraente. E ele era mesmo. Depois de todo o esforço delas para pegar Jackson Schultz, eu consegui fisgá-lo sem nenhum trabalho. Ele se sentia atraído por confiança e genialidade, ele disse. E eu tinha as duas coisas.
Aqui estava Jackson, me implorando para desejá-lo, quando poderia ter várias mulheres a seus pés, mulheres que o amariam e curtiriam seus péssimos hábitos, assim como as características pelas quais eu havia me apaixonado.
Depois de hesitar um pouco, decidi que a verdade não era agradável, mas era necessária. Simplesmente balancei a cabeça.
— Que merda. — Ele deu uma risada sem humor. — Você se mudou pra cá por causa de alguém? Não é da minha conta, sei disso, mas preciso saber mesmo assim.
— Claro que não.
Ele assentiu, satisfeito.
— Bom, meu voo é só na quarta-feira. Acho que há lugares piores para ficar preso.
— Você pode mudar o voo? — Antes de perguntar, eu já sabia que ele não faria isso.
Jackson não só era terrível em se desapegar como era totalmente inútil em coisas do tipo trocar uma passagem de avião, fazer reservas ou marcar consultas. Eu tinha certeza de que a mãe dele cuidara dos detalhes da viagem para cá.
— O bar do Top Gun é aqui. Você vai gostar de lá — falei.
— É — ele deu uma risadinha. — Parece bem legal.
— Eu te levo até a saída. Eu sinto muito... muito mesmo, Jackson.
— É. Eu também.
Eu o conduzi pelo gramado e de volta ao prédio principal. Ele não disse nem uma palavra enquanto atravessávamos o saguão e chegávamos à entrada.
— Eu só... preciso dizer uma vez... antes de ir embora. Eu te amo.
Beijei seu rosto.
— Obrigada. Não mereço isso, mas obrigada.
Ele forçou um sorriso.
— Sei que você consegue lidar com aquele idiota lá em cima, mas, se der errado, você sempre pode voltar pra casa.
Abafei o riso.
— Ele não é um problema.
— Adeus, Liis. — Jackson beijou minha testa e virou, saindo porta afora.
Respirei fundo e, de repente, me senti exausta.
Eu me arrastei até o elevador, então me encostei na parede dos fundos até o sinal indicar que eu estava no meu andar. Saí para o corredor, forçando um pé na frente do outro.
— Liis? — Marks chamou quando passei pela sua sala. — Entra aqui.
Eu parei e virei, surpresa pela gratidão que senti em relação ao convite.
Desabei na cadeira dele.
— O que foi?
Ele ergueu uma sobrancelha, cessando momentaneamente os toques contínuos no teclado.
— Eu te falei. Você é encrenca.
— O que faz você dizer isso? — perguntei.
— Todo mundo já notou que ele está diferente. Ele praticamente fica feliz quando você está por perto.
— Não entendi por que isso me torna uma encrenca.
— Seu ex vai ficar com você por uns dias?
— Claro que não.
— Por que não?
Eu me empertiguei.
— Você tem o hábito de fazer perguntas que não são da porra da sua conta?
— Vou adivinhar. Você se transferiu para cá pra fugir dele. Você disse ao Tommy que não estava emocionalmente disponível e agora ele está te perseguindo porque você o rejeitou. Só que isso não é um jogo pra você. Você não está mesmo disponível.
Revirei os olhos e me recostei na cadeira.
— Que tal a gente não fingir que ele não tem os próprios problemas?
— Exatamente. Então por que vocês dois não facilitam para o departamento e param com isso?
— Você tem seus próprios problemas. Concentre-se neles em vez de se concentrar nos meus. — Eu me levantei.
— Eu vi o que aconteceu com ele... quando a Camille foi embora pela última vez. Foi ainda pior depois do acidente de carro com o Trent e a Cami. Ela escolheu o Trent, mas o Tommy nunca deixou de amá-la. Não estou tentando ser um babaca, Liis, mas ele é meu amigo. Posso estar me metendo na sua vida, mas o Tommy mudou quando perdeu a Cami, e não foi pra melhor. Só agora ele está dando sinais do homem que costumava ser antes de ela partir o coração dele.
— Tommy? — perguntei, sem me impressionar.
Marks inclinou o pescoço para mim.
— Foi só isso que você escutou, de tudo que eu te falei? Não se trata de um concurso de marcação de território, Liis. Não estou tentando tirá-lo de você. Estou tentando protegê-lo de você.
Por mais amargo que aquilo fosse, tentei engolir a vergonha. Meu sofrimento ficou claro, porque a raiva nos olhos de Marks desapareceu.
— Eu compreendo que você está comprometida com o trabalho e que tem foco — ele disse. — Mas, se não conseguir encontrar um jeito de amar o trabalho e ele ao mesmo tempo... não fode com ele enquanto está tentando descobrir se tem coração.
A vergonha foi rapidamente substituída pela raiva.
— Vai à merda, Marks — falei antes de sair da sala dele.
Passei zunindo pela porta de segurança e marchei até meu escritório.
— Lindy — o agente Sawyer começou.
— Agora não — falei antes de bater com força a porta da minha sala para reforçar.
Mais uma vez, eu estava na minha cadeira, de costas para a parede de vidro. As persianas estavam fechadas desde que Thomas estivera ali mais cedo, mas eu ainda precisava sentir o encosto alto entre mim e a sala do esquadrão.
Depois de uma batidinha à porta, ela se abriu. Pela falta de cumprimento e pelo ruído de alguém sentando na poltrona, eu sabia que só podia ser a Val.
— Fuzzy hoje?
— Hoje não. Eu definitivamente preciso passar a hora de almoço na academia de ginástica.
— Tá bom.
Virei de repente.
— Só isso? Sem interrogatório?
— Não preciso. Observei você a manhã toda. Primeiro você se esconde aqui e o Maddox entra apressado atrás. Depois seu ex aparece e o Maddox volta a gritar com todo mundo, como era antes. — Ela agitou as sobrancelhas. — Ele está mal.
Desviei o olhar.
— Acabei de partir o coração do Jackson. De novo. Que merda eu estava pensando? Eu sabia que tinha acontecido alguma coisa com o Thomas. Que inferno, você me contou no primeiro dia que ele tinha sido magoado. O Marks tem razão.
Val se enrijeceu.
— O que foi que o Marks disse?
— Que eu devo ficar longe do Thomas. Que eu não consegui me comprometer com o Jackson e provavelmente não vou conseguir me comprometer com mais ninguém.
Ela fez uma careta.
— Você está mentindo. Ele não é um babaca tão descarado.
— Ele é, quando se trata de mim. E, para esclarecer, sim, eu estava parafraseando.
— Então são seus medos falando. Mas, se você gosta do Maddox, Liis, não deixe um relacionamento fracassado comandar o próximo. Só porque você não ama o Jackson, não significa que não possa amar o Maddox.
— Ele ainda a ama — falei, sem tentar disfarçar o tom magoado em minha voz.
— A Camille? Foi ela quem foi embora, Liis. Ele provavelmente vai amá-la pra sempre.
Uma náusea me invadiu, e eu encurvei os ombros, sentindo uma dor física se aprofundar até os ossos.
A gente não se conhece há tanto tempo. Por que tenho sentimentos tão fortes por ele?
Mas eu não podia fazer essa pergunta. Ela me deixava vulnerável demais, me fazia sentir fraca demais.
Fiz a única pergunta que podia:
— Você acha que ele consegue amar duas pessoas?
— Você consegue amar uma? — ela retrucou.
Balancei a cabeça, levando os dedos aos lábios.
Val não tinha nenhuma simpatia nos olhos.
— Você meio que está se forçando a isso. Ficar ou não com ele. Mas o Marks está certo. Não fode com os sentimentos do Maddox. Eu sei que você já disse que não está emocionalmente disponível, mas está se comportando diferente.
— Porque eu gosto dele. Acho que eu mais do que gosto dele. Mas não quero gostar.
— Então seja direta com ele e não dê sinais confusos.
— É difícil não fazer isso quando essa é a única coisa que acontece aqui — falei, apontando para o espaço entre minha mente e o coração.
Ela balançou a cabeça.
— Eu entendo, mas você vai ter que tomar uma decisão e mantê-la, senão vai parecer uma filha da puta.
Suspirei.
— Não tenho tempo pra isso. Tenho trabalho a fazer.
— Então ajeita suas merdas e vai trabalhar. — Val se levantou e saiu da minha sala sem mais uma palavra.
Fiquei sentada, as mãos entrelaçadas, enquanto as encarava. Val estava certa. Marks estava certo. Jackson estava certo. Não só eu não estava em posição de fazer experiências com a minha fobia de compromisso, como, além disso, Thomas definitivamente não era o cara com quem eu devia tentar.
Eu me levantei e fui até a mesa de Constance. Sem saber se eu estava sem fôlego ou apenas nervosa, pedi para ver o agente especial Maddox.
— Ele está na sala — Constance disse sem mexer no fone de ouvido. — Pode entrar direto.
— Obrigada — falei, passando por ela.
— Ei — Thomas cumprimentou, se levantando e sorrindo no instante em que reconheceu quem estava invadindo seu espaço.
— Não posso... fazer isso. O encontro. Desculpa.
A guarda do Thomas imediatamente se fechou, e eu me odiei por isso.
— Você mudou de ideia em relação ao Jackson? — ele perguntou.
— Não! Não... Eu... não sei se me sinto diferente em relação a compromisso de quando saí de Chicago, e acho que não é justo experimentar com você.
Os ombros de Thomas relaxaram.
— Só isso? Esse é o seu discurso?
— Hein?
— A menos que consiga me olhar nos olhos e dizer que não gostou quando te beijei hoje de manhã, não vou acreditar.
— Eu... Você... — Essa não era a resposta que eu esperava. — Seu coração foi partido. Eu acabei de partir o coração de alguém.
Thomas deu de ombros.
— Ele não era certo pra você.
Ele contornou a mesa e veio na minha direção. Dei vários passos curtos para trás, até minha bunda encostar na enorme mesa de reunião.
Thomas se aproximou, ficando a poucos centímetros do meu rosto.
Recuei.
— Temos uma missão na próxima semana, senhor. É melhor nos concentrarmos na estratégia.
Ele fechou os olhos e inspirou pelo nariz.
— Por favor, para de me chamar de senhor.
— Por que agora isso te incomoda tanto?
— Não me incomoda. — Ele balançou a cabeça, analisando meu rosto com tanto desejo que eu não conseguia me mexer. — Nossa missão é posar como um casal.
Eu sentia seu hálito de menta quente no rosto. A necessidade de virar e sentir sua boca na minha era tão urgente que meu peito doeu.
— Desde quando você voltou a me chamar de senhor?
Levantei o olhar para ele.
— Desde agora. A atração é óbvia, mas...
— Isso é um eufemismo. Você tem ideia de como é difícil te ver passando pelo escritório de saia, sabendo que você não usa calcinha?
Expirei com força.
— Tem alguma coisa entre nós. Eu sei. Transamos menos de vinte minutos depois de nos conhecermos, pelo amor de Deus. Mas estou tentando te fazer um favor. Está me ouvindo? Quero que isso fique muito claro. Eu gosto de você... muito. Admito. Mas sou péssima em relacionamentos. Mais importante, não quero que você se machuque de novo. E... nenhum dos seus amigos quer isso.
Thomas forçou um sorriso.
— Você andou falando com o Marks, não é?
— Também estou tentando poupar a gente do drama na sala do esquadrão, que nós dois sabemos que vai acontecer aqui, se não dermos certo.
— Você está dizendo que eu sou dramático?
— Temperamental — esclareci. — E não posso ir adiante. Fomos condenados desde o início.
— Você ficou quantos anos com o Jackson depois de saber que não queria se casar com ele?
— Anos demais — falei, envergonhada.
Thomas me observou por um instante, me analisando. Eu odiava essa sensação. Eu preferia o poder e o controle do outro lado.
— Você está com medo — ele disse. Suas palavras eram delicadas, compreensivas.
— Você não está? — perguntei, olhando para cima, direto em seus belos olhos castanho-esverdeados.
Ele se inclinou e beijou o canto de minha boca, se detendo ali por um tempo, saboreando.
— Do que você tem medo? — sussurrou, segurando meus ombros.
— Você quer a verdade?
Ele assentiu, os olhos fechados, o nariz rastreando meu maxilar.
— Em alguns dias, você vai ver a Camille e vai sofrer. Eu não vou gostar disso, e o pessoal do escritório também não.
— Você acha que eu vou sofrer e voltar a ser um babaca irritadinho?
— Acho.
— Você está errada. Não vou mentir, não vai ser divertido. Não vou curtir. Mas... não sei. As coisas não parecem tão desesperadoras quanto antes. — Ele entrelaçou os dedos aos meus e os apertou de leve. Parecia tão aliviado, tão feliz por estar dizendo aquelas coisas em voz alta. Ele não parecia nem um pouco nervoso ou receoso. — E você tem razão. A gente precisa se concentrar e terminar essa missão para garantir que o Trav fique longe de encrenca. Até lá, talvez você possa desistir dessa ideia ridícula de que não consegue ter sucesso na carreira e em um relacionamento ao mesmo tempo, e, quando nós dois tivermos uma consciência clara disso, você pode decidir se vamos ou não ter aquele encontro.
Franzi a testa.
Ele deu uma risadinha, levando o polegar até o meu queixo.
— O que foi agora?
— Não sei. Alguma coisa está errada. Você está aceitando isso fácil demais.
— Fale com a Val. Pergunte a ela se estou mentindo.
— Não é assim que ela funciona.
— É sim. Pergunte a ela. — Abri a boca para falar, mas ele cerrou meus lábios com o polegar. — Pergunte a ela.
Eu me afastei.
— Ótimo. Tenha um bom dia, senhor.
— Não me chame de senhor. Quero que perca esse hábito antes da cerimônia.
— Agente Maddox — falei, antes de sair apressada de seu escritório.
— Também não gosto disso — ele gritou atrás de mim.
Um sorriso largo se espalhou pelo meu rosto. Olhei para Constance ao passar, e ela estava sorrindo também.
Eu hein, esses dois são confusos
ResponderExcluirKkkkkkk eles são fofos... msm com o jeito maluco 😅😅
ResponderExcluirEeeeeeeeeehhhh que Constance é a melhor agente kkkk
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