Capítulo 15
— Me deixa carregar isso — Thomas disse, deslizando a bolsa de viagem de couro do meu ombro e passando para o dele.
— Não, pode deixar comigo.
— Liis, namoradas gostam dessas coisas. Você precisa se concentrar. Pare de agir como uma agente e comece a interpretar o papel.
Eu assenti, cedendo de um jeito infeliz. Tínhamos acabado de chegar ao Aeroporto Internacional de San Diego. Fiquei feliz por passarmos rapidamente pela fila da classe executiva. No último sábado do recesso de primavera, o aeroporto estava especialmente lotado. Contornar o tráfego humano no trajeto até nosso portão de embarque estava deixando Thomas, já tenso, ainda mais aflito.
— Não estou nada ansioso para fazer isso de novo amanhã de manhã e outra vez na segunda — ele resmungou.
Notar mulheres dando uma segunda e uma terceira olhada para Thomas tornou difícil para mim não encará-lo. Ele estava usando camiseta cinza justa com um casaco esportivo azul-marinho e calça jeans, e o cinto de couro marrom combinava com as botas esportivas. Quando me aproximei o suficiente, senti sua colônia e me peguei respirando mais fundo.
Ele escondeu os olhos atrás dos óculos aviador e manteve um sorriso forçado, apesar de estar sufocado pelas bagagens e pelo fato de que ia ver a família — e Camille — em breve.
Ficamos sentados no terminal, e Thomas pousou nossas malas ao seu redor. Ele só trouxera uma bagagem de mão. O restante era minha mala de rodinhas média, uma mala de mão de rodinhas e uma sacola de viagem de couro.
— O que você está levando aqui? — ele perguntou, baixando lentamente a sacola de couro no chão.
— Meu notebook, cartões de crédito, chaves, petiscos, fone de ouvido, carteira, um suéter, chiclete...
— Você trouxe casaco?
— Ficaremos em Illinois durante uma noite, e depois vamos para as ilhas Virgens. Consigo aguentar esse tempo com um suéter, a menos que a festa de despedida de solteiro seja ao ar livre.
— Não tenho certeza se você vai à despedida de solteiro.
— O Trent vai pedir a Camille em casamento na despedida de solteiro, certo?
— Parece que sim — ele disse, a voz subitamente baixa.
— Se ela pode ir, eu também posso.
— Ela é bartender.
— Eu sou agente do FBI. Ganhei.
Thomas me encarou.
— Eu quis dizer que ela pode estar trabalhando na festa.
— Eu também.
— Duvido que haja outras mulheres lá.
— Não me importo com isso — falei. — Olha, não vou deixar você passar por isso sozinho. Eu nem amo o Jackson e não consigo nem imaginar como me sentiria constrangida se estivesse presente quando ele pedisse alguém em casamento.
— Como foi a manhã seguinte? Você não me contou.
— Ele tinha ido embora. Eu telefonei para a mãe dele, e ela disse que ele tinha chegado bem em casa. Não nos falamos mais.
Thomas deu uma risada.
— Apareceu na sua casa implorando. Que frouxo.
— Foco, Thomas. Não vai dar tempo de você me deixar no hotel. Temos que ir direto pra lá, e eu não vou ficar esperando no carro. Diga para os seus irmãos que nós vamos a todos os lugares juntos. Diz que eu sou uma namorada ciumenta e dominadora. Sinceramente, não me importo. Mas, se você queria só uma decoração, devia ter trazido a Constance.
Thomas sorriu.
— Eu não teria trazido a Constance. Ela está quase noiva do filho do SAC.
— Sério? — perguntei, surpresa.
— Sério.
— Mais um bonde que você perdeu enquanto sofria pela Camille.
Ele fez uma careta.
— A Constance não faz meu tipo.
— Claro, porque ser linda, inteligente e loira é tão nojento — falei sem emoção.
— Nem todos os homens curtem doçura e fidelidade.
— Você não curte? — perguntei, em dúvida.
Ele baixou o olhar para mim, se divertindo.
— Meu tipo parece ser mulheres mal-humoradas e emocionalmente indisponíveis.
Olhei feio para ele.
— Não sou eu quem ama outra pessoa.
— Você é casada com o FBI, Liis. Todo mundo sabe disso.
— Exatamente o que venho tentando te dizer. Relacionamentos são uma perda de tempo para pessoas como nós.
— Você acha que estar em um relacionamento comigo seria perda de tempo?
— Eu sei que seria. Eu nem ficaria em segundo lugar. Ficaria em terceiro.
Ele balançou a cabeça, confuso.
— Terceiro?
— Depois da mulher que você ama.
No início, Thomas pareceu ofendido demais para argumentar, masdepois se aproximou do meu ouvido.
— Às vezes você me faz desejar nunca ter contado sobre a Camille.
— Você não me contou sobre ela, lembra? Foi a Val.
— Você precisa superar isso.
Apontei para o meu próprio peito.
— Eu preciso superar isso?
— Ela é uma ex-namorada. Pare de agir como uma pirralha mimada.
Rangi os dentes, temendo o que poderia sair da minha boca a seguir.
— Você sente falta dela. Como é que eu devo me sentir em relação a isso? Você ainda tem uma foto dela na sua sala de estar.
O rosto de Thomas desabou.
— Liis, por favor. Não podemos fazer isso agora.
— Não podemos fazer o quê? Brigar por causa de uma ex-namorada? Porque um casal de verdade jamais faria isso. — Cruzei os braços e me recostei no assento.
Thomas olhou para baixo, soltando uma risada.
— Não posso argumentar contra isso.
Esperamos ali até a funcionária da companhia chamar a classe executiva para o embarque. Thomas carregou nossas malas de mão e minha sacola de viagem, se recusando a me deixar ajudar. Seguimos lentamente pela fila, ouvindo a máquina apitar todas as vezes que a funcionária escaneava um cartão de embarque.
Depois que passamos, Thomas me seguiu pela passarela de embarque, e então paramos de novo, perto da porta do avião.
Notei as mulheres encarando — dessa vez, comissárias de bordo —, olhando para Thomas atrás de mim. Ele parecia não notar. Talvez, a essa altura da vida, ele já estivesse acostumado com isso. No escritório, era fácil fingir que ele não era bonito, mas, no mundo real, as reações alheias me lembravam de como eu me senti na primeira vez em que o vi.
Sentamos no nosso assento, prendendo o cinto de segurança. Finalmente relaxei, mas Thomas estava nervoso.
Coloquei a mão na dele.
— Desculpa.
— Não é você — ele disse.
Suas palavras me magoaram. Apesar de não ter sido intencional, elas tinham um significado mais profundo. Ele estava prestes a ver a mulher que amava aceitar se casar com outra pessoa. E ele estava certo. A mulher que ele amava não era eu.
— Tenta não pensar nela — falei. — Talvez a gente possa sair antes do pedido. Para tomar um ar fresco.
Ele me olhou como se eu devesse entender melhor.
— Você acha que estou estressado por causa do pedido de casamento do Trenton?
— Bom... — comecei, mas não sabia muito bem como terminar.
— Você precisa saber que a foto já era — ele disse casualmente.
— A foto da Camille? E foi para onde?
— Para uma caixa de lembranças... onde é o lugar dela.
Olhei para ele durante um tempo, uma dor aguda se formando em meu peito.
— Feliz? — ele perguntou.
— Sim — falei, meio envergonhada, meio desconcertada.
Recuar agora me faria parecer gratuitamente teimosa. Ele a afastara. Eu não tinha mais desculpas.
Estendi a mão e entrelacei meus dedos aos dele, e ele levou minha mão à boca. Então fechou os olhos e beijou a minha palma. Um gesto tão simples que era tão íntimo, como ajeitar a roupa de alguém durante um abraço ou um toque de leve na nuca. Quando ele fazia coisas assim, era fácil esquecer que ele pensava em outra pessoa.
Depois que os passageiros tomaram seus devidos lugares e os comissários de bordo nos instruíram sobre como sobreviver a uma possível queda do avião, a aeronave taxiou até o fim da pista e seguiu em frente, a velocidade aumentando e a fuselagem sacudindo, até decolarmos em um movimento suave e silencioso.
Thomas começou a se remexer. Ele virou e depois olhou para frente.
— O que foi? — perguntei.
— Não posso fazer isso — ele sussurrou e me olhou. — Não posso fazer isso com ele.
Mantive a voz baixa.
— Você não está fazendo nada com ele. Você é o mensageiro.
Ele olhou para a ventilação acima da cabeça e levantou a mão, girando o botão até o ar estar soprando com força em seu rosto. Depois se ajeitou no assento outra vez, parecendo desesperado.
— Thomas, pensa bem. Que outra opção ele tem?
Ele rangeu os dentes, como sempre fazia quando estava chateado.
— Você fica dizendo que estou protegendo meu irmão, mas, se eu não tivesse contado ao diretor sobre o Travis e a Abby, ele não teria que escolher.
— É verdade. A prisão seria sua única opção.
Thomas desviou o olhar de mim e olhou pela janela. O sol se refletia no mar de nuvens brancas, fazendo-o estreitar os olhos. Ele fechou a persiana, e meus olhos precisaram de um instante para se ajustar.
— Isso é impossível — falei. — Temos um trabalho a fazer, e, se essa porcaria pessoal ficar flutuando na nossa cabeça, vamos cometer um erro, e a operação toda vai por água abaixo. Mas a natureza disso é pessoal. Essa missão envolve sua família. E estamos aqui, juntos, com as nossas próprias... questões. Se não descobrirmos um jeito, Thomas, estamos fodidos. Mesmo se... quando o Travis concordar, se você não estiver na sua melhor forma, o Grove vai farejar tudo.
— Você está certa.
— Espera. O que foi que você disse? — provoquei, levando os dedos ao ouvido.
A comissária de bordo se aproximou.
— Gostariam de uma bebida?
— Vinho branco, por favor — falei.
— Uísque com Coca-Cola — Thomas pediu.
A mulher assentiu e seguiu para a fileira atrás de nós, fazendo a mesma pergunta.
— Eu disse que você está certa — Thomas repetiu, cheio de ressentimento.
— Você está nervoso de ver a Camille hoje à noite?
— Sim — ele respondeu sem hesitar. — Na última vez em que a vi, ela estava no hospital, toda quebrada. — Ele notou a minha surpresa e continuou: — Ela e o Trenton estavam dirigindo perto de Eakins quando foram atingidos por um motorista bêbado.
— Não consigo decidir se a sua família é muito sortuda ou muito inclinada a se acidentar.
— As duas coisas.
A comissária trouxe a nossa bebida, primeiro colocando guardanapos no apoio e, em seguida, os copos. Tomei um gole de vinho enquanto Thomas observava. Ele estava especialmente atento aos meus lábios, e eu me perguntei se ele tinha os mesmos pensamentos ciumentos que eu quando sua boca encostava em algo que não era a minha.
Ele parou de me encarar e olhou para baixo.
— Estou feliz pelo Trent. Ele merece.
— E você não?
Ele deu um sorriso nervoso e voltou os olhos para mim.
— Eu não quero falar da Camille.
— Tá bom. É um voo longo. Quer conversar, cochilar ou ler?
A comissária de bordo voltou com um bloquinho e uma caneta.
— Senhorita... Lindy?
— Sim?
Ela sorriu, dezenas de fios grisalhos se destacando como raios da trança embutida.
— Gostaria de frango grelhado com molho de chili ou salmão grelhado com manteiga de alcaparra e limão?
— Humm... frango, por favor.
— Sr. Maddox?
— Frango também.
Ela anotou no bloquinho.
— Tudo bem com as bebidas?
Nós dois olhamos para nossos copos quase cheios e fizemos que sim com a cabeça.
A atendente sorriu.
— Perfeito.
— Conversar — Thomas disse, se inclinando em minha direção.
— O quê?
Ele abafou uma risada.
— Você perguntou: conversar, cochilar ou ler? Escolhi conversar.
— Ah. — Eu sorri.
— Mas não quero falar da Camille. Quero falar de você.
Franzi o nariz.
— Por quê? Sou sem graça.
— Você já quebrou algum osso? — ele perguntou.
— Não.
— Já chorou por um cara?
— Não.
— Com quantos anos você perdeu a virgindade?
— Você... foi o primeiro.
Os olhos de Thomas quase saltaram das órbitas.
— O quê? Mas você estava noiva...
Dei uma risadinha.
— Só estou brincando. Eu tinha vinte anos. Na faculdade. Nada nem ninguém especial.
— Drogas ilegais?
— Não.
— Já bebeu até desmaiar?
— Não.
Thomas refletiu durante aproximadamente trinta segundos.
— Eu disse — falei, meio envergonhada. — Sou sem graça.
Então ele fez a pergunta seguinte:
— Já transou com seu chefe? — E deu um sorriso forçado.
Eu me encolhi no assento.
— Não de propósito.
Ele jogou a cabeça para trás e riu.
— Não é engraçado. Fiquei horrorizada.
— Eu também, mas não pelo motivo que você pensa.
— Porque você teve medo do que o Tarou ou o Benny fariam comigo se o Grove descobrisse por que eu estava lá?
Thomas franziu a testa.
— Sim. — Ele engoliu em seco e baixou o olhar para os meus lábios. — Aquela noite com você... mudou tudo. Eu ia esperar alguns dias, para não parecer totalmente patético quando batesse à sua porta. Fui trabalhar naquela manhã e imediatamente disse ao Marks que ele ia comigo até o Cutter. Eu esperava te encontrar de novo.
Sorri.
— É mesmo?
— É — ele concordou, desviando o olhar. — Ainda estou preocupado. Vou ter que ficar bem de olho em você.
— Droga — provoquei.
Thomas não pareceu feliz com a minha resposta.
— Não sou eu que fico de olho nas pessoas, lembra?
— Sawyer? — perguntei.
Quando ele confirmou minha suspeita, dei uma risadinha.
— Não é engraçado — ele comentou, sem se divertir.
— É um pouco engraçado. Ninguém me diz por que não gosta dele, só que ele é um canalha ou um babaca. Nem você nem a Val me dizem algo mais específico. Ele me ajudou a desempacotar a mudança. Ficou no meu apartamento a noite toda e não tentou nada comigo. Ele tem aquele ar de botequeiro barato, mas é inofensivo.
— Ele não é inofensivo. Ele é casado.
Fiquei boquiaberta.
— Como é que é?
— Você me ouviu.
— Não, eu entendi que você disse que o agente Sawyer é casado.
— Ele é.
— O quê?
Thomas estava mais que irritado, mas não consegui acreditar no que ele estava me dizendo.
Ele se inclinou.
— Com a Val.
— O quê? — Minha voz baixou uma oitava. Agora eu sabia que ele estava brincando comigo.
— É verdade. No início, eles eram como Romeu e Julieta, depois ela descobriu que o Sawyer tem um pequeno problema com compromissos. A Val já mandou os papéis do divórcio pra ele várias vezes. Ele fica arrastando o processo. Eles estão separados há quase dois anos.
Minha boca ainda estava escancarada.
— Mas... eles moram no mesmo prédio.
— Não — ele disse, rindo. — Eles moram no mesmo apartamento.
— Fala sério!
— Quartos diferentes. Eles são colegas de apartamento.
— A Val me faz contar tudo pra ela. Isso é tão... Eu estou me sentindo traída. Isso é normal? Eu me sinto assim.
— É — Thomas disse, se ajeitando no assento. — Ela definitivamente vai me matar.
Balancei a cabeça.
— Nunca imaginei uma coisa dessas.
— Eu te pediria para não contar a ela que eu te contei, mas, quando voltarmos, ela vai dar só uma olhada para você e vai saber.
Virei para encará-lo.
— Como é que ela faz isso?
Ele deu de ombros.
— Ela sempre teve um detector de mentiras interno, e o FBI ajudou a aprimorar essa habilidade. Com a dilatação das pupilas, a demora na resposta, olhar para cima e para a esquerda e qualquer alarme interno que ela tenha e seja acionado, ela agora detecta mais que mentiras. Ela detecta omissão, mesmo que você tenha em mente novidades que está escondendo. A Val sabe tudo.
— É desconcertante.
— É por isso que você é a única amiga dela.
Minha boca se contorceu para um lado, e eu inclinei a cabeça para o outro.
— Isso é triste.
— Poucas pessoas conseguem lidar com o dom da Val ou o uso descarado que ela faz dele. É por isso que o Sawyer é tão babaca.
— Ele a traiu?
— Sim.
— Sabendo que ela ia descobrir?
— Acredito que sim.
— Então por que ele não se divorcia dela? — perguntei.
— Porque ele não consegue achar ninguém melhor.
— Ah, eu odeio esse cara — soltei.
Thomas apertou um botão, e seu assento começou a reclinar. Um sorriso satisfeito se espalhou por seu rosto.
— Não me surpreende ela nunca ter me deixado ir à casa dela — refleti.
Seu sorriso se ampliou e ele colocou um travesseiro embaixo da cabeça.
— Você já...
— Não. Chega de perguntas sobre mim.
— Por quê?
— Porque literalmente não tenho nada para contar.
— Me conta o que aconteceu com você e o Jackson. Por que não deu certo?
— Porque nosso relacionamento não tinha nada para contar — falei, moldando os lábios com as palavras, como se ele tivesse que ler meus lábios para entender.
— Você está me dizendo que a sua vida inteira era um tédio até você vir para San Diego? — ele perguntou, sem acreditar.
Não respondi.
— Então? — ele disse, se ajeitando até ficar confortável.
— Então o quê?
— Conhecendo você, eu quase poderia acreditar que você não era tão espontânea. Faz sentido. Você saiu do Cutter comigo naquela noite para ter algo para contar. — A arrogância brilhou em seus olhos.
— Não esqueça, Thomas. Você não me conhece tão bem.
— Sei que você rói a unha do polegar quando está nervosa. Sei que enrosca o cabelo no dedo quando está mergulhada em pensamentos profundos. Você bebe manhattans. Gosta do Fuzzy Burgers. Odeia leite. Não se preocupa demais com a limpeza da casa. Você consegue correr mais do que eu durante a nossa hora de almoço e gosta de arte japonesa esquisita. Você é paciente, dá uma segunda chance e não faz julgamentos apressados sobre desconhecidos. Você é profissional e muito inteligente, e ronca.
— Eu não ronco! — Sentei com as costas retas.
Thomas riu.
— Tá bom, não é ronco. Você só... respira.
— Todo mundo respira — falei na defensiva.
— Desculpa. Eu acho fofo.
Tentei não sorrir, mas fracassei.
— Morei com o Jackson durante anos, e ele nunca mencionou nada.
— É um barulhinho bem baixo, quase imperceptível — ele disse.
Lancei um olhar irritado para ele.
— Sejamos justos, o Jackson te amava. Ele provavelmente não te contava um monte de coisas.
— Ainda bem que você não me ama, assim eu posso ouvir todas as coisas humilhantes a meu respeito.
— Pelo que todo mundo sabe, eu amo você hoje e amanhã.
Suas palavras me fizeram parar.
— Então interprete o papel e finja que me acha perfeita.
— Não consigo me lembrar de pensar de outro jeito. — Thomas não sorriu.
— Ah, por favor — falei, revirando os olhos. — Meu primeiro FD-trêszero- dois não te lembra nada?
— Você sabe por que fiz aquilo.
— Eu não sou perfeita — resmunguei, mordendo o canto da unha do polegar.
— Não quero que seja.
Ele analisou meu rosto com tanto afeto que me senti a única outra pessoa no avião. Ele se inclinou em minha direção, os olhos fixos nos meus lábios. Quando comecei a me aproximar, a comissária chegou.
— Podem abrir a mesinha, por favor? — ela pediu.
Thomas e eu piscamos e mexemos na trava para liberar as mesas. A dele baixou primeiro, então ele me ajudou com a minha. A comissária nos lançou um olhar do tipo que-casal-fofo e colocou guardanapos nas bandejas antes de posicionar as refeições diante de nós.
— Mais vinho? — ela perguntou.
Olhei para minha taça meio vazia. Eu nem percebi que tinha bebido.
— Sim, por favor.
Ela encheu minha taça e voltou para os outros passageiros.
Thomas e eu comemos em silêncio, mas era evidente o que pensávamos sobre o frango grelhado de micro-ondas com uma colher de molho de chili e legumes mistos sem graça. O pretzel foi a melhor parte da refeição.
O homem sentado no assento do corredor na nossa frente falava com o vizinho sobre sua carreira evangélica em desenvolvimento. O grisalho atrás de nós conversava com a mulher ao lado sobre seu primeiro livro, e, depois de fazer algumas perguntas básicas, ela revelou que também estava pensando em escrever um.
Antes de eu terminar meu cookie de chocolate, o piloto anunciou que em breve daria início à descida, e nosso voo pousaria em Chicago dez minutos antes do previsto. Depois que o anúncio foi feito, ouvimos uma sinfonia de cintos de segurança sendo abertos e corpos se mexendo, e as peregrinações ao banheiro tiveram início.
Thomas fechou os olhos de novo. Tentei não encarar. Desde que nos conhecíamos, eu não tinha feito nada além de negar meus sentimentos por ele enquanto lutava ferozmente pela minha independência. Mas eu só me sentia livre quando ele encostava em mim. Fora dos nossos momentos íntimos, eu ficava presa pensando em suas mãos.
Mesmo que apenas pelas aparências, eu esperava que esse fingimento fosse satisfazer minha curiosidade. Se o fato de Thomas ver Camille mudasse alguma coisa, pelo menos ter as lembranças do fim de semana seria melhor que sofrer pelo nosso falso relacionamento quando voltássemos para casa.
— Liis — Thomas disse, os olhos ainda fechados.
— Sim?
— No instante em que pousarmos, estaremos disfarçados. — Ele olhou para mim. — É importante que qualquer contato do Mick ou do Benny não faça a menor ideia de que somos agentes federais.
— Entendi.
— Você está livre para falar sobre qualquer coisa da sua vida, exceto sobre o trabalho no FBI. Isso vai ser substituído por uma falsa carreira como professora substituta de estudos culturais na Universidade da Califórnia, em San Diego. Temos todos os registros disso.
— Eu trouxe minhas credenciais da universidade.
— Ótimo. — Ele fechou os olhos de novo, se ajeitando no assento. — Você pesquisou sobre a faculdade, imagino.
— Sim, e sobre a sua família e alguns outros que você poderia ter mencionado se estivéssemos em um relacionamento real: Shepley, America, Camille, os gêmeos; seu pai, Jim; o irmão dele, Jack; a esposa do Jack, Deana; e a sua mãe.
Seus lábios se curvaram.
— Diane. Pode falar o nome dela.
— Sim, senhor.
Foi uma coisa natural de dizer, algo praticamente arraigado, e eu não quis dizer nada com isso, mas os olhos de Thomas se abriram de repente, e foi difícil não ver sua decepção.
— Thomas. Apenas Thomas. — Ele virou os ombros para me encarar. — Admito que achei que isso seria mais fácil pra você. Sei que vai ser difícil estar em Chicago novamente, mas tem certeza de que você consegue? É importante.
Mordi o lábio. Pela primeira vez, eu realmente me preocupei em cometer um deslize e não apenas colocar a operação toda em risco, mas também arriscar que o Thomas tivesse problemas com a família por ter mentido. Mas, se eu tivesse revelado minhas preocupações, o FBI mandaria outra agente do sexo feminino para o papel, provavelmente alguém do escritório de Chicago.
Segurei a mão dele, deslizando carinhosamente o polegar por sua pele. Ele olhou para nossas mãos e depois para mim.
— Você confia em mim? — perguntei.
Thomas assentiu, mas eu percebi que ele estava inseguro.
— Quando aterrissarmos, nem você vai conseguir perceber a diferença.
amando bela redenção esses irmãos madddox são foda
ResponderExcluirCada vez mais apaixoanda nesses livros maravilhosos 😍❤
ResponderExcluirRaiva dessa camille ..
ResponderExcluirAtrapalhando meu novo casal
#Tholis