Capítulo 16

— Ei, idiota! — um dos gêmeos disse, atravessando de braços abertos a área das esteiras de bagagem. Ele tinha apenas uma penugem na cabeça, e a pele ao redor dos olhos cor de mel enrugava quando ele sorria.

— Taylor! — Thomas colocou nossa bagagem no chão e abraçou o irmão com força.
Eles eram da mesma altura, os dois bem mais altos que eu.
À primeira vista, alguém que passasse por ali poderia confundir os dois com amigos, mas, mesmo por baixo da jaqueta, Taylor também era musculoso. A única diferença era que Thomas tinha músculos mais proeminentes, deixando óbvio que ele era o mais velho. Outras características davam pistas de que eram parentes. O tom de pele de Taylor era só um pouco mais claro, provavelmente por causa da geografia.
Quando Taylor abraçou Thomas, percebi que os dois também tinham mãos grandes e fortes, idênticas. Ficar perto dos cinco ao mesmo tempo seria incrivelmente intimidante.
Thomas deu um tapinha nas costas do irmão, quase com força demais. Eu me senti grata por ele não me cumprimentar desse jeito, mas seu irmão não se intimidou. Eles se separaram, e Taylor bateu no braço do Thomas, com força suficiente para fazer barulho.
— Caramba, Tommy! Você está um trator, porra! — Taylor apertou o bíceps do irmão.
Thomas balançou a cabeça, depois os dois viraram para me encarar com sorrisos parecidos.
— Essa — Thomas disse, radiante — é Liis Lindy.
Havia certa reverência em sua voz quando ele falou, e Thomas me abraçou do mesmo jeito que abraçara Camille na foto. Eu me senti preciosa e tive que fazer força com os dedos dos pés para não me inclinar para frente.
Apenas algumas semanas antes, Thomas tinha dito o meu nome como se fosse um xingamento. Agora, quando sua boca o formou, eu me derreti.
Taylor me deu um abraço de urso, me levantando do chão. Quando me colocou de volta, forçou um sorriso.
— Desculpa ter acordado você naquela noite. Tive uma semana difícil.
— No trabalho? — perguntei.
Seu rosto ficou vermelho, e eu comemorei internamente minha capacidade de fazer um Maddox corar.
Thomas deu um sorriso afetado.
— Ele levou um pé na bunda.
A sensação de vitória desapareceu, e a culpa me levou ao silêncio. Mas não durou muito, porque eu rapidamente me lembrei dos uivos e das pancadas na parede.
— E aí você transou com... — Eu quase cometi um deslize e falei “agente Davies”. — Desculpa. Não é da minha conta.
Thomas não conseguiu disfarçar o alívio.
Taylor respirou fundo e soltou tudo:
— Eu só ia falar disso mais tarde, mas eu fiz merda e fiquei realmente bêbado. A Falyn e eu resolvemos as coisas, e ela vai estar em St. Thomas, então eu agradeço se... vocês sabem...
— A Falyn é sua namorada? — perguntei.
Ele pareceu tão profundamente envergonhado. Era difícil julgá-lo.
Dei de ombros.
— Eu nunca te vi. Qualquer coisa que eu relatasse seria especulação, de qualquer maneira. — Droga, Liis. Pare de falar como uma agente.
Taylor pegou minha bolsa de viagem e a colocou sobre o ombro.
— Obrigado.
— Posso só... — Estendi a mão para a bagagem.
Ele se inclinou para que eu pudesse mexer na mala. Peguei meu suéter, e Thomas me ajudou a vesti-lo.
Taylor começou a andar, e Thomas estendeu a mão para trás. Eu a segurei e nós seguimos de mãos dadas até a saída.
— Levei meia hora para achar uma vaga no estacionamento principal — Taylor disse. — É recesso de primavera, então acho que todo mundo está viajando.
— Quando foi que você chegou à cidade? O que você está dirigindo? — Thomas perguntou.
De repente, não me senti tão mal. Thomas parecia mais um agente do FBI do que eu.
— Estou aqui desde ontem.
No instante em que Taylor colocou os pés na rua, tirou um maço de cigarros do bolso e colocou um na boca. Ele mexeu no maço outra vez e pegou um isqueiro. Acendeu a ponta e tragou até o papel e o tabaco ficarem laranja.
Ele deu uma baforada.
— Já esteve em Chicago antes, Liis?
— Na verdade, eu sou daqui.
Taylor parou de repente.
— Sério?
— É — falei, minha voz subindo uma oitava, como se fosse uma pergunta.
— Humm. Milhões de pessoas em San Diego, e o Thomas pega uma garota de Illinois.
— Taylor, meu Deus — Thomas repreendeu.
— Desculpa — Taylor disse, virando para me olhar.
Ele tinha a mesma expressão charmosa de Thomas, capaz de fazer uma garota qualquer babar, e eu estava começando a perceber que era apenas um traço dos Maddox.
— A Falyn está na casa do papai? — Thomas perguntou.
Taylor balançou a cabeça.
— Ela tinha que trabalhar. Vai me encontrar em St. Thomas e vamos voltar juntos.
— O Trav te pegou no aeroporto? Ou foi o Trent? — Thomas perguntou.
— Amor, menos — falei, apertando a mão dele.
Taylor riu.
— Estou acostumado. Ele sempre foi assim.
Ele seguiu em frente, mas os olhos de Thomas se suavizaram, e ele levou minha mão à boca para pousar um beijo carinhoso ali.
Taylor assentiu.
— O Shepley me pegou no aeroporto. O Travis está com ele o dia todo, então eu vim pegar vocês com o carro do Trav. Ele não sabe que estamos na cidade. Ele acha que vai encontrar todo mundo amanhã em St. Thomas, como as meninas.
— Todas as meninas estão em St. Thomas? — perguntei.
Thomas me deu uma olhada. Ele sabia exatamente o que eu estava perguntando.
— Nem todas. Só a Abby e as damas de honra. — Chegamos ao estacionamento, e Taylor apontou para frente. — Parei ali perto da cerca.
Depois de andarmos quase cem metros no vento frio, Taylor tirou o chaveiro do bolso e apertou um botão. Um Toyota Camry prateado apitou alguns carros à frente.
— Sou o único que acha esquisito o Travis ter um carro agora? — Thomas disse, encarando o veículo.
Uma corrente dourada estava enrolada no espelho retrovisor, da qual saíam várias menores. Nas pontas havia fichas de pôquer brancas com furos, penduradas. Pareciam personalizadas, as bordas com listras pretas e brancas e um texto em vermelho no meio.
Taylor balançou a cabeça, apertando mais um botão para abrir o porta-malas.
— Você precisa vê-lo dirigindo. Parece uma mulherzinha.
— Ainda bem que vou vender o meu — falei.
Thomas riu e então ajudou Taylor a guardar nossa bagagem. Thomas contornou o carro e abriu a porta do carona para mim, mas balancei a cabeça.
— Tudo bem. Senta na frente com o seu irmão. — Abri a porta de trás. — Eu vou aqui atrás.
Thomas se abaixou para me dar um beijo no rosto, mas percebeu que eu estava boquiaberta olhando para o banco traseiro. Ele também encarou.
— Que porra é essa? — perguntou.
— Ah! É o Totó! Estou cuidando dele — Taylor respondeu com um sorriso orgulhoso que lhe revelou uma covinha profunda em uma bochecha. — Provavelmente a Abby me mataria se soubesse que deixei o bichinho sozinho no carro, mas eu só fiquei longe por dez minutos. Ainda está quentinho dentro do carro.
O cachorro abanou o traseiro todo, usando um suéter listrado azul e dourado, parado numa caminha de lã macia.
— Eu... — comecei, olhando para Thomas. — Eu nunca tive um cachorro.
Taylor riu.
— Você não precisa cuidar dele. Só precisa dividir o assento com ele. Mas preciso prendê-lo. A Abby é meio surtada com esse cachorro.
Ele abriu a porta do outro lado e prendeu Totó no cinto de náilon. O cãozinho devia estar acostumado, porque sentou e ficou parado enquanto Taylor prendia cada grampo.
Thomas puxou a capa do assento até revelar uma parte sem pelos.
— Pronto, amor. — Os cantos de sua boca estavam tremendo, enquanto ele tentava não sorrir.
Mostrei a língua, e ele fechou a porta.
O cinto de segurança clicou quando o prendi, e pude ouvir Taylor rindo.
— Você levou uma chave de boceta, hein?
Thomas segurou a maçaneta.
— Ela está te ouvindo, babaca. Minha porta está aberta.
Taylor abriu a porta do motorista e se abaixou, parecendo envergonhado.
— Desculpa, Liis.
Balancei a cabeça, meio entretida e meio sem acreditar na provocação dos dois. Era como se tivéssemos caído em uma toca de coelho e ido parar em uma sede de fraternidade cheia de bebês alcoolizados.
Eles prenderam o cinto de segurança, e Taylor engatou a marcha ré para sair da vaga. O trajeto até a festa de despedida de solteiro foi cheio de insultos pitorescos e atualizações sobre quem estava comendo quem e quem estava trabalhando onde.
Notei que Trenton e Camille não foram mencionados. Eu me perguntei como isso se desenrolava na família, sabendo que ela tinha namorado Thomas e depois Trenton, e como eles se sentiam em relação a ela, se não gostavam dela porque Thomas não aparecia mais em casa, para evitar qualquer constrangimento para eles ou mais dor para si mesmo. A vergonha me invadiu quando, durante menos de um segundo, desejei que não gostassem nem um pouco dela.
Taylor parou na entrada do Rest Inn e então foi para os fundos do prédio. O dobro de carros estava estacionado lá atrás, em comparação com a frente.
Ele desligou o motor.
— Todo mundo está estacionando aqui, para ele não perceber nada.
— No Cap? A despedida de solteiro que esperamos um ano para fazer para o Travis vai ser no Cap? — Thomas falou, sem se impressionar.
— Foi o Trent que planejou. Ele voltou a estudar e está trabalhando em tempo integral. Além do mais, ele tem um orçamento limitado. Não reclama, porque você não se ofereceu pra ajudar — Taylor disse.
Esperei Thomas partir para o ataque, mas ele aceitou a bronca.
Touché.
— E o, humm... — Apontei para o cachorro, que estava me olhando como se fosse pular na minha garganta a qualquer momento, ou talvez ele só quisesse um tapinha na cabeça. Eu não tinha certeza.
Um carro parou ao nosso lado e uma mulher saltou, deixando o motor ligado e os faróis acesos.
— E aí? — Ela olhou para o Thomas e parou de sorrir. — Oi, T.J.
— Raegan — Thomas cumprimentou.
Eu já detestava o apelido. Taylor não o chamava assim. A mulher era exoticamente bonita, com o cabelo castanho em camadas, as pontas onduladas parando pouco acima da cintura.
Raegan soltou o cinto do Totó e pegou as coisas dele.
— Obrigado, Ray — Taylor disse. — A Abby falou que todo mundo ia para o casamento.
— Sem problemas — ela disse, tentando não olhar para Thomas. — O Kody mal pode esperar. Ele quer tanto um cachorro, mas não sei como as pessoas fazem para o bichinho não se sentir sozinho enquanto vão para o trabalho e para a faculdade. — Ela olhou para o Totó e encostou o nariz no dele, que lambeu seu rosto. Ela deu uma risadinha. — Meu pai se ofereceu para cuidar dele durante o dia, então vamos ver. Talvez esses dias nos ajudem a decidir. Será que é melhor dar uma volta com ele? Não quero que ele suje meu carro.
Taylor balançou a cabeça.
— A gente deu uma volta pouco antes de pegar esses dois. Ele deve estar tranquilo até chegar em casa. A Abby te falou do cinto de segurança?
— Ela me falou, sim... em detalhes. — Raegan coçou a cabeça do cachorro e virou de costas, abrindo a porta de trás do seu carro. Ela deixou o bichinho andar sobre o banco traseiro enquanto arrumava o cinto, depois ele sentou, surpreendentemente bem comportado, enquanto ela o prendia de novo. — Muito bem — Raegan disse. — É isso. Bom te ver, Taylor. — Seu rosto perdeu instantaneamente toda a emoção quando ela olhou para Thomas. — T.J.
Tinha que ser uma ex-namorada. Entre o apelido e o comportamento extremamente frio, ele devia ter magoado muito a garota.
Ela sorriu de novo para mim.
— Sou a Raegan.
— Liis... prazer em te conhecer — falei, totalmente desconcertada pela mudança de cento e oitenta graus.
Ela disparou contornando a frente de seu carro e desapareceu ali dentro. O veículo se afastou, e Taylor, Thomas e eu ficamos em silêncio.
— Então beleza! — Taylor disse. — Vamos para a festa.
— Não entendo isso — Thomas disse. — Ele não é solteiro.
Taylor deu um tapinha no ombro do irmão, de novo com tanta força que eu me encolhi em reação.
— A ideia do fim de semana é comemorar o que perdemos porque o canalha fugiu para casar. E, Tommy... — O sorriso de Taylor desapareceu.
— Eu sei. O Trenton me ligou — Thomas comentou.
Taylor assentiu com um toque de tristeza nos olhos, então puxou a maçaneta da porta antes de atravessar o estacionamento. Quando abri minha porta, o ar frio foi um choque. Thomas esfregou meus braços, expirando uma nuvem que foi um contraste absoluto em relação à noite ao nosso redor.
— Você vai conseguir — eu disse, já tremendo.
— Você esqueceu como faz frio aqui? Já?
— Cala a boca — falei, andando em direção ao prédio para o qual Taylor tinha ido.
Thomas deu uma corridinha para me alcançar e pegou minha mão.
— O que achou do Taylor?
— Seus pais devem ter orgulho. Vocês têm genes excepcionais.
— Vou encarar isso como um elogio, não como uma cantada no meu irmão. Você é minha durante o fim de semana, lembra?
Dei um sorrisinho, e ele me puxou para junto de si de um jeito brincalhão, mas então me dei conta do quanto de verdade havia por trás desse comentário sutil. Paramos na porta, e eu observei Thomas se preparar psicologicamente para o que havia lá dentro.
Sem saber o que fazer, fiquei na ponta dos pés e beijei seu rosto. Ele virou, me pegando em cheio nos lábios. Esse gesto provocou uma reação em cadeia. As mãos de Thomas foram direto para as minhas bochechas, envolvendo meu rosto com carinho. Quando minha boca abriu e sua língua entrou, apertei seu casaco esportivo.
Então a música ali dentro ficou mais alta de repente, e Thomas me soltou.
— Tommy!
Outro irmão — óbvio, porque ele se parecia muito com Taylor — estava segurando a porta. Ele vestia apenas uma sunga amarela, quase pequena demais para suas partes masculinas, e uma peruca combinando. O acrílico amarelo brilhante horroroso em sua cabeça era uma confusão de cachos e frisados, e ele mexeu na peruca de um jeito paquerador.
— Gostou? — o irmão perguntou. Dando pequenos passos, ele fez uma pirueta, revelando que o pedaço de tecido não era bem uma sunga, mas um fio dental.
Depois de inesperadamente ver seu traseiro branco como a neve, desviei o olhar, envergonhada.
Thomas deu uma olhada de cima a baixo para ele e soltou uma gargalhada.
— Que porra é essa que você está usando, Trenton?
Um meio-sorriso provocou uma covinha na bochecha de Trenton, e ele segurou o ombro do Thomas.
— É tudo parte do plano. Entra! — disse, fazendo pequenos círculos com a mão na própria direção. — Entra!
Trenton segurou a porta aberta enquanto entrávamos.
Versões de peitos em papelão estavam penduradas no teto, e confetes dourados na forma de pênis estavam espalhados por todo o chão e pelas mesas. Havia uma mesa no canto, repleta de garrafas de bebidas alcoólicas e baldes de gelo cheios de várias marcas de cerveja. Não havia garrafas de vinho, mas vi um bolo em forma de enormes peitos cor-de-rosa.
Thomas se abaixou para falar no meu ouvido:
— Eu te falei que não era uma boa ideia você vir até aqui.
— Você acha que estou ofendida? Trabalho numa área predominantemente masculina. Ouço a palavra peitinhos pelo menos uma vez ao dia.
Ele cedeu, mas parou para olhar a própria mão pouco depois de dar um tapinha no ombro do irmão. A purpurina que cobria o corpo de Trenton passara para a palma da mão de Thomas, e estava reluzindo sob a luz da bola de espelhos no teto. Ele ficou imediatamente horrorizado.
Peguei um guardanapo em uma mesa e lhe dei.
— Aqui.
— Obrigado — ele respondeu, sorrindo e enojado ao mesmo tempo.
Thomas pegou minha mão. O guardanapo cheio de purpurina foi esmagado entre nossas palmas enquanto ele me puxava pela multidão. A música alta agrediu meus ouvidos, o baixo zunindo em meus ossos.
Dezenas de homens estavam em pé por ali, e havia apenas um punhado de mulheres. Instantaneamente me senti enjoada, me perguntando quando encontraria Camille.
A mão de Thomas parecia quente na minha, mesmo com o guardanapo no meio. No entanto, se estava nervoso, não demonstrou. Ele cumprimentou vários caras que deviam ser universitários enquanto atravessávamos o salão. Quando chegamos ao outro lado, Thomas estendeu os braços para abraçar um homem corpulento antes de beijar seu rosto.
— Oi, pai.
— Ora, oi, meu filho — Jim Maddox disse numa voz rouca. — Já era hora de aparecer em casa.
— Liis — Thomas disse. — Esse é meu pai, Jim Maddox.
Ele era um pouco mais baixo que Thomas, mas tinha a mesma doçura nos olhos. Jim me encarou com delicadeza e quase trinta anos de paciência treinada ao criar cinco garotos Maddox. O cabelo grisalho curto e escasso exibia agora várias cores, por causa das luzes da festa.
Os olhos semicerrados se iluminaram com a percepção.
— Essa é a sua garota, Thomas?
Thomas beijou meu rosto.
— Fico dizendo isso a ela, mas ela não acredita.
Jim abriu os braços.
— Bom, vem cá, meu bem! É um prazer conhecer você!
Jim não apertou minha mão. Ele me puxou para um abraço e me apertou com força. Quando me soltou, Thomas passou o braço pelos meus ombros, muito mais feliz por estar em família do que eu esperava.
Ele me puxou para o seu lado.
— A Liis é professora na Universidade da Califórnia, pai. Ela é brilhante.
— Ela aguenta as suas merdas? — Jim perguntou, tentando falar mais alto que a música.
Thomas balançou a cabeça.
— Nem um pouco.
Jim soltou uma gargalhada alta.
— Então ela é pra vida toda!
— É o que eu fico dizendo pra ele, mas ele não acredita — falei, cutucando Thomas com o cotovelo.
O homem riu de novo.
— Professora de quê?
— Estudos culturais — respondi, me sentindo meio desconfortável por gritar com ele.
Jim deu uma risadinha.
— Ela deve ser brilhante mesmo. Não tenho a menor ideia do que isso significa! — Ele levou o punho à boca e tossiu.
— Quer uma água, pai?
Ele fez que sim com a cabeça.
— Obrigado, filho.
Thomas beijou meu rosto e nos deixou sozinhos para pegar a água. Eu não sabia se um dia ia me acostumar com seus lábios na minha pele. Eu esperava que não.
— Há quanto tempo você trabalha na universidade? — Jim perguntou.
— É o meu primeiro semestre — respondi.
Ele assentiu.
— O campus de lá é bom?
— Sim. — Sorri.
— Você gosta de San Diego? — ele quis saber.
— Adoro. Eu morava em Chicago. O clima de San Diego é melhor.
— Você é de Illinois? — Jim perguntou, surpreso.
— Sou — respondi, tentando moldar as palavras com precisão para nãoter que gritar tão alto.
— Hum — ele disse com uma risadinha. — Eu bem que queria que o Thomas morasse mais perto. Mas ele nunca pertenceu de verdade a este lugar. Acho que ele é mais feliz lá — prosseguiu, mexendo a cabeça como se concordasse consigo mesmo. — Como foi que vocês se conheceram?
— Eu me mudei para o prédio dele — falei, notando uma mulher que conversava com Thomas perto da mesa de bebidas.
As mãos dele estavam nos bolsos, e ele encarava o chão. Percebi que ele estava impassível de propósito.
Thomas assentiu e ela repetiu o gesto. Então ela jogou os braços ao redor dele. Eu não via o rosto da garota, mas o dele sim, e, enquanto ele a abraçava, dava para sentir sua dor de onde eu estava.
A mesma dor profunda de antes ardeu em meu peito, e meus ombros se contraíram para frente. Cruzei os braços para camuflar o movimento involuntário.
— Então você e o Thomas... é recente? — Jim perguntou.
— Relativamente sim — respondi, ainda encarando Thomas e a mulher pendurada nele.
Trenton não estava mais dançando. Ele também estava observando os dois, quase em paralelo a mim.
— A mulher que está com o Thomas... é a Camille?
Jim hesitou, mas depois fez que sim com a cabeça.
— É, sim.
Após um minuto inteiro, Thomas e Camille ainda estavam abraçados.
Jim pigarreou e falou de novo:
— Bom, eu nunca vi meu filho tão feliz quanto no momento em que ele me apresentou a você. Mesmo que seja algo novo, isso está nopresente... diferente de outras coisas... que estão no passado.
Dei um sorrisinho para Jim, e ele me puxou para o lado dele com um apertão.
— Se o Tommy ainda não te falou isso, deveria.
Assenti, tentando processar as dezenas de emoções girando ao mesmo tempo dentro de mim. Eu estava sentindo uma dor bem surpreendente para uma garota que era casada com o trabalho. Se eu não precisava de Thomas, meu coração não sabia disso.

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