Capítulo 17

Os olhos de Thomas se abriram de repente, e ele olhou diretamente para mim. Soltou Camille e, sem se despedir ou lhe lançar um olhar, passou por ela, pegando uma garrafa de água no caminho de volta para onde Jim e eu estávamos.
— Você a interrogou o suficiente na minha ausência, pai? — Thomas perguntou.
— Não tanto quanto você faria, tenho certeza. — Jim virou para mim. — O Thomas devia ter sido detetive.
Apesar da desconfortável proximidade da verdade, mantive um sorriso. Thomas também estava com uma expressão estranha, mas suas feições estavam mais leves.
— Está se divertindo, amor?
— Por favor, me diga que aquilo foi uma despedida — falei. Nem tentei impedir que Jim ouvisse. Era um pedido sincero, um pedido que eu podia fazer e, ainda assim, manter nosso disfarce intacto.
Thomas me pegou delicadamente pelo braço e me levou até um canto vazio do salão.
— Eu não sabia que ela ia fazer aquilo. Desculpa.
Senti minha expressão se despedaçar.
— Eu queria que você pudesse ver a cena pelos meus olhos e depois ouvir, com os meus ouvidos, você dizer que ela ficou no passado.
— Ela estava pedindo desculpas, Liis. O que eu podia fazer?
— Não sei... Não parecer desolado?
Ele me encarou, sem palavras.
Revirei os olhos e puxei a mão dele.
— Vem, vamos voltar para a festa.
Ele soltou a minha mão.
— Eu estou, Liis. Eu estou desolado. O que aconteceu é triste pra caralho.
— Ótimo! Vamos! — falei, minhas palavras repletas de falsa empolgação e sarcasmo.
Passei por ele empurrando-o com o ombro, mas ele agarrou meu pulso e me puxou para junto de si. Segurou minha mão perto do rosto e então a virou para beijar a palma, fechando os olhos.
— É triste porque acabou — ele falou com a boca encostada na minha mão, a respiração quente em minha pele. Ele olhou dentro dos meus olhos. — É triste porque eu fiz uma escolha que mudou meu relacionamento com meu irmão para sempre. Eu magoei a Camille, o Trenton e a mim mesmo. A pior parte é que eu achava que era justificável, mas agora tenho medo de tudo isso ter sido por nada.
— O que você quer dizer? — perguntei, olhando preocupada para ele.
— Eu amava a Camille... mas não desse jeito, não como você.
Olhei ao redor.
— Para com isso, Thomas. Ninguém está te ouvindo.
— Você está? — ele perguntou. Como eu não respondi, ele soltou a minha mão. — O quê? O que eu posso dizer para te convencer?
— Continue dizendo como você está triste por perder a Camille. Tenho certeza que uma hora isso vai funcionar.
— Você só me ouviu dizer que é triste. Ignorou a parte de que essa história acabou.
— Não acabou — falei, rindo uma vez. — Nunca vai acabar. Você mesmo disse isso. Você sempre vai amá-la.
Ele apontou para o outro lado do salão.
— O que você viu ali? Foi uma despedida. Ela vai se casar com o meu irmão.
— Também vi você sofrendo pelas duas coisas.
— Sim! É doloroso! O que você quer, Liis?
— Quero que você não a ame mais!
O som havia parado por um instante, era o intervalo entre duas músicas, e todo mundo virou na direção de onde Thomas e eu estávamos. Camille e Trenton estavam conversando com outro casal, e ela parecia tão humilhada quanto eu. Ela ajeitou o cabelo atrás da orelha, e Trenton a guiou até a mesa do bolo.
— Ai, meu Deus — sussurrei, cobrindo os olhos.
Thomas deu uma olhada para trás e puxou a minha mão, balançando a cabeça.
— Tudo bem. Não se preocupa com eles.
— Eu não sou de agir assim. Essa não sou eu.
Ele soltou um suspiro aliviado.
— Eu entendo. Parece que temos esse efeito um sobre o outro.
Eu não só não era eu mesma perto de Thomas, como ele também me fazia sentir coisas que eu não conseguia controlar. A raiva fervia dentro de mim. Se ele me conhecesse, entenderia que sentimentos instáveis não eram algo que eu aceitava bem.
Com Jackson, eu conseguia controlar meus sentimentos. Nunca teria me passado pela cabeça gritar com ele em uma festa. Ele ficaria chocado ao me ver surtar.
Quando se tratava do Thomas, eu era uma bagunça. Minha cabeça me puxava em uma direção, e Thomas e meu coração em outra. Resultados imprevisíveis me apavoravam. Era hora de pôr um freio nas minhas emoções. Nada era mais assustador do que ser manipulada pelo meu próprio coração.
Quando as pessoas viraram para outro lado, forcei um sorriso, erguendo o queixo para encontrar os olhos de Thomas.
As sobrancelhas dele se aproximaram.
— O que é isso? Qual é a do sorriso repentino?
Passei por ele.
— Eu te falei que você não ia conseguir notar a diferença.
Thomas me seguiu de volta para o agito. Ele parou atrás de mim e passou os braços pela minha cintura, apoiando o queixo em meu pescoço.
Como eu não reagi, ele encostou os lábios na minha orelha.
— Os limites estão começando a perder a definição, Liis. Aquilo tudo foi só pelas aparências?
— Estou trabalhando. Você não? — Um nó se formou em minha garganta. Era a melhor mentira que eu já tinha contado.
— Uau — ele disse antes de me soltar e se afastar.
Thomas se posicionou entre Jim e outro homem. Eu não tinha certeza, mas devia ser o tio dele. Era quase idêntico a Jim. O gene dos Maddox era claramente dominante, como sua família... e seus homens.
Alguém diminuiu a música e apagou as luzes. Estava totalmente escuro, e eu estava ali sozinha.
A porta se abriu, e, depois de alguns segundos de silêncio, um homem disse:
— Humm...
As luzes se acenderam para revelar Travis e aquele que devia ser Shepley parados na porta, estreitando os olhos para ajustá-los à luz. Taylor e seu irmão gêmeo jogaram confetes em formato de pênis no rosto de Travis, e todo mundo gritou.
— Felicidades, babaca!
— Seu maricas!
— Muito bem, Cachorro Louco!
Analisei Travis enquanto ele cumprimentava todo mundo. Vários tapinhas no ombro, abraços másculos e esfregadas brutas na cabeça começaram enquanto batiam palmas e assobiavam.
Ainda com pouca roupa e cheio de brilho, Trenton apareceu e travou, requebrou e rebolou ao som da música. Thomas e Jim balançaram a cabeça com a visão.
Camille estava parada diante da multidão que cercava Trenton, estimulando-o e rindo descontroladamente. Uma raiva irracional me invadiu. Dez minutos antes, ela estava engalfinhada com Thomas, lamentando a separação dos dois. Eu não gostava dela. Não conseguia entender por que não um, mas dois Maddox gostavam.
Quando a música parou, Trenton foi até Camille e a ergueu nos braços, girando-a no ar. Ele a colocou no chão novamente, ela entrelaçou os braços no pescoço dele e o beijou.
Outra música soou pelos alto-falantes, e as poucas mulheres presentes puxaram seus pares para a modesta pista de dança. Alguns dos homens se juntaram a elas, a maioria só para fazer bagunça.
Thomas continuou entre o pai e o tio, me olhando apenas de vez em quando. Ele estava com raiva de mim e tinha todo o direito de estar. Eu estava me chicoteando. Não conseguia imaginar como ele devia estar se sentindo.
Ali estava eu, olhando furiosa para Camille toda vez que ela chamava atenção para si, e eu mesma não havia tratado Thomas muito melhor. Ele não estava apenas interpretando um papel. Ele tinha mostrado interesse em mim antes de sairmos para a missão. No mínimo, eu era pior do que Camille. Pelo menos ela não bagunçava o coração dele, ciente de que já estava lidando com pedaços quebrados.
O mais responsável a fazer era manter tudo no nível profissional. Um dia, eu teria de escolher entre Thomas e o FBI, e escolheria o trabalho. Mas, toda vez que ficávamos sozinhos, toda vez que ele me tocava, e pelo que eu senti quando o vi com Camille, eu sabia que meus sentimentos tinham se tornado complexos demais para ignorar.
Val tinha me dito para ser direta com Thomas, mas ele não aceitava.
Meu rosto corou. Eu era uma mulher forte e inteligente. Eu havia identificado o problema, determinado a solução, tomado uma decisão e comunicado essa decisão.
Suspirei. Mas então eu gritei com ele na frente de quase todos os seus amigos e familiares. Ele me olhou como se eu fosse louca. Será que eu sou?
Ele me disse que a foto não estava mais lá, mas tirar uma fotografia de vista não muda os sentimentos. Jim dissera que Camille estava no passado de Thomas, e era verdade. Mas eu não conseguia me conformar com o fato de ele sentir falta dela ou ainda amá-la.
O que eu precisava mesmo era que Thomas encerrasse essa história, e essa solução dependia dele. Não era um pedido irracional, mas podia ser impossível. Não cabia a mim. Cabia ao Thomas.
Pela primeira vez na minha vida adulta, eu tinha me deixado envolver em uma situação que não conseguia controlar ou lidar, e meu estômago estava embrulhado.
Olhei de relance para Thomas e, mais uma vez, o peguei olhando para mim. Finalmente fui até ele, e seus ombros relaxaram.
Deslizei as mãos pelos seus braços e o abracei, pressionando o queixo em seu peito.
— Thomas...
Ele pousou os lábios no meu cabelo.
— Sim?
Alguém diminuiu o volume da música, e Trenton foi até Camille. Ele segurou as duas mãos dela, puxando-a para o centro do salão. Então apoiou um dos joelhos no chão e levantou uma caixinha.
Thomas se afastou de mim e enfiou as mãos nos bolsos, se agitando durante um ou dois segundos. Depois se inclinou e sussurrou no meu ouvido:
— Desculpa. — Ele deu alguns passos para trás e andou em silêncio, encostando na parede dos fundos e se arrastando por entre a multidão até chegar à saída.
Depois de uma última olhada para Camille enquanto ela cobria a boca e assentia, Thomas empurrou a porta de vidro apenas o suficiente para passar.
Jim olhou para baixo e então para mim.
— Deve ser difícil para qualquer homem.
Todo mundo comemorou, e Trenton se levantou para abraçar a noiva.
A multidão se fechou ao redor dos dois.
— Difícil para você também, imagino — Jim falou novamente, me dando um tapinha carinhoso no ombro.
Engoli em seco e olhei através da porta de vidro.
— Vemos você em casa, Jim. Foi muito bom te conhecer. — Abracei o pai de Thomas e disparei para o estacionamento.
Meu suéter mal conseguia conter o frio do início de primavera no Meio- Oeste. Envolvi o tecido de tricô com ainda mais força ao redor do corpo e cruzei os braços, andando pela calçada até os fundos do hotel.
— Thomas? — chamei.
Um bêbado surgiu de trás de um carro detonado mais velho que eu. Ele limpou o vômito da boca e veio cambaleando em minha direção.
— Quem é você? — perguntou, as palavras emboladas umas nas outras.
Parei e estendi a mão.
— Estou tentando chegar até o meu carro. Por favor, se afaste.
— Tá hospedada aqui, docinho?
Ergui uma sobrancelha. O hálito de cerveja e a camisa manchada não eram nada atraentes, mas ele claramente não pensava assim.
— Sou Joe — ele disse antes de arrotar. E sorriu, os olhos quase fechados.
— Prazer em te conhecer, Joe. Estou vendo que você bebeu muito, então, por favor, não encoste em mim. Só quero chegar até o meu carro.
— Qual que é o seu? — ele perguntou, virando para o estacionamento.
— Aquele. — Apontei para uma direção qualquer, ciente de que não importava.
— Quer dançar? — ele perguntou, se balançando ao ritmo da música que devia tocar na cabeça dele.
— Não, obrigada.
Dei um passo para o lado, mas ele pegou meu suéter nos dedos.
— Onde cê tá indo tão depressa?
Suspirei.
— Não quero te machucar. Por favor, me solta.
Ele me puxou uma vez, e eu agarrei seus dedos e os torci para trás. Ele gritou de dor e caiu de joelhos.
— Tá bom, tá bom! — implorou.
Soltei sua mão.
— Na próxima vez que uma mulher disser para você não encostar nela, vê se escuta. Se é que você vai conseguir lembrar alguma coisa de hoje à noite. — Cutuquei sua têmpora e empurrei sua cabeça. — Lembre-se disso.
— Sim, senhora — ele disse, o hálito saindo em filetes brancos. Em vez de tentar se levantar, ele se sentiu melhor no chão.
Eu suspirei.
— Você não pode dormir aqui, Joe. Está frio. Levanta e entra.
Ele ergueu os olhos tristes para mim.
— Não lembro qual é meu quarto.
— Que merda. Joe! Você não está incomodando essa moça bonita, né? — disse Trenton, tirando o casaco. Ele o colocou sobre os ombros do amigo e o ajudou a se levantar, segurando a maior parte do peso do outro.
— Ela tentou quebrar a porra da minha mão! — Joe disse.
— Você provavelmente mereceu, seu tarado bêbado — Trenton respondeu e olhou para mim. — Você está bem?
Fiz que sim com a cabeça.
Os joelhos de Joe cederam, e Trenton resmungou quando jogou o grandalhão sobre o ombro.
— Você é a Liis, certo?
Assenti mais uma vez. Eu estava extremamente desconfortável de falar com Trenton, apesar de não saber por quê.
— Meu pai disse que o Thomas veio aqui pra fora. Ele está bem?
— O que você está fazendo aqui fora? — Thomas repreendeu. Ele não estava falando comigo, mas com o irmão.
— Vim ver se você estava bem — Trenton respondeu, mudando o peso do corpo de lado.
— Que porra é essa aqui fora? — Taylor perguntou, encarando Joe no ombro de Trenton. Ele tragou o cigarro e soltou, a fumaça grossa espiralando no ar.
— Ela tentou quebrar a porra da minha mão! — Joe repetiu.
Taylor deu uma risadinha.
— Então não coloca as mãos nela, idiota!
Thomas olhou para mim.
— O que aconteceu?
Dei de ombros.
— Ele encostou em mim.
Taylor se curvou para frente, o corpo todo estremecendo com a gargalhada barulhenta.
Tyler apareceu atrás dos irmãos, acendendo o próprio cigarro.
— Parece que a festa de verdade é aqui!
Taylor sorriu.
— A Liis também derrubou você na primeira vez em que encostou nela?
Thomas franziu a testa.
— Cala a porra da boca, Taylor. Estamos prontos para ir embora.
As sobrancelhas de Tyler dispararam para cima, e ele deu uma risada.
— A beldade asiática do Tommy sabe caratê! — Ele golpeou o ar algumas vezes e depois deu um chute para frente.
Thomas deu um passo em direção a ele, mas eu pousei a mão em seu peito.
Tyler deu um passo para trás e levantou as mãos, as palmas expostas.
— É brincadeira, Tommy. Caralho!
Os quatro irmãos mais novos de Thomas eram muito parecidos, mas a semelhança entre os gêmeos era desconcertante. Eles tinham até tatuagens iguais. Um ao lado do outro, eu não conseguia identificar quem era quem, até Thomas dizer o nome deles.
— Bom, o Joe aqui é um canalha — Trenton disse.
— Me solta! — Joe resmungou.
Trenton deu um pulinho, ajeitando o cara no ombro.
— Vou levá-lo ao saguão antes que ele morra congelado.
— Precisa de ajuda? — Thomas perguntou. — Como está o braço?
— Meio duro — Trenton respondeu. E piscou. — Eu mal percebo, quando estou bêbado.
— Te vejo amanhã — Thomas se despediu.
— Te amo, irmão — Trenton falou, virando para seguir para a entrada.
As sobrancelhas de Thomas se juntaram, e ele olhou para baixo.
Toquei no braço dele.
— Estamos prontos — falei ao Taylor.
— Tá bom — ele disse. — Sem problemas. O Travis já foi. Ele virou um belo de um frouxo.
Voltamos para o carro, e Taylor dirigiu pela cidade, virando em várias ruas, até entrar em uma travessa estreita de cascalho. Os faróis iluminaram uma casa branca modesta com varanda vermelha e porta de tela suja.
Thomas abriu minha porta, mas não segurou minha mão. Ele pegou toda a bagagem da mão de Taylor e seguiu até a casa, olhando para trás apenas para se certificar de que eu o estava seguindo.
— O papai e o Trent limparam os quartos de todo mundo para a ocasião. Você pode dormir no seu antigo quarto.
— Ótimo — Thomas disse.
A porta de tela rangeu quando Taylor a abriu, e ele virou a maçaneta da porta principal, entrando em seguida.
— Seu pai não tranca a porta quando sai? — perguntei enquanto seguíamos Taylor para dentro de casa.
Thomas balançou a cabeça.
— Aqui não é Chicago.
Eu o segui para dentro. Os móveis eram tão desgastados quanto o carpete, e o ar carregava um toque de mofo, bacon e fumaça velha.
— Boa noite — Taylor disse. — Meu voo é cedo. O de vocês também?
Thomas assentiu.
Taylor o abraçou.
— A gente se vê de manhã, então. Eu vou sair umas cinco horas. O Trav disse que eu podia pegar o carro dele, já que ele vai de carona com o Shep. — Ele seguiu pelo corredor e então virou: — Ei, Tommy?
— Sim? — Thomas respondeu.
— É legal ver você duas vezes no mesmo ano.
Ele desapareceu no corredor, e Thomas olhou para baixo, suspirando.
— Tenho certeza que ele não queria fazer você se sentir...
— Eu sei — Thomas disse. E olhou para o teto. — A gente fica lá em cima.
Assenti, o seguindo escada acima. Os degraus rangiam sob nossos pés, soltando uma música agridoce pelo retorno de Thomas. Fotos desbotadas estavam penduradas nas paredes, todas com o mesmo menino de cabelo platinado que eu vira no apartamento de Thomas. Logo em seguida, vi uma foto de seus pais e ofeguei. Parecia Travis sentado com uma versão feminina de Thomas. Ele tinha os olhos da mãe. Tinha todos os seus traços, menos o maxilar e o cabelo comprido. Ela era estonteante, tão jovem e cheia de vida. Era difícil imaginá-la ficando tão doente.
Thomas entrou por uma porta e colocou nossa bagagem em um canto do quarto. A cama de casal com estrutura de metal estava encostada no canto mais distante, e, ainda assim, o armário de madeira mal cabia no ambiente. Troféus dos anos de ensino médio de Thomas repousavam em prateleiras nas paredes, e fotos de seus times de beisebol e futebol americano estavam penduradas ao lado deles.
— Thomas, a gente precisa conversar — comecei.
— Vou tomar banho. Quer ir primeiro?
Balancei a cabeça.
O zíper da mala dele fez um barulho agudo quando ele a abriu. Ele pegou a escova e a pasta de dentes, o aparelho e o creme de barbear, uma cueca boxer cinza mescla e um shorts de basquete azul-marinho.
Sem uma única palavra, ele desapareceu no banheiro e tentou fechar a porta, mas estava empenada. Ele suspirou e colocou as coisas na pia, depois deu alguns solavancos na porta até ela se ajeitar no trilho.
— Precisa de ajuda? — perguntei.
— Não — ele respondeu antes de deslizar a porta completamente para fechá-la.
Sentei na cama soltando um suspiro, sem saber como consertar a bagunça que eu tinha feito. Por um lado, era bem simples. Nós trabalhávamos juntos. Estávamos em uma missão. A preocupação com sentimentos parecia idiota.
Por outro, os sentimentos estavam ali. Os dois dias seguintes seriam difíceis para Thomas. Eu praticamente pisoteara seu coração porque estava com raiva de outra mulher, que, coincidentemente, tinha feito o mesmo.
Eu me levantei e tirei o suéter, encarando a porta quebrada. Sob a fresta inferior, uma luz brilhava no quarto escuro, e os canos gemeram quando o chuveiro cuspiu e então jorrou água em um fluxo contínuo. A porta do boxe no banheiro foi aberta e fechada.
Fechei a porta do quarto e encostei a palma da mão e o ouvido na porta deslizante.
— Thomas?
Ele não respondeu.
Corri a porta deslizante, e um sopro de vapor escapou por ali.
— Thomas? — chamei de novo no espaço de trinta centímetros.
Ele ainda não respondeu.
Deslizei a porta até abri-la por completo e a fechei depois de entrar. O boxe estava embaçado, mostrando apenas a vaga silhueta de Thomas. A pia estava precisando desesperadamente de uma boa esfregada com removedor de limo, e o linóleo cor de pêssego estava descascando nos cantos.
— Não foi fingimento — falei. — Eu estava com ciúme e com raiva, mas, mais do que isso, estou com medo.
Ele continuou sem responder e esfregou o rosto com sabonete.
— Eu não curtia estar com o Jackson. Quase desde o começo, eu soube que isso aqui era diferente. Eu posso ver e sentir, mas ainda não parece certo entrar de novo em algo, já que há muito tempo eu estava ansiosa pra ficar sozinha.
Nada ainda.
— Mas, se eu entrar nisso, preciso saber que você a superou de verdade. Acho que isso não é algo totalmente irracional. Você acha? — Esperei. — Você está me ouvindo?
Silêncio.
Suspirei e me apoiei no armário com fórmica lascada e puxadores enferrujados. A torneira vazava, e, por conta dos anos, uma mancha preta de goteira se formara pouco acima do anel cromado do ralo.
A ponta do meu polegar estava na boca, e eu mordisquei a pele ao redor da unha, tentando pensar no que dizer. Talvez ele não quisesse escutar nada do que eu tinha a falar.
Eu me levantei e tirei a blusa, depois as botas de cano alto. Tive que me esforçar um pouco para tirar a calça jeans justa, mas as meias saíram sem esforço. Ainda bem que pensei em me depilar naquela manhã. Os longos fios pretos do meu cabelo caíam sobre meus seios, então eu não me sentia tão vulnerável, e dei dois passos na direção da porta do chuveiro.
Puxei uma vez e então outra. Quando a porta se abriu, Thomas estava virado na minha direção, os olhos fechados, com espuma de xampu escorrendo pelo rosto. Ele tirou a espuma e me olhou, depois enxaguou rapidamente o rosto e me encarou outra vez, as sobrancelhas quase alcançando o couro cabeludo.
Fechei a porta depois de entrar.
— Você está me ouvindo?
Thomas ergueu o queixo.
— Vou começar a ouvir quando você fizer a mesma coisa.
— Podemos conversar mais tarde — falei, fechando os olhos e puxando seu rosto para baixo, para meus lábios alcançarem os dele.
Ele agarrou meus punhos e me prendeu.
— Eu sei qual é a nossa dificuldade neste fim de semana, mas já chega de fazer joguinhos com você. Não quero mais fingir. Eu quero você.
— Estou bem na sua frente. — Pressionei o corpo contra o dele, sentindo sua ereção impressionante na minha barriga.
Sua respiração falhou, e ele fechou os olhos, a água escorrendo do cabelo para o rosto antes de pingar do nariz e do queixo.
— Mas você vai ficar? — Ele me olhou.
Franzi o cenho.
— Thomas...
— Você vai ficar? — ele perguntou de novo, enfatizando a última palavra.
— Defina ficar.
Ele deu um passo para trás, e o encanto se perdeu. Ele estendeu a mão e puxou a alavanca para baixo, e uma água gelada começou a cair sobre nós.
Thomas espalmou as mãos na parede embaixo do fluxo de água, deixando a cabeça cair, e eu dei um gritinho, arranhando o boxe para escapar. Empurrei a porta e escorreguei, caindo de joelhos no chão.
Thomas saiu do boxe, tentando me pegar.
— Meu Deus! Você está bem?
— Ãhã — falei, esfregando o cotovelo e depois o joelho.
Ele pegou uma toalha pendurada na porta do boxe e a jogou sobre os meus ombros, depois pegou outra na prateleira e a enrolou na cintura.
Ele balançou a cabeça.
— Machucou?
— Só meu orgulho.
Thomas suspirou e ergueu meu braço para dar uma olhada.
— O joelho? — perguntou, se abaixando.
Estendi o joelho que bateu no chão, e ele o inspecionou.
— Sou especialista em fazer merda — ele disse, esfregando o cabelo molhado.
— E eu não estou dificultando as coisa para você. — Deixei as bochechas se encherem de ar e expirei.
Depois de vários segundos de silêncio desconfortável, eu o deixei sozinho no banheiro para ir pegar minha escova de dentes e voltei. Thomas abriu a tampa da pasta. Estendi a escova e ele apertou o tubo, colocando um filete curto de pasta nas cerdas e repetindo o processo na dele.
Colocamos as escovas sob a água e encaramos o espelho do seu banheiro de ensino médio, cobertos por finas toalhas floridas, enquanto escovávamos os dentes na mesma pia. Aquilo pareceu tão doméstico, mas, ao mesmo tempo, os últimos dez minutos tinham sido tão constrangedores que era difícil curtir.
Eu me abaixei para enxaguar a boca e cuspir, e Thomas fez o mesmo. Ele deu uma risadinha e usou o dedo para tirar uma pequena mancha de pasta do meu queixo, depois envolveu meu rosto com delicadeza. Seu sorriso desapareceu.
— Admiro sua capacidade de esmiuçar cada detalhe, mas por que você tem que dissecar isso? — ele perguntou, infeliz. — Por que a gente não pode apenas tentar?
— Você não superou a Camille, Thomas. Você deixou isso claro hoje à noite. E acabou de me pedir para prometer ficar com você em San Diego. É uma promessa que nós dois sabemos que não quero e não vou manter. É totalmente razoável você querer algo estável depois do que aconteceu, mas não posso prometer que não vou continuar progredindo na carreira.
— E se eu te der garantias? — ele perguntou.
— Tipo o quê? E não me diga que é amor. A gente se conheceu no mês passado.
— Não somos como as outras pessoas, Liis. Passamos todos os dias juntos. Às vezes, o dia todo e depois a noite e até os fins de semana. Se for pelo contato, já tivemos muito tempo.
Refleti sobre isso por um instante.
— Para de pensar demais em tudo. Você quer garantias? Isso não é uma suposição pra mim, Liis. Eu amei alguém antes, mas o modo como me sinto em relação a você... é aquele mesmo sentimento, só que mil vezes mais forte.
— Eu também tenho sentimentos por você. Mas isso nem sempre é suficiente. — Mordi o lábio. — Estou preocupada com a possibilidade de, se não der certo, o trabalho ficar horrível. Isso é impossível de aceitar, Thomas, porque eu amo meu trabalho.
— Eu também amo o meu, mas estar com você vale o risco.
— Você não sabe.
— Sei que não vai ser um tédio. Sei que nunca vou impedir que você tenha uma promoção, mesmo que ela leve você para outro lugar. Talvez eu fique cansado de San Diego. Eu gosto de Washington.
— Você iria para Washington — falei sem emoção.
— Falta muito tempo para isso.
— É por isso que não posso prometer que vou ficar.
— Não quero que você prometa que vai ficar em San Diego. Só quero que prometa que vai ficar comigo.
Engoli em seco.
— Ah. Então... provavelmente eu... posso fazer isso — falei, meus olhos passeando pelo ambiente minúsculo.
— Chega de fingir, Liis. — Thomas deu um passo mais para perto e puxou delicadamente minha toalha. Ela caiu no chão, e ele puxou a dele. — Fala — pediu, a voz baixa e controlada. Ele envolveu meu rosto com as mãos e se inclinou, mas parou a um centímetro dos meus lábios.
— Tá bom — sussurrei.
— Tá bom o quê?
Ele pressionou a boca na minha. Seus dedos se entrelaçaram em meus cabelos enquanto ele me puxava para si. Ele deu um passo, me guiando para trás, até minhas costas baterem na parede. Ofeguei, e sua língua deslizou pelos meus lábios entreabertos, roçando delicadamente na minha, como se ele estivesse procurando a resposta. Ele se afastou, me deixando sem fôlego e com vontade de mais.
— Tá bom — sussurrei, sem me envergonhar da minha voz de súplica. — Podemos parar de fingir.
Ele me ergueu, e eu entrelacei as pernas em seu quadril. Ele me segurou na altura certa para eu sentir a ponta de sua ereção na pele macia e rosada entre minhas coxas.
Afundei os dedos em seus ombros, me preparando para a mesma sensação devastadora que ele provocou em meu corpo na noite em que nos conhecemos. Se ele me abaixasse mais um centímetro, seria capaz de satisfazer todas as fantasias que tive nas últimas três semanas.
Mas ele não se moveu. Estava esperando alguma coisa.
Encostei a boca em sua orelha, mordendo o lábio em expectativa pelo que eu estava prestes a dizer e a que isso levaria.
— Podemos parar de fingir, senhor.
Thomas relaxou e, em um movimento lento e controlado, desceu meu corpo. Gemi no instante em que ele me penetrou, deixando o sussurro escapar de meus lábios até sua extensão me preencher totalmente.
Pressionei o rosto no dele com força, enquanto minhas unhas se enterravam na carne de seus ombros largos. Com pouco esforço, ele me ergueu e me puxou de novo para baixo, gemendo em reação.
— Caralho — ele disse simplesmente, com os olhos fechados.
Cada estocada se tornou mais ritmada, provocando lampejos da dor mais maravilhosa e devastadora em cada nervo de meu corpo. Ele se esforçou para não fazer barulho, mas seus gemidos abafados se tornavam mais altos a cada minuto.
— A gente tem que... droga — ele sussurrou.
— Não para — implorei.
— Você é gostosa demais — ele murmurou, me colocando de pé no chão.
Antes que eu pudesse protestar, ele me virou e me empurrou contra a parede. Meus seios e minhas palmas se achataram na pintura, e eu abri um sorrisinho.
Thomas colocou a mão no meu rosto, e eu virei apenas o suficiente para beijar seus dedos. Em seguida abri a boca, deixando que ele enfiasse um dedo ali. Recuei, chupando de leve, e ele suspirou.
Ele correu delicadamente o polegar pela linha do meu maxilar, pelo pescoço e pelo ombro. Então deslizou a palma da mão pela minha coluna, pelas curvas da minha bunda, e se instalou entre minhas coxas. Ele fez uma leve pressão em uma das minhas pernas, afastando uma da outra. Eu as separei voluntariamente e coloquei as palmas na parede, me preparando, enquanto ele puxava meus quadris para trás.
Com a mão, ele lentamente se guiou para dentro de mim. E não tirou mais. Em vez disso, mexeu os quadris em um sutil movimento circular, saboreando a sensação quente de meu corpo.
Então ele agarrou meu quadril e estendeu uma das mãos, tocando as partes mais sensíveis de minha pele. Ele mexeu o dedo do meio em pequenos círculos, depois afastou os quadris. Ele gemia enquanto se balançava de encontro a mim.
Eu me inclinei, pressionando a bunda contra ele, permitindo que Thomas se afundasse em mim quanto quisesse.
A cada estocada, seus dedos grossos pressionavam minhas coxas, me guiando aos limites do prazer. Mordi o lábio, me proibindo de gritar, e, assim que uma fina camada de suor se formou em minha pele, nós nos entregamos ao mesmo tempo.

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Nada de spoilers! :)

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