Capítulo 18

Estendi a mão por cima do peito nu de Thomas para silenciar o barulho irritante que vinha de seu celular. O movimento deixou evidente a dor e o inchaço entre minhas pernas por causa das horas de sexo na noite anterior, e eu apoiei a cabeça em sua barriga de tanquinho, sorrindo com as lembranças que surgiam em minha mente.
Thomas se espreguiçou, as pernas compridas demais para a cama. Os lençóis farfalharam quando ele se mexeu, e, cercada pelas quinquilharias e troféus de sua infância, corri os dedos por sua pele macia.
Com olhos sonolentos, ele me mirou e sorriu. Então me puxou até ficarmos cara a cara, depois passou os dois braços pelos meus ombros, enterrando o rosto em meu pescoço.
Beijei o topo de sua cabeça e gemi, completamente satisfeita. Ninguém nunca tinha me feito sentir tão bem por estar errada.
— Bom dia, baby — Thomas disse, a voz soando tensa e rouca. Ele esfregou os pés nos meus enquanto tirava cuidadosamente meu cabelo do meu rosto. — Eu não devia fazer suposições, mas, para uma mulher casada com a carreira...
— Sim — falei. — O controle de natalidade está em dia e vale por cinco anos.
Ele beijou meu rosto.
— Só confirmando. Posso ter me empolgado demais ontem à noite.
— Não estou reclamando — falei, com um sorriso cansado. — O voo sai em quatro horas.
Ele se espreguiçou uma vez mais, ainda mantendo um braço ao redor de meu pescoço, depois me puxou para si e beijou minha têmpora.
— Se este fim de semana não fosse tão importante, eu faria você ficar na cama comigo o dia todo.
— A gente pode fazer isso quando voltarmos para San Diego.
Ele me apertou.
— Isso significa que você finalmente está disponível?
Eu o abracei de volta.
— Não — falei, sorrindo com a reação dele. — Estou com alguém.
Thomas pressionou a cabeça no travesseiro para me olhar nos olhos.
— Ontem à noite eu me dei conta, quando estava falando com a Camille... que nossos relacionamentos anteriores não deram certo, mas não foi por causa do trabalho. Foi porque não nos dedicamos o suficiente.
Eu o observei, fingindo estar desconfiada.
— Você está se dedicando a mim?
— Vou me reservar o direito de permanecer calado, mas só para não assustar você com a resposta.
Balancei a cabeça e sorri.
Ele tocou meu cabelo.
— Eu gosto dessa sua aparência.
Revirei os olhos.
— Cala a boca.
— Estou falando muito sério. Nunca te vi tão linda, e isso é alguma coisa. Na primeira vez em que vi você... quer dizer, no instante em que olhei para você do meu banquinho e vi seu rosto, entrei em pânico, me perguntando como é que eu ia chamar sua atenção e depois me preocupando em como mantê-la.
— Você conseguiu minha atenção no trabalho no dia seguinte.
Thomas pareceu envergonhado.
— Não me surpreendo com muita frequência. Provavelmente fui mais babaca que o normal, tentando impedir que todo mundo soubesse, e depois, quando percebi que tinha colocado você em perigo...
Levei o dedo aos lábios dele, e então me dei conta de que podia beijá-los, se quisesse. Aproveitei a oportunidade imediatamente. Eles eram tão macios e quentes, e eu tive dificuldade para me afastar, mas, quando tentei,
Thomas colocou a mão em meu rosto, me mantendo ali enquanto acariciava minha língua com a dele.
Meu Deus, ele era perfeito. Eu me repreendi em silêncio por esperar tanto tempo para me permitir curti-lo.
Quando ele finalmente me soltou, só se afastou alguns centímetros, roçando os lábios nos meus.
— Sempre fui uma pessoa matinal, mas não tenho a menor ideia de como sair da cama com você nela.
— Tommy! — Jim gritou do andar de baixo. — Traz sua bunda aqui pra baixo e prepare o omelete da sua mãe!
Ele piscou.
— Acabei de descobrir como.
Vesti uma regata larguinha e uma saia comprida. Thomas colocou uma camiseta branca de gola V e uma bermuda cargo cáqui.
Ele esfregou as mãos.
— Está frio pra cacete — disse, deslizando os braços no casaco esportivo. — Mas não quero suar demais quando saltarmos do avião em Charlotte Amalie.
— Pensei a mesma coisa — falei, vestindo o suéter.
— Pode ser que eu tenha um... — Ele abriu o armário e tirou alguma coisa do cabide antes de jogar para mim.
Segurei o moletom cinza com letras em azul-marinho que diziam: “EASTERN WILDCATS”. Era tamanho médio masculino.
— Quando foi que você usou isso? Quando estava aprendendo a andar?
— No primeiro ano da faculdade. Pode ficar com ele.
Tirei o suéter e vesti o moletom, me sentindo extremamente boba por ter ficado toda alegrinha com isso.
Guardamos as poucas coisas que havíamos tirado das malas, e Thomas levou nossa bagagem para o andar de baixo enquanto eu escovava o cabelo para tirar os nós causados pelo sexo. Arrumei a cama e recolhi a roupa de banho suja, mas, antes de sair, dei uma última olhada demorada no quarto. Este era o lugar de início do que estava por vir, o que quer que isso fosse.
Desci a escada sorrindo para Thomas, que estava em frente ao fogão, com o pai segurando o sal e a pimenta.
Jim deu de ombros.
— Ninguém além do Tommy consegue fazer omeletes como a Diane, então aproveito sempre que posso.
— Preciso experimentar um dia — falei, sorrindo ainda mais quando Thomas virou e piscou para mim. — Onde é a lavanderia?
Jim colocou os temperos sobre o balcão e veio na minha direção com os braços abertos.
— Deixa comigo.
Eu me senti esquisita dando aquelas toalhas para Jim, sobretudo porque eram a última coisa que Thomas e eu tínhamos vestido antes de ter o melhor sexo da minha vida, mas eu não queria discutir nem explicar.
Fui até Thomas e envolvi sua cintura.
— Se eu soubesse que você sabia cozinhar, teria passado mais tempo no andar de cima.
— Todos nós sabemos cozinhar. Minha mãe me ensinou. Eu ensinei aos meninos.
A manteiga na frigideira estalou, atingindo minha mão. Eu a puxei e a sacudi.
— Ai!
Thomas soltou a espátula no balcão e inspecionou minha mão.
— Tudo bem? — perguntou.
Fiz que sim com a cabeça.
Ele levou meus dedos aos lábios, beijando carinhosamente cada um. Eu o observei, admirada com a diferença entre o homem aqui e o homem no escritório. Ninguém acreditaria se o visse em pé na cozinha do pai, cozinhando e beijando o machucado na minha mão.
— Você também é um dos meninos — falei quando ele virou para verificar o progresso do omelete.
— Tento dizer isso a ele há anos — Jim comentou, voltando do corredor. — Você devia vê-lo vestindo o Trenton para o primeiro dia do jardim de infância. Ele fez questão de se preocupar como a mãe deles teria feito.
— Dei um banho nele na noite anterior, e ele acordou sujo. — Thomas franziu a testa. — Tive que limpar o rosto dele quatro vezes antes de ele entrar no ônibus.
— Você sempre cuidou deles. Não pense que eu não percebi — Jim disse, com uma pontada de arrependimento na voz.
— Eu sei que percebeu, pai — Thomas comentou, claramente desconfortável com a conversa.
Jim cruzou os braços sobre a barriga saliente, apontou uma vez para o filho e depois levou o dedo à boca.
— Você se lembra do primeiro dia do Trav? Vocês todos deram uma surra no Johnny Bankonich por fazer o Shepley chorar.
Thomas soltou uma risada.
— Eu lembro. Muitas crianças conseguiram o primeiro olho roxo com um dos irmãos Maddox.
Jim exibia um sorriso orgulhoso.
— Porque vocês protegiam uns aos outros.
— Isso é verdade — Thomas disse, virando o omelete na frigideira.
— Juntos, não existia nada que vocês não conseguissem resolver — o homem continuou. — Você batia em um dos seus irmãos, depois batia nas pessoas que riam de você batendo no seu irmão. Não tem nada que vocês possam fazer para mudar o quanto significam uns para os outros. Lembre-se sempre disso, filho.
Thomas olhou para o pai durante um longo tempo e então pigarreou.
— Obrigado, pai.
— Você tem uma garota bonita aí, e acho que ela é mais esperta que você. Não esqueça isso também.
Thomas colocou o omelete do pai no prato e entregou a ele.
Jim deu um tapinha no ombro dele e levou o prato para a sala de jantar.
— Quer um? — Thomas perguntou.
— Acho que vou só tomar um café no aeroporto — falei.
Ele forçou um sorriso.
— Tem certeza? Faço um omelete de arrasar. Você não gosta de ovos?
— Gosto. Mas é cedo demais para comer.
— Ótimo. Isso significa que posso preparar um desses para você um dia. A Camille detestava ovos... — Ele deixou a voz sumir, se arrependendo instantaneamente das palavras. — Não sei por que eu falei isso, porra.
— Porque está pensando nela?
— Isso simplesmente apareceu na minha cabeça. — Ele olhou ao redor.
— Estar aqui provoca umas coisas estranhas em mim. Eu me sinto como se fosse duas pessoas. Você se sente diferente quando está na casa dos seus pais?
Balancei a cabeça.
— Sou a mesma em todos os lugares.
Thomas pensou na minha resposta e assentiu, olhando para baixo.
— É melhor a gente ir. Vou dar uma olhada no Taylor.
Ele beijou meu rosto e virou à esquerda no corredor. Segui lentamente até a sala de jantar, puxando uma cadeira ao lado da de Jim. As paredes eram decoradas com fichas de pôquer e imagens de cachorros e de pessoas jogando pôquer.
Jim estava curtindo o omelete em silêncio, com uma expressão sentimental no rosto.
— É estranho como uma comida pode lembrar minha esposa. Ela era uma excelente cozinheira. Excelente. Quando o Thomas faz um desses omeletes, é quase como se ela ainda estivesse aqui.
— Você deve sentir falta dela, especialmente em momentos como hoje. A que horas sai seu voo?
— Mais tarde, querida. Vou pegar uma carona com o Trent e a Cami. O Tyler também. Estamos no mesmo voo.
Cami. Eu me perguntei por que Thomas não a chamava assim.
— Que bom que todos temos carona para o aeroporto.
Thomas e Taylor apareceram perto da porta da frente.
— Vamos, baby? — Thomas chamou.
Eu me levantei.
— A gente se vê à noite, Jim.
Ele piscou para mim, e eu me apressei até a porta. Thomas a mantinha aberta para Taylor e para mim, e nós saímos rumo ao carro de Travis. Faltavam duas horas para o amanhecer, e toda a cidade de Eakins parecia ainda dormir. Os únicos ruídos eram de nossos sapatos amassando o orvalho congelado no gramado.
Coloquei as mãos no bolso da frente do moletom e estremeci.
— Desculpa — Taylor disse, apertando o controle remoto para destrancar as portas e, mais uma vez, abrir o porta-malas do carro.
Thomas abriu a porta de trás para mim e levou a bagagem para o portamalas.
— Eu devia ter aquecido o carro — Taylor comentou, em pé ao lado de sua porta aberta.
— É, teria sido legal — Thomas disse, guardando nossas bagagens e em seguida as de Taylor.
— Não consegui dormir ontem à noite. Estou apavorado com a possibilidade de a Falyn não aparecer.
Taylor sentou atrás do volante e esperou Thomas entrar.
Ele deu partida, mas esperou para ligar os faróis depois que deixou a entrada de carros, para não iluminarem a casa do pai. Sorri com o delicado gesto inconsciente.
As luzes do painel fizeram o rosto de Thomas e de Taylor brilhar em um tom fraco de verde.
— Ela vai aparecer — Thomas disse.
— Acho que vou contar pra ela da garota do bar — Taylor comentou. — Tô remoendo isso.
— É uma péssima ideia — Thomas retrucou.
— Você acha que ele não devia contar pra ela? — perguntei.
— Não se quiser ficar com ela.
— Não foi traição — Taylor disse. — Ela me deu um pé na bunda.
Thomas olhou para ele, impaciente.
— Ela não se importa com o fato de que foi ela que terminou com você. Você devia ter ficado em casa, pensando em maneiras de reconquistá-la.
Taylor balançou a cabeça.
— Eu fiquei, mas aí comecei a achar que estava ficando louco e comprei uma passagem de avião pra San Diego.
Thomas balançou a cabeça.
— Quando é que vocês, babacas, vão aprender que não podem sair por aí transando com alguém no instante em que são rejeitados? Isso não vai fazer você se sentir melhor. Nada vai, só o tempo.
— Foi isso que fez você se sentir melhor? — Taylor perguntou.
Prendi a respiração.
Thomas inclinou o pescoço e olhou para mim.
— Talvez não seja a melhor hora para isso, Taylor.
— Desculpa. Eu só... Eu preciso saber, caso ela não apareça. Não posso me sentir assim de novo, cara. Parece a morte. Liis, você sabe como superar alguém?
— Eu, hum... nunca tive meu coração partido.
— Sério? — Taylor perguntou, olhando para mim pelo espelho retrovisor.
Fiz que sim com a cabeça.
— Não namorei muito na escola, mas é algo evitável. Dá para analisar comportamentos e observar sinais que dão a dica do fim de qualquer relacionamento. Não é tão difícil calcular o risco.
— Uau — Taylor comentou, olhando para o irmão. — Você vai se dar mal com essa aí.
— A Liis ainda tem que descobrir que não é matemática — Thomas disse com um sorriso. — O amor não tem a ver com previsões nem marcadores comportamentais. Simplesmente acontece, e a gente não tem controle.
Franzi o cenho. Nas últimas três semanas, tive um vislumbre do que Thomas acabara de descrever, e estava ficando óbvio que seria algo com que eu teria que me acostumar.
— Quer dizer que você só namorou caras que não te fizeram sentir demais — Taylor comentou.
— Definitivamente ninguém a quem eu... me dedicasse.
— Você está se dedicando agora? — Taylor perguntou.
Mesmo do banco traseiro, dava para ver o sorrisinho no rosto de Thomas.
— Você vai deixar seu irmão mais novo fazer o trabalho sujo? — perguntei.
— Responda à pergunta — Thomas disse.
— Estou dedicada.
Os dois trocaram olhares.
Depois Thomas virou para mim.
— Se vai te fazer sentir melhor, eu já calculei. Não vou partir seu coração.
— Ah — Taylor disse —, preliminares intelectuais. Não sei de que merda vocês estão falando, mas estou me sentindo meio desconfortável agora.
Thomas deu um tapa na nuca do irmão.
— Ei! Nada de atacar o motorista na viagem! — Taylor disse, esfregando a cabeça.

***

O avião deixou a pista de decolagem logo depois do amanhecer. Voar é algo fantástico. De manhã, dava para ver a respiração no ar, e, só de estar do lado de fora, nossa pele doía. À tarde, estávamos tirando camadas de roupa e passando filtro solar para proteger o rosto do sol forte do Caribe.
Thomas abriu a porta deslizante de vidro e saiu para a varanda do nosso quarto no segundo andar do Ritz-Carlton, onde Travis e Abby iam se casar — de novo.
Eu o segui, apoiando as mãos no peitoril e olhando a paisagem abaixo. O terreno era muito bem cuidado, e havia muitas cores e sons. Os pássaros chamavam uns aos outros, mas eu não os via. O ar úmido e quente dificultava um pouco a respiração, mas eu adorava aquilo.
— É lindo — falei. — Olhe por entre as árvores. Dá pra ver o mar. Eu moraria aqui, se o FBI tivesse um escritório na região.
— Podemos nos aposentar aqui — Thomas disse.
Eu o encarei.
Ele se encolheu.
— Fui sincero demais?
— Foi essa a intenção?
Ele deu de ombros.
— Só estava pensando em voz alta. — Ele se inclinou para me dar um beijo no rosto e voltou para o quarto. — Vou entrar rapidinho no banho. O casamento é daqui a uma hora e meia.
Virei para absorver o cenário mais uma vez, inspirando o pesado ar salgado. Eu tinha acabado de concordar em tentar ter um relacionamento com ele, e ele estava falando sobre o resto da nossa vida.
Segui Thomas até o quarto, mas ele já estava no chuveiro. Bati à porta e a abri.
— Não fala — Thomas disse, esfregando o cabelo.
— Não fala o quê?
— O que está prestes a falar. Você está analisando demais.
Franzi o cenho.
— Isso é parte de quem sou. É por isso que sou boa no trabalho.
— E eu aceito isso. Só não vou aceitar que você use essa característica para me afastar. Eu sei o que você está fazendo.
Raiva, humilhação e derrota me atingiram ao mesmo tempo.
— E eu aceito que você tem o dom de ver as pessoas como elas realmente são, mas não quando aponta na minha direção e evita usar esse talento.
Ele não respondeu.
— Thomas?
— Já falamos disso.
— O que o Taylor disse hoje de manhã, sobre como superar alguém...
— Não, Liis.
— Você nem sabe o que vou perguntar.
— Sei, sim. Você quer saber se estou te usando para superar a Camille. A resposta é não.
— Então como a superou? Você não tinha superado antes.
Ele ficou em silêncio por um instante, deixando a água escorrer pelo couro cabeludo e o rosto.
— Você não pode simplesmente deixar de amar alguém. Não sei como explicar, se você nunca amou ninguém.
— Quem disse que eu nunca amei ninguém?
— Você... quando disse que nunca teve o coração partido.
— Muitas pessoas no mundo amaram alguém e não tiveram o coração partido.
— Mas você não é uma delas.
Eu me encolhi.
— Você a superou?
Ele hesitou.
— É difícil explicar.
— É uma pergunta de sim ou não.
Ele enxaguou o rosto e abriu a porta.
— Baby, pela décima vez... não quero ficar com ela. Eu quero você.
— Você ainda estaria com ela se o Trent não tivesse aparecido?
Ele soltou um suspiro frustrado.
— Provavelmente. Não sei. Depende se ela teria mudado ou não para a Califórnia, como conversamos.
— Vocês conversaram sobre morar juntos?
Ele suspirou.
— Sim. Evidentemente, a gente precisa conversar mais sobre isso até estar com tudo esclarecido e você se sentir melhor em relação a certas coisas, mas, neste momento, temos que nos arrumar para a cerimônia. Está bem?
— Tá. Mas... Thomas?
— Sim?
— Eu nunca vou me sentir bem em relação a sentimentos não resolvidos.
Ele me encarou, os olhos tristes.
— Não faça isso. Desculpa por ter falado em nos aposentarmos aqui. É cedo demais. Eu te assustei. Já entendi.
— Não é isso que estou fazendo. Essa conversa nunca acaba.
— Estou sabendo.
Olhei furiosa para ele.
— Liis... — Ele pressionou os lábios, se impedindo de falar. Depois de alguns instantes, continuou: — A gente vai dar um jeito. Acredita em mim.
Fiz que sim com a cabeça, e ele me deu um sorrisinho antes de fechar a porta do chuveiro.
— Thomas? — chamei.
Ele abriu a porta de novo, a irritação anuviando seu rosto.
— Eu só... não quero te magoar.
Seus olhos se suavizaram. Ele pareceu ferido.
— Você não quer se magoar.
— E alguém quer?
— A gente tem que pesar as alegrias e os riscos.
Fiz que sim com a cabeça e o deixei terminar o banho. A folhagem e o mar eram visíveis até mesmo do meio do quarto, e tentei esquecer minhas preocupações atuais, nosso futuro e tudo que estava no meio.
Caí na cama, quicando duas vezes. Era desconcertante estar com alguém com um escudo tão forte contra a mentira. Thomas me acusara de inventar desculpas para fugir dele antes mesmo de eu perceber o que estava fazendo.
Ouvi uma batida à porta. Olhei ao redor, sem saber se tínhamos dito a alguém qual era o nosso quarto. Eu me arrastei até a porta e usei o olho mágico. Meu sangue gelou e ferveu ao mesmo tempo.
Ai. Meu. Deus.

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