Capítulo 19

Eu não sabia o que fazer, então deslizei a corrente e abri a porta com um sorriso.
— Oi.
Camille hesitou. O vestido de festa tomara que caia azul-marinho tinha um leve brilho. Quando ela se mexia um pouquinho, o tecido captava a luz, enfatizando todos os seus movimentos. Imaginei que ela precisara escolher uma roupa simples para evitar o conflito com as cores em seus braços.
— Os... humm... os caras estão se arrumando no quarto do Shepley e da America. Eles também vão tirar fotos.
— Tá bom — falei, empurrando lentamente a porta para fechá-la. — Eu aviso o Thomas.
Camille colocou a mão na porta, me impedindo de fechá-la. Lancei-lhe um olhar, e ela imediatamente puxou a mão de volta, segurando-a de um jeito protetor. Com os braços e até o nó dos dedos tatuados, o fato de ela trabalhar em um bar dava a impressão de que um olhar de raiva não teria efeito sobre ela. Camille era uma cabeça mais alta que eu, por isso não fazia sentido ela agir como se estivesse intimidada.
— Merda, desculpa — ela disse. — Eu só...
Ela sabe alguma coisa.
— Você veio aqui para vê-lo? — perguntei.
— Não! Quer dizer, sim, mas não desse jeito. — Ela balançou a cabeça, e as pontas dos fios curtos tremeram, como se também estivessem nervosas.
— Ele está aqui?
— Está no banho.
— Ah. — Ela mordeu o lábio e olhou para todos os lados, menos para mim.
— Quer voltar depois?
— Eu... estou no outro prédio, no lado oposto do terreno.
Eu a observei por um instante, sem acreditar. Com má vontade, fiz o último convite que gostaria de fazer.
— Quer entrar?
Ela sorriu, parecendo envergonhada.
— Se não for um problema. Não quero incomodar.
Abri bem a porta e ela entrou. Então sentou exatamente no mesmo lugar da cama onde eu tinha estado, e o fogo do inferno queimou em meu peito. Eu odiava o fato de ela conseguir me irritar sem nem tentar.
O chuveiro foi desligado, e, quase que imediatamente, a porta do banheiro se abriu. Um bafo de vapor se apressou antes de Thomas, coberto apenas pela toalha branca que segurava displicentemente na cintura.
— Baby, você viu meu... — Ele avistou primeiro a Camille, e então seus olhos me procuraram. — Aparelho de barbear?
Fiz que sim com a cabeça. O choque e o desconforto em seu rosto quando viu Camille me deram uma pontada de satisfação, assim como o fato de ela ouvi-lo me chamar de um jeito carinhoso. No mesmo instante, me senti boba por ser tão imatura.
— Você colocou no bolso interno da mala hoje de manhã. — Dei alguns passos até a bagagem dele e vasculhei.
— Pode pegar uma camiseta e um shorts também? — ele pediu.
Ele fechou a porta do banheiro, e, assim que localizei os itens, me juntei a Thomas ali.
Ele pegou a camiseta, o shorts e o aparelho de barbear e se inclinou.
— O que ela está fazendo aqui? — sussurrou.
Dei de ombros.
Ele olhou para a parede na direção em que Camille estava sentada.
— Ela não falou nada?
— Ela disse que os rapazes estavam se arrumando no quarto do Shepley e que depois tem uma sessão de fotos.
— Tá... mas por que ela ainda está aqui? — A expressão de repulsa em seu rosto me deu ainda mais confirmação.
— Ela não disse. Ela só queria entrar.
Thomas assentiu e se inclinou para beijar meu rosto.
— Diga a ela que saio em um minuto.
Girei nos calcanhares e peguei a maçaneta, mas Thomas me virou de volta, agarrou meu rosto e atacou meus lábios com os dele.
Quando me soltou, eu estava sem fôlego e desorientada.
— O que foi isso? — perguntei.
Ele bufou.
— Eu não sei o que ela vai dizer. Só não quero que você fique chateada.
— Por que vocês não conversam lá fora? — ofereci.
Ele balançou a cabeça.
— Ela sabia que estávamos no mesmo quarto. Se ela quer falar comigo, pode falar na sua frente.
— Só... para de se remexer. Você parece apavorado.
Ele soltou a toalha e vestiu a camiseta.
Voltei para o quarto.
— Ele vai sair em um minuto.
Camille fez que sim com a cabeça.
Sentei na cadeira no canto e estendi a mão para o material de leitura mais próximo.
— Este quarto é legal — ela disse.
Olhei ao redor.
— É, sim.
— Eles avisaram que o smoking foi entregue? O dele deve estar no armário.
— Eu aviso, pode deixar.
Quando Thomas saiu do banheiro, Camille se levantou imediatamente.
— Oi — ele disse.
Ela sorriu.
— Oi. Os, humm... os caras tão no quarto do Shep.
— Ouvi dizer — Thomas disse simplesmente.
— E seu smoking está no armário.
— Obrigado.
— Eu, hum... queria saber se podemos conversar rapidinho — ela falou.
— Sobre o quê? — ele perguntou.
— Sobre ontem à noite... e outras coisas. — Ela parecia tão apavorada quanto ele aparentara no banheiro.
— Já falamos sobre isso ontem à noite. Você tem mais alguma coisa pra dizer? — Thomas perguntou.
— Podemos... — Ela apontou para o corredor.
— Acho que é mais respeitoso com a Liis se não fizermos isso.
Camille olhou de relance para mim, suspirou e depois fez que sim com a cabeça, remexendo no esmalte preto metálico.
— Você parece muito feliz — ela disse, olhando para baixo. — Seus irmãos querem você em casa, T.J. — Como Thomas não respondeu, ela ergueu os olhos para ele. — Não quero que as coisas fiquem esquisitas. Não quero que você fique longe. Então, eu queria que... já que você parece tão feliz agora... que pensasse em voltar para casa com mais frequência. Abby, Liis, Falyn e eu precisamos ser uma linha de frente unida. — Ela deu uma risadinha nervosa. — Vocês, Maddox, são difíceis de lidar, e eu só... quero ter um bom relacionamento.
— Tudo bem — Thomas disse.
O rosto de Camille ficou muito vermelho, e eu me amaldiçoei em silêncio pela empatia que estava sentindo.
— Você está diferente, T.J. Todo mundo percebeu.
Thomas começou a falar, mas ela o interrompeu:
— Não, estou contente. Estamos todos contentes. Você é o homem que deve ser, e eu acho que não conseguiria isso se estivesse comigo.
— Aonde você quer chegar, Camille? — ele perguntou.
Ela se encolheu.
— Eu sei que a Liis não trabalha na universidade. — Ela levantou a mão para mim quando minha boca se abriu de repente. — Tudo bem. Não vai ser o primeiro segredo que vou guardar. — Ela foi até a porta e girou a maçaneta. — Só estou muito feliz, mesmo, por vocês dois. Você é exatamente a pessoa que ele precisava. Eu só... Eu ouvi a discussão de vocês na festa ontem e achei que seria melhor se pelo menos a gente conversasse. Precisamos deixar isso para trás, T.J., como família, e a Liis é uma parte importante nisso.
Thomas ficou ao meu lado e sorriu.
— Obrigado por ter vindo até aqui. Vamos fazer um esforço maior para visitar... quando nosso trabalho permitir.
Lancei um olhar para ele.
— Tá bom. A gente se vê na cerimônia — ela disse antes de sair e fechar a porta.
— Ela vai falar? — perguntei, em pânico.
— Não. Eu confio nela.
Sentei e cobri o rosto, sentindo as lágrimas queimarem meus olhos.
— O que foi? — Thomas perguntou, se ajoelhando na minha frente e encostando em meus joelhos. — Fala comigo. Liis? — Ele fez uma pausa quando viu meus ombros estremecendo. — Você está... chorando? Mas você não chora. Por que está chorando? — ele pronunciou as palavras pausadamente, perturbado por me ver daquele jeito.
Olhei para ele com os olhos úmidos.
— Sou uma péssima agente secreta. Se não consigo interpretar o papel de sua namorada quando sou sua namorada, sou oficialmente um fracasso.
Ele deu uma risadinha e levou a mão ao meu rosto.
— Meu Deus, Liis. Achei que você ia dizer uma coisa totalmente diferente. Nunca senti tanto medo na vida.
Funguei.
— O que você achou que eu ia dizer?
Ele balançou a cabeça.
— Não importa. O único motivo para Camille saber que você é uma agente é porque ela sabe que eu sou.
— O Anthony sabia.
— O Anthony serve agentes todas as noites. O pessoal da cidade chama aquela região de Ninho da Águia, por causa da concentração de agentes federais. — Ele usou os polegares para secar minhas lágrimas, depois levou os lábios aos meus. — Você não é um fracasso. Eu nunca ficaria tão de quatro por um fracasso.
Pisquei.
— Você está de quatro por mim?
— Totalmente no chão. De cara.
Dei uma risadinha baixa, e o verde em seus olhos brilhou. Ele tocou meu lábio inferior com o polegar.
— Eu não queria ter que ir. Eu adoraria ficar deitado numa rede na praia com você.
Camille estava certa. Ele estava diferente, até mesmo do homem que conheci no bar. A escuridão em seus olhos desaparecera por completo.
— Depois da recepção?
Thomas assentiu e me deu um beijo de despedida, os lábios se demorando em minha boca.
— Marcado — ele sussurrou. — Não vou te ver até o casamento, mas meu pai vai guardar um lugar pra você na fileira da frente. Você vai sentar com a Camille, a Falyn e a Ellie.
— Ellie?
— Ellison Edson. É amiga do Tyler. Ele a persegue desde sempre.
— Desde sempre? Eu devia ter feito você me perseguir um pouco mais. Acho que facilitei demais as coisas para você.
Os olhos de Thomas ficaram travessos.
— Agentes federais não perseguem. Eles caçam.
Eu sorri.
— É melhor você ir.
Ele se levantou em um pulo e andou pelo quarto. Depois de colocar as meias dentro de um par de sapatos sociais pretos lustrosos, pegou o smoking na embalagem de plástico pendurada no armário e colocou o cabide sobre o ombro.
— Te vejo daqui a pouco.
— Thomas?
Ele parou com a mão na porta, virando a cabeça para o lado, enquanto me esperava falar.
— Você sente como se estivéssemos progredindo a uns cem quilômetros por hora?
Ele deu de ombros, e as coisas em suas mãos se ergueram com os ombros.
— Não me importo. Estou tentando não pensar muito nisso. Você faz isso por nós dois.
— Minha cabeça está me dizendo que devíamos pisar no freio. Mas eu realmente não quero fazer isso.
— Ótimo — ele disse. — Acho que eu não ia concordar com isso. — E sorriu. — Fiz muitas coisas erradas, Liis. Estar com você não é uma delas.
— Te vejo em uma hora — falei.
Ele girou a maçaneta e fechou a porta ao sair. Eu escorreguei na cadeira, respirando fundo e me recusando a analisar demais a situação, dessa vez. Nós estávamos felizes, e ele estava certo. Não importava o motivo.

***

Travis puxou Abby para seus braços e a inclinou um pouco para trás enquanto a beijava. Todos aplaudimos, e Thomas encontrou meu olhar e piscou.
O véu da Abby flutuava com a brisa do Caribe, e eu levantei o celular para tirar uma foto. Camille, ao meu lado, e Falyn, do outro, fizeram o mesmo.
Quando Travis finalmente soltou Abby, os irmãos Maddox e Shepley comemoraram. America estava parada ao lado da noiva, segurando o buquê com uma das mãos e secando os olhos com a outra. Ela apontou e riu para a mãe, que também estava secando os olhos.
— Apresento a todos vocês o sr. e a sra. Travis Maddox — o pastor disse, a voz deformada pelo vento, pelas ondas e pela comemoração.
Travis ajudou Abby a descer os degraus do gazebo, e os dois caminharam pelo corredor formado pelos assentos antes de desaparecer entre uma parede de árvores e arbustos.
— O sr. e a sra. Maddox pedem que todos se juntem a eles no restaurante Sails para o jantar e a recepção. Eles agradecem a presença de vocês neste dia tão especial.
Ele fez um sinal de positivo com a cabeça, e todo mundo se levantou, pegando suas coisas.
Com um sorriso amplo, Thomas se juntou a mim, parecendo aliviado com o fim da cerimônia.
— Digam xis! — Falyn pediu, levantando o celular.
Thomas me envolveu nos braços e beijou meu rosto. Eu sorri. Falyn também sorriu, nos mostrando a foto no aparelho.
— Perfeita.
Thomas me apertou.
— Ela é mesmo.
— Ah, que fofo — Falyn comentou.
Taylor deu um tapinha no ombro dela, e ela virou para abraçá-lo.
Uma tensão palpável tomou o espaço ao redor quando Trenton puxou Camille para si e a beijou.
Jim bateu palmas e esfregou as mãos.
— Peguem suas garotas, meninos. Estou morto de fome. Vamos comer.
Thomas e eu seguimos de mãos dadas, logo atrás de Jim com Trenton e Camille. Taylor e Falyn e Tyler e Ellison não estavam muito atrás de nós.
— O Taylor parece aliviado — sussurrei.
Thomas assentiu.
— Achei que ele fosse desmaiar quando ela mandou uma mensagem avisando que o avião tinha pousado. Acho que até então ele não acreditava que ela vinha.
Andamos até o restaurante ao ar livre. Uma grande lona branca protegia as mesas do brilho do pôr do sol. Thomas me conduziu até a mesa em que Shepley e America estavam sentados com as pessoas que, pela pesquisa que fiz antes da viagem, reconheci como Jack e Deana. Nós mal havíamos sentado quando o garçom se aproximou, perguntando o que queríamos beber.
— Estou tão feliz em te ver, querido — Deana disse. Seus longos cílios piscaram uma vez sobre os olhos castanho-esverdeados.
— É bom vê-la também, tia Deana — Thomas falou. — Já conheceu a Liis?
Ela balançou a cabeça e estendeu a mão.
— Não tivemos oportunidade de nos conhecer antes da cerimônia. Seu vestido é absolutamente maravilhoso. Esse tom de violeta é tão vivo. Você está praticamente brilhando. Ficou perfeito com a sua pele e o seu cabelo.
— Obrigada — falei, apertando a mão dela.
Ela e Jack viraram para pedir suas bebidas.
Eu me aproximei do ouvido de Thomas.
— Ela é muito parecida com a sua mãe. Se eu não tivesse lido sobre ela antes, teria ficado muito confusa. Você e o Shepley podiam ser irmãos.
— As pessoas sempre se surpreendem — ele disse. — Aliás, ela está certa. Você está maravilhosa. Não tive a oportunidade de comentar, mas, quando você apareceu, precisei me forçar a permanecer no gazebo.
— É só um vestido longo roxo.
— Não é o vestido.
— Ah — falei, meus lábios se curvando.
Abby e Travis entraram, e a mestre de cerimônias anunciou a chegada deles pelo alto-falante. Uma balada de rock começou a tocar, e Travis puxou Abby para dançar.
— Eles são tão fofos — disse Deana, o lábio inferior estremecendo. —Queria que a Diane estivesse aqui para ver isso.
— Todos nós queríamos, baby — Jack comentou, passando o braço pelos ombros da esposa e a puxando para si.
Olhei para o Jim. Ele estava sentado conversando com Trenton e Camille. Quando viu Travis e Abby dançando, ficou com o mesmo sorriso emotivo no rosto. Eu sabia que ele também estava pensando em Diane.
O sol desapareceu aos poucos no mar, enquanto os não-tão-recém-casados dançavam sua música. Quando terminaram, todos aplaudimos, e o primeiro prato foi servido.
Comemos e rimos enquanto os irmãos provocavam uns aos outros e contavam histórias nas mesas.
Depois da sobremesa, Shepley ficou de pé e bateu na taça com o garfo.
— Tive um ano para escrever este discurso, mas fiz isso ontem à noite.
Risos ecoaram pelo espaço.
— Como padrinho e melhor amigo do noivo, é meu dever homenagear e envergonhar o Travis. Começando com uma história da nossa infância, uma vez coloquei meu burrito de feijão no banco, e o Travis escolheu esse exato momento para ver se conseguia pular por cima do encosto e sentar ao meu lado.
America gargalhou.
— O Travis não é só meu primo. Ele também é meu melhor amigo e irmão. Estou convencido de que, sem sua orientação enquanto crescíamos, eu seria metade do homem que sou hoje... com metade dos inimigos.
Os irmãos cobriram a boca e gargalharam.
— Este momento devia ser usado para falar sobre como ele conheceu a Abby, e eu posso falar sobre isso porque estava presente na ocasião. Apesar de nem sempre eu ter sido o maior entusiasta dos dois, o Travis não precisava disso. Desde o início, ele sabia que pertencia à Abby, e ela, a ele. O casamento reforçou o que eu sempre pensei e no que me baseio: perseguir, assediar e provocar sofrimento em uma mulher compensa em algum momento.
— Ah, meu Deus, Shepley Maddox! — Deana reclamou.
— Não vou usar este momento para nada disso. Em vez disso, vou simplesmente erguer minha taça para o sr. e a sra. Maddox. Desde o começo e em todos os altos e baixos ao longo do último ano, enquanto todo mundo dizia que eles eram malucos e que não iam dar certo, eles se amaram. Essa sempre foi a constante, e eu sei que sempre será. Um brinde à noiva e ao noivo.
— Saúde! Saúde! — Jim gritou, levantando sua taça.
Erguemos nossas taças enquanto gritávamos a mesma coisa e então aplaudimos quando Travis e Abby se beijaram. Ele olhou nos olhos dela com muito carinho. Era um carinho conhecido — o mesmo com que Thomas olhava para mim.
Apoiei o queixo na palma da mão, observando o céu ficar marcado por tons de rosa e roxo. As luzes penduradas nas bordas da lona branca balançavam com a brisa suave.
Depois que America fez seu discurso, a música começou a tocar. No início, ninguém dançou, mas, depois da terceira rodada de drinques, quase todo mundo estava na pista de dança. Os irmãos, incluindo Thomas, estavam provocando Travis com passos de dança que o imitavam, e eu ria tanto que lágrimas escorriam pelo meu rosto.
Abby atravessou o salão e sentou ao meu lado, observando os meninos.
— Uau — ela disse. — Acho que eles estão tentando assustar a pobre Cami.
— Acho que não é possível — falei, secando o rosto.
Abby me observou até eu olhar para ela.
— Ouvi dizer que em breve ela vai ser minha cunhada.
— Sim. O pedido foi bem divertido.
Ela virou a cabeça um pouco para o lado e soltou um muxoxo.
— O Trent sempre é divertido. Então você estava lá?
— Estava. — Eu queria que Thomas nunca tivesse me avisado sobre como ela é inteligente. Seus olhos calculistas me davam vontade de afundar na cadeira.
— O tempo todo? — ela perguntou.
— A maior parte. O Travis foi o primeiro a ir embora.
— Tinha strippers?
Suspirei aliviada.
— Só o Trenton.
— Meu Deus — ela disse, balançando a cabeça.
Depois de alguns segundos de silêncio desconfortável, eu falei:
— Foi uma linda cerimônia. Parabéns.
— Obrigada. Você é a Liis, certo?
Fiz que sim com a cabeça.
— Liis Lindy. É um prazer finalmente te conhecer. Já ouvi falar muito de você. Fenômeno do pôquer? Impressionante! — falei sem uma gota de arrogância.
— O que mais o Thomas te contou? — ela perguntou.
— Ele me contou do incêndio.
Abby olhou para baixo e depois para o marido.
— Hoje faz um ano. — Sua mente vagou para algum lugar desagradável, depois ela voltou à realidade. — A gente não estava lá, graças a Deus. Estávamos em Vegas. Obviamente. Casando.
— O Elvis estava lá?
Abby riu.
— Estava! Estava, sim. Casamos na Capela Graceland. Foi perfeito.
— Você tem família lá, né?
Seus ombros relaxaram. Ela era bem controlada. Eu me perguntei se Val seria capaz de decifrá-la.
— Meu pai. A gente não se fala.
— Então acho que ele não foi ao casamento.
— Não. A gente não contou para ninguém.
— Sério? Achei que o Trent e a Cami sabiam. Mas isso não pode estar certo, porque ele estava na luta naquela noite, não é? Meu Deus, isso é assustador. Temos sorte de estar olhando para ele fazendo papel de bobo agora.
Abby fez que sim com a cabeça.
— A gente não estava lá. As pessoas dizem — ela deu uma risadinha — que a gente foi a Vegas para casar para o Travis ter um álibi. Que ridículo.
— Eu sei — falei, tentando parecer desinteressada. — Seria loucura. E você obviamente o ama.
— Amo — ela disse com convicção. — Dizem que casei com ele por outro motivo que não amor. Mesmo que fosse verdade, e não é, isso é tão... bom, é idiota pra caralho. Se eu tivesse fugido pra casar com ele para o Trav ter um álibi, teria sido por amor, certo? Não seria esse o objetivo? Não seria um ato extremo de amor por alguém? Ir contra suas regras porque você ama demais essa pessoa?
Quanto mais ela falava, mais raiva sentia.
— Com certeza — falei.
— Se eu o salvei, foi porque o amava. Não existe nenhum outro motivo para fazer isso por alguém, existe?
— Não que eu saiba — respondi.
— Mas eu não estava salvando o Travis do incêndio. A gente nem estava lá. É isso que me deixa mais puta.
— Não, eu entendo perfeitamente. Não deixe nada estragar sua noite. Se eles não querem ver ninguém feliz, deixa pra lá. Você determina o resultado. A história não é deles.
Ela me ofereceu um sorriso, se remexendo na cadeira de um jeito nervoso.
— Obrigada. Estou contente que você tenha vindo. É bom ver o Thomas feliz de novo. É bom ver o Thomas, ponto. — Ela sorriu e suspirou, satisfeita. — Me promete que vocês vão casar aqui, para eu ter uma desculpa pra voltar.
— Como é que é?
— Você e o Thomas ainda estão no início, certo? E ele trouxe você para um casamento. Isso é algo tão não Maddox pra fazer se ele não estiver de quatro, o que eu aposto que está. — Ela virou para observar a pista de dança, satisfeita. — E eu nunca perco uma aposta.
— Ele não queria ser o único desacompanhado.
— Mentira. Vocês dois são sólidos como uma rocha. Você está bem apaixonada. Dá pra ver — ela disse com um sorriso travesso. Ela estava tentando me deixar envergonhada, e se divertindo absurdamente com isso.
— Essa é a sua versão de um ritual de iniciação? — perguntei.
Ela riu e se aproximou, encostando o ombro nu no meu.
— Me pegou.
— O que vocês estão fazendo, suas vacas? — America disse, se aproximando de nós. — É uma festa, porra! Vamos dançar!
Ela pegou a mão de Abby e depois a minha. Nós nos juntamos à galera na pista de dança. Thomas agarrou minha mão, me girou, me puxou até minhas costas encostarem nele e passou o braço pela minha cintura.
Dançamos até meus pés doerem, então percebi Abby e America abraçando os pais de America e se despedindo. Em seguida, Jack e Deana partiram, e nós todos abraçamos Jim antes de ele ir para o quarto.
Travis e Abby estavam ansiosos para ficar sozinhos, então agradeceram a presença de todos, e ele a carregou para a escuridão da noite.
Nós nos despedimos, e Thomas me puxou pelo caminho sinuoso com iluminação fraca até chegarmos à praia.
— Rede — ele disse, apontando para uma forma escura a uns vinte metros da água.
Tirei os sapatos, e Thomas fez o mesmo antes de seguirmos pela areia branca. Ele sentou sobre as cordas entrelaçadas, e eu me juntei a ele. A rede balançou enquanto nos esforçávamos para nos acomodar sem cair.
— Isso devia ser mais fácil pra nós — Thomas provocou.
— Você provavelmente devia...
A rede deu um tranco. Nós nos seguramos um no outro e paralisamos, com os olhos arregalados. Depois caímos na gargalhada.
Assim que nos ajeitamos, uma gota de chuva atingiu meu rosto. Mais gotas caíram, e Thomas secou o olho.
— Só pode ser brincadeira.
A chuva começou a desabar em grandes gotas quentes, batendo na areia e na água.
— Não vou me mexer — ele disse, me apertando nos braços fortes.
— Então eu também não — falei, aninhando o rosto no peito dele. — Por que a babá do Totó e a Camille te chamam de T.J.?
— Era o jeito como elas falavam de mim sem deixar as pessoas saberem que era eu.
— Thomas James — falei. — Espertas. A outra garota também é sua ex?
Ele deu uma risadinha.
— Não. Ela era colega de quarto da Camille.
— Ah.
Thomas ancorou o pé na areia e empurrou, fazendo a rede balançar um pouco.
— Isso aqui é incrível. Eu definitivamente poderia me aposentar aqui. É tão... Nem consigo descrever — eu disse.
Ele beijou minha têmpora.
— Parece muito com amor.
As nuvens carregadas tinham escondido a lua, deixando o céu muito escuro. A música abafada que ainda tocava no Sails parecia estar a um quilômetro de distância, e os hóspedes estavam correndo para escapar da chuva. Podíamos estar em uma ilha afastada, longe de todo mundo, deitados juntos na nossa pequena e tranquila parte da praia.
— De cara no chão?
— Obliterado — ele respondeu.
Eu o apertei, e ele respirou fundo pelo nariz.
— Odeio dizer isso, mas a gente devia entrar. Temos que acordar cedo.
Olhei para ele.
— Vai dar tudo certo, sabe. O Travis vai ficar bem. A gente vai se livrar do Grove. Vai funcionar direitinho.
— Só quero pensar em você hoje à noite. Amanhã vai ser difícil.
— Vou fazer meu melhor para prender sua atenção. — Saltei da rede e fiquei de pé. Então o ajudei a se levantar e puxei sua boca para encontrar a minha, sugando seu lábio inferior quando me afastei.
Ele gemeu.
— Não tenho a menor dúvida. Você é uma distração e tanto.
Meu coração afundou.
— O que foi? — ele perguntou, vendo o sofrimento em meus olhos.
— Por que você simplesmente não admite? Fala em voz alta. Você está me usando para esquecê-la. Isso não é um encerramento. É protelar.
Seu rosto desabou.
— Não foi isso que eu quis dizer.
— Isso não é amor, Thomas. Você disse com perfeição. Eu sou um escudo.
Acima de nós, um movimento chamou minha atenção, e Thomas também olhou para cima. Trenton estava girando Camille na varanda do Sails, e em seguida ele a puxou para seus braços. Ela soltou um gritinho de prazer, os dois riram e desapareceram da nossa visão.
Thomas baixou o olhar e esfregou a nuca. Suas sobrancelhas se aproximaram.
— Ficar com ela foi um erro. O Trenton a ama desde que eles eram crianças, mas eu não achava que ele era sério o suficiente em relação a ela.
Eu estava errado.
— Então por que simplesmente não consegue se libertar?
— Estou tentando.
— Me usar pra fazer isso não conta.
Ele soltou uma risada.
— Minhas maneiras de explicar isso a você estão se esgotando.
— Então para. Preciso de uma resposta diferente, e você não tem.
— Você age como se amar alguém pudesse ser desligado com um interruptor de luz. Já tivemos essa conversa várias vezes. Eu quero você. Estou com você.
— Enquanto está sentindo saudade dela, desejando estar com ela. E você quer que eu mude tudo em que confio por isso?
Ele balançou a cabeça, sem acreditar.
— Essa situação é impossível. Achei que éramos perfeitos porque somos parecidos, mas talvez sejamos iguais demais. Talvez você seja minha vingança, e não minha redenção.
— Sua vingança? Você me fez passar o fim de semana todo acreditando que estava se apaixonando por mim!
— Eu estou! Já me apaixonei! Meu Deus, Camille, como é que eu posso enfiar isso na sua cabeça?
Congelei, e, quando Thomas percebeu seu erro, também congelou.
— Merda. Sinto muito mesmo — ele disse, estendendo a mão para mim.
Balancei a cabeça, e meus olhos arderam.
— Sou tão... burra.
Ele deixou as mãos caírem nas coxas.
— Não, não é. É por isso que você está se segurando. Desde a primeira noite, você sabia que era melhor manter distância. Você está certa. Não posso te amar do jeito que você precisa. Não amo nem a mim mesmo. — Sua voz falhou na última frase.
Meus lábios viraram uma linha dura.
— Não posso te redimir, Thomas. Você vai ter que resolver sozinho o que fez com o Trent.
Thomas assentiu e virou na direção da calçada. Fiquei para trás, observando o mar escuro rolar na areia, com o céu chorando sobre os meus ombros.

Comentários

  1. Bah o capítulo começou perfeito e aquele discurso do Shepley, maravilhoso, tão fofo, vê a Abby e o Travis de novo, amo esses dois. Mostraram pra todos que não acreditavam neles que se amam de verdade e vão continuar se amando.
    Aí o capítulo termina assim, coitado do Thomas.

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