Capítulo 21
Bati com as unhas no computador enquanto escutava, pelo fone de ouvido, a conversa gravada. O japonês estava truncado, a maioria era gíria, mas o agente Grove tinha anotado os números errados de novo. Dessa vez, ele tinha até identificado falsamente um local como um suposto prédio vazio ao lado de um hospital, quando, na verdade, era ao lado de um centro médico a onze quilômetros de distância.
Peguei o receptor do meu ramal e apertei o primeiro botão de números gravados.
— Escritório do agente especial assistente no comando. Constance falando.
— É a agente Lindy para falar com o agente Maddox, por favor.
— Vou passar a ligação — Constance falou.
Sua resposta me pegou desprevenida. Ela costumava pelo menos verificar com ele antes.
— Liis — Thomas atendeu. Sua voz estava suave e com um toque de surpresa.
— Estou ouvindo as gravações da Yakuza. O Grove... — olhei por sobre o ombro e depois para além de minha porta aberta — está ficando descarado, quase negligente. Ele está identificando locais falsos. Sinto que algo está prestes a acontecer.
— Estou trabalhando nisso.
— Temos que afastá-lo antes que ele descubra o recrutamento do Travis. O que estamos esperando?
— Um acidente encenado. É o único jeito do Tarou não saber que estamos atrás dele e do Benny. De outro modo, poderíamos colocar a operação toda em risco.
— Entendi.
— O que você vai fazer no almoço? — ele perguntou.
— Eu, hum... Fuzzy com a Val.
— Tá bom. — Ele deu uma risadinha nervosa. — E no jantar?
Suspirei.
— Estou tentando pôr as coisas em dia. Vou trabalhar até tarde hoje.
— Eu também. Eu levo você para casa e a gente pega alguma coisa pra comer no caminho.
Olhei para a sala do esquadrão através da parede de vidro. Val estava ao telefone, sem a menor ideia de que tínhamos planos para o almoço.
— Eu aviso você — falei. — As chances de terminarmos ao mesmo tempo são poucas.
— Apenas me avise — Thomas falou antes de desligar.
Coloquei o telefone no gancho e afundei de volta na cadeira.
Mais uma vez, os fones cobriram meus ouvidos, e eu apertei o play no teclado.
Era uma manhã como outra qualquer, exceto pelo fato de que eu me sentia cansada e havia acordado sozinha na cama de Thomas. Ele bateu à minha porta quando eu estava me arrumando para o trabalho. Quando abri, ele me deu um bagel com cream cheese e café.
A ida ao trabalho foi esquisita, e meus pensamentos me levaram a pesquisar concessionárias e a temer a possibilidade de ter que voar até Chicago e dirigir meu Camry até San Diego.
Bem quando a gravação estava ficando interessante, minha porta se abriu de repente e se fechou com força. Thomas jogou as laterais do terno para trás e colocou as mãos na cintura, tentando desesperadamente pensar em algo para dizer.
Arranquei os fones de ouvido.
— O que foi? — Minha mente disparou com diferentes cenários terríveis, todos envolvendo a família de Thomas.
— Você está me evitando, e a Constance disse que você estava no telefone com um vendedor de carros quando ela passou por aqui. O que está acontecendo?
— Hum... preciso de um carro?
— Por quê? Eu trago você para o trabalho e a levo pra casa.
— Eu vou a outros lugares além do trabalho, Thomas.
Ele veio até a minha mesa e colocou as mãos espalmadas sobre a madeira macia, me olhando nos olhos.
— Seja direta comigo.
— Você disse que ia me explicar mais sobre a Camille. Que tal agora? — perguntei, cruzando os braços.
Ele olhou para trás.
— O quê? Aqui?
— A porta está fechada.
Thomas sentou em uma poltrona.
— Desculpa ter chamado você de Camille. A gente estava falando nela, as tensões estavam grandes e eu estava ouvindo o Trent e ela rirem. Foi sem querer.
— Você está certo, Jackson. Eu te perdoo.
O rosto de Thomas ficou vermelho.
— Eu me sinto péssimo.
— Deveria mesmo.
— Você não terminou comigo de verdade, Liis, não depois de um erro idiota.
— Acho que nós nunca começamos de verdade, não é?
— Tenho uns sentimentos bem fortes aqui. Acho que você também. Sei que você não gosta de sair da zona de conforto, mas também é assustador pra mim. Eu garanto.
— Não estou mais com medo. Eu arrisquei. Você simplesmente não veio comigo.
A expressão dele mudou. Thomas estava olhando dentro de mim, para as profundezas que eu não conseguia esconder.
— Você está fugindo. Eu te deixo apavorada.
— Para.
Pude ver os músculos de seu maxilar saltarem.
— Não vou te perseguir, Liis. Se você não me quer, vou deixá-la ir embora.
— Ótimo — falei com um sorriso aliviado. — Vai economizar um bom tempo para nós dois.
Ele me implorou com os olhos.
— Eu não disse que queria que você fizesse isso.
— Thomas — falei, me inclinando para frente —, estou ocupada. Por favor, me avise se tiver alguma pergunta sobre meu FD-três-zero-dois. Vou deixar com a Constance até o fim do dia.
Ele me encarou sem acreditar e se levantou, virando para a porta. Girou a maçaneta, mas hesitou, olhando por sobre o ombro.
— Você ainda pode pegar carona comigo para vir e voltar do trabalho até resolver a situação do carro.
— Obrigada — falei. — Mas já tenho um esquema com a Val.
Ele balançou a cabeça e piscou, depois abriu a porta e a fechou assim que saiu. Virou para a direita em vez de à esquerda para voltar à sua sala, e eu percebi que ele estava indo para a academia de ginástica.
Assim que Thomas passou pelas portas de segurança, Val correu para dentro da minha sala e sentou.
— Essa foi feia.
Revirei os olhos.
— Acabou.
— O que acabou?
— Nós... tivemos uma coisa no fim de semana. Acabou.
— Já? Ele parece arrasado. O que você fez com ele?
— Por que é automaticamente culpa minha? — soltei. Quando a Val arqueou uma sobrancelha, continuei: — Concordei em tentar algo parecido com um relacionamento, e aí ele admitiu que ainda amava a Camille. Depois me chamou de Camille, então... — Eu brincava com os lápis no porta-lápis, tentando me impedir de sentir raiva disso de novo.
— Ele chamou a Camille? — ela perguntou, confusa.
— Não, ele me chamou de Camille... tipo, me chamou pelo nome dela por engano.
— Na cama? — ela soltou um gritinho.
— Não — respondi, o rosto retorcendo de repulsa. — Na praia. A gente estava discutindo. Eu ainda não sei bem por quê.
— Ah, isso parece promissor. Acho que a gente já devia imaginar que dois malucos por controle não iam dar certo juntos.
— Foi o que ele disse também. Ah, falando nisso, você e eu temos um encontro no almoço.
— Temos?
— Foi o que eu disse ao Thomas, então temos, sim.
— Mas eu tenho planos com o Marks.
— Ah, não, você me deve uma.
— Beleza — ela disse, apoiando o cotovelo na mesa e apontando para mim. — Mas você vai me dar detalhes sobre o fim de semana todo.
— Claro. Logo depois que você me contar do seu casamento.
Ela revirou os olhos.
— Não! — reclamou. — Está vendo? É por isso que eu não queria que você soubesse.
— Perceber que nem todo mundo quer expressar cada pensamento, sentimento e segredo é uma boa lição pra você. Estou contente por finalmente ter certa vantagem.
Ela me olhou furiosa.
— Você é uma péssima amiga. A gente se vê no almoço.
Sorri para ela, posicionando os fones de ouvido de novo, e Val voltou para sua mesa.
O restante do dia seguiu normalmente, assim como o dia seguinte. Val me esperava todo dia de manhã, do lado de fora do prédio. Os melhores dias eram quando eu não encontrava Thomas no elevador. Na maioria das vezes, ele era educado. Ele parou de ir até a minha sala e passou a me orientar por intermédio dos e-mails da Constance.
Reunimos provas contra Grove e então usamos a confiança que Tarou tinha nele para conseguir informações. As respostas estavam escondidas nas conversinhas e nos comentários presunçosos entre Grove e Tarou e seus capangas, tipo como o FBI era ingênuo e como era fácil burlar o sistema quando se conhecia a pessoa certa.
***
Exatamente duas semanas após Thomas e eu termos dado ao Polanski as boas notícias discutíveis sobre Travis, eu me vi sozinha no Cutter, provocando Anthony.
— Então eu disse a ele: “Seu vagabundo, você nem me conhece” — ele contou, inclinando a cabeça para o lado.
Bati palmas de leve e levantei o copo.
— Mandou bem.
— Desculpa se eu enlouqueci por um segundo, mas foi isso que eu falei pra ele.
— Acho que você lidou bem com a situação — respondi antes de tomar mais um gole.
Anthony se aproximou e inclinou a cabeça.
— Por que você não vem mais aqui com o Maddox? Por que o Maddox não vem mais aqui?
— Porque as mulheres do mundo estão sistematicamente estragando os lugares preferidos dele.
— Ah, isso é péssimo. E dizem que eu sou a rainha do drama. — Seus olhos se arregalaram por um instante.
— Quem diz?
— Você sabe — ele respondeu, acenando com a mão. — Eles. — Então apontou para mim. — Vocês todos precisam se resolver. Isso está arruinando as minhas gorjetas. — Ele olhou para cima e depois para baixo de novo. — Oh-oh, spray de cabelo, onze horas.
Não virei. Não precisei. Sawyer estava respirando no meu ouvido em muito menos tempo do que deveria ter levado para ir até meu banco.
— Oi, linda.
— Não aceitaram seu dinheiro no clube de strip? — perguntei.
Ele fez cara feia.
— Você está de péssimo humor. Sei que você não é mais a queridinha do professor, mas não precisa descontar em mim.
Tomei um gole.
— O que você sabe sobre ser a queridinha do professor? Ninguém gosta de você.
— Ai — Sawyer disse, ofendido.
— Desculpa. Peguei pesado. Mas, em minha defesa, você poderia ter pelo menos uma amiga se assinasse os malditos papéis.
Ele piscou.
— Espera... do que você está falando?
— Os papéis do seu divórcio.
— Eu sei, mas você está dizendo que não somos mais amigos?
— Não somos — falei, antes de tomar mais um gole.
— Ah, pelo amor, Liis. Você passa um fim de semana com o Maddox e está se achando. — Ele balançou a cabeça e tomou um gole da garrafa de cerveja que Anthony colocara à sua frente. — Estou decepcionado.
— Apenas assine os papéis. É tão difícil assim?
— Ao contrário da crença popular, terminar um casamento é difícil.
— Sério? Achei que seria mais fácil para um traidor.
— Eu não traí!
Ergui uma sobrancelha.
— Aquela coisa dela — ele apontou para os olhos e a cabeça — estava me deixando doido. Você tem ideia de como é estar com alguém e não poder ter segredos?
— Então por que você a traiu? Você estava basicamente pedindo o divórcio e agora não quer dar.
Ele deu uma risada, bebeu a cerveja fazendo barulho e a pousou no balcão.
— Porque eu achei que ela ia ficar fora da minha cabeça depois disso.
— Isso — falei, assentindo para Anthony quando ele colocou um novo manhattan à minha frente — faz você parecer um idiota.
Ele mexeu na garrafa.
— Eu era. Eu fui um idiota. Mas ela não me deixa consertar.
Inclinei o pescoço.
— Você ainda ama a Val?
Ele manteve os olhos na cerveja.
— Quem você acha que deu de presente de aniversário o coelhinho que está na mesa dela? Claro que não foi o Marks.
— Ai, merda — Anthony disse. — Eu tinha uma aposta com o Marks de que você era gay.
— Seu gaydar está com defeito — falei.
Um dos cantos da boca de Anthony se curvou.
— Eu apostei que ele era hétero.
Sawyer franziu o nariz.
— O Marks acha que eu sou gay? Que porra é essa?
Caí na gargalhada, e, assim que Anthony se aproximou para me falar alguma coisa, Thomas sentou no banco ao meu lado.
— O Anthony quer te falar que estou aqui — Thomas disse.
Minha coluna enrijeceu e meu sorriso desapareceu.
— Maddox — falei, cumprimentando-o.
— Sem zoar, Maddox — Anthony disse. — Eu prometi que ia cuidar dela de agora em diante.
Thomas pareceu confuso.
— Ele quis dizer sem ofensas — falei.
— Ah — Thomas disse.
— O de sempre? — Anthony perguntou, parecendo irritado com o fato de que eu tive de traduzir.
— Quero um uísque com Coca-Cola hoje — Thomas pediu.
— É pra já.
Sawyer se inclinou para frente.
— Dia ruim, chefe?
Thomas não respondeu. Em vez disso, encarou as próprias mãos entrelaçadas no balcão à sua frente.
Sawyer e eu trocamos olhares.
Continuei nossa conversa:
— Ela sabe?
— Claro que sabe. Ela sabe tudo — Sawyer disse, forçando um sorriso.
— Pode ser a hora de seguir em frente.
Dois jovens empurraram a porta da frente. Eu nunca os tinha visto ali, mas eles andavam com o peito estufado, balançando os braços. Comecei a virar quando um deles me deu uma olhada de cima a baixo.
— Belo blazer, Yoko — ele disse.
Sawyer colocou o pé no chão e começou a se levantar, mas eu toquei seu braço.
— Ignora. Teve um show no Casbah hoje. Eles provavelmente vieram de lá e estão procurando briga. Olha a camiseta do grandão.
Sawyer olhou rapidamente na direção dos dois, percebendo o rasgo de cinco centímetros no colarinho da camiseta do cara. Pedimos mais uma rodada. Thomas terminou sua bebida, jogou uma nota no balcão e saiu sem uma palavra.
— Isso foi esquisito — Sawyer disse. — Ele não vinha aqui há quanto tempo?
— Mais de duas semanas — Anthony respondeu.
Sawyer continuou:
— E ele aparece, bebe um drinque e vai embora.
— Ele não bebe apenas um drinque normalmente? — perguntei.
Anthony assentiu.
— Mas nunca quando está com aquela cara.
Virei para a porta, vendo o cara da camiseta rasgada e o amigo saindo.
— Essa foi rápida.
— Ouvi os dois falarem que estavam entediados. Parece que o atendimento estava muito lento — Anthony comentou com uma piscadela.
— Você é brilhante — eu disse com um sorrisinho. — Você devia falar com a Val mais uma vez, Sawyer. Pôr as cartas na mesa. Se ela não aceitar, você vai ter que se mudar e assinar os papéis. Você não está sendo justo com ela.
— Você está certa. Eu te odeio, mas você está certa. E, não importa o que diga, Liis, ainda somos amigos.
— Tá.
Sawyer e eu pagamos a conta, nos despedimos de Anthony e atravessamos o salão escuro, empurrando a porta. A calçada estava bem iluminada, o tráfego estava normal, mas alguma coisa estava estranha.
Sawyer encostou no meu braço.
— Você também? — perguntei.
Nós nos aproximamos da esquina, e alguém gemeu.
Sawyer ia dar apenas uma rápida olhada, mas ficou encarando, boquiaberto.
— Ai, merda!
Eu o segui e imediatamente peguei o celular. Os dois caras do bar estavam deitados em poças de sangue.
— Nove-um-um. Qual é a emergência?
— Dois homens, entre vinte e vinte e cinco anos, levaram uma surra feia e estão numa calçada em Midtown. Precisamos de uma ambulância no local.
Sawyer verificou o pulso dos dois.
— Este está sem reação — ele disse.
— Os dois estão respirando. Um está sem reação.
Dei o endereço e apertei o botão para encerrar a ligação.
Sawyer olhou ao redor. Um casal de meia-idade estava andando na direção oposta, no outro quarteirão, mas, além deles e de um morador de rua vasculhando o lixo na esquina, o perímetro estava vazio. Não vi ninguém que parecesse suspeito.
Sirenes ecoaram ao longe.
Sawyer enfiou as mãos nos bolsos da calça.
— Acho que encontraram a briga que estavam procurando.
— Talvez alguém com quem tiveram um atrito mais cedo?
Ele deu de ombros.
— Não é da minha jurisdição.
— Engraçadinho.
Um carro de polícia chegou em poucos minutos, logo seguido de uma ambulância. Contamos o que sabíamos e, depois que mostramos nossas credenciais, fomos liberados.
Sawyer me levou até o hall do meu prédio e se despediu com um abraço.
— Tem certeza que não quer que eu te leve até em casa? — perguntei.
— Quem fez isso ainda pode estar lá fora.
Sawyer deu uma risadinha.
— Cala a boca, Lindy.
— Boa noite. A gente se vê amanhã.
— Não. Vou estar fora.
— Ah, sim. A, hum... aquela coisa — falei. Minha cabeça estava confusa.
Fiquei feliz por termos decidido sair do bar naquele momento.
— Vou seguir uma das nossas fontes de Vegas, o Arturo.
— O cara do Benny? Por que ele está em San Diego? — perguntei.
— O Benny o mandou para visitar sua nova família oriental. Vou garantir que ele ande na linha. Não quero que os caras da Yakuza o assustem e ele revele ou alerte sobre os nossos interesses.
— Parece muito oficial.
— Sempre é. Boa noite.
Sawyer empurrou as portas do saguão e saiu, e eu virei para apertar o botão do elevador. Reparei que estava manchado de sangue recente. Olhei ao redor e usei a parte interna do blazer para limpá-lo.
As portas se abriram com um agradável e acolhedor ruído, mas, quando entrei, meu coração afundou. O botão do sexto andar também estava manchado de sangue.
Mais uma vez, usei o blazer para esconder a evidência, depois esperei impacientemente as portas se abrirem. Saí pisando duro e fui direto até a porta do Thomas, batendo no metal. Como ele não abriu, bati de novo.
— Quem é? — ele perguntou do outro lado.
— Liis. Abre essa porra.
A corrente chacoalhou, o trinco fez um clique e Thomas abriu a porta. Passei batendo com o ombro nele e virei de repente, cruzando os braços.
Thomas estava com uma compressa de gelo na mão direita e uma atadura ensanguentada na esquerda.
— Meu Deus! O que foi que você fez? — perguntei, estendendo a mão para a atadura.
Eu a retirei cuidadosamente, revelando os dedos em carne viva pingando sangue, e olhei para ele.
— Os canalhas racistas te ofenderam.
— E aí você resolveu matá-los? — perguntei com a voz aguda.
— Não, isso foi depois que ouvi os dois falarem casualmente que esperavam que seu caminho pra casa incluísse um beco escuro.
Suspirei.
— Vem cá. Vou limpar isso.
— Já cuidei de tudo.
— Enrolar uma atadura e colocar gelo não é limpar. Você vai pegar uma infecção aí. Parece divertido?
Thomas franziu a testa.
— Tá bom, então.
Fomos até o banheiro. Ele sentou na beirada da banheira, levantando as duas mãos levemente fechadas.
— Tem kit de primeiros socorros?
Ele apontou com a cabeça para a pia.
— Ali embaixo.
Peguei um recipiente de plástico transparente e abri, vasculhando os itens.
— Água oxigenada?
Thomas se encolheu.
— Você pode socar dois homens adultos até a pele dos dedos se soltar, mas não aguenta alguns segundos de ardência?
— No armário de remédios. O espelho abre.
— Eu sei. O meu também abre — falei sem emoção.
— Tentei vir pra casa sem...
— Atacá-los?
— Algumas pessoas são babacas brigões a vida toda, até alguém aparecer e dar uma bela surra nelas. Dá uma nova perspectiva.
— É assim que você chama? Você acha que fez um favor a eles.
Ele franziu a testa.
— Fiz um favor para o mundo.
Pinguei a água oxigenada nos machucados, e ele puxou o ar por entre os dentes enquanto puxava as mãos.
Suspirei.
— Eu simplesmente não consigo acreditar que você perdeu a cabeça desse jeito por causa de um insulto idiota e de uma ameaça vazia.
Thomas inclinou a cabeça e limpou o rosto no ombro, manchando o tecido com duas gotas pequenas de sangue.
— Você provavelmente devia tomar um banho disso aqui — falei, erguendo o grande frasco marrom.
— Por quê?
Peguei um pedaço de papel higiênico e o mergulhei no antisséptico.
— Porque tenho quase certeza que esse sangue não é seu.
Thomas olhou para cima, parecendo entediado.
— Sinto muito. Quer que eu vá embora? — perguntei.
— Na verdade, quero.
— Não! — retruquei.
— Ah! Isso te ofende.
Bati levemente com um algodão limpo nos ferimentos.
— Desconhecidos não conseguem me magoar, Thomas. Só as pessoas com quem eu me importo.
Seus ombros afundaram. De repente, ele pareceu cansado demais para argumentar.
— O que você estava fazendo no Cutter? — perguntei.
— Sou cliente regular.
Franzi a testa.
— Não tem sido.
— Eu precisava de um drinque.
— Segunda-feira ruim? — perguntei, pensando se havia alguma boa.
Ele hesitou.
— Liguei para o Travis na sexta.
— No Dia da Mentira? — perguntei. Thomas me deu alguns segundos. — Ah! Aniversário dele.
— Ele desligou na minha cara.
— Ai.
Bem quando eu disse isso, Thomas puxou a mão.
— Filho da... — Ele pressionou os lábios, as veias do pescoço inchando conforme ele ficava tenso.
— Desculpa. — Eu me encolhi.
— Sinto sua falta — Thomas sussurrou. — Estou tentando manter tudo no nível profissional, mas não consigo parar de pensar em você.
— Você tem sido um peso. As pessoas estão comparando com os dias pós-Camille.
Ele deu uma risada sem humor.
— Não tem como comparar. Dessa vez é muito, muito pior.
Eu me concentrei em fazer o curativo em seus ferimentos.
— Vamos nos contentar com o fato de que não deixamos ir muito longe.
Ele assentiu.
— Você definitivamente deve estar feliz. Eu não fui tão esperto.
Deixei minhas mãos caírem no colo.
— Do que você está falando? Duas semanas atrás, você me disse que não podia me amar.
— Liis... você sente alguma coisa por mim?
— Você sabe que sim.
— Você me ama?
Encarei seus olhos desesperados durante um tempo. Quanto mais os segundos passavam, mais ele parecia perdido.
Soltei uma respiração trêmula.
— Não quero amar ninguém, Thomas.
Ele olhou para os curativos nas mãos, já marcados de vermelho por causa do sangue.
— Você não respondeu a minha pergunta.
— Não.
— Você está mentindo. Como você pode ter uma personalidade tão forte e ter tanto medo?
— O que que tem? — soltei. — Você também estaria com medo se eu te dissesse que ainda amo o Jackson e você estivesse bem, bem longe da sua zona de conforto emocional.
— Isso não é justo.
Levantei o queixo.
— Não tenho que ser justa com você, Thomas. Só tenho que ser justa comigo. — Eu me levantei e dei um passo para trás, na direção da porta.
Ele balançou a cabeça e deu um risinho.
— Você, Liis Lindy, é definitivamente minha vingança.
ELE DEU A COMIDA DA CAMILE PRA ELA????
ResponderExcluirComida da camille?
ExcluirQue comida? Eu sei que ele chamou ela de Camille sem querer... Kkk
ExcluirSim o bagel de creamcheese era o preferido da Camille
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