Capítulo 23

Forcei um sorriso para o agente Trevino enquanto estava parada na entrada, depois virei meu carro na direção da garagem. Eu já estava de mau humor por causa do fim de semana, e o fato de ser segunda-feira não ajudava.
Thomas estava certo. Eu realmente detestava dirigir na rodovia, e isso também me irritava. Encontrei uma vaga e coloquei o carro ali. Então agarrei a bolsa e a sacola de couro marrom. Abri a porta com um empurrão e vi o agente Grove se esforçando para sair de seu sedã azul.
— Bom dia — falei.
Ele simplesmente fez sinal de positivo com a cabeça, e seguimos para a área do elevador. Apertei o botão, tentando não demonstrar que estava nervosa por estar ao lado dele.
Ele tossiu na mão, e eu usei isso como desculpa para olhar de volta.
Meu rabo de cavalo bateu no ombro direito quando virei.
— Os resfriados de verão são os piores.
— Alergia — ele resmungou, quase para si mesmo.
A porta do elevador abriu e eu entrei, seguida de Grove. A camisa azulclara e a gravata pequena demais faziam sua barriga parecer ainda mais proeminente.
— Como estão indo os interrogatórios? — perguntei.
O bigode curvado de Grove se mexeu.
— É meio cedo pra jogar conversa fora, agente Lindy.
Ergui as sobrancelhas e olhei para frente, segurando as mãos diante do corpo. O elevador apitou no sétimo andar, e eu saí para o corredor. Olhei para Grove, que me encarou de volta até as portas se fecharem.
Val se juntou a mim quando me aproximei da porta de segurança.
— Abre a porta, abre a porta, abre a...
— Nós ainda não terminamos — Marks disse com uma careta.
Val instantaneamente deu um sorriso e virou para trás.
— Por enquanto, terminamos.
— Não terminamos, não — ele retrucou, os olhos azuis em chamas.
Abri a porta com um empurrão, e Val deu um passo para trás.
— Mas terminamos... então terminamos. — Quando a porta fechou na cara de Marks, ela virou de novo e apertou meu braço. — Obrigada.
— O que foi isso?
Ela revirou os olhos e bufou.
— Ele ainda quer que eu saia do meu apartamento.
— Bom... eu também não ia querer que meu namorado morasse com a esposa.
— O Marks não é meu namorado, e o Sawyer não é meu marido.
— Sua situação com o Marks é discutível, mas você definitivamente ainda está casada com o Sawyer. Ele ainda não assinou os papéis?
Viramos para a minha sala, e Val fechou a porta antes de desabar em uma poltrona.
— Não! Ele voltou para casa uma noite, depois do Cutter, repetindo que a Davies foi um erro.
— Espera... a agente Davies?
— É.
— Mas você...
Val franziu o nariz e, quando a ficha caiu, deu um pulo da poltrona.
— Não! Eca! Eca! Mesmo que eu fosse lésbica, ia preferir brilho labial a batom. A agente Davies parece candidata de um concurso de sósias da Cher, com toda aquela... — ela circulou o rosto com o dedo indicador — coisa no rosto.
— Então, quando você disse que tinha experimentado Sawyer e Davies, quis dizer isso, que ele traiu você com ela.
— É! — ela disse, ainda enojada. Então se recostou na poltrona, mantendo a bunda na beirada, enquanto deixava os ombros caírem na almofada do encosto.
— Se disser isso pra mais alguém, é bom esclarecer.
Val deixou o pensamento ferver em silêncio, depois fechou os olhos, e os ombros afundaram.
— Merda.
— Você não vai perdoar o Sawyer? — perguntei.
— Claro que não.
— O que mantém você lá, Val? Sei que o apartamento é seu, mas não pode ser só isso.
Ela ergueu os braços antes de soltá-los nas coxas.
— É só isso.
— Mentira.
— Ora, ora — ela disse, se ajeitando no assento e cruzando os braços —, olha só quem está aperfeiçoando suas habilidades.
— É mais bom senso — falei. — Agora, se você vai ser uma péssima amiga, xô. Tenho trabalho a fazer. — Mexi nos papéis, fingindo estar desinteressada.
— Não consigo perdoá-lo — ela disse em voz baixa. — Já tentei. Eu podia ter perdoado qualquer outra coisa.
— Sério?
Ela assentiu.
— Você já falou isso pra ele?
Ela mexeu nas unhas.
— Mais ou menos.
— Você precisa falar, Val. Ele acha que ainda tem chance.
— Estou saindo com o Marks. O Sawyer ainda acha que estou interessada nele?
— Você é casada com ele.
Val suspirou.
— Você tem razão. Está na hora. Mas já vou avisando: se eu bater o martelo e ele não se mudar, pode ser que você tenha uma nova colega de quarto.
Dei de ombros.
— Eu te ajudo a empacotar suas coisas.
Val saiu da minha sala com um sorriso, e eu abri o notebook, digitando a senha e começando a olhar meus e-mails. Três de Constance marcados como “urgente” chamaram minha atenção.
Levei o mouse até o primeiro e cliquei.

Agente Lindy,
O ASAC Maddox solicita uma reunião às 10h. Por favor, abra espaço na
sua agenda e traga a pasta do caso.
Constance

Abri o segundo.

Agente Lindy,
O ASAC Maddox solicita que a reunião seja adiantada para as 9h. Por
favor, seja pontual e traga a pasta do caso.
Constance

Abri o terceiro.

Agente Lindy,
O ASAC Maddox insiste que você venha à sala dele no instante em que
receber este e-mail. Por favor, traga a pasta do caso.
Constance

Olhei para o relógio. Mal eram oito horas. Peguei o mouse e cliquei nos documentos recentes, imprimindo as novas informações que eu havia reunido. Agarrei a pasta, recolhi os papéis da impressora e disparei pelo corredor.
— Oi, Constance — cumprimentei, ofegante.
Ela ergueu o olhar para mim e sorriu, piscando.
— Ele vai receber você agora.
— Obrigada — sussurrei, passando por ela.
Thomas estava em pé de costas para a porta, encarando a linda vista de sua sala.
— Agente Maddox — falei, tentando soar normal. — Desculpe, acabei de ver o e-mail... Trouxe a pasta do caso. Tenho mais algumas...
— Senta, Lindy.
Pisquei e fiz o que ele mandou. Os três porta-retratos misteriosos ainda estavam sobre a mesa, mas o do meio estava virado para baixo.
— Não posso mais fazê-los esperar — Thomas disse. — O Escritório do Inspetor Geral quer uma prisão.
— O Travis?
Ele virou. A pele sob os olhos estava roxa. Ele parecia ter perdido peso.
— Não, não... Grove. O Travis vai começar o treinamento em breve. Se o Grove souber do Travis pelo Benny ou pelo Tarou... bom, vamos morrer na praia de qualquer jeito. A Constance vai mandar tudo que você tem para o Ministério Público Federal. Vão encenar um roubo no posto de gasolina que ele frequenta. Ele vai levar um tiro. As testemunhas vão confirmar que ele foi assassinado. Aí, o Tarou e o Benny vão pensar que estão muito sem sorte, em vez de recuar e destruir provas porque o Grove foi preso e todos os caminhos levam à atividade criminal deles.
— Parece uma vitória, senhor.
Thomas se encolheu com a minha resposta fria e sentou atrás da mesa.
Continuamos em um silêncio constrangedor durante dez segundos, depois ele fez um pequeno gesto em direção à porta.
— Obrigado, agente Lindy. Era só isso.
Eu assenti e me levantei. Fui até a porta, mas não consegui sair.
Contrariando meu juízo, virei, cerrando um dos punhos e agarrando a pasta com força, para não deixá-la cair.
Ele estava lendo a primeira página de uma pilha, segurando uma caneta marca-texto em uma das mãos e a tampa na outra.
— Você está se cuidando, senhor?
Thomas ficou pálido.
— Se eu estou... Como é?
— Se cuidando. Você parece cansado.
— Estou bem, Lindy. Isso é tudo.
Cerrei os dentes e dei um passo para frente.
— Porque, se precisar conversar...
Ele deixou as duas mãos caírem sobre a mesa.
— Não preciso conversar, e, se precisasse, você seria a última pessoa com quem eu faria isso.
Fiz que sim com a cabeça.
— Sinto muito, senhor.
— Para... de me chamar assim — ele disse, baixando o tom de voz no fim.
Estendi as mãos diante de mim.
— Acho que não é mais apropriado eu chamar você de Thomas.
— Agente Maddox ou Maddox está ótimo. — Ele baixou o olhar para a folha. — Agora, por favor... por favor, saia, Lindy.
— Por que me chamou aqui se não queria me ver? Você podia muito bem ter pedido para a Constance cuidar de tudo.
— Porque, de vez em quando, Liis, eu preciso apenas ver seu rosto. Preciso ouvir sua voz. Alguns dias são mais difíceis que outros para mim.
Engoli em seco e fui até sua mesa. Ele se preparou para o que eu poderia fazer em seguida.
— Não faça isso — falei. — Não me faça sentir culpada. Eu tentei não... Isso é exatamente o que eu não queria.
— Eu sei. Eu assumo total responsabilidade.
— Não é culpa minha.
— Acabei de falar isso — ele disse, parecendo exausto.
— Você pediu que isso acontecesse. Você queria que seus sentimentos por mim substituíssem seus sentimentos pela Camille. Você precisava de alguém mais próximo para culpar, porque não podia culpá-la. Vocês precisam se dar bem porque ela vai ser da família, e eu sou apenas alguém com quem você trabalha... alguém que você sabia que ia seguir em frente.
Thomas pareceu emocionalmente esgotado demais para discutir.
— Meu Deus, Liis, você realmente acha que isso foi de caso pensado? Quantas vezes preciso dizer? O que senti por você, o que eu ainda sinto por você, torna meus sentimentos pela Camille insignificantes.
Cobri o rosto.
— Sinto como se eu parecesse um disco riscado.
— Parece mesmo — ele comentou, a voz desanimada.
— Você acha que é fácil pra mim? — perguntei.
— Certamente parece que sim.
— Bom, não é. Eu achei... Não que isso importe agora, mas, naquele fim de semana, eu esperava conseguir mudar. Achei que, para duas pessoas feridas, se nos dedicássemos o suficiente, se sentíssemos o suficiente, nós íamos conseguir.
— Não estamos feridos, Liis. Temos cicatrizes semelhantes.
Eu pisquei.
— Se a gente entrasse em território desconhecido, o que é tudo, no meu caso, poderíamos ajustar as variáveis, sabe? Mas não posso jogar fora todos os planos que fiz para o meu futuro na esperança de que, um dia, você não fique mais triste porque não está com ela. — Senti lágrimas queimarem meus olhos. — Se eu te desse meu futuro, ia querer que você deixasse o passado. — Peguei o porta-retratos virado para baixo e o segurei diante do rosto de Thomas, obrigando-o a olhar para a foto.
Seus olhos desviaram dos meus, e, quando ele viu a foto sob o vidro, um dos cantos de sua boca se curvou.
Irritada, virei a foto para mim e fiquei simplesmente boquiaberta.
Thomas e eu estávamos juntos no porta-retratos, uma foto em preto e branco, aquela que Falyn tirara de nós em St. Thomas. Ele estava me apertando contra si, beijando meu rosto, e eu sorria como se a eternidade fosse real.
Peguei o outro porta-retratos e olhei. Ali estavam os cinco irmãos Maddox. Peguei o último e vi seus pais.
— Eu amei a Camille primeiro — Thomas disse. — Mas você, Liis... você é a última mulher que eu vou amar.
Fiquei paralisada, sem palavras, e recuei na direção da porta.
— Posso... ter minhas fotos de volta? — ele perguntou.
Então me dei conta de que tinha deixado a pasta do caso na mesa dele e, em vez de pegá-la, estava saindo com as fotos nas mãos. Caminhei lentamente até ele, que estendeu a mão, e devolvi os porta-retratos.
— Vou entregar isso aqui para a Constance — falei, pegando a pasta e me sentindo desorientada. Girei nos calcanhares e saí em disparada.
— Liis — ele gritou atrás de mim.
No momento em que passei pela porta, praticamente joguei a pasta na Constance.
— Tenha um bom dia, agente Lindy — ela disse, a voz se dissipando por toda a sala do esquadrão.
Voltei para a minha sala e sentei na minha cadeira, apoiando a cabeça nas mãos. Segundos depois, Val irrompeu do corredor, e Marks entrou atrás dela, batendo a porta.
Ergui o olhar.
Val apontou para ele.
— Para! Você não pode me perseguir pelo prédio todo!
— Vou parar de te perseguir quando você começar a me dar respostas diretas! — ele gritou.
— Mas que merda é essa que está acontecendo com todo mundo hoje? O escritório todo enlouqueceu? — gritei.
— Eu já dei uma resposta pra você! — Val disse, me ignorando. — Falei que vou conversar com ele hoje à noite!
Sawyer colocou a cabeça pela porta, batendo enquanto aparecia.
— Chefe?
— Sai! — Marks, Val e eu gritamos ao mesmo tempo.
— Tudo bem, então — ele disse, se abaixando para sair.
— E aí? — Marks perguntou.
— Se ele não sair do apartamento, eu saio — Val respondeu como se as palavras tivessem sido arrancadas de si.
— Graças a Deus! — Marks gritou para um público invisível, apontando todos os dedos na direção da Val. — Uma resposta direta, porra!
Thomas entrou de repente.
— Mas que gritaria é essa?
Cobri o rosto de novo.
— Você está bem, Liis? O que aconteceu com ela, Val? Ela está bem? — Thomas perguntou.
Marks falou primeiro:
— Desculpa, senhor. Você está... você está bem, Lindy?
— Estou ótima! — gritei com a voz aguda. — Só preciso que vocês, crianças, saiam da porra da minha sala!
Os três congelaram, me encarando sem acreditar.
— Saiam!
Val e Marks saíram primeiro, e, depois de certa relutância, Thomas me deixou sozinha, fechando a porta ao sair.
O resto do Esquadrão Cinco estava me encarando. Fui até a parede de vidro, mostrei os dois dedos do meio para todos, soltei vários palavrões em japonês e fechei as persianas.

Comentários

  1. Que loucura!!! E pelo visto o Thomas e a Liis só vão ficar juntos no último capítulo

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  2. Caramba... a Liis é difícil... ngm deixa de amar de hora para outra, e o Thomas só começou a esquecer a Cami por causa dela... mas ela ainda insiste na msm tecla... eu entendo q ela prioriza o trabalho... mas ela naum sofre por causa dele... ela ainda sai... se distrai... 🤔 ele está sendo quebrado pela segunda vez... acho q os dois só vão ficar juntos no final...

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  3. Ooohhh mulher que complica tudo Mds....
    Tadinho do maddox!


    PS: Ela falou em japonês, pronto vi tudo...
    Groove descobre!

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