Capítulo 66
— Morath — disse Manon, imaginando se havia ouvido direito. — Para a batalha?
A avó se virou da mesa, os olhos brilhando.
— Para servir ao duque, exatamente como o rei ordenou. Ele quer a Líder Alada com metade do exército prontos para voar a qualquer momento. Os outros devem ficar aqui sob o comando de Iskra, monitorando o norte.
— E você... onde você vai estar?
A avó de Manon sibilou e ficou de pé.
— Tantas perguntas agora que é Líder Alada.
A neta fez uma reverência com a cabeça. Elas não tinham mencionado a Crochan. A jovem bruxa recebera a mensagem: da próxima vez, seria uma das Treze aos joelhos dela. Então manteve a cabeça baixa ao dizer:
— Só pergunto porque não gostaria de ficar longe de você, avó.
— Mentirosa. E péssima ainda por cima. — A Matriarca se voltou para a mesa. — Vou ficar aqui, mas irei até você em Morath durante o verão. Temos trabalho a terminar aqui.
Manon ergueu o queixo, o novo manto vermelho estendido ao redor do corpo, e perguntou:
— E quando voaremos para Morath?
A avó dela sorriu, os dentes de ferro brilhando.
— Amanhã.
***
Mesmo sob o véu da escuridão, a brisa quente da primavera estava cheia de grama nova e rios de neve derretida, apenas interrompida pelo ressoar de asas conforme Manon levava o exército pelas montanhas Canino Branco. Elas se mantinham às sombras da cordilheira, trocando os postos de lugar e descendo fora do campo de visão, evitando que alguém fizesse uma contagem precisa de quantas eram. Manon suspirou pelo nariz, e o vento levou o som embora, bem no momento em que fez o longo manto vermelho esvoaçar.
Asterin e Sorrel estavam ao seu lado, silenciosas como o restante das alianças durante as longas horas que tinham sobrevoado as montanhas. Elas cruzariam a floresta de Carvalhal no ponto em que as montanhas de Morath estivessem mais próximas, então subiriam além da cobertura das nuvens durante o restante da jornada. Ocultas e o mais silenciosamente possível; era assim que o rei queria que chegassem à fortaleza do duque na montanha. As bruxas voaram a noite toda pelas montanhas Canino Branco, ágeis e suaves, a terra abaixo estremecendo com sua passagem.
Sorrel estava com o rosto impassível, monitorando os céus ao redor, mas Asterin sorria levemente. Não era um sorriso selvagem, ou um que prometia morte, mas um sorriso calmo. Por estar no céu e percorrendo as nuvens. Onde todas as Bico Negro pertenciam. Onde Manon pertencia.
Asterin viu o olhar da líder e deu um sorriso mais largo, como se não houvesse um exército de bruxas voando atrás e Morath adiante. A prima se virou para o vento, inspirando-o, exultante.
A herdeira não se permitiu saborear aquela brisa linda ou se abrir para aquela alegria. Tinha trabalho a fazer; todas tinham. Apesar do que a Crochan tinha dito, ela não nascera com um coração, ou com uma alma. Não precisava deles.
Depois que lutassem na guerra do rei, quando os inimigos dele estivessem sangrando ao redor delas... apenas então as bruxas seguiriam para reclamar o reino destruído.
E Manon iria para casa, enfim.
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