Capítulo 10
O secador de cabelo fazia um barulho agudo e alto o
suficiente para abafar os sons de
Kirby, que havia entrado sem bater. Quando a vi
parada na porta do banheiro, soltei um gritinho.
Ela levantou a perna e se encolheu, com o cabelo e as
mãos cobrindo o rosto. Depois que se recuperou, ela se endireitou, os punhos
cerrados nas laterais.
— Por que você está gritando comigo?
Desliguei o secador.
— Por que você está se esgueirando no meu banheiro?
Ela revirou os olhos, ajeitando o cabelo.
— Eu bati.
— O que está fazendo aqui? — perguntei, irritada.
Ela apontou para o próprio avental.
— Acabei de sair do trabalho. Vim dar uma olhada em
você.
— A Phaedra deu uma olhada em mim há meia hora. Estou
bem — falei, me virando para escovar os nós no cabelo. Pelo espelho, eu a vi
cruzar os braços e fazer biquinho.
— O Gunnar está atrasado de novo. Você não acha que
ele está me traindo, acha?
Virei para ela, com a escova ainda na mão.
— Não. De jeito nenhum. Ele te adora.
Ela se apoiou no batente da porta.
— Eu sei, mas todo mundo tem seus momentos. E ele é
homem. — Ela arregalou os olhos com a última palavra.
— Isso não é desculpa. Mas o Gunnar não precisa de
uma desculpa. Ele não está te traindo.
Ela me olhou com a sobrancelha erguida, aceitando o
que já sabia.
— Então por que ele não me liga? Por que ele não
atende o telefone?
— Porque está dirigindo.
— Ele não pode nem mandar uma mensagem?
— Não! Você quer que ele volte para casa vivo? Você
está sendo ridícula — falei, virando para o espelho. — Quando é que ele vai
pegar a caminhonete dele de volta?
— Amanhã.
— Já era hora.
Kirby observou minha pequena bolsa de maquiagem.
— Você vai sair?
— Não sei. O irmão do Taylor está na cidade, e ele
quer que eu vá ao Cowboys para encontrar com os dois.
Seus olhos se iluminaram.
— Isso é um bom sinal! Acho que hoje foi legal,
então...
— Posso dizer que sim. Vimos sua mãe lá em cima. Ela
foi pegar o Kostas.
Kirby fez uma careta.
— Ele é obcecado por aquela trilha. Ele acha que vai
para Macho Pikachu ou alguma coisa assim no Peru.
— Machu Picchu? — perguntei.
Ela fez que sim com a cabeça.
— Talvez ele vá — comentei.
— Ele precisa escalar algo maior do que o Pico Pikes.
— Machu Picchu tem quase a metade do tamanho do Pico
Pikes, Kirby.
— Para de agir como a Phaedra! Minha mãe deu carona
para vocês até a cidade?
— Só até o início da trilha. A caminhonete do Taylor
estava lá. Ela não gostou dele.
— Ele é da elite dos bombeiros. Claro que ela não
gostou.
— Ela falou em grego comigo.
— Ah. Ela não deve ter gostado dele mesmo.
— Por que você gosta dele? — perguntei.
Kirby deu de ombros.
— Só porque ele é da elite dos bombeiros, isso não significa
que é igual ao meu pai. Além do mais, é difícil não gostar de alguém porque ele
escolheu um emprego para salvar as coisas.
— Coisas — comentei, me divertindo.
— Árvores. Casas. Pessoas.
— Devo me preocupar que é isso que está acontecendo
aqui?
Kirby franziu o nariz.
— Ele tem, tipo, mais de vinte anos. Você acha que
ele nunca encontrou uma mocinha em perigo? Não é isso. Ele simplesmente gosta
de você.
Abri a bolsa de maquiagem, mas fiquei só olhando para
o conteúdo.
Confundir os limites com Taylor era perigoso. Ele tinha
concordado em me levar até Illinois. Mas quando? Tantas coisas podiam dar
errado entre sua promessa e Eakins... Ele não queria a minha verdade agora, mas
e se ele a exigisse depois? E se houvesse mais condições?
E se eu quiser
mais condições?
Kirby sorriu.
— Você está se perguntando se vale a pena usar
maquiagem por causa dele?
Estreitei os olhos.
— Para de me confundir. Não entendo por que ele quer
que eu conheça o irmão dele.
O que ele quer com isso? Que diferença teria se eu o
conhecesse?
— Você mesma precisa parar de se confundir.
Pensei nisso por um instante. Taylor estava se comportando
ao contrário do que eu esperava de um bombeiro de elite, especialmente com sua
aparência. Ele era todo agressivo e confiante até que algo inesperado
aconteceu, e aí ele se tornou o Jim Carrey.
Tive que cobrir a boca para me impedir de rir.
— O que é tão engraçado?
Balancei a cabeça.
— Taylor, mais cedo. Não é nada.
Qualquer coisa diferente de um risinho parecia estranho
na minha voz, e Taylor tinha sido o motivo de dois surtos emocionais. Ele me
abraçou, garantiu que eu ficasse bem, fez planos e me pediu para conhecer seu
irmão.
Pela primeira vez em anos, um cara que dava a
entender que estava interessado em mim não me pareceu uma violação.
Passei base no rosto e depois rímel nos cílios.
Após um blush rápido e um gloss labial, desfilei
desanimada para Kirby.
— Está bom?
Fiz um esforço para ajeitar o cabelo e a maquiagem
com os poucos acessórios que tinha à disposição, mas ainda assim eu parecia
igual.
— Você está linda, e ele é lindo. Vocês teriam bebês
maravilhosos.
Meu rosto desabou, e eu resmunguei para o meu reflexo
no espelho. Eu era errada.
Supor que eu bagunçaria isso também não era razoável.
Taylor tinha alguma coisa, mais do que só charme. Ele não era o babaca que
tentava ser — pelo menos, não comigo.
Mas será que ele vale o risco?
— Vai lá, Falyn. Pare de pensar demais. Vocês passaram
o dia todo juntos, e você ainda quer vê-lo. Isso significa alguma coisa, ainda
mais para você.
Pensei na decepção no rosto dele e sorri para Kirby.
— Você me deu um bom argumento. Espera pelo Gunnar
aqui.
— Tem certeza?
Peguei as chaves e desci trotando a escada, deixando
Kirby sozinha no loft.
A música abafada do Cowboys podia ser ouvida antes
mesmo de eu sair do Bucksaw.
Meu coração bateu mais rápido, sabendo que Taylor estava
a menos de um quarteirão de distância.
Empurrei a porta de vidro e inspirei o ar noturno. As
pessoas passavam em grupos e se encaminhavam para a fila ridiculamente comprida
na calçada. Eu me perguntei se conseguiria furar a fila sem ter Taylor ao meu
lado.
Respirei fundo, com os nervos agitados no estômago.
Alguma coisa maior do que apenas uma noite no Cowboys estava prestes a
acontecer.
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