Capítulo 11

A Tejon Street estava mais movimentada que o normal, exibindo carros e pessoas. Jeeps conversíveis transportando famílias e jovens passeavam devagar pelas ruas, permitindo que os pedestres atravessassem fora da faixa para chegar a um destino ou outro.
Taylor estava sozinho na frente do clube, olhando ao redor com as mãos enfiadas nos bolsos.
— Oi — falei.
Seus olhos se iluminaram.
— Oi.
— Vai entrar ou está esperando alguém? — perguntei.
Ele balançou a cabeça uma vez, e seus olhos me observaram atentamente.
— Só você.
Arqueei uma sobrancelha e fiz um sinal com a cabeça para o segurança.
— Oi, Darren.
— Falyn — ele respondeu.
Taylor e eu passamos direto, sem nem precisar pagar. Eu me perguntei o que Taylor fizera ou quem ele conhecia para conseguir furar a fila. Ele me seguiu até a mesma mesa que havíamos ocupado na outra noite.
Ele me olhava de um jeito diferente, como se estivéssemos nos encontrando pela primeira vez.
— Para de parecer tão surpreso — falei.
— Não estou nem um pouco surpreso. — Ele olhou ao redor do salão, e depois seus olhos se voltaram para mim. — Só estou tentando te entender. Quer uma bebida?
Balancei a cabeça.
Ele simplesmente anuiu e ficou no mesmo lugar.
— Você não vai pegar para você? — perguntei.
— Não.
O ar entre nós parecia estranho. Ele estava a um milhão de quilômetros de distância, mas extremamente próximo de mim ao mesmo tempo. Alguma coisa estava errada.
— Quer saber? Foi uma péssima ideia. Vou embora — falei, me levantando.
— O que foi uma péssima ideia? — ele perguntou.
— Vir aqui.
— Por quê? Você já está entediada?
— Não. Não sei. Acho que só estou cansada. Foi um dia longo. — Sentei de novo, me sentindo esgotada.
— Foi, sim. — Ele olhou para a pista de dança e depois para mim. — Acho que você está cansada demais para dançar, né?
Dançar com Taylor foi divertido. Estar nos seus braços de novo era tentador. Mas eu estava desacostumada a subir a trilha Barr. Minhas pernas doíam dos quadris às unhas dos pés. Foi suficiente atravessar a rua e caminhar meio quarteirão até o Cowboys.
— Estou super cansada. Você não está?
Ele pensou na pergunta.
— Acho que sim.
O cara que quase não aguentou subir até o topo do Pico Pikes hoje à tarde acha que estava cansado? Por que ele está agindo de um jeito tão esquisito?
— Vi muitas mulheres bonitas nesta cidade — ele falou.
— Parabéns — comentei sem emoção.
— Mas você é linda pra caralho. Alguém já te disse isso?
— Só você — respondi, encarando-o como se ele estivesse maluco. — Esqueci de mencionar que sou uma pária por aqui. — A ironia me divertiu. Quando nos conhecemos, procurei ficar longe dele e dos seus colegas, mas, na verdade, as chances de ele ficar com má reputação se saísse comigo eram até maiores.
— Como assim?
— Nada. Ao contrário da crença popular, os homens não se juntam ao redor da piranha da cidade.
Seu rosto se contorceu de raiva.
— Quem te chamou de piranha?
— Na minha cara? Só os meus pais.
Ele pareceu surpreso com a resposta.
— Isso é loucura.
— Concordo.
Minha reação o divertiu.
— Qualquer cara dessa cidade que não esteja na sua cola é um idiota.
— Por quê? — perguntei. Eu não sabia muito bem qual era a dele, mas ele estava me irritando com aquela conversa bizarra. — Não tem nada em mim que poderia justificar o que você falou.
— Bom, para começar... olha só para você.
— Você acabou de dizer que existem muitas mulheres atraentes aqui, então estou pegando a bandeira da mentira, uma bem grande e amarela.
— Isso, olha só. A maioria das mulheres não pega a bandeira da mentira. A maioria está disposta a perdoar noventa e oito por cento da mentira só para ver se um cara que está prestando atenção nela pode se transformar em algo mais.
— Eu adoraria saber onde você arrumou essa estatística. Em alguma revista masculina?
— Experiência pessoal. Você, no entanto, não deixa essa merda passar. Eu soube disso no instante em que abriu a boca. Você é mais do que atraente. Você não está procurando alguém e não precisa de ninguém. Isso é muito atraente.
— Você é ridículo.
Ele se aproximou, encarando os meus lábios.
— Ridícula é a vontade que estou sentindo de beijar essa sua boca espertinha.
— O quê? — perguntei, engolindo em seco.
Ele deu alguns passos ao redor da pequena mesa, parando a centímetros de mim. Era tão alto que tive que erguer o queixo para olhar nos seus olhos. Algo mudara desde a última vez em que estivéramos juntos. Havia fome em seus olhos, mas faltava familiaridade. Não havia emoção, além de desejo.
— Tenho que te beijar. Agora.
— Ah. Tudo bem. — As palavras eram mais absurdas que o cenário, mas fui pega tão de surpresa pelo comportamento de Taylor que isso foi a única coisa que consegui dizer.
Eu sabia que a minha boca estava meio entreaberta, mas não conseguia fechá-la. Eu não conseguia me mexer. Ele se aproximou aos poucos, os olhos saindo dos meus lábios para voltar logo em seguida.
Suas mãos envolveram minha cintura, me puxando na direção dele sem pensar duas vezes, fortes e confiantes. Fechei os olhos, esperando por ele, sem saber se estava hesitando porque queria permissão ou se o silêncio era bom. Só naquele instante percebi que queria que Taylor me beijasse, mas o momento não parecia certo, ele não parecia certo, e esse fato isolado era decepção suficiente para estragar tudo que tínhamos conquistado até aquele momento.
Os lábios de Taylor eram quentes e macios, exatamente como eu imaginara. Sua língua estava totalmente no controle, acariciando a parte de dentro da minha boca. Sua mão tocou meu rosto, o polegar correndo delicadamente pelo meu maxilar e descendo pela lateral do pescoço, mas não era a mesma sensação de antes.
Sua boca vasculhava a minha — era incrível, perfeito — de um jeito que faria qualquer mulher implorar por mais. Ele estava me fodendo com a boca antes de chegarmos perto de um quarto. Ele me dizia, a cada lambida suave da língua, que ele não só me queria, mas também precisava de mim. O tempo todo, ele apertava a minha roupa como se o beijo não fosse suficiente.
Nada. Eu não senti absolutamente nada.
O desencanto foi tão claro, tão desagradável, que me encolhi. Taylor ainda estava envolvido no beijo e demorou para perceber que eu empurrava seus ombros. Abaixei o queixo, afastando-me dele. Foi aí que vi Shea, a bartender, parada atrás do balcão, nos observando confusa e enojada. Então eu me dei conta de que eu tinha acabado de provar meu status de piranha da cidade depois de anos tentando apagar o rótulo. E fiz a única coisa que faltava: empurrei Taylor e dei um tapa na cara dele.
— Que porra de merda é essa? — ouvi a voz de Taylor gritar, mas ele não tinha falado.
— Santo comedor! — disse Zeke.
Virei na direção de Zeke, e Taylor estava ao lado dele. O outro Taylor estava a menos de trinta centímetros do meu rosto e, em reação, recuei de repente, quase caindo para fora do banco.
O Taylor Número Dois correu para trás de mim, impedindo que eu caísse de costas. Eu me afastei e, sem entender nada, olhei de ambos os lados, como se estivesse vendo uma partida de tênis.
— Falyn — disse Taylor, entredentes —, estou vendo que já conheceu meu irmão, Tyler.
— Tyler? — perguntei, limpando seus lábios da minha boca.
— Meu irmão gêmeo — esclareceu Taylor.
Tyler também não estava exatamente feliz.
— Você conhece ela? — ele perguntou, esfregando a marca vermelha de mão na bochecha.
— É — respondeu Taylor, dando um passo na direção do seu sósia. — Tyler, essa é a Falyn.
No instante em que meu nome saiu da boca de Taylor, as coisas começaram a acontecer muito rapidamente. Tyler olhou para mim, e Taylor desferiu um golpe, o punho atingindo o irmão gêmeo no mesmo lugar onde eu tinha batido. Os dois caíram no chão, formando uma névoa de socos e agarramentos.
Dalton e Zeke se afastaram satisfeitos e observaram.
— Ei! — gritei para a equipe de Taylor. — Façam alguma coisa!
Dalton cruzou os braços e balançou a cabeça.
— Não vou me meter entre dois irmãos Maddox. Quero continuar vivo.
Uma multidão começou a se formar ao nosso redor, e Darren apareceu correndo.  Quando ele os reconheceu, uma resignação semelhante aliviou seu rosto.
— Darren! — berrei. — Faz o seu trabalho!
As sobrancelhas de Darren dispararam para cima.
— Você já viu esses dois brigando?
Balancei a cabeça.
— Eu já. Eles vão parar quando quiserem.
— E quando vai ser isso? — perguntei, sem saber quem estava batendo em quem.
— Tá bom, tá bom! Você vai fazer a gente ser preso, seu monte de merda!
Os irmãos se levantaram, ensanguentados, as camisetas rasgadas. Tentei lembrar o que Tyler estava vestindo quando o vi pela primeira vez. Não consegui. Os dois estavam usando camisetas, uma branca e uma azul. Quando eles ficaram de pé na minha frente, não consegui identificar qual era o meu amigo e qual eu tinha acabado de beijar. Era desconcertante.
Passei empurrando pelos dois, a caminho da saída.
— Falyn!
Uma mão me segurou pelo ombro e me virou. Lá estava ele, meu amigo Taylor, com uma camiseta azul com gotas vermelhas ao redor do colarinho e o lábio rachado.
Suspirei, encostando num lugar perto do seu olho que parecia uma queimadura de carpete.
— Você está bem?
— Estou, eu...
— Ótimo. Vou para casa.
Taylor me seguiu até lá fora, interrompendo minha fuga a poucos passos da porta.
— Falyn, ei! Para!
Relutante, parei.
— Sinto muito, tá bom? Eu não sabia que isso ia acontecer.
Cruzei os braços.
— Você tem um irmão gêmeo idêntico. Como é que eu ia saber? Vocês têm até as mesmas tatuagens!
— Eu te falei isso!
— Mas não me falou que também tinham o mesmo rosto!
Seus ombros desabaram.
— Eu sei. Eu devia ter te contado. Se eu soubesse que você vinha, teria te avisado, mas...
— Mas o quê?
— A coisa dos gêmeos. É tão idiota, e é pior ainda para nós, porque somos muito parecidos. Ele é só meu irmão. Não somos a mesma pessoa. Mas, quando estamos juntos, é como se fôssemos estrelas de um show de horrores.
— Não importa. Vou para casa.
— Falyn. — Como eu não parei nem virei, ele me pegou pelo pulso e me puxou para si. — Falyn.
Olhei para ele. Suas feições estavam tão sérias que poderiam ser assustadoras, se eu não o conhecesse bem.
— Me irrita pra caralho meu irmão ter te beijado antes de mim.
— O que te faz pensar que eu deixaria você me beijar?
— Você deixou o Tyler te beijar. — Sua expressão se suavizou. — Você achou que ele era eu, não foi?
Eu me afastei e cruzei os braços, com raiva porque ele estava certo.
— Então... você ainda quer que eu te beije?
— Se eu puder te dar um tapa depois, claro.
Ele pensou por meio segundo.
— Acho que valeria a pena.
Pressionei os lábios, tentando não sorrir.
— Estou feliz por não ter sido você. Foi decepcionante.
— Ele beija mal? — perguntou Taylor, se divertindo.
— Não. Só que não tinha... nada — apontei para o espaço entre nós — ali.
— Humm. Agora eu fiquei curioso.
— Não vou beijar dois irmãos na mesma noite.
Taylor olhou para o relógio no pulso.
— Faltam quatro minutos para amanhã.
— Não.
Fui até a esquina e apertei o botão do cruzamento. Taylor me seguiu, calado, até chegarmos à porta da frente do Bucksaw.
Ele deu uma risadinha quando virei a chave na fechadura.
— Vamos lá. Você não está nem um pouco curiosa? — ele perguntou.
— Não.
— Eu estou — ele disse, me seguindo até lá dentro.
Balancei a cabeça.
— Eu não existo para satisfazer sua necessidade de competição com seu irmão gêmeo.
— Não é isso.
— Isso não é ciúme? — perguntei, virando para encará-lo. — Não te incomoda o fato de você voltar para o Cowboys sabendo que ele me beijou e você ficou no vácuo? Não quero que você me beije para satisfazer seu ego nem para se vingar.
— Só para te levar até Eakins, certo? — Assim que as palavras saíram de sua boca, ele se arrependeu. Taylor estendeu a mão para mim. Ele envolveu o meu ombro e afastou a franja do meu rosto. — Sou um lixo do caralho. Desculpa. Só estou puto da vida.
— Eu sabia que teria condições. Não quero ninguém me prendendo. Eu deixei os meus pais, Taylor. E posso deixar você também.
Suas sobrancelhas se uniram.
— Você acha que eu não sei?
Suspirei.
— Quero ir até Eakins e não quero que algo como um ciúme idiota fique no meu caminho.
Ele deu um passo para trás, e sua expressão mudou. Mal conseguindo conter a raiva, ele manteve a voz baixa e controlada ao dizer:
— Não estou com ciúme. Eu simplesmente odeio o fato de que a boca dele esteve na sua, porra. Nunca senti tanto ódio de um dos meus irmãos, nunca, até hoje. Estou tentando disfarçar, mas o que quer que seja isso... não é insignificante, Falyn.
Mudei o peso do corpo de lado.
— Foi só um beijo idiota, Taylor. Fui simpática demais porque achei que ele fosse você, e isso provocou o interesse dele.
Taylor desviou o olhar, um músculo do maxilar saltando.
— Eu sei que não foi de propósito, mas isso não melhora as coisas. — Ele suspirou e esfregou a nuca. — Eu vou... eu vou embora. Você faz com que eu me sinta... diferente do que eu sou.
— Tá bom. Boa noite, então.
Minha atitude casual só deixou Taylor ainda mais agitado, e ele se aproximou de mim, parando a poucos passos.
— Eu sei o que eu falei antes, mas eu gosto de você.
— Por favor, Taylor. Você mal me conhece.
Ele fez que sim com a cabeça.
— Não por falta de tentativa. — Ele recuou e saiu porta afora.
A virada na conversa me surpreendeu. Em um esforço para não estragar tudo, eu tinha estragado tudo. Meus pés se arrastaram até os fundos, até eu ouvir uma voz baixa no escuro.
— Ei — disse Chuck do último banco do bar, e tomou um gole de uma lata de cerveja.
— Meu Deus! — soltei um grito agudo. — Essa é a segunda vez que alguém quase me mata de susto hoje!
— Desculpa — ele disse simplesmente.
— Você está bem? — perguntei.
— Ãhã. Só tive que esperar um caminhão de entrega até tarde. Finalmente guardei tudo. Você sabe como a Phaedra é em relação à arrumação.
— Onde ela está? — perguntei, sabendo que ela normalmente estaria na cafeteria para ajudar se um caminhão viesse depois do horário.
— Ela não está se sentindo bem. Acho que ainda está abalada pelo velho Don. O obituário dele saiu nos jornais, hoje. O funeral é na segunda. Você devia ir.
— Vocês vão?
Ele balançou a cabeça.
— Eu não, mas a Phaedra queria que você fosse com ela.
Afastei a franja dos olhos.
— Tá. Tá bom, eu vou.
— Ela está meio preocupada com você.
— Comigo?
— É, com você. E, agora, eu também estou. Aquele garoto está machucado por sua causa ou por outra coisa?
Suspirei e sentei no banco ao lado de Chuck. A escuridão e o vazio pareciam amplificar nossas vozes.
— Ele brigou com o irmão. Eles são gêmeos. O irmão dele me beijou. Pensei que fosse o Taylor. O Taylor deu um soco nele, ele reagiu... Foi uma confusão.
— Imagino.
— Ele vai me levar para casa com ele em algum momento. Para Eakins. Eu acho.
Chuck esmagou a lata vazia nas mãos.
— Ele sabe?
— Não — respondi simplesmente. Quando Chuck fez uma careta, levantei as mãos, mostrando as palmas. — Ele não quer saber.
— E você não contaria, se ele quisesse.
— Provavelmente não.
— Falyn...
— Eu sei. Eu sei. Ele vai descobrir em algum momento.
— Não era isso que eu ia dizer. Se é isso que você realmente quer, a Phaedra e eu queremos ajudar.
Balancei a cabeça e me levantei.
— Não.
— Falyn — implorou Chuck.
— Já conversamos sobre isso. Vocês já fizeram muita coisa. Vocês me deram um emprego e um lugar para morar.
— Você mal nos deixou fazer isso — disse ele, arqueando uma sobrancelha.
— Obrigada por nem considerar essa ideia. Mas Taylor é o meu plano.
— Ele parece um bom garoto.
Fiz que sim com a cabeça.
— E você é uma boa garota. Acho que ele merece saber onde está se metendo... e você também sabe disso. Tenho certeza de que é difícil, já que você passou tanto tempo sem falar no assunto. Mas isso não muda as coisas. Se ele vai te levar até lá, provavelmente devia saber, para te apoiar.
Pensei nisso por um instante.
— Você está preocupado com o fato de ele não saber... não por ele, mas por mim.
— Vai ser uma viagem difícil, meu bem.
— Entendo o que você está dizendo — falei. — Vou dormir e pensar no assunto.
Chuck comprimiu os lábios.
— Boa ideia.
— Boa noite. — Eu me arrastei escada acima. Minhas pernas pareciam macarrão cozido, reclamando todas as vezes que eu tentava movê-las.

Eu me perguntei se Taylor estava tão dolorido quanto eu. O dia seguinte seria ainda pior. Por vários motivos.

Comentários

  1. Até estava engraçado, toda aquela loucura, ela beijou o Tyler, mas agora no final ficou meio tenso

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  2. Mais segredos 😐 meu Deus... que aflição 😑

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  3. ela tem um passado...será que a Olive é filha biológica dela?

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Nada de spoilers! :)

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