Capítulo 13
Uma ressaca terrível, o funeral
de Don e a contagem regressiva para Eakins fizeram com que a semana fosse uma
das piores da minha vida nos últimos tempos. As mensagens intermitentes de
Taylor sempre eram uma distração prazerosa e me ajudaram a passar o tempo até a
noite antes do nosso voo, mas o período entre uma noite e outra era uma agonia.
Ele nem mencionara minha conversa totalmente sem noção tarde da noite, algo que
apreciei.
Na noite anterior ao nosso voo
para Chicago, eu me vi cheia de uma energia nervosa. Taylor me pegaria às cinco
e meia da manhã para me levar ao aeroporto para o voo às oito horas.
Pela primeira vez em cinco anos,
desejei que meu armário tivesse uma variedade maior de roupas para eu escolher.
Dobrei minha calça jeans preferida e a coloquei sobre o resto das minhas
coisas. No primeiro ano da faculdade, até mesmo uma viagem de fim de semana
exigia pelo menos uma mala grande com rodinhas e uma bolsa de mão.
Agora minhas coisas mal enchiam a
bolsa de mão que peguei emprestada de Chuck. Em pé ao lado da bolsa, retorci as
mãos, me perguntando como eu conseguiria dormir. Já eram onze da noite. Se eu
não fosse dormir imediatamente, era melhor ficar acordada.
Franzi o cenho. A exaustão não se
encaixava na minha fantasia de como seria o fim de semana.
Alguém bateu à porta, e eu dei um
pulo.
— Sou eu — disse uma voz profunda
no corredor.
Corri até a porta e a abri com um
puxão.
Taylor estava ali com um amplo
sorriso no rosto e uma mochila cheia nos ombros.
— Achei que eu podia dormir aqui.
Pode ser?
Joguei os braços ao redor dele. O
tempo voltou até o último momento em que estivemos juntos, quase onde estávamos
agora. Ficar na ponta dos pés e apertá-lo com um pouco de força demais tornava
tudo mil vezes melhor. Era como se a última semana miserável não tivesse
acontecido.
Quando nos afastamos, ele me
analisou da cabeça aos pés.
— Eu não imaginei você vestindo
isso.
Olhei para a camiseta de alça
branca transparente, com comprimento que mal dava para cobrir minha calcinha
azul-marinho. Eu a puxei para baixo.
— Eu estava me preparando para
dormir.
— Ótimo. Estou morto — disse ele,
jogando a mochila no chão e fechando a porta atrás de si.
— Não acredito que você vai fazer
isso por mim. Nem sei como eu vou conseguir fazer isso.
— Não vou perguntar, mas não
tenho ideia de como me preparar.
— Você não precisa fazer isso.
Ele inclinou a cabeça.
— O que quer que seja, Falyn,
quero estar com você.
— Você vai estar.
— Se você está dizendo — ele
comentou, parecendo frustrado.
Eu não podia culpá-lo por estar
triste. Ele estava me fazendo um favor gigantesco ao mesmo tempo em que
continuava sem saber exatamente o que era. Eu não falava sobre isso em voz alta
havia mais de cinco anos e, estando tão perto, tive medo de que, se eu falasse,
pudesse dar azar.
Nós dois olhamos ao redor, e um
constrangimento súbito invadiu o ambiente.
— Você... quer lençóis para o
sofá? — perguntei.
— Posso escolher? Então você fica
com o sofá.
Dei um soco no braço dele e
desviei, nervosa.
— Tem aquele, humm... — apontei,
o dedo fazendo pequenos círculos — aquele negócio com o eixo quebrado. É
horrível dormir nele.
Ele ergueu uma sobrancelha, e
três rugas se aprofundaram na sua testa.
— Eu lembro. Então acho que isso
significa que vamos ter uma festa do pijama. — E começou a andar na direção do
meu quarto.
— Taylor?
— Sério, Ivy League, simplesmente
me diz para onde ir. Estou cansado pra caralho, e teremos um dia longo amanhã.
Estendi as mãos e as deixei cair
nas coxas outra vez.
— Tá bom, então. A cama. Mas não
é um convite para mais nada.
Passei por ele, apaguei a luz e
puxei as cobertas. Subi na cama, observando seu porte atlético ocupar todo o
batente da porta. Ele me olhou enquanto eu me ajeitava no colchão, depois
atravessou o quarto, parando ao lado da cama enquanto tirava o tênis e puxava a
camiseta pela cabeça. Seus músculos se esticaram e ficaram tensos enquanto ele abria
o cinto de couro marrom e desabotoava a calça jeans. Depois ele a desceu e a
largou no chão.
Por mais que eu tentasse parecer
desinteressada, Taylor sabia exatamente que seu corpo era uma obra de arte.
Afinal, ele passava horas na academia toda semana para deixá-lo perfeito. Mesmo
assim, eu não lhe daria o prazer de me ver o encarando. A expressão do meu
rosto, minha respiração e cada movimento meu estavam só na minha cabeça. Eu
estava com medo do desejo crescente que eu sentia pelo homem quase nu que
estava diante de mim.
As tatuagens nos braços se
estendiam pelas inclinações rígidas dos seus músculos peitorais, exibindo uma
arte tribal preta, chamas e uma caveira, tudo incrivelmente detalhado com um
belo sombreamento.
Não que eu estivesse olhando.
Para de encarar, Falyn.
Usando apenas a boxer cinza,
Taylor subiu na cama ao meu lado. Virei de costas para ele, sentindo meu rosto
ficar vermelho. Sem pedir licença, ele me embalou em seus braços e me puxou
mais para perto, minhas costas se aquecendo instantaneamente contra sua pele.
— Eu queria ter ido com você ao
funeral do Don. Sei que foi horrível.
— Foi péssimo — sussurrei. — Eu
não chorava tanto há muito tempo. Não consigo imaginar como a família dele deve
ter se sentido.
— Você também era da família.
Você era o ponto alto do dia dele. E parece ser isso para muitas pessoas.
— Ainda bem que você não foi.
Usei pelo menos uma caixa de lenços. Foi muito triste.
Ele me abraçou ainda mais.
— Com o tempo fica mais fácil,
mas nunca desaparece. Isso muda você para sempre.
— Você já perdeu alguém? —
perguntei.
— Vamos dormir. Não quero falar
nisso hoje à noite. — Ele afrouxou o abraço, dobrou o braço sob a cabeça para
se apoiar melhor e manteve o outro ao redor da minha cintura.
Apoiei meu braço no dele,
entrelaçando nossos dedos. Ele apertou e depois respirou fundo.
— Falyn? — sussurrou.
— Sim?
— Sei que esse fim de semana é
importante para você. Mas, quando a gente voltar, quero que você saiba que não
quero mais ser seu amigo.
Meus músculos ficaram tensos.
— Tipo, você nunca mais vai querer
me ver? Ou você vai querer ser mais que um amigo?
— Considerando que eu quase
enlouqueci por ficar longe de você por menos de uma semana... acho que você
sabe o que eu quero dizer.
Um alívio me invadiu. Durante o
minúsculo instante em que perdê-lo era uma possibilidade, meu mundo havia
parado pela segunda vez na vida. Eu tinha pensado muito bem para me impedir de
sentir isso, mas lá estava eu, novamente vulnerável.
— Sério?
— Foi ridículo.
— Isso é uma condição?
— Não. É uma não promessa. — Ele
se levantou um pouco, beijou meu ombro nu e depois deitou de novo, se
derretendo no colchão.
Eu nunca tinha dormido na mesma
cama com alguém, nem com os meus pais, quando era criança. De alguma forma,
deitar ao lado de Taylor era a coisa mais normal do mundo, como se sempre
tivesse sido assim e sempre fosse ser.
— Boa noite — sussurrei.
Mas ele já estava dormindo.
— Pode deixar — disse Taylor,
colocando minha bolsa de mão na esteira de bagagem.
Ele tinha dormido demais, e nós
estávamos um pouco atrasados, tentando passar pela segurança antes de liberarem
o embarque do nosso voo.
Pulei num pé só para calçar uma
sandália e larguei o outro par no chão, deslizando a tira entre o primeiro e o
segundo dedo do pé e depois puxando a parte de trás até o calcanhar. Sapatos e
roupas baratos eram sempre incrivelmente gastos. Não era a primeira vez que eu
gostava de não ter de usar o fecho da sandália Steve Madden de três coleções
atrás e meio tamanho maior que o meu.
Apesar de Taylor estar apressado
para chegar ao portão, ele me observou com um sorriso paciente no rosto.
— Pronta? — ele perguntou,
estendendo a mão.
Eu a peguei.
— Sim e não e sim. Para de me
perguntar isso. Estou tentando ficar calma.
— Você nunca andou de avião? —
ele perguntou enquanto caminhávamos.
Lancei um olhar para ele.
— Eu já voei pelo mundo inteiro.
Meus pais adoravam viajar.
— Ah, é? Tipo para onde?
— Não para Eakins.
Ele deu um sorriso forçado.
— Estou tentando respeitar sua
individualidade, mas estou ficando cada vez mais nervoso por entrar nisso sem
saber de absolutamente nada.
— Para alguém tão nervoso, você
dormiu bem rápido.
Ele apertou a minha mão.
— Você é aconchegante.
— Dormir com você não foi tão
ruim quanto pensei que seria.
Ele fez uma careta.
— Não posso dizer que já ouvi
isso de uma mulher.
Olhei para as quatro telas
grandes penduradas no teto. Os voos estavam listados por cidade, em ordem
alfabética, com o número do portão correspondente.
Apontei para a primeira tela.
— Portão seis. Já estão
embarcando.
— Merda! Vamos!
Taylor e eu corremos. Estávamos
ofegantes quando chegamos ao portão. Ainda havia uma fila longa, mas estávamos
tão felizes de termos conseguido que nem nos importamos.
— Droga — disse Taylor. — Ainda
bem que esse aeroporto é pequeno. Se estivéssemos em Denver, estaríamos
ferrados.
Passamos pela escada de embarque
e chegamos à fileira vinte. Taylor colocou nossas bolsas no compartimento
superior e desabou ao meu lado.
— Que inferno, Ivy League — ele
exclamou. — Você me estressa.
— Quem de nós dormiu demais?
— Acho que fui eu.
— Então está explicado. — Deixei
a cabeça relaxar e fechei os olhos.
Uma mão quente deslizou sob a
minha, e nossos dedos se entrelaçaram.
— Falyn? — Taylor sussurrou.
— Ainda não — falei, olhando para
ele.
Ele também estava com a cabeça
apoiada e o rosto virado para mim.
— Você teve outro pesadelo ontem
à noite.
— É? Foi por isso que você dormiu
demais?
— O que aconteceu com você... foi
ruim?
— Foi.
Ele fez uma careta.
— Voltar lá vai te fazer sofrer?
— Vai.
Ele soltou uma lufada de ar e
olhou para frente.
— Então por que estamos indo?
— Porque precisa doer antes de
melhorar.
Ele olhou de novo para mim, seus
olhos caindo nos meus lábios.
— Não quero que você sofra.
— Eu sei — falei, apertando sua
mão. — Mas você vai estar comigo, certo?
— Pelo tempo que você me
permitir.
Ele deixou a cabeça cair de novo
no assento. Taylor estava inquieto.
— Falei com o Tyler. Ele disse
que o seu beijo é incrível.
— Ah, é? — Um sorriso convencido
curvou meus lábios. — Como foi que isso acabou?
— Dei outro soco nele.
— Vocês são capazes de discutir
sem se bater?
— Na verdade, não. Eu... — Ele
olhou de novo para a minha boca. — Não sei por que não paro de pensar em você.
Desde o instante em que levantei o olhar do meu cardápio no Bucksaw, tudo tem
sido diferente.
— Já percebi que os irmãos Maddox
simplesmente não costumam ouvir não. Vocês adoram um desafio. Até o Tyler
admitiu isso.
Ele balançou a cabeça.
— Não, é mais do que isso. Vi
alguma coisa nos seus olhos, alguma coisa familiar.
— Perda — falei simplesmente.
Taylor piscou, e eu desviei o
olhar, fingindo prestar atenção às instruções de segurança dos comissários de
bordo.
Ele balançou a cabeça, confuso.
— Por que você está falando isso?
— Você vai ver.
Ele suspirou.
— Acho que não posso esperar que
você me conte as suas merdas se eu não te contei as minhas.
O capitão falou no sistema de
alto-falantes e instruiu os comissários de bordo a se prepararem para a
decolagem. Taylor prendeu o cinto de segurança e apertou a minha mão.
— Você não precisa me contar —
falei.
— Eu sei — ele respondeu. — Mas
quero que confie em mim. Então vou confiar em você.
Engoli o pânico que ameaçava me
estrangular. Não tinha como saber o que ele estava prestes a dizer.
— Meu irmão caçula, o Travis,
está numa grande merda — ele sussurrou apenas o suficiente para ser ouvido,
acima do barulho do avião. — Ele se envolveu num incêndio alguns meses atrás.
O avião se agitou para frente, e
a fuselagem toda tremeu até as rodas da frente saírem do chão. As asas se
mexeram, e viramos à direita, o sol da manhã ofuscante, brilhando pela nossa
janela. Taylor fechou a persiana e olhou para mim em busca de uma reação.
— Ele também é do Serviço Florestal?
— perguntei.
Taylor balançou a cabeça.
— Ele é universitário. Meus
irmãos e eu costumávamos brigar o tempo todo... com os vizinhos e, depois, com
os universitários que iam às nossas festas e começavam brigas.
Uma noite, o Tyler deu uma surra
num calouro, Adam, numa festa da fraternidade, e o Adam se aproximou dele
depois, falando sobre apostas. A partir de então, eles inauguraram uns ringues
de luta clandestina na Eastern.
— Isso não é proibido?
Taylor soltou uma risada, se
divertindo.
— É, muito. Mas o Adam organizava
bem as lutas. Ninguém sabia delas até uma hora antes, às vezes menos. Ganhamos
muito dinheiro e nunca fomos pegos. Nosso irmão mais novo, o Trent, lutou
algumas vezes também, quando era calouro, mas nosso irmão caçula, o Travis, era
a estrela. Ele era invencível. Nunca perdia uma luta.
— Ele parece muito legal.
Taylor ergueu o queixo, com uma
expressão de orgulho.
— Ele é durão.
— Ele está bem? — perguntei.
Seu sorriso convencido
desapareceu.
— As lutas eram realizadas no
porão dos prédios do campus, onde um monte de jovens se espremia no subsolo. O
Adam organizou uma luta, no feriado de primavera. Era a última do ano. O Travis
ia ganhar uma tonelada de dinheiro. Então, aconteceu alguma coisa e começou um
incêndio. Muitos jovens não conseguiram sair. O Adam foi preso, e acho que o
Travis está sendo investigado.
— Por quê? — perguntei, sem
entender.
— Tenho motivos para acreditar
que eles mandaram alguém para cá para conseguir informações comigo, mas não
posso afirmar... pelo menos, por enquanto. Sei que eles pensam que o Travis
teve alguma coisa a ver com isso.
— Quem são eles? — perguntei.
Ele encarou o chão.
— Não tenho certeza. A polícia.
Talvez o FBI.
— E é verdade? — perguntei. — Ele
teve alguma coisa a ver?
Ele se agitou, nervoso.
— Ele ia se casar naquela noite.
Em Vegas.
— Então é por isso que vai ter
outro casamento? Porque eles fugiram para se casar?
Taylor assentiu, me observando
por um instante.
— E se eu pedisse para você ir
comigo? Para renovar os votos deles?
Eu o encarei, desconfiada.
— Eu diria que você está tentando
mudar de assunto. Só porque eu não espero que você cumpra as suas promessas,
não significa que você pode mentir para mim.
Ele me encarou de volta.
— Eu estou. Mentindo para você. E
vou mentir para qualquer pessoa que fizer perguntas.
— Você pode ir para a cadeia.
— Posso ir para a prisão.
Pressionei os lábios e então
expirei, deixando o ar encher minhas bochechas antes de escapar.
— Você está me testando. Você
ainda pensa que sou uma espiã ou alguma coisa assim.
— Eu iria para a prisão pelo
Travis. Só quero que você saiba que, se chegar a esse ponto, todos nós vamos
junto com o Travis, até a esposa dele.
— Eu acredito em você. Mas estou
do seu lado.
Os olhos de Taylor desceram para
os meus lábios, e ele se aproximou.
Fechei os olhos, sentindo o calor
de seu hálito em meu rosto. Eu só queria que ele me envolvesse como um lençol,
para senti-lo em cada pedacinho do meu corpo.
— Talvez a gente devesse esperar
— sussurrei em sua boca. — Estamos tão perto...
— Exatamente — ele concordou,
antes de pressionar os lábios nos meus.
Meus lábios se abriram de leve,
permitindo que sua língua deslizasse para dentro.
Todos os nervos fritaram sob a minha
pele. Implorando para ser tocado, meu corpo reagiu exatamente ao contrário de
quando Tyler me beijou e eu não senti nada. Não houve decepção nem desencanto.
Os lábios macios de Taylor e o modo como ele me puxava para junto de si, como
se não aguentasse ficar a um centímetro de mim nem mais um minuto, me fizeram
sentir tudo ao mesmo tempo, e eu queria mais.
Houve um ruído no sistema de
alto-falantes, e fui trazida de volta à realidade. Taylor se afastou,
respirando com dificuldade.
— Desculpa — ele disse, olhando
para as pessoas em volta.
Os dois homens do outro lado do
corredor nos encaravam sem o menor constrangimento.
Afundei no assento.
— Você sentiu isso, certo? —
disse Taylor, mantendo a voz baixa.
Olhei para ele.
— Promete que nunca mais vai
fazer isso.
Um sorriso forçado se espalhou
pelo seu rosto.
— Você tem a minha palavra.
— Eu iria para a prisão pelo Travis. Só quero que você saiba que, se chegar a esse ponto, todos nós vamos junto com o Travis, até a esposa dele.
ResponderExcluirOs irmãos Maddox são muito unidos, eu acho linda essa ligação entres eles.
Que fofos 😍😍
ResponderExcluirAmo esses irmãos ❤❤