Capítulo 17

Taylor saltou da cama pouco antes de o sol nascer, tateando pelo meu quarto e xingando no escuro enquanto tentava achar suas roupas. Rolei de lado e me apoiei no cotovelo enquanto tentava reprimir uma risada.
— Não é engraçado, baby — ele disse, pulando enquanto vestia a calça jeans. — Vou pegar o trânsito de Denver se não sair daqui a dois minutos, e isso vai me atrasar para o trabalho!
— Talvez você não devesse ter vindo de surpresa na noite anterior ao seu turno, então.
Ele pulou na cama, e eu soltei um gritinho. Em seguida plantou um beijo em meus lábios.
— Não finge que você não achou o máximo, porra.
— Achei mesmo. — E me ergui para beijá-lo mais uma vez. — Obrigada de novo pelo jantar... e pelo filme... e por tudo o que veio depois.
Hesitante e um pouco contrariado, ele se forçou a sair da cama e se afastou de mim para terminar de se vestir. Calçou as botas e pegou o celular e as chaves.
— Me liga quando acordar.
— Já estou meio acordada.
Ele ficou surpreso, mas mal pude perceber, por causa da fraca luz que entrava no meu quarto, vinda do poste do lado de fora da janela.
— Desculpa.
— Tudo bem. Vai — falei, olhando para fora. — Está nevando. Toma cuidado.
Ele fez uma careta.
— Vou arrasar com essa neve. — Ele se abaixou para me beijar de novo, mas acabou me dando mais três beijos. E balançou a cabeça. — Merda! Vou sentir saudade de você.
Estou cansado de sentir saudade de você.
— Vai para o trabalho — falei, tocando seu rosto.
— Estou indo. Me liga mais tarde! — Ele saiu correndo porta afora, as botas pesadas batendo com força em cada degrau na descida.
Deitei de costas, soltando um suspiro frustrado. Eu também estava cansada de sentir saudade dele, mas tínhamos acabado de voltar do Natal em Eakins e comemorado o Ano-Novo e o aniversário de Taylor e Tyler juntos na estação do corpo de bombeiros deles, em Estes Park. Faltavam apenas sete semanas para a renovação dos votos de Travis e Abby em St. Thomas, e então Taylor estaria de volta a Colorado Springs. Assim eu esperava. Não que eu desejasse incêndios florestais, mas essa era a única coisa que traria Taylor para a cidade.
Relaxei na cama e joguei no celular por meia hora, depois decidi tomar banho, me vestir para o trabalho e descer. Pete estava pegando os ingredientes para a preparação dos pratos, e eu sentei no balcão mais distante, observando-o trabalhar.
— Bom dia — falei, deixando minhas pernas balançarem.
Pete abaixou a cabeça.
— Ele passou a noite aqui de novo. Acho... acho que eu o amo... tipo amo de verdade — falei, meus olhos se arregalando para enfatizar. — Achei que eu o amava antes, mas talvez tenha sido só paixão. A cada semana que passa, eu penso: É. Eu o amo ainda mais. Talvez não o amasse antes. Talvez isso seja amor.
Pete deu de ombros.
— Você tem alguém para sair no Dia dos Namorados? — Ele franziu a testa e balançou a cabeça. — Pois devia. Você é um cara legal.
Ele piscou para mim e continuou com seus afazeres.
— Bom dia! — disse Chuck, empurrando as portas duplas. — Não te vejo aqui tão cedo faz algum tempo, Falyn.
Dei de ombros.
— Não consegui dormir de novo depois que o Taylor saiu.
Phaedra tirou do ombro a pequena mochila de couro que usava como bolsa e a colocou num armário mais baixo. Em seguida, afastou o rabo de cavalo crespo do ombro.
— Como foi o jantar?
Saltei do balcão.
— Maravilhoso, como sempre.
— Você vai nos deixar e viver em Estes Park?
Dei de ombros.
— Ele já tocou nesse assunto. Eu disse não.
— Não? — Phaedra olhou para o marido.
Chuck amarrou o avental nas costas.
— Ele podia se inscrever em uma estação daqui. Se eles tiverem vaga, ele pode ser contratado.
— Mas eles não têm — falei. — Ele já fez o pedido algumas semanas atrás.
— Bom, ele devia se inscrever mesmo assim — Phaedra disse, com sua voz grave.
— Pode ser.
— Pode ser? Então ele pode ser o cara, né? — Chuck perguntou.
Três pares de olhos me encararam.
Revirei os olhos.
— Ainda é cedo demais no horário e no relacionamento para ficar falando essas bobagens. — Peguei uma bandeja e empurrei as portas duplas. Eu a enchi de saleiros e pimenteiros e levei para os fundos para completá-los.
Phaedra fez vários bules de café, ligou a caixa registradora e contou o dinheiro na gaveta. Ela me observou voltando com os saleiros e pimenteiros cheios para as mesas. Hector chegou quando o sol já estava acabando com todas as sombras na Tejon Street, e ele e Chuck começaram a fazer piadas nos fundos, tão bobas que até Pete estava rindo alto. Quando Kirby chegou, eu já tinha preparado tudo. Todos os funcionários do Bucksaw Café estavam oficialmente de bom humor.
O sol da manhã se refletia na neve branca empilhada em cada lado da calçada, reluzindo desconfortavelmente até entre os painéis que Phaedra instalara para diminuir o reflexo. Apesar da luz intensa que entrava, uma sensação de paz parecia ter se instalado em todos no prédio; ou talvez ela sempre tenha estado ali e eu finalmente me sentia livre o suficiente para senti-la.
— Eu gosto quando o Taylor dorme aqui — disse Kirby, amarrando o avental. — Facilita muito a minha vida.
— Como o Gunnar está? — perguntei.
— Estressado. Ele pegou horas demais este semestre e ainda está dirigindo até Boulder, trabalhando na casa da irmandade, que, tenho que admitir, é um bom trabalho para ele. O chefe respeita o horário dele na faculdade, e as garotas o tratam como um irmão mais novo. Pelo menos, é o que ele diz.
Pouco antes de Phaedra virar a placa para avisar que estávamos abertos, meu celular zumbiu.
Consegui. A tempo. Te amo.
Soltei um suspiro de alívio.
— Ele conseguiu chegar.
— Ah, que bom — disse Kirby. — Não é fácil dirigir na neve.
— Esse comentário não ajuda.
— Desculpa — disse ela. Em seguida cumprimentou os primeiros clientes do dia e arrumou lugares para eles.
Respondi à mensagem de Taylor e guardei o celular no avental antes de ir até uma mesa levando copos d’água. Alguns turistas — um senhor mais velho e sua esposa de cabelos brancos — sentaram na mesa preferida de Don. Chuck mandara fazer uma pequena placa, e Phaedra substituiu a placa de carro enferrujada do Alasca que ficava pendurada onde Don costumava sentar. Olhei para as palavras gravadas na placa dourada.
Esta mesa é dedicada à memória de Donald McGensey
O cavalheiro tirou o chapéu e apoiou a bengala na parede.
— Meu nome é Falyn, e sou sua garçonete hoje. Posso trazer uma xícara de café para começar?
— Sim — ele respondeu, abrindo o cardápio que Kirby colocara diante dele. — Com leite, por favor.
— O mesmo para mim — pediu a esposa.
— Pode deixar. — Voltei para o balcão, servindo xícaras de café fresco para os dois.
Kirby saiu da recepção e contornou o bar, vindo até onde eu estava.
— Você está com uma cara...
— Que cara?
— Feliz. Mais do que feliz. As coisas parecem estar indo bem com o Taylor.
— Sim.
— Tenho que dizer que estou meio surpresa por você ter dado uma chance para ele. Você nunca foi simpática com nenhum bombeiro desde que te conheço.
— Ele é diferente.
— Deve ser mesmo, porque essas são as famosas últimas palavras de todas as garotas que são deixadas para trás por aqui. Além do mais, eu nunca pensei que fosse te ouvir falando isso.
— Não tem graça — falei.
— Deixa ela em paz — advertiu Phaedra, dispensando Kirby.
Kirby pediu uma trégua piscando e voltando para o seu posto.
— Ela só está te provocando — disse Phaedra. — Todos nós sabemos que o Taylor é dos bons.
Coloquei as xícaras e o bule prateado de café com leite numa bandeja.
— É, sim.
O dia passou rápido e devagar ao mesmo tempo, parecendo se arrastar no início e depois as horas voando perto da hora de fechar. Agora que eu vivia pensando nos fins de semana, o tempo, de modo geral, passava ou muito rápido ou muito devagar. Parecia correr quando Taylor e eu estávamos juntos, e, quando não estávamos, parecia que nem existia.

O Dia dos Namorados chegou e logo passou. Taylor e eu estávamos trabalhando naquela noite, então ele ficou em Estes Park, mas mais do que compensamos isso no fim de semana.
Eu começava minhas manhãs e terminava minhas noites no telefone com Taylor. Quando eu tinha sorte, ele ficava impaciente e dirigia até aqui para me ver, só para voltar bem cedo na manhã seguinte. Nas raras ocasiões em que nós dois tínhamos o fim de semana livre, Taylor vinha até Springs no sábado de manhã e ficava até pouco antes do amanhecer na segunda-feira.
Eu estava ansiosa para passar o fim de semana todo com ele em St. Thomas.
— O segundo casamento na ilha é no próximo domingo, certo? O Taylor vai estar aqui sexta à noite? — Phaedra perguntou.
Limpei a última mesa.
— Ele vai para Eakins na quinta. Tem uma despedida de solteiro na sexta à noite, e eu vou direto para Saint Thomas no sábado — falei.
Uma batida firme veio da porta. Olhei e vi Gunnar parado lá fora, apontando para Taylor ao seu lado. Kirby deixou os dois entrarem, e larguei o que estava fazendo antes de me jogar em cima de Taylor.
Taylor pressionou os lábios nos meus.
— Oi, linda! — disse ele, me colocando no chão.
Eu o beijei de novo. Meu coração martelava no peito, como se eu tivesse acabado de correr uma maratona. Não importava quantas noites eu o via de pé do outro lado do vidro, eu me sentia do mesmo jeito em todas elas.
Chuck atravessou as portas duplas, pousando a mão na barriga redonda.
— A que horas você saiu de Estes Park?
— Pontualmente — respondeu Taylor.
Chuck riu.
— Você deve dirigir feito um maluco. Precisa parar com isso, garoto, ou vai acabar se jogando de um penhasco.
Fiz uma careta.
Taylor se abaixou para me beijar.
— Dirigi meio rápido, mas tomei cuidado. Eu estava com pressa para chegar.
— Está nevando — falei. — Não dá para dirigir rápido e com cuidado quando está nevando.
Ele se empertigou.
— É claro que dá.
Gunnar e Taylor sentaram um em cada banco do balcão, conversando e fazendo piadas com Chuck e Hector. Kirby e eu terminamos nossas tarefas.
— Vocês vão subir? — perguntei, secando as mãos em um pano limpo.
Kirby e Gunnar se entreolharam.
Gunnar assentiu.
— Claro. Tenho só um trabalho da faculdade para fazer no fim de semana, mas ele pode esperar.
Nós nos despedimos de todos, e Kirby e Gunnar nos seguiram até o andar de cima.
— A parte boa de ter uma namorada que não bebe? — Taylor disse, abaixado na cozinha e vasculhando a geladeira. Ele girou com uma cerveja na mão. Ele abriu a garrafa sorrindo e jogou a tampa na lata de lixo. — Sei que ela não vai beber meu estoque quando eu não estiver aqui. — Então foi até o sofá, me fazendo quicar de leve quando se jogou na almofada ao meu lado.
Eu me apoiei na sua lateral, deixando aquela sensação maravilhosa que preenchia o loft quando Taylor estava aqui me envolver feito um cobertor.
Ele esticou o braço sobre as costas do sofá, tocando no meu ombro com os dedos, depois estendeu a garrafa para Gunnar.
— Tem mais algumas na geladeira.
Gunnar o observou tomar um longo gole e depois balançou a cabeça.
— Vou precisar de todos os meus sentidos para escrever esse trabalho.
Kirby deu um tapinha no joelho dele.
— Não sinto falta da faculdade — disse Taylor. — Nem um pouco.
— Eu gosto da faculdade — disse Gunnar, apontando para Kirby. — Não gosto é de ficar longe dela.
Kirby agarrou o braço dele.
— Continue arrasando, e estaremos em Denver em pouco tempo.
As sobrancelhas de Taylor saltaram.
— Vocês vão se mudar juntos para lá?
Gunnar pareceu ao mesmo tempo orgulhoso e animado.
— Só preciso economizar um pouco de dinheiro e encontrar um lugar depois de me transferir.
— Gunnar vai se inscrever no programa de médico assistente — falei.
— Ah, é? Isso é foda, cara. Que bom. — Taylor levantou a cerveja de novo, dessa vez para brindar. Depois olhou para mim. — O que Phaedra e Chuck vão fazer quando perderem vocês duas?
Kirby e eu nos entreolhamos.
— O que foi? — perguntou Taylor.
— Você teve sucesso se inscrevendo para cá? — perguntou Kirby.
— Não — respondeu Taylor. — Mas estou firme na estação de Estes.
— Mas você não mora com o seu irmão? — ela perguntou.
Taylor apoiou a cerveja sobre um porta-copos, apesar de a mesa de centro já estar bastante arranhada e coberta de marcas circulares.
— Tá bom. Vocês duas andaram conversando. Vamos ouvir.
Eu me contorci.
— É só que... parece errado deixar a Phaedra na mão de repente, depois de tudo o que ela fez por mim. E não tenho certeza se eu ia gostar de morar com o seu irmão. Não quero pedir para ele sair, e temos um lugar perfeitamente bom aqui. Posso economizar se ficar.
— Isso não é verdade. Já falei que o aluguel é por minha conta.
— E eu falei que é meio a meio ou nada.
— Estou aqui durante uns cinco meses por ano — disse ele.
— Até você ser contratado para trabalhar aqui.
— Eles não estão contratando, baby. Eu já perguntei isso, várias vezes.
— Ainda não — falei, apontando para ele.
Ele olhou para Kirby e depois para mim de novo.
— Então, o que você propõe? Que eu continue indo e vindo até ser contratado para trabalhar aqui? Ou que eu me mude para cá sem emprego?
Eu me encolhi. Eu sabia que sugerir uma das duas coisas seria um insulto.
— Se eu me mudar para Estes Park, você vai estar aqui em Springs ou em algum outro lugar durante metade do ano.
— Eu te falei. Tenho um cargo em tempo integral na estação de lá, se eu quiser.
— Não posso deixar a Phaedra e o Chuck, não agora. A Kirby vai embora daqui a pouco...
Taylor suspirou, com o olhar perdido.
— Não quero continuar assim. Eu odeio te ver só nos fins de semana.
— É melhor a gente ir embora? — Gunnar perguntou.
Nós dois o ignoramos.
— Então temos um impasse — falei.
— E que diabos significa isso? — Taylor estava mais frustrado do que com raiva.
Ele estava falando sobre morarmos juntos desde o Natal, e eu continuava dando desculpas, desde ser cedo demais até as despesas da mudança.
— Não tenho carro. Como é que vou trabalhar se eu me mudar para o seu apartamento?
Ele deu de ombros.
— A gente dá um jeito. Posso te levar. É uma viagem mais curta do que vir para cá todo fim de semana.
— Não precisamos decidir agora.
Taylor tomou um longo gole, secando a garrafa de cerveja, depois a levou até a cozinha. Ele a jogou no lixo antes de abrir a geladeira para pegar outra. Girou a tampa e a jogou no lixo também, depois voltou para mim, bufando de raiva.
— Taylor... — comecei.
— Não é você que tem que viajar, Falyn.
— Você está certo — falei. — É um argumento justo.
— A gente definitivamente precisar ir embora — disse Gunnar.
— Qual é a pressa? — perguntou Kirby.
As sobrancelhas de Gunnar se uniram.
— Quando você começa a concordar comigo do jeito que a Falyn acabou de fazer, a merda piora muito rapidamente.
Ela riu e o cutucou, e Taylor e eu não conseguimos evitar de sorrir. Ele me abraçou e beijou meu cabelo.
— Vou viajar pelo tempo que precisar. Só não gosto do intervalo entre uma viagem e outra — disse Taylor.
— Eu sei. Eu também não gosto. A parte boa é que, depois de St. Thomas, você vai voltar a trabalhar aqui em cinco semanas.
— Talvez. Mas não é certeza. Não tem como saber onde vou estar.
Inclinei a cabeça, impaciente com seu pessimismo.
— Você disse que a sua equipe esteve aqui nos últimos três verões.
— Tudo bem, mas e no ano em que eu não estiver? São seis meses em que vou ficar ainda mais longe de você.
— Se eu morar em Estes e você for chamado para outro lugar, vai ficar longe de mim do mesmo jeito! — falei.
— Não se estivermos em Estes! Eu aceito o emprego local!
Gunnar se levantou.
— Querido — disse Kirby, com a voz quase choramingando.
— Vou beber uma daquelas cervejas se a gente não for embora agora mesmo — disse ele, assomando-se sobre ela.
Ele estendeu a mão, e ela a pegou.
— Vamos fazer alguma coisa — disse ele.
— A gente podia ir ao bar de narguilé — disse ela, parada ao lado do namorado.
Taylor e eu nos entreolhamos, furiosos.
— É incrivelmente idiota nós dois brigarmos por causa dos nossos encontros enquanto estamos juntos — falei.
— Viu? É aí que somos diferentes. Não acho que seja nem um pouco idiota brigar por isso.
Suspirei. Ele não via a coisa como brigar por quem ia se mudar para onde e em quais circunstâncias. Ele achava que estava brigando para ficarmos juntos. Como eu podia argumentar com isso?
— Vamos — disse Kirby, me puxando para me levantar. — Acho que todos nós precisamos sair um pouco.
Descemos a escada e paramos ao lado da caminhonete de Taylor, observando a neve cair em flocos densos.
— A neve não é assim em Illinois. — Taylor estendeu a mão, deixando os pedacinhos brancos congelados se derreterem. Então esfregou as mãos, fechou o zíper do casaco e colocou um cigarro na boca.
— Eu queria ir ao Cowboys — disse Kirby, se juntando a Gunnar na caçamba da caminhonete de Taylor e balançando os pés para se aquecer.
— Você ainda não tem vinte e um, né? — Taylor deu uma tragada profunda e soprou uma baforada de fumaça branca e densa. — Talvez eu consiga te colocar para dentro.
Gunnar balançou a cabeça.
— Não posso.
Kirby deu um tapinha na cintura dele.
— Não vamos nos arriscar a sermos pegos, certo?
— Não — respondeu Gunnar, puxando-a para o seu lado.
Taylor deu de ombros e continuou a fumar. Quando terminou, tirou a brasa, esfregou a guimba no topo da caçamba da caminhonete e a guardou no bolso. Ele puxou o capuz de tricô para cobrir as orelhas, depois cruzou os braços, escondendo as mãos sob eles.
— Seu nariz está vermelho — falei, cutucando-o de brincadeira.
Ele só me deu um sorriso artificial e olhou para a Tejon Street.
Kirby e Gunnar estavam tendo uma conversa só deles na traseira, e Taylor estava perdido em pensamentos. Fiquei parada ao lado dele, me sentindo abandonada na minha própria festa.
— Você está incomumente pensativo — falei.
Taylor soltou uma risada.
— Você sabe que eu detesto essas palavras difíceis, Ivy League.
— Você não me chama assim há algum tempo — falei.
Seus lábios se pressionaram, formando uma linha rígida.
— Odeio sentir saudade de você. Odeio mais a cada dia.
— Eu também não gosto.
Ele se virou para mim.
— Então, vamos fazer alguma coisa. Vamos encontrar uma solução.
— Você quer dizer uma que implique eu me mudar para o seu apartamento.
Ele suspirou.
— Tá bom. A gente fala nisso durante a semana. Não quero brigar.
A conversa de Gunnar e Kirby parecia forçada, e eles faziam questão de não olhar na nossa direção, provavelmente num esforço para não escutar nada.
— Quem está brigando? — perguntei. — Só porque não estou cedendo ao que você quer...
Ele inclinou o pescoço para mim.
— Não é isso, e você sabe.
— Isso é muito importante, Taylor. A gente precisa pensar bastante.
— Ah. Então a questão é a parte de morarmos juntos. Você está surtando com isso.
— Não estou surtando. Mas, se eu estivesse, não seria uma emoção insensata.
— Não, você está certa. Só estou irritado por você falar em destino e tinha-que-serassim em Eakins, e agora agir como se estivéssemos indo rápido demais.
Arqueei uma sobrancelha.
— Você acabou de jogar isso na minha cara? — Eu o deixei sozinho e sentei ao lado de Kirby, na caçamba da caminhonete.
Taylor começou a falar, mas o som de passos esmagando a neve chamou sua atenção. Um pequeno grupo de adolescentes veio em nossa direção, esbarrando uns nos outros, nas construções, ou quase caindo no meio-fio.
— Ei — disse um dos caras, sorrindo —, vocês têm erva?
— Não — respondeu Gunnar antes de continuar a conversa com Kirby.
Taylor começou a responder à minha pergunta, mas o homem deu um soco na caminhonete.
— Ei! Estou falando com você! — o cara disse para Gunnar.
Gunnar e Taylor se entreolharam.
Em seguida, Taylor olhou furioso para o grupo todo.
— Não toca na porra da minha caminhonete, cara.
O garoto estufou o peito, tentando alguma forma de intimidação, mas ele estava tão mal que não conseguiu olhar diretamente para Taylor. Sua aparência não era totalmente deplorável. Sua nuca era larga, e os braços eram musculosos o suficiente para encher as mangas da camisa de flanela.
— Ele está chapado? — perguntou Kirby.
Gunnar balançou a cabeça.
— Ninguém procura briga quando está chapado. Ele só está bêbado.
Kirby não pareceu amedrontada enquanto observava o jovem oscilar, à espera do que ele diria a seguir.
— Vão embora — disse Taylor.
O garoto era alguns centímetros mais baixo que Taylor, mas não pareceu saber disso.
Ele olhou para Kirby e para mim.
— Estou pensando em invadir sua festinha.
Os caras atrás dele riram, dando tapas no ombro uns dos outros e tentando se manter de pé com a mesma dificuldade do amigo barbado.
Gunnar desceu da caçamba, assomando-se sobre todos eles. Os três garotos deram um passo para trás.
— Vocês têm um gigante — disse o primeiro, com o queixo levantado.
A postura de Taylor relaxou imediatamente, e ele riu.
— É. A gente tem, sim. Agora parem de encher o nosso saco e vão embora daqui.
Eles riram e começaram a se afastar, mas o barbado parou.
— Você não trabalha no Bucksaw?
Eu não sabia com qual das duas ele estava falando. Nenhuma de nós respondeu.
— Vou lá te ver — disse ele, tentando ser galanteador enquanto se esforçava para manter o equilíbrio.
— Não vai, não — disse Taylor, com o músculo do maxilar se agitando sob a pele.
O bêbado riu, se dobrando na cintura para agarrar os joelhos, e depois se levantou, apontando para mim.
— É sua namorada? Foi mal, cara. Não vou roubá-la.
— Não estou preocupado com isso — disse Taylor.
— Parece que está, sim — falou ele, usando o canto traseiro da caçamba da caminhonete para se apoiar. Em seguida, ele pôs a mão na caçamba, ao lado de onde eu estava sentada.
Taylor olhou furioso para a mão dele.
— Não estou gostando de você encostar na minha caminhonete. Pensa bem. O que eu vou fazer se encostar na minha namorada?
— Me matar? — perguntou o cara, tentando se levantar e se afastar.
Taylor sorriu.
— Não. Eu vou te dar uma surra dos infernos até você querer morrer.
O garoto ficou pálido, mas se recuperou rapidamente, lembrando que tinha público.
Ele voltou a falar, mas eu o interrompi:
— Ei, Jack Daniel’s, você quer continuar com o rosto inteiro, né?
Ele franziu a testa para mim, mais confuso que ofendido.
— Vai embora — falei. — Esses caras não vão aguentar suas merdas por muito tempo.
Olhei para Taylor, que o encarava a ponto de lhe fazer um buraco na testa.
O gorducho desconhecido se assustou, parecendo ter acabado de perceber que o nosso gigante ainda estava parado ali, e saiu cambaleando sem mais uma palavra.
Gunnar relaxou.
— É melhor a gente ir, Kirby. Percebi que estou cansado demais para sair.
Ela deu uma risadinha para ele.
— Já somos um casal de velhinhos. — Ela me abraçou para se despedir. — Te vejo na segunda.
Observei o casal indo em direção à caminhonete deles enquanto Taylor encarava o grupo de garotos bêbados cambaleando pela rua. Ele fechou a caçamba da caminhonete e me seguiu até o Bucksaw.
Depois que entramos, sacudi o cabelo e esfreguei as mãos enquanto subia a escada. Taylor estava calado, mas se esforçava muito para melhorar o humor. Tentei conversar sobre qualquer outra coisa que não fosse morarmos juntos em Estes Park. Taylor fazia que sim com a cabeça e sorria de vez em quando. Mas, quanto mais eu falava, mais seus sorrisos pareciam forçados, e isso só me deixou irritada.
Quando ele viu minha expressão impaciente, seu sorriso forçado desapareceu.
— Por favor, Falyn. Eu falei que não quero passar o fim de semana brigando.
— Só porque você está fingindo que não está com raiva não significa que não está chateado.
Ele olhou para frente, em um esforço claro para controlar seu temperamento.
— Recebi um pacote hoje.
Esperei em silêncio, irritada demais para ceder tão rápido.
— Falei para o meu pai que você tinha um videocassete. Ele me mandou uma fita. —
Taylor se levantou e foi até o balcão, onde tinha deixado a mochila. Ele abriu o zíper, pegou uma fita de VHS e mostrou. — S.O.S.: tem um louco solto no espaço. Eu costumava ver esse filme com os meus irmãos quase todo fim de semana. Era o preferido do Tommy.
— Tá bom — falei. — Vamos ver.
Os olhos de Taylor se iluminaram, suavizando minha raiva. Ele se abaixou diante da televisão, tirou a fita da caixa e a colocou no videocassete. Quando voltou para o sofá, colocou a mão no meu joelho, sorrindo no instante em que os créditos começaram. Era um sorriso genuíno, algo que ele achava difícil de fazer quando estava perto de mim, nos últimos tempos.
O filme foi uma distração perfeita, e permitiu que passássemos um tempo juntos sem discutir, que ficássemos sentados juntos sem falar dos nossos problemas.
Depois dos créditos finais, deixei Taylor e fui ao banheiro tomar uma ducha. Fechei a cortina, aliviada por não estar no mesmo cômodo que ele durante um tempo.
Será que isso significa que não estou preparada para morar com ele?
Enquanto eu tirava o condicionador do cabelo, eu me amaldiçoei por saber exatamente quantas vezes eu tinha pensado que não conseguiria ficar longe de Taylor nem mais um dia e quantas vezes fiquei deitada na cama pedindo a Deus que ele estivesse ali comigo.
Inacreditável. Eu estava me irritando.
Terminei meu banho e me enrolei numa toalha. O espelho estava embaçado, e eu só conseguia ver uma forma enevoada que supostamente era eu. Era exatamente como eu me sentia. Um borrão.
Vesti uma camiseta grande demais e deitei na cama ao lado de Taylor, mas ele não estava ansioso para tirar minha camisola, como sempre. Em vez disso, ele puxou minhas costas contra seu peito nu e me abraçou por um tempo enquanto nós dois lutávamos contra a vontade de dizer mais alguma coisa sobre o assunto.
Seu calor corporal atravessou minha camisola, e eu me derreti nele. Taylor já tinha aquecido o colchão e os lençóis. Eu o queria aqui. Às vezes, eu precisava disso. Ir para a cama sozinha depois de passar uma noite com ele era deprimente.
— Falyn — Taylor disse atrás de mim, com a voz parecendo distante.
— Sim?
— Eu só... — Ele suspirou. — Eu só quero estar com você.
— Eu sei. Eu também quero isso.
— Só que não tanto quanto eu. Talvez nem um pouco.
— Não é verdade — sussurrei. — Só precisamos de um plano, e vamos criar um. Mas não precisa ser hoje à noite.
Ele encostou a testa na parte de trás do meu ombro.
— Quanto tempo mais você quer esperar? Só para eu ter uma ideia.
Ruminei sua pergunta em minha cabeça. Eu não sabia dizer exatamente o que estava me impedindo de dar a Taylor o que ele queria, mas eu precisava de mais tempo para descobrir.
— Até o próximo verão. Você pode me dar esse tempo?
— Para pensar em um plano?
— Para me mudar.
Ele se apoiou no cotovelo, flutuando sobre mim.
— Para Estes Park?
Fiz que sim com a cabeça.
— Tem certeza?
— Estou nervosa com isso.
— Tá bom, vamos conversar. Você está nervosa com o quê?
— Com a mudança e... não sei, Taylor. Alguma coisa parece errada. Não consigo saber o que é.
Taylor pareceu magoado.
— Não é você. Nem nós. Alguma coisa está me incomodando nisso tudo, como se não fosse certo.
— Eu faço com que seja certo — ele disse, sem hesitar. — Só preciso que você confie, que dê um salto, um salto de fé, um grande pulo.
Toquei o rosto dele. Taylor tinha muita esperança nos olhos.
— Por que você quer que eu vá morar com você? Estamos juntos há menos de um ano, e você nunca esteve num relacionamento sério. Como você pode saber?
— Tenho certeza que eu te amo. Tenho certeza que ficar longe de você me deixa maluco. Isso é tudo que eu preciso saber.
— Admito que a distância é um saco. Se você conseguir ir e vir por mais três meses, eu dou esse grande salto. Isso vai dar tempo para a Phaedra encontrar e treinar alguém.
Taylor expirou como se estivesse sem ar, e um pequeno sorriso curvou seus lábios.
— Vou me candidatar ao emprego na estação esta semana.
Ele balançou a cabeça, maravilhado com meu gesto gigantesco. Ele estava sem palavras, então se abaixou e encostou os lábios nos meus, devagar no início. Depois levou as mãos ao meu rosto, e meus lábios se separaram.
Comemoramos entre os lençóis durante horas e, na metade da noite, caí ao seu lado. Em poucos minutos, ele tinha dormido.
Enquanto sua respiração se acalmava, fiquei acordada, encarando o teto. A incerteza e a culpa reviravam meu estômago e me deixaram enjoada. Eu já tinha dado uma virada radical na minha vida e sobrevivido.
Por que morar com meu melhor amigo, com o homem que eu amo, parece mais assustador que sair da casa dos meus pais sem um centavo?
Esfreguei a têmpora, me sentindo tão borrada quanto meu reflexo no espelho do banheiro. Achei que, talvez, se eu tomasse uma decisão, essa sensação fosse embora, mas minha experiência foi um fracasso absoluto. O desconforto piorou. Quanto mais eu tentava entender meus sentimentos, menos eles faziam sentido. Havia alguma coisa sobre a qual precisávamos conversar, alguma coisa que ainda estava atrapalhando.
Taylor se mexeu, deixando a mão descansar sobre a minha barriga, e a resposta surgiu. Se ficasse comigo, Taylor teria que fazer um sacrifício que eu conhecia bem demais. A família era importante para ele. Ele já tinha falado isso. Ele não conseguiria fazer o que eu fiz.
Por que eu achei que ele poderia abrir mão da possibilidade de ter seu próprio filho?
Meu estômago afundou. Ele tinha feito tanta coisa por mim, e eu ia tirar isso dele.

Como é que eu posso amá-lo e permitir que ele faça essa escolha?

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