Capítulo 5
— Pedido pronto! — Chuck gritou do passa-pratos, em
um tom profundo e autoritário usado apenas para isso.
Era uma linda tarde de sábado, e o fluxo normal de
vozes era mais alto e animado. Famílias ocupavam quase toda a lanchonete, bebês
choravam, crianças pequenas andavam em círculos ao redor das mesas e
adolescentes se inclinavam sobre um único celular, caindo na gargalhada.
Hannah, a garota do ensino médio que ajudava nos fins
de semana, verificava cada mesa, parando brevemente antes de se mover como um
beija-flor num campo de flores.
— Ah! Desculpa! — gritou Hannah, quase caindo por
cima do menino de dois anos que era um obstáculo móvel desde que os pais se
sentaram.
— Jack! Senta esse bumbum aqui agora! — rosnou a mãe.
Jack correu em direção à mãe com um sorriso, sabendo
que ainda não tinha esgotado totalmente sua paciência.
— Caramba — disse Hannah, soprando alguns longos fios
dourados que tinham lhe caído no rosto. — E ainda nem é fim de semana de
festas.
— Obrigada por vir — falei, servindo chá gelado em
quatro copos altos. — Eu sei que você tinha treino de vôlei mais cedo.
— Vou ser veterana esse ano. Não consigo acreditar. —
Ela suspirou. — O que vocês vão fazer sem mim no próximo verão?
— Você não vai voltar para trabalhar?
Ela deu de ombros.
— Minha mãe disse que quer viajar comigo o verão todo
antes de eu ir para a faculdade.
— Parece divertido — falei com um sorriso educado.
— Você está mentindo — disse Hannah.
— Você está certa. Viajar com a Blaire um verão
inteiro me parece meio que um castigo.
Hannah pressionou os lábios.
— Sinto muito por você não se dar bem com seus pais.
Você é tão legal...
Hannah não sabia que a dra. Blaire Fairchild era uma
rainha má autoritária, impossível de satisfazer.
— A Blaire perderia a cabeça se uma perna de
pantalona ficasse para fora do cesto de roupa suja, e ser obrigada a esperar
numa fila a transformaria numa versão ainda pior de si mesma. Parques de
diversão então... fora de questão. Mas estou feliz porque você vai fazer isso.
Com a sua mãe, tenho certeza que vai ser divertido.
O sorriso de Hannah desapareceu.
— Droga, preciso fazer os Ashton pagarem e irem
embora. John Delaney acabou de entrar com seus munchkins.
— Todos os cinco? — perguntei, virando para ver a
resposta.
John carregava as duas mochilas dos dois filhos
gêmeos. A esposa, Marie, ajeitou a filha de três anos no quadril e depois se
abaixou para dizer alguma coisa para as filhas em idade escolar.
John costumava ser o treinador do time feminino de lacrosse,
mas agora era vendedor em uma concessionária Ford. Ele estava distraído com as
crianças, e tentei ao máximo não olhar demais na direção deles.
— Ah, uau! A Marie é uma heroína — falei.
— Ou louca — comentou Hannah. — Eles não tinham quase
se divorciado alguns anos atrás, pouco antes de ele deixar de ser treinador?
— Não sei — respondi. — Não presto atenção em
fofocas.
Com um sorriso iluminado, Hannah levou rapidamente a
capa de couro com a conta para a mesa oito. Enchi uma tigela pequena com limões
e levei a bandeja de bebidas para a mesa doze.
— O que vão querer? — perguntei, preparando a caneta
e o bloco de anotações.
— Como está o seu pai, Falyn?
Olhei de relance para Brent Collins, que claramente
fizera a pergunta com segundas intenções. Brent não era mais o colega de turma
gorducho que devorava chocolate com quem eu me formei; agora ele era o
instrutor de CrossFit da academia da rua.
— Ele anda ocupado — respondi. — Você devia experimentar
o peru assado. Está excepcionalmente maravilhoso, hoje.
— Não como carne. Quero a salada de couve. O que
aconteceu com você? Você não estava cursando medicina ou coisa assim?
— Na verdade, não.
— Você não estudou em Dartmouth? — ele perguntou.
— Estudei. Quer dizer que você é vegetariano? Sem
ovos na salada? Molho? A Phaedra faz um molho verde caseiro com maionese vegana
que é uma delícia.
— Perfeito. Dusty, você não ouviu dizer que a Falyn
estudou em Dartmouth?
Dusty assentiu, bebericando o chá. Os dois estavam
com as namoradas. Todos tinham se formado comigo ou no ano seguinte.
— Belo anel — falei para Hilary, que deu um tapinha
no braço de Dusty.
— Ele escolheu bem, né?
Dusty sorriu.
— Com certeza, baby. — E olhou para mim. — Ela não sabe
que é muita areia pro meu caminhãozinho, então eu tinha que colocar um anel na mão
dela, certo?
Forcei um sorriso.
— Certo.
Dois hambúrgueres com bacon e duas saladas de couve
depois, eu deixava um pedido de uma nova mesa na janela e pegava um aperitivo
para a mesa um, de Hannah.
— Obrigada! — gritou Hannah quando servi a mesa dela.
Eu gostava da garota, mas mal a conhecia. Ela ainda estava
no ensino médio, por isso estava a mundos de distância de onde eu estava na
vida. Ela ainda tinha todas as oportunidades pela frente, e eu estava fugindo
de qualquer coisa que se parecesse remotamente com o futuro — pelo menos um
futuro estabelecido.
— Acabei de levar alguns clientes para a mesa três para
você — disse Kirby enquanto pegava mais cardápios atrás do balcão.
Levantei o olhar e suprimi o sorriso orgulhoso que
tentava surgir no meu rosto.
— Graças a Deus — sussurrei.
— E aí, você se divertiu com ele, então? — perguntou
Phaedra, colocando novos cardápios no lugar.
— Ele é de Eakins, em Illinois.
Phaedra piscou.
— O que foi que você disse?
— O Taylor. Ele é de Eakins.
Phaedra ficou pálida.
— Você contou para ele?
Meu nariz se enrugou.
— Claro que não.
— Contar o que para ele? — perguntou Kirby.
— É pessoal — soltou Phaedra. — Ela vai te contar se
quiser, mas não a incomode por causa disso.
— Tá bom — disse Kirby, os olhos se arregalando por meio
segundo, enquanto ela erguia as mãos com as palmas para frente.
— Não é nada — falei.
Kirby olhou para a mesa três e depois para mim.
— Eles pediram você especificamente.
— Ótimo — falei, deixando que se acomodassem antes de
ir até lá.
— Falyn! — gritou Brent.
Parei na mesa deles.
— Desculpa. Eu já volto para anotar suas bebidas.
— O que aconteceu com Dartmouth? — ele perguntou. —
Sua mãe falou para a minha que você foi expulsa. É verdade?
— Para, Brent. — Hilary franziu a testa.
As palavras ficaram presas na minha garganta. Fazia
muito tempo que alguém não perguntava sobre o meu passado.
— Não. Eu saí.
— Por quê? — indagou Brent.
Engoli em seco.
— Deixa ela em paz — disse John, virando na cadeira e
enrubescendo de repente.
Brent fez uma careta.
— Ei, treinador Delaney. Que engraçado te ver aqui.
John olhou para mim e depois voltou a atenção para a
esposa, que estava distraída, cuidando dos bebês.
Phaedra segurou meus ombros, sorrindo para Brent.
— Vou pegar sua conta, se está com pressa de ir
embora.
— Não, obrigado — disse Brent, tropeçando nas palavras.
— A gente vai só, humm... desculpa. Fui grosso. Se não tiver problema, a gente
gostaria de ficar.
A namorada de Brent e Hilary estavam claramente
iradas com o comportamento dele.
— Boa ideia — disse Phaedra antes de se afastar.
Mordi o lábio, me sentindo um pouco enjoada, e voltei
para o balcão de bebidas.
Dalton, Zeke e Taylor estavam dando uma olhada nos
cardápios, de novo cobertos de fuligem e suor, cada um com seu capacete sobre o
joelho.
— Então, minha mãe quer começar a viagem em
Yellowstone — disse Hannah, colocando tampas em miniatura nos copos minúsculos
dos filhos de Delaney. — Já estivemos lá pelo menos uma dezena de vezes, mas
ela quer começar lá, então é isso. Eu quero descer a Costa Oeste toda e ver
como é Los Angeles.
— Você já foi lá? — perguntei, distraída com os
homens sujos perto da janela. Eu teria que conquistar todos eles, não apenas
Taylor.
Hannah balançou a cabeça, me esperando responder à
minha própria pergunta.
— Já — falei, me lembrando de minha viagem a Los
Angeles —, com a Blaire.
— Viu? Você consegue viajar com ela.
— Foi para uma conferência de médicos. Eu passava o
dia todo no quarto do hotel.
Acho que ela só me levou para ajudá-la com as sacolas
enquanto ela fazia compras.
— Ah. Isso parece meio... horrível. Mas, pelo menos,
quando você ficava doente, ela cuidava de você. Ela é médica, certo?
— Cirurgiã cardiotorácica. É considerada uma das
cinco melhores do país.
— Uau, isso é incrível!
— Ela é uma ótima cirurgiã.
— Bom, isso é alguma coisa.
Fiz uma careta. Blaire não gostava de sujeira nem de
pessoas falantes ou felizes demais, e odiava que alguém a olhasse nos olhos,
como se alguém sem PHD fosse igual a ela. Era por isso que ela era cirurgiã. Se
ela fosse a melhor — e era —, a forma como lidava com os pacientes não seria
importante, desde que ela consertasse o que estava quebrado.
A única coisa que ela não conseguia consertar era a
única pessoa que ela tinha quebrado.
— Falyn? A mesa cinco está esperando a conta — disse
Kirby.
— Ah! — Dei um tapinha na tela sensível ao toque, e
um recibo começou a ser impresso. Eu o peguei e coloquei na capa de couro preto
antes de levá-lo a uma família de quatro pessoas.
— Muito obrigada — falei, sorrindo. — Tenham um ótimo
dia.
Verifiquei minhas outras mesas, enchi alguns copos e
depois me aproximei da mesa três.
— Oi, meninos. Vocês vão querer a mesma coisa hoje ou
algo diferente?
Todos abaixaram a cabeça ao mesmo tempo.
— A mesma coisa — disse Dalton. — Não consigo mais
gostar do negócio de verdade.
— Já volto. — Girei nos calcanhares, tentando tratá-los
como qualquer pessoa que tivesse acabado de entrar.
Voltei ao bar, preparei três Cherry Cokes e, com um
sorriso educado, carreguei a bandeja de bebidas até a mesa três.
— Obrigado — disse Dalton.
Zeke gemeu de satisfação depois de tomar um gole da
Cherry Coke.
— O Trex pediu demissão? — perguntei, dando um jeito
de não fazer muito contato visual com Taylor.
Dalton, Zeke e Taylor se entreolharam.
Depois, Taylor se dirigiu a mim:
— O Trex não é da nossa equipe. Nós o conhecemos no
hotel.
— Ah — falei. — Já decidiram o que vão pedir?
Zeke estreitou os olhos para o cardápio.
— Vocês servem café da manhã o dia todo?
— Sim.
— O que é um crepe? — perguntou Zeke.
— É uma panqueca bem fininha. É servida com recheio
de chocolate cremoso e avelãs. Depois é coberta com açúcar de confeiteiro e
raspas de chocolate.
— É, quero um desses — disse Zeke.
— Wrap de frango — pediu Dalton, me devolvendo o
cardápio e lembrando a Zeke para entregar o dele.
Depois de hesitar por um instante, perguntei a
Taylor:
— E pra você?
Ele abaixou o cardápio e olhou direto nos meus olhos.
— Quero sair com você de novo.
— Como é? — Por um instante, pensei que uma segunda
chance estava no cardápio.
Taylor se recostou e suspirou.
— Eu sei o que eu disse, mas isso foi quando eu pensei
que você só estava fingindo ser difícil. Eu ainda não sabia que você era
impossível.
— Não sou... impossível. Sou daqui. E você... não.
Zeke sorriu.
— Você tem namorado?
— Não.
Dalton deu um tapa no braço de Taylor com o dorso da
mão, e Taylor lhe lançou um olhar mortal.
Taylor deixou o cardápio cair na mesa.
— Eu não estava falando sério quando jurei que nunca
mais ia te chamar para sair.
Ergui uma sobrancelha.
— Você não tinha a intenção de me prometer alguma
coisa?
Ele pensou na ideia por um instante.
— É, desisto.
Fiz uma careta.
— Você não pode desistir de uma promessa. Você acha
que eu vou concordar com um segundo encontro com um vagabundo que desiste de
promessas?
— Você disse que não era um encontro — disse Taylor, com
um sorriso do gato de
Alice se espalhando pelo rosto. Seus dentes pareciam ainda
mais brancos comparados à sujeira no seu rosto.
— A cafeteria está muito agitada hoje — falei.
— Eu sei — comentou Taylor. — Mas pensa no assunto.
Olhei para o teto e para Taylor outra vez, apontando
para ele com a caneta.
— Não. Você também quer um wrap?
O sorriso dele desapareceu, e Taylor cruzou os
braços, decepcionado.
— Me surpreenda.
— Tá bom. — Peguei o cardápio dele e levei os pedidos
para Chuck.
— Ele te chamou para sair de novo? — perguntou Chuck.
— Ãhã. E eu disse não.
— Brutal — ele respondeu, balançando a cabeça para
mim.
— Ele só quer sair — falei. — Ele não está apaixonado
nem nada.
— Se você não gosta dele, por que parece que está
morrendo de vontade de dar uma risadinha, como uma adolescente? — Chuck secou a
testa suada com o antebraço.
— Ele é de Eakins — respondi simplesmente.
—
Eakins? Tipo, Eakins, Illinois, Eakins?
— É. — Mordi o lábio.
— Ele sabe?
— Não, ele não sabe. A Phaedra me perguntou a mesma
coisa. Por que de repente eu ia começar a contar para todo mundo?
Chuck deu de ombros.
— Só estou perguntando. Você sabe, Falyn... Já
ofereci antes...
— Não, Chuck. Você não vai pagar a minha ida a
Eakins. Você já faz muita coisa.
— De quanto você precisa? Não pode estar faltando
muita coisa agora.
— Não. Estou quase lá. Toda vez que cheguei perto,
alguma coisa aconteceu.
— Como quando ajudou o Pete a comprar pneus?
— Ãhã.
— E quando pagou aquele ingresso para a Kirby?
— Ãhã.
— E quando ficou doente uns anos atrás?
— Isso também.
— Você ainda está pagando aquela conta do hospital?
— Não, terminei de pagar uns meses atrás. Obrigada. Você
devia deixar a gente ajudar, Falyn. Você ajudou as pessoas, e isso é importante.
— É, sim. E é por isso que eu tenho que fazer
sozinha.
Olhei para a mesa três. Taylor olhou para mim de relance,
e nossos olhos ficaram grudados por um instante.
— Ou, pelo menos, a maior parte sozinha.
Chuck se ocupou de novo com a sopa.
— Esse cara vai ficar muito puto quando descobrir o
que você está fazendo.
Meu peito afundou.
— Eu já me sinto mal o suficiente.
— Ótimo. Pelo menos você ainda tem noção.
Olhei para os meus pés, me sentindo pior a cada
segundo. A empolgação que eu sentira alguns momentos antes foi totalmente
substituída pela culpa.
— A Phaedra foi lá para dentro? — perguntei.
Ele assentiu com a cabeça.
— Ela está fazendo cheesecakes.
— Ah — falei, ciente de que demoraria um pouco até eu
conseguir vê-la.
Os Delaney acenaram para Kirby enquanto reuniam as
crianças para ir embora. Marie carregou as mochilas dos bebês, para que John
cuidasse da filha pequena. A garota estava nos ombros de John, com os pezinhos
chutando desesperadamente enquanto gritava.
— Ufa! — disse Hannah. — Vou adotar um filho de dez
anos.
Observei enquanto os Delaney iam até o carro,
estacionado em uma das vagas diagonais em frente ao Bucksaw. O pai lutava para
colocar a filha na cadeirinha, alternando entre implorar e brigar com ela.
— É — comentei distraída.
John prendeu a menina e depois deu um tapinha na calça
jeans, falando alguma coisa para a esposa antes de voltar para o bar.
Ele parou bem na minha frente e se inclinou.
— Sinto muito — ele disse. — Ela perguntou por que a
gente nunca mais veio aqui. Vou tentar não voltar.
Balancei a cabeça.
— Tudo bem. Eu entendo.
— Sinto muito mesmo, Falyn. Por tudo — ele disse de
novo, pegando a carteira no bolso antes de se apressar para fora outra vez.
Todo o ar pareceu ter saído do salão junto com John,
e eu fiquei parada, sem conseguir me mover ou respirar.
Kirby foi para trás do bar, cumprimentando os
clientes regulares antes de se debruçar sobre o balcão.
— Achei que essa correria nunca fosse acabar. — Ela
mexeu no canto de um cardápio e depois suspirou. — Ei, tô falando com você.
Você vai me contar o que ainda não me contou?
— Hoje não — respondi, voltando ao presente.
Kirby fez biquinho.
— Então, você gosta dele? Porque... você está sendo
você, mas meio diferente. Você sempre age de um jeito estranho quando um cara
tenta te perseguir, mas você não está dispensando esse.
— Quem? — perguntei, com a voz mais alta do que
gostaria.
Kirby revirou os olhos.
— O Taylor, sua idiota.
— É. Por que isso? — perguntou Hannah. — Qual é o lance
da sua esquisitice com os homens?
Olhei furiosa para ela.
— Vai cuidar das suas mesas.
— Sim, senhora — disse ela, girando nos calcanhares.
— Estou falando sério — disse Kirby. — Achei que você
só odiava os seus pais. Até pouco tempo atrás, eu não tinha percebido que você
também odiava os homens, aí o
Taylor apareceu.
— Eu não odeio os homens.
Dei uma olhada furtiva para Taylor. Ele fez a mesma
coisa comigo, então desviei o olhar por um instante. Com um sorrisinho grudado
no rosto, ele estava conversando com a equipe de novo.
— Eu gosto dos homens. Só não tenho tempo para eles.
— Não — disse ela, raspando uma mancha no balcão —, é
alguma outra coisa. — Então pegou um pano limpo e um frasco de spray e foi para
a área de refeições principal para limpar as mesas.
— Pedido pronto! — gritou Chuck, me assustando.
Levei uma bandeja redonda até o passa-pratos antes de
enchê-la com os pedidos da equipe de elite dos bombeiros.
— Tudo bem, querida? — perguntou Chuck.
— Tudo sob controle — falei, encaixando uma ponta da
bandeja na curva do pescoço enquanto colocava a palma da mão no centro, por
baixo.
— Não foi isso que eu quis dizer — falou Chuck.
— Eu sei — gritei enquanto me afastava.
Os garotos estavam conversando quando me aproximei, e
três pares de olhos se iluminaram quando reconheceram que a bandeja de comida
era a deles.
— Wrap — falei, colocando o primeiro prato diante de
Dalton. — Crepe — disse em seguida, baixando o próximo diante de Zeke. — E
omelete Denver com pimenta jalapeño.
Taylor estendeu a mão, e eu lhe passei o prato.
— O prato está quente — alertei.
— Tudo bem — disse Taylor com um meio sorriso. Assim
que eu me virei, ele tocou meu cotovelo. — Sou capaz de sair só como amigo,
sabia?
Lancei um olhar desconfiado para ele.
— Sou garçonete numa conhecida cidade turística. Você
acha que eu nunca ouvi isso? Que eu nunca ouvi toda essa conversa? Escuta,
vocês são legais. Eu gosto de vocês. Mas não preciso de mais amigos, principalmente
dos temporários.
Senti que ele me observava enquanto eu me afastava e
imaginei o que ele estaria pensando. Ele já tinha provado que adorava um
desafio, então eu ia lhe dar um.
Depois que eles esvaziaram os pratos e se recostaram
nas cadeiras, eu lhes levei a conta. Eles não perderam tempo para juntar as
coisas e sair, mas Taylor fez questão de esperar até conseguir acenar para mim
antes de ir embora.
Kirby limpou a mesa deles e me trouxe um punhado de
notas de um e de cinco e um troco de gorjeta que totalizava mais do que as
refeições deles. Balancei a cabeça e dei uma risadinha baixa. Era o melhor
jeito de se despedir de uma garçonete.
O resto do meu turno foi confortavelmente agitado.
Hannah e eu sentamos juntas nos bancos na ponta do bar que ficava perto da
cozinha, contando as gorjetas e ouvindo as histórias engraçadas de Hector e
Chuck sobre seus acidentes e quase erros ao longo do dia.
Com uma das mãos nas costas, Phaedra andou até nós
com dificuldade, vindo dos fundos, coberta de manchas de cream cheese,
chocolate e morango.
— As malditas tortas estão prontas.
Chuck a abraçou.
— Muito bem, meu amor. Muito bem.
Ele a beijou, e ela bateu nele para afastá-lo.
— Como foi? Eu queria sair antes. Fiquei para trás.
— Nós sobrevivemos — falei.
Kirby sorriu.
— Taylor veio de novo, hoje. Deixou uma boa gorjeta.
Revirei os olhos.
— O que estava escrito? — perguntou Hannah.
Meu nariz se enrugou.
— Hein?
Hannah apontou com a cabeça para a minha pilha de
dinheiro.
— Ele escreveu numa das notas. Achei que você sabia.
Kirby correu para ficar ao meu lado enquanto eu
espalhava as notas.
Balancei a cabeça.
— Nada.
— Está do outro lado, querida — disse Phaedra, os
olhos mirando uma das notas de um.
Virei a pilha e encontrei a nota rabiscada em uma
letra quase ilegível.
HOTEL ACoNchegO do SOno
QUarTo 201
Kirby riu.
— Ele ganha pontos pela persistência. Você tem que
dar esse crédito a ele.
Inspirei, as engrenagens em minha cabeça girando a
mil. Agora que eu tinha um plano, era difícil ser paciente. Mas ser paciente
era o único jeito de isso funcionar.
— Não é fofo. É irritante. Mas continua colocando os
caras na minha seção, tá?
— Pode deixar — disse ela, subindo num banco e
balançando os pés como uma criança.
Phaedra deu um tapinha no rosto de Chuck.
— Lembra de quando você era irritante, querido?
— Como eu poderia esquecer? — disse ele, balançando
uma sobrancelha.
— Por favor, parem — disse Kirby, parecendo enjoada.
Uma batida soou na porta.
Kirby suspirou.
— Pela primeira vez, ele chegou na hora.
Como ela não se mexeu nem falou nada, virei e vi
Taylor em pé, com boné branco, casaco cinza e shorts de basquete azul-marinho
com sandália, segurando um cesto cheio de roupa suja.
— Vou ser filha da puta — disse Phaedra, com sua voz
grave e baixa.
— Devo deixar ele entrar? — perguntou Kirby.
Todos olharam para mim.
— Só... ninguém diz uma palavra. Deixa que eu cuido
disso.
— Acho que é brincadeira — disse Hannah. — Ela está
zoando com a gente?
— Não, mas é engraçado do mesmo jeito — disse Chuck,
tentando não rir.
Fui até a porta da frente, sem nenhuma pressa,
parando à distância de um braço.
— O que você está fazendo aqui? — perguntei, tentando
parecer irritada.
— Dia de lavanderia — ele respondeu, sorrindo de
orelha a orelha.
— Tá bom. Você ainda não explicou por que está aqui.
— Você tem uma lavadora e secadora?
— Tenho.
— É por isso que estou aqui.
Balancei a cabeça, sem acreditar.
— As pessoas de onde você vem não sabem pedir
emprestado?
— Illinois.
— Eu sei de onde você é! — rosnei.
O sorriso de Taylor desapareceu.
— Posso usar sua lavadora e secadora?
— Não!
Ele olhou para os dois lados, para cada lado da rua,
e depois de novo para mim.
— Bom... tem uma lavanderia aqui perto?
— Na Platte Avenue. Vire à esquerda na Platte, saindo
da Tejon. É um pouco antes de você chegar na Institute Street. Bem em frente à
loja de material de construção — gritou Phaedra.
Girei nos calcanhares e a vi apontando na direção
certa. Lancei um olhar furioso para ela, que deu de ombros.
— Quer vir comigo? — ele perguntou. — Lavanderias são
entediantes pra caralho.
Pressionei os lábios e depois os puxei para o lado,
tentando não sorrir. É isso. Estendi a mão e virei a chave que já estava na
fechadura.
— Entra.
— Tem certeza?
— Ah, agora você está preocupado em ultrapassar os
limites?
— Não muito — disse ele, passando por mim. — Subindo
a escada, certo?
Tinha que ser o destino. Taylor era como um cachorrinho
perdido que eu alimentei uma vez e, agora, não queria ir embora. Por acaso, ele
também era da cidade que eu estava esse tempo todo economizando para visitar.
Fechei a porta e girei a chave antes de encarar
quatro sorrisinhos idênticos dos meus colegas de trabalho.
— Você vem? — perguntou Taylor ao pé da escada, ainda
abraçado à cesta lotada de roupa suja.
— Bom — falei, soprando a franja dos olhos —, por que
diabos não iria?
Ai eu não estou gostando, pelo visto ela só quer usar ele, e já acho que ele tá gostando dela, ele vai sofrer. E tanto a Phaedra e o Chuck sabem o segredo dela e sabem que ela vai usar ele
ResponderExcluirEspero que ela não seja tão má com ele
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