Capítulo 6
Abri a porta para Taylor, observando com um vislumbre
de diversão enquanto ele fazia questão de olhar ao redor. Seu shorts era de
cintura baixa, e ele virou o boné branco para trás, captando cada canto do
ambiente. Ele era um homem do qual eu normalmente ficaria longe, mas lá estava
ele, lindamente largado, de pé no meu apartamento.
— Dá para você lavar suas roupas aqui? — perguntei.
Ele deu de ombros.
— Muito melhor do que na lavanderia. — E empurrou a
porta para fechá-la. — Onde fica sua máquina?
Fiz sinal para ele me seguir e deslizei as portas entre
a cozinha e o banheiro. A lavadora e secadora, provavelmente compradas no mesmo
ano em que nasci, mal cabiam dentro do minúsculo armário retangular.
— Ainda é melhor que a lavanderia? — perguntei.
— Sim, mas posso ir embora, se quiser.
— Muda para o programa que quiser e puxa o botão para
começar.
O sorriso agradecido de Taylor, na verdade, era um
pouco — tudo bem, muito — fofo. Ele seguiu minhas instruções, girando e puxando
o botão da lavadora. A água começou a cair pela parte de trás do tambor. Ele se
abaixou, pegou várias calças jeans e as jogou lá dentro.
Fui para o meu quarto organizar minhas gorjetas. Coloquei
metade da coleta do dia anterior na carteira e a outra metade na caixa de
sapato. Depois de guardar as duas, vesti uma calça de moletom e uma camiseta
cinza muito larga.
— Onde estão suas calças jeans? — ele perguntou.
Parei diante da porta, pega de surpresa pela pergunta
bizarra. Apontei para o meu quarto.
— Lá dentro, no chão.
— Tem espaço na lavadora — disse ele, colocando o
sabão.
— Minha calça jeans não conhece as suas o suficiente
para serem lavadas juntas.
Ele deu uma risadinha e balançou a cabeça enquanto
observava a lavadora encher de água e espuma.
— Eu fiz alguma coisa para fazer você me odiar? Ou isso
é algum tipo de teste? — Ele me encarou. — Porque eu não estou tentando tirar sua
calça, Ivy League. Só estou pedindo para lavar.
Voltei até o meu quarto, pegando o monte de jeans
perto da minha mesa de cabeceira. Em seguida, atravessei o corredor e me enfiei
no banheiro apenas por tempo suficiente para procurar na roupa suja as outras
duas calças que estavam em algum lugar da pilha.
— Aqui — falei, dando as calças jeans para ele.
— Só isso? — ele perguntou, jogando-as na lavadora.
— Sim, então, se você estragar, estou ferrada. — Eu
me afastei e me joguei na poltrona.
— Não vou estragar. Estou acostumado a lavar roupa há
muito tempo.
— Sua mãe não fazia isso para você?
Taylor balançou a cabeça.
— Ótimo. As mães podem estragar os filhos. Você tem
sorte de nunca ter chorado sobre a máquina de lavar porque não conseguia
descobrir como ligá-la.
— Parece que você tem experiência.
— As empregadas lavavam nossa roupa suja. — Esperei a
reação dele.
Não houve nenhuma.
— Se os seus pais são tão ricos, por que você está
nesse buraco? — ele perguntou, tirando o casaco e jogando-o na máquina de
lavar, ficando apenas com uma camiseta fina e pequena demais que dizia Eakins
Futebol Americano em letras desbotadas.
Eu o encarei por um instante, lutando contra o
sorriso inevitável que se esgueirava em meu rosto.
— Eles faziam escolhas ruins.
Taylor andou desajeitado até o sofá e se jogou nele,
quicando um pouco, depois testou as almofadas empurrando-as com as mãos.
— Tipo o quê?
— Não é da sua conta.
Ele se recostou, cruzando os braços.
— Qual é a das tatuagens? — perguntei, deixando meus
olhos passearem pela confusão de cores e formas que cobriam sua pele até o
pulso.
— Todos nós temos.
— Nós quem?
— Meus irmãos e eu. Bom, a maioria de nós. Tommy não
tem.
— Quantos irmãos?
— Quatro.
— Meu Deus.
Ele fez que sim com a cabeça, encarando a lembrança
que passava diante de seus olhos.
— Você nem imagina.
— Onde eles estão? Seus irmãos.
— Por aí.
Eu gostava desse jogo, de várias perguntas e nenhuma
resposta, e ele não pareceu se importar. A camiseta branca de Taylor se dobrou
ao meio, fina o suficiente para dar uma pista da pele bronzeada e dos músculos
abdominais bem definidos. Músculos abdominais — todos os babacas tinham. Quatro
a seis músculos eram como um gráfico para mostrar o nível de babaquice de um
cara.
— Você é o mais velho? — perguntei.
— Sim e não.
— Alguma irmã?
Taylor fez uma careta.
— Meu Deus, não.
Ou ele odiava as mulheres ou as tratava mal o
suficiente para não querer pensar nelas como pessoas. Não importa qual das duas
opções, quanto mais tempo ele passava no meu apartamento, menos eu me
preocupava com o problema da culpa.
— Quer ver televisão? — perguntei.
— Não.
— Que bom — falei, me ajeitando de novo na poltrona.
— Não tenho TV a cabo.
— Tem algum filme?
— A Phaedra tem uma caixa de fitas VHS e um videocassete
naquele armário — falei, apontando casualmente. — Mas ainda não o conectei.
— Há quanto tempo mora aqui?
— Um tempo.
Taylor se levantou, gemendo ao fazer isso, seguiu devagar
até o armário e abriu a porta. Ele tinha bem mais de um metro e oitenta e conseguia
ver muito bem tudo que estava na prateleira superior. Então puxou a cordinha para
acender a luz e estendeu a mão para pegar o videocassete, tirando-o junto com
uma confusão de cabos.
Soprou a poeira e recuou, parecendo enojado.
— Escolhe um filme. Vou conectar esse garotão.
— Você está entediado com a conversa estimulante?
— Até a morte — ele respondeu, sem nenhum remorso.
Estranhamente, não havia nenhuma pista de que ele
estava infeliz com a maneira como as coisas estavam caminhando. Ele não parecia
irritado nem chateado, o que era um alívio. Pelo menos ele não ia exigir uma
quantidade exorbitante de atenção e esforço.
— Aliens, o resgate — falei, apontando.
Taylor levou a caixa até a pequena televisão sobre a
mesa com duas prateleiras. Ele colocou o videocassete na prateleira de baixo e
começou a desenrolar os fios.
— É, eu gosto desse.
Franzi o nariz.
— Gosta? É um clássico.
— Vi Gatinhas e gatões ali dentro. Achei que você ia
escolher esse. — Ele conectou um cabo na parte de trás do videocassete e depois
foi para a parte de trás da televisão.
— Você não me conhece nem um pouco mesmo.
— Não sei se você está tentando me odiar ou tentando
me fazer te odiar.
— Nenhum dos dois.
Taylor fez uma careta, mas só porque teve que se
esticar mais para atarraxar o cabo na conexão certa.
— Então, eu não.
— Você não o quê?
— Te odeio.
— Droga — provoquei.
Taylor conseguiu plugar os fios e sentou reto antes
de esticar as pernas e cruzá-las, apoiando as costas na parede ao lado da TV.
— Acho que você se odeia o suficiente por nós dois.
Senti meu rosto ficar vermelho. Ele não sabia como
tinha chegado perto da verdade.
— Isso é um ataque de ira se aproximando? — perguntou
Taylor, achando que minha vergonha era raiva.
Meu braço pressionou a lateral da poltrona quando me
inclinei para frente.
— Você não tem esse tipo de efeito em mim.
Ele piscou.
— O que você quer dizer?
— Eu teria que me importar um pouco com você para
sentir raiva.
— Ah, agora você está analisando, Ivy League? Achei
que tinha dito que não era bacharel em psicologia.
— Agora você só está sendo grosso.
— Dizer que você é uma merda nas conversas e que eu
tenho a sensação de que você é uma vaca julgadora é grosseria? Eu não iria tão
longe. Mas você é... e você é.
— Ai. — Mantive as feições inabaláveis de propósito.
Ele balançou a cabeça, confuso.
— Num minuto, você reage e, no seguinte, fica indiferente.
Você é muito estranha. Não consigo te entender... tipo, nada. E olha que eu
conheço as mulheres.
— Isso deve te garantir muitas bundas e muitos
elogios dos amigos. Mas não me impressiona.
Ele fez uma pausa.
— Você quer que eu vá embora?
— Acho que não. Mas pode ir, se quiser.
— Não quero. E é estranho eu ter uma opinião, de um
jeito ou de outro.
— Estou curiosa. Continua.
— Primeiro, eu gosto do fato de que você é esquisita
pra caralho e uma vaca raivosa.
As garotas costumam dar risdinhas e não parar de
passar a mão no cabelo quando estou por perto. Você fez tudo, exceto mandar eu
me foder.
— Vai se foder.
— Viu? Eu gosto de você.
— Talvez eu não queira que você goste de mim.
— Eu sei. E eu não gosto, não desse jeito. E acho que
é isso que mais me surpreende.
Sua revelação me pegou desprevenida, mas a pontada
que senti na boca do estômago me surpreendeu ainda mais.
— Escuta, Ivy League, vou ficar aqui até outubro. Eu
trabalho pra caralho o dia todo. Se eu tiver sorte, trabalho no primeiro turno,
pra poder almoçar na cafeteria. Você e esse seu jeito desbocado têm sido o
ponto alto desse trabalho. Acho que você só está sendo grossa porque acha que
eu estou tentando te abater e, é claro, eu não sou capaz de domar a víbora
nessa história. Então vamos aumentar o volume de Aliens, o resgate, pra não escutar
essa sua lavadora de merda e ficar juntos.
Pisquei.
Ele deu de ombros.
— Não quero saber que problemas você tem com os seus
pais. Não quero saber se você tem uma questão fodida com os homens. Não quero
chegar a um metro e meio da sua boceta, e é bom que você saiba disso agora,
porque eu nunca usaria essa palavra com B quando quero transar. As garotas
odeiam. Eu só quero ficar perto de alguém legal que também tem uma lavadora e
secadora e a melhor coleção de fitas VHS que eu já vi desde os anos 90.
— Um metro e meio, é? — perguntei. Então saí da minha
poltrona, atravessei o carpete áspero e fui até onde Taylor estava sentado.
Ele se enrijeceu quando eu coloquei as mãos em cada
lado das suas pernas e me aproximei, parando a centímetros de seus lábios.
— Tem certeza? — sussurrei.
Ele engoliu em seco e abriu a boca, falando baixinho:
— Sai de perto de mim, porra. Eu sei muito bem que
encostar em você seria como colocar o dedo numa arma carregada.
— Então não puxa o gatilho — desafiei, meus lábios
quase roçando nos dele.
Ele não veio para frente, mas também não recuou. Seu
corpo estava relaxado, confortável, de ficar tão perto do meu.
— Não vou fazer isso.
Eu me sentei sobre os calcanhares e apoiei as mãos nos
joelhos, pensando no que ele tinha acabado de dizer.
— Você parece muito confiante para um cara que vem me
ver todos os dias.
— Você é esquisita, porra... tipo, mais esquisita do
que eu pensava. Passei no teste?
— Passou — respondi casualmente.
— Eu posso gostar de ficar perto de você, mas isso
não significa que eu sou um idiota, porra. E esse teste é ridículo. Qualquer
cara vai em frente se a garota estiver implorando desse jeito.
— Você não foi.
— Eu já te disse: não sou idiota. Eu sei o que você
está tentando fazer. Só não sei por quê.
Estreitei os olhos.
— Você disse que podemos ser amigos, mas não mantém
sua palavra.
— Está bem, então. Prometo não parar de tentar te
comer. Que tal?
Inclinei a cabeça, vendo além da sua insinuação de
sorriso, da sua covinha e da barba por fazer da noite, espalhada pelo maxilar
bem definido. Eu não ia encontrar o que procurava em suas palavras nem nos seus
olhos. A verdade de Taylor simplesmente estava fora de alcance, como a minha,
então eu sabia onde procurá-la e como encontra-la.
O único jeito de ver a alma de alguém era com a sua.
— Você promete? — repeti.
— Prometo.
— Você tem medo de mim? — perguntei, meio que
brincando.
Taylor não hesitou.
— Nem um pouco. Eu sei exatamente o que esperar de
você.
— Como assim?
— Porque eu tenho quase certeza que somos a mesma
pessoa.
Minhas sobrancelhas se ergueram, sem conseguir disfarçar
minha surpresa pela sua conclusão, e eu simplesmente fiz sinal de positivo com
a cabeça.
— Aliens, o resgate, então.
— Você vai parar de me encher o saco? — ele
perguntou, cruzando os braços.
Engatinhei de volta para a poltrona e sentei, pendurando
as pernas no braço do móvel.
— Provavelmente não. Apenas a encheção de saco normal
da Falyn, e não vai ser porque estou tentando me livrar de você.
Taylor sentou de joelhos em frente à televisão, puxou
o botão para ligá-la e mudou para o canal três.
— Você esqueceu o filme.
Fui até o armário e o peguei numa pilha antes de
jogá-lo para ele. Taylor tirou a fita da caixa e a colocou na abertura
dianteira do videocassete. Depois que a fita entrou, o filme começou a rodar.
Por alguns segundos, a imagem junto com os violinos melancólicos tocando
durante os créditos de abertura ficou nebulosa, depois tudo clareou quando a
nave espacial de Ripley apareceu ao longe, um ponto branco no meio da
escuridão.
Taylor foi de joelhos até o sofá antes de subir nele
e se esticar.
Enquanto eu voltava para a poltrona, uma pequena parte
de mim queria ser educada e explicar por que eu estava sendo tão dura com ele,
mas eu a esmaguei até onde eu guardava aquela antiga Falyn. Explicações e
pedidos de desculpas eram um desperdício para alguém como eu. Olhar para frente
e me lembrar de esquecer eram as únicas coisas que eu tinha, e, sob nenhuma
hipótese, eu me permitiria sentir — por qualquer pessoa
— e arriscar que outros sentimentos semelhantes
viessem à tona.
Taylor colocou a mão no shorts entre as pernas e o
ajeitou, puxando o tecido azul-marinho.
Quando ficou satisfeito com a localização das suas
partes, puxou a camiseta para baixo.
Revirei os olhos. Ele não percebeu.
Ele apoiou a cabeça no braço enquanto mantinha os
olhos colados na tela. Quando a nave de resgate bateu e Ripley estava pedindo
desculpas a Newt, Taylor colocou nossas calças jeans na secadora e começou uma
nova carga na lavadora. Ele voltou para o sofá, repetindo a fala de Newt com o
sotaque britânico perfeito de uma garota:
— “Eles vêm princiiipalmente à noite...
princiiipalmente.”
Dei uma risadinha, mas ele me ignorou e não disse
mais nada até os créditos finais.
Meus olhos estavam pesados. Eu estava sentindo nos
pés o efeito de um sábado longo.
— Você está certa — ele disse, se levantando. — É um
clássico.
— Pode levar um tempo para secar tantas calças jeans
— falei.
Taylor abriu a porta da secadora e verificou.
— É, ainda estão úmidas. — Ele virou o botão para
reajustar o tempo, depois se esticou no sofá de novo, os olhos piscando duas
vezes antes de fechar.
— Você não pode dormir aqui — falei.
— Tá bom. Mas posso cair no sono acidentalmente aqui?
— Não.
Ele balançou a cabeça, os olhos ainda fechados.
— Eu estava lavando sua maldita roupa suja. Você
poderia pelo menos me deixar cochilar entre uma máquina e outra.
— Vou para a cama daqui a pouco. Você não pode ficar
aqui enquanto eu estiver dormindo.
— Por que não?
— Ainda não me convenci de que não é um serial
killer.
— Você acha que eu só queria esperar para te matar
depois de vermos um filme juntos? Detesto te decepcionar, Ivy League, mas não
preciso esperar você dormir para te dominar. Você pode ser brigona, mas tenho
pelo menos vinte e dois quilos de músculos a mais do que você.
— É verdade. Mesmo assim, você não pode ficar aqui.
Só porque você não quer me agarrar, não significa que você não queira me
roubar.
Ele me lançou um olhar cético.
— Desculpa, mas não preciso da sua Zenith retrô. Tenho
uma tela plana maravilhosa de setenta e duas polegadas na minha parede em casa.
— Onde você mora? Em Estes Park?
— Ãhã. Já pensei em me mudar pra cá algumas vezes,
mas todos os meus amigos e o meu irmão estão morando lá ou em Fort Collins. Mas
parece que o grupo alpino sempre acaba aqui.
— Um dos seus irmãos mora em Estes?
— É. — Sua voz se deformou quando ele se espreguiçou.
— Sempre fomos meio inseparáveis. Tenho dois irmãos em Illinois e um em San
Diego.
Fiz uma pausa.
— Você costuma ir pra casa?
— Sempre que posso. Entre as temporadas de incêndios.
— Então depois de outubro?
— É. Dia de Ação de Graças, Natal, aniversários. Meu irmão
caçula se casou na última primavera, meio que às pressas. Eles estão planejando
uma cerimônia de verdade no dia do aniversário de casamento, depois da
despedida de solteiro e tal. Vou voltar lá pra isso, com certeza.
— Por quê?
— A segunda cerimônia? Acho que a melhor amiga dela
ficou meio puta de não ter sido convidada pra primeira.
— Então... você estudou na mesma faculdade na mesma
cidade onde se formou no ensino médio?
— Sim, Falyn. Que insulto vai me lançar por isso?
— Nenhum. É fofo. Imagino que seja meio parecido com
o ensino médio, mas com menos regras.
— A faculdade não é assim de qualquer jeito?
— Na verdade, não. Mas eu estudei em Dartmouth.
— Cala a boca.
Aninhei o rosto no braço da poltrona, satisfeita por
estarmos sendo muito malvados um com o outro. Taylor começou a digitar no
celular, e eu relaxei, sentindo que um cobertor invisível de cinquenta quilos
estava enrolado em mim.
Acordei com o sol da manhã entrando pelas janelas.
Minha boca estava com gosto de xixi de gato.
— Ei — disse Taylor, sentado no meio do sofá, cercado
de pilhas de roupas dobradas.
— Você tem que trabalhar hoje?
— Hein? — falei, me sentando.
— Você trabalha aos domingos?
— Essa semana, não. É minha folga — respondi, meio
grogue. Quando meu cérebro voltou a funcionar, pisquei e olhei furiosa para o homem
que estava dobrando minhas peças íntimas. — Por que ainda está aqui?
— Lavei o resto da nossa roupa, depois caí no sono.
Se bem que você me acordou algumas vezes. Você sempre tem muitos pesadelos?
— Como?
Taylor hesitou.
— Você teve uns sonhos bem complicados. Você estava
chorando enquanto dormia.
Eu não tinha um pesadelo havia anos, não como eu
tinha quando estava em Dartmouth. Minha ex-colega de quarto, Rochelle, ainda
falava sobre como eu a apavorava no meio da noite.
Olhei para o algodão delicado nas mãos dele.
— Solta minha calcinha. Agora.
Taylor a jogou no cesto com as outras calcinhas. A maioria
era do tipo estampado de liquidação. Em algumas, o elástico estava frouxo na
cintura ou nas pernas.
— Essa é a última máquina — ele disse, apontando para
o cesto entre os tornozelos.
— Meias e calcinhas.
— Ai, meu Deus — falei, esfregando o rosto. — Você
vai me obrigar a passar vergonha na frente de todos os meus colegas de trabalho
e clientes.
Taylor se levantou.
— Não tem uma porta dos fundos?
— O Chuck e os meninos vão te ver de qualquer
maneira.
— A que horas eles abrem aos domingos?
— O Chuck e a Phaedra estão quase sempre na cafeteria:
do nascer ao pôr do sol.
— Como é que você tem privacidade?
Soprei a franja do rosto.
— Eu não precisava disso, até agora.
— Eu dou um jeito. Já sei o que fazer.
Taylor pegou suas roupas, arrumando-as com perfeição
dentro do único cesto que trouxera. Em seguida, acenou para que eu o seguisse,
descendo a escada. Ficamos parados no andar de baixo, diante dos aposentados que
sempre paravam no Bucksaw aos domingos para tomar café, de todos os meus
colegas de trabalho, algumas famílias locais e uma mesa cheia de turistas.
Kirby parou de repente, e Hannah também. Phaedra
percebeu que elas estavam encarando, por isso virou e ficou boquiaberta. O
barulho alto das conversas convergentes silenciou abruptamente.
Taylor pigarreou.
— Nem encostei nela. Ela é malvada demais, porra.
Ele passou por mim, em direção à porta da frente, e eu
o observei, tentando matá-lo apenas com minha expressão.
Kirby caiu na gargalhada, e ainda estava gargalhando
quando Taylor acenou para ela antes de sair para a calçada da frente. Phaedra
tentou não rir, mas suas rugas profundas a traíram. Hannah parecia tão surpresa
quanto eu.
— Bom dia, florzinha. Café? — perguntou Phaedra,
passando-me uma caneca fumegante.
— Obrigada — sussurrei. Depois subi a escada com
passos pesados.
— Falyn? — Phaedra gritou atrás de mim.
Parei antes de virar no corredor e olhei para ela lá
embaixo.
— Ele está dez passos adiante de você, querida.
— Eu sei — rosnei, levando meu café para o
apartamento.
Entrei numa explosão e chutei a porta para fechá-la antes
de me apoiar na lateral da geladeira. Quando senti lágrimas de raiva queimando
meus olhos, coloquei o café no balcão da cozinha e corri para o meu quarto.
Peguei a caixa de sapato e a levei para a cama comigo.
A carta mais recente estava em cima das outras e, por
baixo, a pilha de dinheiro que eu tinha economizado até aquele momento para uma
passagem de avião. Abracei a folha de caderno e respirei fundo. As voltas e
linhas cuidadosamente desenhadas me informando de tudo que eu havia perdido
tinha quase quatro meses e só ia envelhecer mais um pouco.
Deixei a folha fina cair sobre o colo.
Claro que seria a porra do Taylor Maddox. A última
pessoa na face da Terra de quem eu queria precisar seria o meu atalho para
Eakins. Afastei o pensamento. Eu não queria um plano e nem queria pensar nisso.
Eu só precisava chegar lá. Sem expectativas. Sem
esperanças. Só ter a chance de bater na porta deles. Mesmo que eles não me
perdoassem, talvez eu finalmente conseguisse me perdoar.
Nossa... qto mistério 😱 tomara q naum machuque o Taylor 🤔
ResponderExcluirmuito misteriosa pro meu gosto.Acho que de todos os livros dos irmãos Maddox,esse é o menos legal
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