Capítulo 7
América
Encostei no curativo em meu
braço, a pele ao redor ainda vermelha e irritada depois de ser limpa e
costurada. Eu me sentia mais confortável na roupa de hospital azul-bebê que a
enfermeira tinha me dado do que na camiseta regata e no short jeans, molhados e
frios.
Eu estava sentada na sala de
espera do pronto-socorro havia uma hora, ainda segurando o cobertor de lã de
Reyes, tentando pensar em como contar a Jack e Deana o que tinha acontecido com
o filho deles — não que eu pudesse fazer isso, na verdade. As linhas
telefônicas estavam fora do ar.
O hospital tinha se tornado um
fluxo constante de mortos e moribundos, feridos e perdidos. Um grupo de
crianças tinha sido levado para lá, todas cobertas de lama, mas sem um
arranhão. Acho que tinham sido separadas dos pais. Uma quantidade duas vezes
maior de pais havia aparecido ali, procurando os filhos desaparecidos.
A sala de espera tinha se tornado
um tipo de triagem, e eu acabei em pé encostada na parede, sem saber o que
estava esperando. Uma mulher roliça estava sentada a meio metro de mim,
abraçando quatro crianças pequenas, todas com o rosto manchado de sujeira e
lágrimas. Ela usava uma camiseta verde que dizia “Creche Crianças Primeiro”
numa letra infantil. Estremeci,
sabendo que as crianças que ela
estava abraçando eram apenas algumas poucas entre as que estavam sob seus
cuidados.
Meus pés começaram a ir em
direção à porta, mas uma mão segurou meu ombro.
Durante meio segundo, o alívio e
uma alegria absurda me tomaram como uma onda.
Meus olhos se encheram de lágrimas
antes mesmo de eu me virar. Apesar de Reyes ser uma visão agradável, a decepção
de não ser Shepley me derrubou.
Abafei um soluço enquanto meus
joelhos ficavam fracos, e Reyes me ajudou a me sentar.
— Ei! — disse ele. — Ei, moça.
Vamos com calma. — Seus braços largos eram do tamanho da minha cabeça, e ele
tinha uma ruga profunda permanente entre as sobrancelhas. Estava ainda mais
funda agora, enquanto ele observava meu estado mental confuso.
— Achei que fosse ele — falei
quando me recuperei, se é que isso era possível depois de ficar tão arrasada
novamente.
— O Shepley? — ele perguntou.
— Você o encontrou?
Reyes hesitou, mas depois
balançou a cabeça.
— Ainda não. Mas encontrei você
duas vezes, então posso encontrá-lo uma vez.
Eu não sabia se era possível me
sentir mais desesperada. Emporia tinha sido atingida com violência. Uma parede
inteira do hospital fora arrancada, e os vidros se espalharam pelo chão. Os
carros no estacionamento haviam se empilhado. Um deles estava em cima dos
galhos de uma árvore. Milhares de pessoas estavam sem água e energia, e esses
eram os sortudos. Centenas estavam desabrigados, e dezenas desaparecidos.
No meio da devastação, eu não
conseguia nem pensar por onde começar a procurar Shepley. Eu estava a pé e não
tinha suprimentos. Ele estava lá fora em algum lugar, esperando por mim. Eu
precisava encontrá-lo.
Reyes me ajudou a levantar.
— Vai devagar — disse ele. — Vou
tentar encontrar um lugar tranquilo pra você esperá-lo.
— Estou esperando há uma hora. O
único motivo para ele não ir até o carro nem vir aqui me encontrar é... —
Engoli a dor, me recusando a chorar de novo. — E se ele estiver machucado?
— Moça — ele se colocou no meu
caminho —, não posso deixá-la...
— América.
— Como é?
— Meu nome é América. Eu sei que
você está ocupado. Não estou pedindo sua ajuda, só estou pedindo pra você sair
da minha frente.
Ele franziu o cenho.
— Você acabou de costurar o braço
e vai sair andando por aí? Vai escurecer daqui a algumas horas.
— Sou adulta.
— Mas não muito esperta.
Inclinei a cabeça para ele.
— Aqui está o seu cobertor.
— Pode ficar com ele — disse
Reyes.
Dei um passo para o lado, mas ele
acompanhou.
— Sai da minha frente, Reyes.
Tentei contorná-lo, mas ele me
bloqueou de novo, suspirando.
— Estou me preparando para voltar
a patrulhar. Me dá cinco minutos e eu te levo na viatura.
Olhei para ele, incrédula.
— Não posso ir na viatura com
você! Eu tenho que encontrar o Shepley!
— Eu sei — disse ele, olhando ao
redor e fazendo sinal para eu falar baixo. — Eu vou para aquele lado. Nós dois
vamos procurá-lo.
Levei um instante para responder.
— Sério?
— Mas, no escuro...
— Eu entendo — falei, assentindo.
— Você pode me trazer de volta pra cá.
— Vou perguntar para algumas
pessoas. Tem um abrigo da Cruz Vermelha. E talvez o pessoal de gestão de
emergências já tenha se estruturado. Você não pode passar a noite aqui. Não vai
conseguir dormir.
Minha vontade era sorrir, mas não
consegui.
— Obrigada.
Ele se remexeu, desconfortável
com minha gratidão.
— Tudo bem. O carro está nessa direção
— disse, apontando para o estacionamento.
Coloquei a mochila de Shepley nos
ombros e segui Reyes até o lado de fora, sob o céu tempestuoso. Como meu cabelo
ainda estava úmido, eu o enrolei e dei um nó, formando um coque, afastando-o do
rosto. Meus pés deslizavam na sola molhada das sandálias, os dedos dos pés
sensíveis com o ar frio.
— De onde você é? — perguntou
Reyes, apertando o botão no chaveiro.
Nós dois nos ajeitamos nos
bancos, que pareciam quentes e macios.
— Eu cresci em Wichita, mas faço
faculdade em Eakins, Illinois.
— Ah, na Universidade Eastern?
Fiz que sim com a cabeça.
— Meu irmão estudou lá. Mundo
pequeno.
— Meu Deus, esses bancos parecem
de veludo. — Suspirei, me recostando.
Reyes fez uma careta.
— Acho que você está
desconfortável há tempo demais. Eles parecem mais um assento de vaso sanitário.
Soltei uma risada pelo nariz, sem
conseguir formar um sorriso.
Seus olhos se suavizaram.
— Nós vamos encontrá-lo, América.
— Se ele não me encontrar primeiro.
Shepley
A chuva respingou em minhas
pálpebras e eu acordei. Pisquei, cobrindo os olhos com a mão, e meu ombro
reclamou na mesma hora... depois minhas costas... e todo o resto.
Empurrei o corpo para me sentar e
vi que estava num campo verde. Acho que era soja.
Havia escombros ao meu redor —
tudo, desde roupas até brinquedos e pedaços de madeira. Uns cinquenta metros à
frente, uma luz reluzia no metal retorcido de uma bicicleta. Fiz uma careta.
Meu ombro pareceu duro conforme
tentei esticá-lo, e rosnei quando a pontada se transformou em fogo disparando
pelo meu braço. Minha camiseta, que era branca, estava imunda de lama misturada
com vermelho no local da dor.
Estiquei a gola com os dedos e vi
uma confusão de lacerações que se estendia por uns quinze centímetros, de pouco
acima do coração até a ponta do ombro esquerdo.
Quando me mexi, um objeto
estranho se moveu junto, me apunhalando por dentro.
Toquei meu corpo e gemi. Doeu à
beça, mas o que tinha rasgado minha pele ainda estava lá dentro.
Com os dentes trincados, abri o
ferimento com a ponta dos dedos. Dava para ver camadas de pele e músculo, e
depois outra coisa, que não era osso.
Era um pedaço de madeira marrom,
com uns três centímetros de largura. Usando os dedos como pinças, enfiei a mão
lá dentro, gritando enquanto tirava o enorme estilhaço do ombro. O som de
sangue espirrando e o desconforto da dor fizeram minha cabeça girar, mas, pouco
a pouco, arranquei a estaca e a deixei cair no chão. Caí para trás, olhando
para o céu gotejante, esperando a tontura e o enjoo desaparecerem, ainda
tentando vasculhar minhas últimas lembranças.
Meu sangue gelou. América.
Lutei para me levantar, segurando
o braço esquerdo contra o corpo.
— Mare? — gritei. — América! —
Girei num círculo, procurando o pedágio, tentando escutar pneus zunindo no
asfalto.
Dava para ouvir apenas o canto
dos pássaros e uma leve brisa soprando a plantação de soja.
Raios de sol caíam do céu à minha
direita, ajudando a me orientar. Era o meio da tarde, e isso significava que eu
estava de frente para o sul. Eu não fazia ideia da direção para a qual havia
sido arremessado.
Olhei para cima e me lembrei das
últimas palavras que tinha dito a América. Eu sentira que estava sendo puxado e
não queria que ela visse aquilo. Achei que era a última coisa da qual eu
poderia protegê-la. Em seguida, fui lançado para o ar. A sensação era difícil
de processar, talvez como saltar de paraquedas, mas através de uma chuva de
meteoros. Eu tinha sido atingido pelo que pareciam pedras minúsculas e, no
instante
seguinte, uma bicicleta colidiu
em minhas pernas e minhas costas. Depois, fui jogado ao chão.
Pisquei, sentindo o pânico subir
até a garganta. O pedágio estava na minha frente ou atrás de mim. Eu não sabia
como me localizar, muito menos minha namorada.
— América! — gritei de novo,
apavorado com a possibilidade de ela também ter sido sugada.
Ela podia ter sido arremessada à
mesma distância que eu, ou ainda estar encolhida na fenda da passarela.
Decidi simplesmente caminhar na
direção sul, na esperança de chegar a alguma estrada e conseguir determinar a
que distância estava do último local em que vira minha namorada. A soja roçava
em minha calça jeans molhada. Minhas roupas estavam pesadas por causa da grossa
camada de lama, e meus sapatos pareciam blocos de concreto. Meu cabelo estava
grudado com cascalho e sujeira molhada, e meu rosto também.
Conforme eu me aproximava da
borda da plantação, vi um grande pedaço de metal com as palavras “Emporia Terra
& Cascalho”. Quando subi uma pequena colina, vi as ruínas da empresa, as pilhas
de material espalhadas pelo vento — o mesmo que tinha me carregado por pelo
menos meio quilômetro do local onde eu havia me abrigado.
Meus pés afundavam no solo e na
terra ensopados de chuva, passando por cima de enormes pedaços de estrutura de
madeira e metal que antes
eram um galpão. Caminhões estavam
virados a mais de cem metros de distância.
Congelei quando cheguei perto de
um amontoado de árvores. Um homem estava retorcido nos galhos, com todos os
orifícios repletos de cascalho. Engoli a bile que borbulhou em minha garganta.
Estendi a mão para cima, mal conseguindo encostar na sola de sua bota.
— Senhor? — falei, em um
sussurro. Eu nunca tinha visto algo tão horripilante.
Seu pé balançou, sem vida.
Cobri a boca e continuei andando,
gritando o nome de América. Ela está bem. Eu sei que está. E está me esperando.
As palavras se tornaram um mantra, uma oração, conforme eu atravessava o campo
sozinho, me arrastando pela lama e pela grama, até ver as luzes piscantes,
vermelhas e azuis, de uma ambulância.
Com energia renovada, corri em
direção ao caos, esperando em Deus que eu não apenas encontrasse América, mas a
encontrasse ilesa. Ela devia estar tão preocupada comigo quanto eu estava com
ela, por isso a urgência de acalmar suas lágrimas era tão forte quanto a
necessidade de encontrá-la em segurança.
Três ambulâncias estavam
estacionadas ao longo do pedágio, e eu corri até a mais próxima, observando os
paramédicos colocarem uma jovem lá dentro. Ao ver que não era América, o alívio
me dominou.
O paramédico olhou de relance
para mim e depois voltou a olhar, virando na minha direção.
— Ei. Você está machucado?
— Meu ombro — falei. — Tirei um
estilhaço do tamanho de uma caneta.
Olhei ao redor enquanto ele
analisava meu ferimento.
— É, você vai precisar levar
pontos. E com certeza precisa limpar o ferimento.
Balancei a cabeça.
— Você viu uma loira bonita, de
vinte e poucos anos, mais ou menos dessa altura? — perguntei, levando a mão até
a altura do meu olho.
— Vi várias loiras hoje, meu
amigo.
— Ela não é só uma loira. Ela é
linda, tipo, epicamente maravilhosa.
Ele deu de ombros.
— O nome dela é América — falei.
Ele pressionou os lábios numa
linha fina e depois balançou a cabeça.
— Namorada?
— A gente derrapou no pedágio e
caiu numa vala. Nos abrigamos embaixo de uma passarela, mas não tenho certeza
de onde estou.
— Um Charger vintage? — perguntou
ele.
— Isso.
— Deve ter sido naquela passarela
ali — disse o paramédico, apontando com a cabeça para oeste. — Porque o seu
carro está a uns trezentos metros naquela direção.
— Você viu uma loira bonita
esperando por perto?
Ele balançou a cabeça.
— Obrigado — falei, indo em
direção à passarela.
— Não tem ninguém lá. Todo mundo
que se abrigou na passarela está no hospital ou na tenda da Cruz Vermelha.
Virei devagar, me sentindo
frustrado.
— Você realmente precisa limpar e
costurar isso aí, cara. E ainda tem tempestades se aproximando. Deixa eu te dar
uma carona até o hospital.
Olhei ao redor e fiz que sim com
a cabeça.
— Valeu.
— Qual é o seu nome? — Ele fechou
as portas traseiras e bateu duas vezes numa delas com a lateral do punho.
A ambulância começou a se mover e
fez um retorno antes de seguir em direção a Emporia, com as luzes e as sirenes
ligadas.
— Hum... aquela era a nossa
carona.
— Não, esta é a sua carona —
disse ele, me conduzindo até um SUV vermelho e branco. Na porta estava escrito
“Comandante do Corpo de Bombeiros”. — Entra.
Quando ele sentou ao volante, me
deu uma olhada de cima a baixo.
— Você foi arrastado, né? A que
distância?
Dei de ombros.
— Até o outro lado daquela
empresa de cascalho. Tinha um corpo... na árvore.
Ele franziu o cenho, depois
assentiu.
— Vou notificar o pessoal. Eu
diria que você foi arrastado por uns quatrocentos metros. Você teve sorte de só
sair com um arranhão.
— É um arranhão e tanto — falei,
alongando instintivamente o ombro até sentir uma pontada.
— Concordo — disse ele,
diminuindo a velocidade quando nos aproximamos do Charger.
Encarei meu carro quando
passamos, vendo que ele ainda estava submerso. América não estava lá.
Minha garganta se fechou.
— Se ela não está na passarela
nem no Charger, deve ter ido pro hospital.
— Concordo com isso também —
disse o comandante.
— Espero que tenha sido pra se
abrigar, e não por estar machucada.
Ele suspirou.
— Você vai descobrir daqui a
pouco. Primeiro, alguém vai limpar esse seu ferimento.
— Vai escurecer daqui a pouco.
— Bom, você definitivamente não
vai encontrá-la à noite.
— É por isso que eu não posso
perder tempo.
— Eu não sou seu pai, mas te digo
que, se o corte infeccionar, você não vai conseguir procurá-la amanhã. Cuide de
você, depois procure a sua namorada.
Suspirei e soquei a porta com a
lateral do punho, com muito mais força do que o comandante havia batido na
porta da ambulância.
Ele me deu uma olhada de lado.
— Desculpa — murmurei.
— Tudo bem. Se fosse minha
esposa, eu estaria igual.
Olhei para ele.
— É?
— Vinte e quatro anos. Duas
filhas crescidas. Você vai se casar com essa garota?
Engoli em seco.
— Eu tinha um anel na mochila.
Ele me deu um meio sorriso.
— E onde está a mochila?
— Eu dei pra ela segurar antes de
ser levado pelo vento.
— Boa. Ela deve estar se
agarrando à mochila pra se proteger, e nem desconfia. Vai ter duas boas
surpresas quando te encontrar.
— Espero que sim.
O comandante fez uma careta.
— Espera? Para onde vocês estavam
indo?
— Pra casa dos pais dela.
— Ela ia te apresentar para os
pais? Parece que as suas chances eram muito boas.
— Eu já conheço os pais dela —
falei, olhando pela janela. Eu deveria estar indo na direção contrária com
América, mas em vez disso estava voltando a Emporia para encontrá-la. — A gente
já se viu várias vezes. E eu já pedi pra ela casar comigo... várias vezes.
— Ah. Você ia pedi-la em
casamento de novo?
— Achei que devia tentar pela
última vez.
— E se ela disser “não”?
— Ainda não decidi. Talvez eu
pergunte o motivo. Talvez pergunte quando. Talvez me prepare pra ela me deixar
um dia.
— Talvez seja hora de ela te
pedir em casamento.
Meu rosto se contorceu.
— Não. — Dei uma risada. — Ela
sabe que eu não ia gostar. As coisas estavam bem.
Pensando agora, não faz sentido
eu ter ficado tão chateado. Estávamos seguindo em direção ao casamento.
Começamos a morar juntos há pouco tempo. Ela estava comprometida comigo. Ela me
ama. Nós dois ficamos arrasados por minha causa.
O comandante balançou a cabeça.
— Juntaram os trapos, é? Isso
explica tudo. Minha esposa sempre diz para as minhas filhas: “Por que comprar a
vaca se você consegue o leite de graça?” Aposto que ela teria dito “sim” se
você a fizesse esperar pra dividir a cama com você.
Soltei uma risada.
— Talvez. Nós praticamente já
morávamos juntos, de qualquer maneira. Ou eu estava no quarto dela no
dormitório, ou ela estava na minha casa.
— Ou... se ela concordou em morar
com você, é possível que só esteja levando as coisas no ritmo dela. Ela não
disse “adeus”. Só disse “não”.
— Se ela disser “não” de novo,
tenho quase certeza que vai significar um adeus.
— Às vezes, um adeus é uma
segunda chance. Clareia a mente. De qualquer maneira... sentir falta de alguém
te faz lembrar por que você amava aquela pessoa.
Engasguei, depois tentei afastar
a emoção da voz. Eu não conseguia me imaginar sem América.
Eu não estava apenas apaixonado
por ela. Era como respirar pela primeira vez, depois pela segunda, e cada
respiração que veio depois. América tinha entrado em minha vida e se tornou
minha razão de viver.
— Ela é especial, sabe? É
filhinha de papai, mas te manda tomar em certos lugares se não gostar do que
você tem a dizer. Ela é capaz de derrotar um gigante pra proteger a melhor
amiga. Odeia despedidas. Usa uma pequena cruz de ouro pendurada no pescoço e
fala palavrão feito um marinheiro. Ela é meu “felizes para sempre”.
— Pelo jeito essa garota é fogo.
Talvez ela tenha dito “não” para garantir que você não vai embora ao menor
sinal de dificuldade. Eu vivo cercado de mulheres e posso te dizer...
às vezes elas nos testam para ver
se não vamos fugir.
— Eu estava me enganando. — Minha
voz soou fraca.
O comandante ficou calado.
— Eu não diria...
— Quando a gente se encontrar,
vou pedi-la em casamento. Vou pedir quantas vezes forem necessárias, mas o
simples fato de estar com ela já é suficiente. Eu tive que ser literalmente
arrancado dela pra entender isso.
Ele deu uma risadinha.
— Você não seria o primeiro homem
a precisar de uma sacudida.
— Preciso encontrar a América.
— Você vai.
— Ela está bem. Certo?
O comandante olhou para mim.
Percebi que ele não queria fazer uma promessa que não poderia cumprir, então
simplesmente assentiu, e as rugas ao redor de seus olhos claros se
aprofundaram.
— É melhor você encontrar uma
mangueira de jardim antes, senão ela não vai nem te reconhecer. Parece que você
perdeu uma briga para um torno de cerâmica.
Dei risada, mas resisti à vontade
de tirar a lama seca do rosto, sem querer fazer uma sujeira maior do que já
tinha feito na caminhonete do comandante.
— Você vai encontrá-la — disse
ele. — E vai se casar com ela.
Dei um sorriso simpático e
assenti, vasculhando o rosto de todos por quem passávamos a caminho do
hospital.
Amo esses dois, chorando horrores aqui!
ResponderExcluirAinda bem que o Shepley está bem, agora só falta ele encontrar a América, pq ela está voltando pro local onde eles estavam com o policial e ele está indo pro hospital quando ela não está mais lá
ResponderExcluirChorei horrores!
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