Capítulo 8

Seis dias.
Nem Taylor nem ninguém da sua equipe, incluindo o agora misterioso Trex, tinham ido ao Bucksaw Café nos últimos seis dias. Eu tinha repassado o que dissera até meus pensamentos ficarem enjoados de si mesmos.
Bati no balcão com o pouco de unha que me restava enquanto mastigava a cutícula da outra mão. A maior parte do tempo, não ter um celular era libertador, mas, agora que eu queria procurar algo no Google, senti uma necessidade impulsiva de sair e comprar um.
— Achei que você ia parar com isso — disse Phaedra, passando com uma bacia cheia de pratos sujos.
Tirei o dedo da boca, a pele ao redor da unha branca e destruída.
— Maldição.
Kirby estava perto do balcão de bebidas, pegando panos limpos para passar nas mesas, apesar de não ter sentado ninguém nos últimos vinte minutos. Só os clientes regulares estavam em seus assentos, ignorando a chuva torrencial que caía lá fora.
— Seu celular está com você? — perguntei a Kirby.
Ela o pegou no avental.
— Ãhã. Por quê?
— Quero procurar uma coisa. Posso usar?
Kirby concordou. A capa pink que protegia o celular pareceu volumosa na minha mão. Os dias em que eu tinha um celular estavam tão distantes que parecia outra vida, mas a tela era a mesma. O ícone do navegador era fácil de achar.
Cliquei nele e comecei a digitar as palavras: “Incêndio em Eakins, Illinois”.
A primeira página estava cheia de artigos sobre a faculdade local. Cliquei no primeiro, lendo sobre dezenas de universitários que morreram presos num porão de um dos prédios do campus. Eu me encolhi ao ver as imagens dos rostos cheios de fuligem, parecendo o de Taylor no primeiro dia em que o conheci. O nome Travis Maddox apareceu mais de uma dezena de vezes. Ele estava sendo investigado por estar presente na luta. Eu me perguntava por que, de todos os alunos presentes, Travis e outro cara eram os únicos mencionados como acusados.
— O que foi? — perguntou Kirby, notando meu desconforto.
— Ainda não sei — falei, levantando o olhar para verificar as mesas.
— Falyn! Pedido pronto! — gritou Chuck.
Deixei o telefone de lado e passei rapidamente pelo passa-pratos. Eu encaixava os pratos perfeitamente na bandeja havia anos. Só precisava de alguns segundos entre colocar os pratos prontos na bandeja e seguir para a área de refeições.
— Ta-dá — falei, parando ao lado de Don, meu cliente regular preferido.
Don se empertigou, deixando o chá de lado e me dando espaço suficiente para posicionar sua refeição.
— Me faz um favor e corta esse bife, bonitão.
Ele assentiu, as mãos trêmulas cortando a carne grossa. Ele gemeu um sim e levou o garfo à boca.
Pousei a mão em seu ombro.
— Como está?
Ele gemeu de novo, mastigando.
— Você é a minha preferida, Falyn.
— E você o meu, você sabe. — Pisquei para ele e fui até o balcão de bebidas.
O céu estava preto lá fora, e as calçadas estavam encharcadas com a chuva intermitente que caía desde o meio da manhã. O tempo ruim significava menos traseiros nos assentos e menos gorjetas em nossos bolsos.
Phaedra trouxe uma pilha de cardápios limpos antes de colocá-los numa cesta de vime retangular. Ela cruzou os braços bronzeados, a pele curtida por anos no sol.
— Não vou reclamar da chuva. Nós precisávamos dela.
— É verdade — comentei.
— Talvez ajude o seu garoto com esses incêndios.
— Vamos precisar de muito mais chuva do que essa. E ele não é o meu garoto. Não o vejo há uma semana.
— Ele vai voltar.
Balancei a cabeça, soltando uma risada.
— Acho que não.
— Vocês brigaram?
— Não. Não de verdade. Mais ou menos. Encontramos meus pais sem querer.
Falamos de Eakins. Rolou um desentendimento.
Um sorriso sagaz iluminou o rosto de Phaedra.
— Ele descobriu que você o estava usando?
— O quê? Não. Não estou usando ninguém — falei, sendo tomada pela culpa.
— Não está, é?
— Estou... alugando ele. O Taylor não tem que me levar se não quiser. Não estou sendo falsa. Estou sendo bem malvada, na verdade.
Phaedra me observou tentando sair do buraco que as minhas palavras estavam cavando.
— Então, por que ele parou de aparecer aqui?
— Acho que ele pensa que estou envolvida de alguma forma numa investigação relacionada ao irmão caçula dele.
— Caramba! De onde veio isso?
Soprei a franja do rosto.
— É uma longa história.
— Sempre é.
Senti que ela me observava enquanto eu ia até a área de refeições principal.
— Mais refrigerante? — perguntei à mulher na mesa doze.
Ela balançou a cabeça, acenou para eu me afastar, e eu fui até o próximo cliente.
O céu abriu fogo, e pingos enormes começaram a bombardear a rua e a calçada. Eles quicavam com tanta força que se espalhavam depois do impacto, parecendo vapor flutuando sobre o concreto.
— Está ficando feia a coisa lá fora — falei para Don. — Quer que eu ligue para Michelle e peça para ela vir te buscar?
Don balançou a cabeça.
— Não quero que ela saia com os netos nesse tempo. São meus bisnetos, sabia? Eles me chamam de papa.
— Eu sei — falei com um sorriso carinhoso. — Eles têm sorte. Eu adoraria que você fosse meu papa.
Ele deu uma risadinha.
— Já sou. Por que diabos acha que eu venho te visitar todos os dias?
Toquei delicadamente suas costas.
— Bom, talvez você devesse comer seu cheesecake um pouco mais devagar. Assim pode ser que a chuva diminua.
Eu me inclinei para beijar seu rosto, e sua bochecha afundou sob meus lábios. O cheiro da loção pós-barba e a barba pouco macia eram apenas duas das milhares de coisas que eu amava nele.
Vários homens passaram correndo pela parede de vidro e entraram pela porta, rindo e sem fôlego. Taylor tirou a água dos braços brilhosos com as mãos enquanto sacudia a água do rosto.
Kirby apontou para o bar, sinalizando para Taylor conduzir Zeke e Dalton até os bancos vazios diante do balcão de bebidas. Taylor e eu nos entreolhamos quando ele passou atrás de mim. Peguei alguns pratos sujos e tentei não correr com eles até Hector antes de voltar para ficar ao lado de Phaedra.
— Seu garoto está de folga — disse Phaedra.
Senti o rosto queimar.
— Por favor, para de chamá-lo assim.
— Ele gosta — provocou Dalton.
Taylor inclinou o pescoço para Dalton.
Dalton recuou.
— Só estou falando merda. Que inferno.
Todos os três estavam com as camisetas e as calças jeans ensopadas. A camiseta cinza de Taylor tinha um pequeno buldogue sobre seu coração, com as palavras Universidade
Eastern ao redor. Ele virou o boné vermelho para trás, e eu sorri, ciente de que ele negaria se eu dissesse que ele estava combinando.
— Eu meio que gosto — disse Taylor, e seu olhar ameaçador desapareceu. Então ele deu uma cotovelada em Dalton, que o empurrou.
Phaedra balançou a cabeça e mostrou os cardápios.
— Vocês vão comer ou o quê?
— Vamos — respondeu Zeke, batendo palmas e esfregando as mãos.
Phaedra colocou um cardápio na frente de cada um e foi para a cozinha.
Taylor olhou para mim por apenas um segundo antes de analisar os pratos.
— Bebidas? — perguntei.
— Cherry Coke — responderam os três em uníssono.
Soltei uma risada enquanto virava para pegar os copos, depois os enchi com gelo.
— Não é engraçado. Cala a porra dessa boca — reclamou Taylor, a voz baixa.
Virei.
— Como é?
A expressão de Taylor se suavizou, e ele pigarreou.
— Desculpa. Não era com você.
Ergui uma sobrancelha.
— Dalton disse que você tem uma bela bunda — comentou Zeke.
— Você discorda? — perguntei, colocando minha mistura especial de cereja nas Cocas deles.
Taylor fez uma careta, como se eu tivesse acabado de fazer a pergunta mais idiota da história.
— Não. Só não quero que fiquem reparando.
Coloquei os copos no balcão e lhes ofereci canudos.
— O que vocês vão comer?
— Paninis de novo — respondeu Taylor, deixando o cardápio de lado.
Olhei para os outros dois em busca de confirmação.
Zeke deu de ombros.
— Decidimos antes de chegar aqui. São bons pra caralho.
— Se são tão bons, por que não vieram aqui durante quase uma semana? — perguntei, me arrependendo no mesmo instante.
— Está contando os dias, é? — provocou Zeke.
— Se vocês gostam dos paninis, deviam provar o cheesecake da Phaedra — falei, ignorando o ataque de Zeke.
Eles se entreolharam.
— Tá bom — respondeu Taylor.
Eu os deixei para levar o pedido à cozinha, depois virei para cuidar das minhas mesas.
A doze estava quase sem refrigerante, e eles ainda estavam conversando.
Droga. Eu sabia que ela ia precisar de mais.
Don ainda não tinha terminado, mas estava quieto, com um olhar vazio no rosto. Seus óculos tinham escorregado e mal paravam na ponta do nariz.
— Don? — chamei.
Ele caiu, atingindo o piso de cerâmica com o ombro e a cabeça. Seus óculos voaram alguns metros e caíram.
— Don! — gritei, correndo até ele.
Quando o alcancei, caí de joelhos e aninhei sua cabeça nas mãos. Eu me inclinei e olhei para Phaedra e Chuck, que tinham saído em disparada da cozinha.
— Ele não está respirando. — A realidade do que isso significava fez meu coração afundar. — Ele não está respirando! Alguém ajuda! — gritei.
Taylor, Zeke e Dalton se juntaram a mim no chão. Zeke verificou a pulsação de Don e olhou para Taylor enquanto balançava a cabeça.
— Chama uma ambulância! —Taylor gritou para Phaedra. — Pra trás, meu bem. — Ele se posicionou ao lado de Don e cruzou as mãos, uma sobre a outra, na parte central do peito de Don.
Dalton inclinou a cabeça de Don para cima e apertou seu nariz, respirando na boca de Don uma vez, antes de Taylor dar início às compressões.
Engatinhei alguns centímetros para trás, até Kirby se ajoelhar ao meu lado. Os óculos de Don estavam perto da minha mão, e eu os peguei e os segurei junto ao peito, observando enquanto os três cuidavam dele. Todo mundo estava quieto, escutando Taylor contar as compressões em voz alta e instruir Dalton a fazer as respirações.
Zeke verificou a pulsação de Don, e, cada vez que ele balançava a cabeça, eu sentia meu corpo afundar mais.
Taylor estava sem fôlego, mas, quando olhou para mim, a expressão em meu rosto renovou sua energia.
— Vamos lá, Don! — disse Taylor. — Respira! — ele gritou para Dalton.
Dalton se inclinou sobre Don, fazendo mais uma tentativa, sem nenhuma esperança no olhar.
— Taylor — disse Zeke, encostando no braço de Taylor.
Taylor se sacudiu para afastar Zeke e continuou pressionando o peito de Don.
— Eu não vou desistir. — Ele olhou para mim. — Eu não vou desistir.
Chuck me levantou do chão e apoiou meu peso enquanto me abraçava de lado.
— Sinto muito, querida.
Poucos minutos depois de escutarmos as sirenes, a ambulância parou bem diante da porta, as luzes projetando raios vermelhos e azuis dentro do Bucksaw.
Taylor, Dalton e Zeke deixaram os paramédicos assumirem. Um deles deu um tapinha nas costas de Taylor. Eles carregaram Don até a maca e o levaram para fora na chuva, depois para dentro da ambulância.
Taylor estava ofegante, exausto depois de usar toda a sua força durante tanto tempo.
— Don vai ficar bem? — perguntou Chuck.
Taylor pressionou os lábios, hesitando para falar a verdade.
— Não sei. Não conseguimos sentir a pulsação. Acho que ele já tinha ido antes de cair no chão.
Cobri a boca e virei para Chuck, deixando seus braços largos me envolverem. Senti
que outras pessoas me confortavam. Meus joelhos cederam, e meu corpo todo ficou
fraco, mas Chuck segurou meu peso sem esforço.
— Chuck — disse Phaedra, com desespero na voz.
— Vai lá pra cima, docinho — disse Chuck em meu ouvido.
— Eu cuido das suas mesas — comentou Phaedra.
Balancei a cabeça e limpei o nariz com o dorso do pulso, mas não consegui responder.
Taylor jogou as chaves da caminhonete para Dalton.
— Podem ir. O meu é pra viagem, Phaedra.
— Eu levo lá em cima para você quando estiver pronto — ela respondeu.
Taylor me pegou dos braços de Chuck e me acompanhou até os fundos, subindo os
degraus. Assim que ele percebeu que nenhum de nós tinha a chave, Phaedra apareceu
com um prato numa das mãos, e um copo de viagem e as minhas chaves na outra.
— Você é incrível — disse Taylor enquanto Phaedra destrancava a porta.
Ela a empurrou e a abriu, e Taylor me conduziu para dentro, sentando comigo no
sofá. Phaedra colocou o prato e o copo dele na mesa de centro e deixou as minhas
chaves.
— Quer uma coberta, meu bem? — perguntou, inclinando-se e encostando em meu
joelho.
As sirenes gritaram quando a ambulância saiu em disparada para o hospital mais
próximo, levando meu amigo.
— Eu devia ter ido junto — falei, levantando o olhar, horrorizada. — Alguém devia
ter ido com ele. Ele está sozinho. Não conhece aqueles paramédicos. Alguém conhecido
devia ter ido junto.
Phaedra estendeu a mão para mim
— O Chuck está ligando para a Michelle. Ela vai encontrar com eles no hospital.
Deixe-me pegar uma coberta para você.
Balancei a cabeça, mas ela foi até o armário mesmo assim. Pegou uma coberta azulbebê
surrada, com borda de cetim igualmente gasta. Ela a sacudiu até desdobrá-la, depois
me cobriu até o pescoço.
— Vou trazer um pouco de chá para você. Precisa de alguma coisa, Taylor?
Taylor balançou a cabeça e me abraçou.
— Eu cuido dela.
Phaedra deu um tapinha no ombro dele.
— Eu sei.
Ela nos deixou sozinhos, no apartamento silencioso flutuando sobre a morte no
andar de baixo. Minha cabeça e meu peito pareciam pesados, minha boca estava seca.
— Você sabia que ele não ia voltar — falei —, mas continuou. Apesar de ele não ter
conseguido... Você é bom no que faz.
Ele olhou para mim, os olhos cheios de emoção.
— Não foi pelo meu emprego, Falyn.
— Obrigada — sussurrei, tentando encontrar algum lugar para olhar que não fossem
seus olhos.
— Ele vinha muito aqui, né? — perguntou Taylor.
— Vinha — respondi, com a voz parecendo distante.
A sensação dentro de mim era estranha. Eu estava tão acostumada a me sentir
entorpecida que sentir qualquer coisa era desconfortável. Aninhada nos braços de Taylor,
sentir tantas emoções assim era quase insuportável.
— Preciso... — comecei, me livrando de seu abraço.
— Respirar? — perguntou Taylor, tocando meu pulso e se aproximando para olhar
nos meus olhos. Depois, quando se convenceu de que eu não estava em choque, relaxou
no sofá. — Estou muito à vontade. Sem expectativas.
Fiz que sim com a cabeça, e ele colocou o braço ao meu redor, me puxando
delicadamente para o seu lado. Eu me encaixei perfeitamente nele, seu peito quente no
meu rosto. Ele apoiou o maxilar no meu cabelo, contente.
Confortáveis no silêncio, confortáveis um com o outro, nós simplesmente
respirávamos, existindo de um momento até o próximo. A chuva batia na janela,
formando oceanos nas ruas e molhando as ilhas de carros que passavam.
Taylor pressionou os lábios na minha têmpora. Meu peito oscilou, e eu afundei o
peito em sua camiseta úmida. Ele me abraçou mais e me deixou chorar.
Seus braços eram seguros e fortes, e, apesar de não haver nenhum espaço entre nós, eu
precisava que ele se aproximasse ainda mais. Agarrei sua camiseta e o puxei com força
contra mim. Ele obedeceu sem hesitar. Chorei baixinho até ficar exausta, depois respirei
fundo. Esperei me sentir encabulada, mas isso não aconteceu.
Uma leve batida à porta anunciou Phaedra e a xícara de chá que ela trouxera para
mim. Também estava com o cheesecake de Taylor nas mãos.
— Os garotos levaram os pedidos deles. Disseram para você ligar quando estiver
pronto.
Taylor assentiu, sem deixar de me abraçar.
Phaedra colocou os pratos sobre a mesa.
— Falyn, tome seu chá. Vai ajudar. — Ela fez um sinal de positivo com a cabeça e
cruzou os braços. — Sempre me ajuda.
Eu me inclinei para frente e depois voltei para a segurança dos braços de Taylor,
tomando um gole.
— Obrigada. Vou descer daqui a pouquinho.
— Nem pense. Estamos com pouco movimento. Estou cuidando de tudo. Tire o resto
do dia de folga. Te vejo no jantar.
— A gente vai estar lá embaixo — disse Taylor.
Phaedra lhe deu um leve sorriso de agradecimento, as rugas ao redor da boca se
aprofundando.
— Está bem, então.
Ela fechou a porta e, mais uma vez, Taylor e eu ficamos sozinhos, enrolados nos
braços um do outro sob a coberta azul.
— Eu não estava preparado para essa sensação tão boa — disse Taylor. — Todos os
músculos do meu corpo estão relaxados.
— Como se você nunca tivesse ficado sentado abraçando uma garota.
Ele ficou calado, então levantei o olhar para ele.
— Você é muito mentiroso — falei.
— Eu não... — Ele deixou as palavras enfraquecerem e deu de ombros. — Não sou
dessas coisas. Mas isso é meio impressionante.
— Qual é a sua coisa? — perguntei.
Ele deu de ombros de novo.
— Ficadas de uma noite só, mulheres superbravas e combater incêndios.
— Se você não estivesse sentado aqui agora, abraçado comigo, eu diria que isso te
torna um pouco babaca.
Ele pensou no que eu disse.
— Estou tranquilo com isso.
— Por que eu não me surpreendo?
Ele deu uma risadinha.
— Isso me surpreende. Você me surpreende.
Sorri, sentindo outra lágrima escorrendo sobre os meus lábios. Estendi a mão e a
sequei.
— Aqui — disse ele, oferecendo a camiseta.
Ele levou o tecido aos meus lábios, enquanto eu olhava para ele.
— Por que você sumiu? — perguntei.
— Por isso. Você me faz sentir esquisito.
Esquisito? — perguntei.
— Não sei como explicar de outro jeito. Se fosse qualquer outra garota, eu abateria
sem pensar duas vezes. Você não. É como aquela sensação quando a gente é criança,
pouco antes de fazer alguma coisa que você sabia que ia levar um esporro.
— É difícil para mim acreditar que você se sente tão intimidado.
— Para mim também. — Ele fez uma pausa. — Falyn? — Ele respirou fundo, como se
pronunciar meu nome fosse algo doloroso. Em seguida esfregou os olhos. — Merda, eu
achava que queria saber, mas agora acho que não quero.
— Pergunta — falei, me preparando para dizer a verdade.
— Só me diz uma coisa. — Ele fez uma pausa, sem saber se queria a resposta. — Sua
ligação com Eakins tem a ver com o meu irmão?
Suspirei aliviada.
— Não. Procurei hoje sobre o incêndio.
— Então você sabe do Travis.
— Não. Não tive tempo para dar uma boa olhada, e você não precisa me contar.
Taylor apoiou o queixo em meu cabelo, os músculos relaxando de novo.
Fiquei feliz por ele não poder ver a expressão no meu rosto. Só porque eu não estava envolvida no incêndio, não significava que eu não tinha segundas intenções.
— Taylor? — falei, com a mesma hesitação que ele tinha na voz.
— Pergunta — disse ele, repetindo minha resposta anterior.
— Quero ir a Eakins por um motivo. Eu tinha esperanças de que você me levasse.
Tenho economizado. Tenho o suficiente para a passagem de avião. Só preciso de um lugar para ficar.
Ele inspirou fundo e expirou lentamente.
— Achei que era isso que você queria.
Fiz uma careta.
— Não é o que você pensa. Concordo que é uma coincidência. Mas não estou tentando descobrir nada sobre o seu irmão.
— Então me conta.
Mordi o lábio inferior.
— E se eu te provar... que não é nada relacionado ao seu irmão? Você vai pensar no assunto?
Taylor deu de ombros, confuso.
— Acho que sim.
Eu me levantei e fui até o meu quarto. Peguei a caixa de sapato no meu armário e voltei para o sofá, tirando um envelope e jogando para ele.
— O endereço na sua carteira de motorista é nessa rua.
Ele olhou para o endereço do remetente, franzindo a testa.
— É ao lado da casa do meu pai. Como é que você conhece os Ollivier?
Soltei uma risada, meus olhos se enchendo de lágrimas.
— Na casa ao lado?
— É — respondeu Taylor, me devolvendo o envelope.
Peguei uma fotografia e mostrei a ele. Taylor a analisou — uma foto dez por quinze de uma garotinha sentada na calçada, encostada no irmão, Austin. Seu cabelo loiroplatinado até a cintura estava preso, e os enormes olhos verdes miravam a câmera com um sorriso tímido. Austin a abraçava, orgulhoso e protetor, como um irmão mais velho deve ser.
Taylor a devolveu para mim.
— São os filhos do Shane e da Liza. Como você os conhece?
Balancei a cabeça e sequei uma lágrima fugitiva descendo pelo meu rosto.
— Não importa. O importante é que você acredite que o meu motivo para querer ir a
Eakins não tem nada a ver com o seu irmão.
— Falyn, não é que eu não acredite em você — disse ele, esfregando a nuca de novo.
— É só que... o Shane e a Liza são vizinhos e amigos da minha família. Eles passaram por muita coisa.
— Entendo — sussurrei, tentando controlar a frustração que crescia dentro de mim.
— Tudo bem. Eu entendo.
O rosto de Taylor parecia pesado de culpa. Ele começou a estender a mão para mim, mas não fez isso.
— Só... me dá um segundo. Achei que você estava disfarçando ou sei lá o quê, para conseguir informações sobre o meu irmão. É muita coisa para absorver. — Ele hesitou. —
O que planeja fazer?
— Eu... — respirei fundo. — Não tenho certeza. Não quero provocar mais dor na família deles. Só sei que quero começar de novo e não posso fazer isso se a minha história com essa família não terminar.
Taylor empalideceu e desviou o olhar.
— Não precisa dizer mais nada. Tudo está começando a fazer sentido, agora... por que você não dirige, por que começou tudo de novo aqui, longe da sua família.
— O que quer que você está pensando que sabe, está errado — falei, balançando a cabeça. Guardei o envelope e a foto na caixa de sapato e fechei a tampa.
Taylor me observou e depois tocou meu rosto. Eu me desvencilhei de seu toque.
— Desculpa — ele disse, recuando a mão. Seus olhos revelaram a frustração: não comigo, mas consigo mesmo.
— Você me faria um favor enorme, e estou disposta a fazer quase tudo para chegar a
Eakins.
Ele suspirou, sem conseguir disfarçar a decepção.
— Você tem prioridades. Eu entendo. Só Deus sabe que já deixei muitas garotas para trás por causa do que eu queria.
— E o que era?
Sua boca se retraiu para um lado.
— Ser o herói.
— Escuta, eu não tenho sido honesta com você. Queria ter sido, agora que te conheço.
— Agora que me conhece? — ele repetiu.
— Sei que é da sua natureza, mas não preciso que você me salve. Só preciso de uma pequena ajuda para salvar a mim mesma.
Ele soltou uma risada e desviou o olhar.
— Não precisamos todos? — perguntou, engolindo em seco e fazendo que sim com a cabeça. — Tudo bem, então.
Eu me endireitei.
— Tudo bem o quê?
— Depois do meu trabalho aqui, vou te levar comigo.
— Sério? — funguei.
A pele ao redor de seus olhos se retraiu enquanto ele pensava no que ia dizer.
— Se você prometer ser cuidadosa. Não quero que se machuque e também não quero que eles se machuquem. Não podemos aparecer e interromper a vida deles.
— Não é isso que eu quero.
Ele me encarou e abaixou a cabeça, satisfeito por eu dizer a verdade.
— Taylor — senti meus olhos se enchendo de lágrimas de novo —, você está me sacaneando? Você vai mesmo me deixar ir com você?
Ele analisou o meu rosto.
— Tenho mais uma condição.
Meu rosto desabou. Claro que havia uma pegadinha. Essa era a parte em que ele ia pedir sexo. Ele já tinha dito que não queria um relacionamento, e essa era a única coisa que eu tinha a oferecer.
— O quê? — falei, num sussurro.
— Quero subir a trilha Barr no Pico Pikes. Nenhum dos caras quer ir comigo.
Suspirei aliviada.
— Pico Pikes? Essa é a sua condição?
Ele deu de ombros.
— Eu sei que você já subiu lá. Algumas vezes.
— Acho que sou uma das poucas pessoas daqui que já fizeram isso.
— Exatamente. Vai subir comigo?
— Sério? — Franzi o nariz, sem acreditar.
Ele olhou ao redor, confuso.
— Isso é idiotice?
Balancei a cabeça.
— Não. — Joguei os braços ao redor de Taylor e o apertei, pressionando o rosto no dele. Sua pele era macia, exceto pelas partes com barba por fazer. — É perfeitamente razoável.
Seus braços me envolveram, os músculos tensos.
— Na verdade, não. Você não sabe como os meus irmãos vão me infernizar por levar uma garota para casa. Especialmente uma garota que eu não estou fodendo.
Recuei, olhando para ele.
— Sou a primeira garota que você vai levar para casa?
— É — ele respondeu, franzindo a testa.
— Nós simplesmente dizemos para eles que somos amigos. Nada de mais. — Deitei de novo nele, me aninhando ao seu lado.
Ele puxou a coberta para cima e em volta de mim.
— É — completou, suspirando —, vou acabar dando um soco num dos meus irmãos por causa disso.
— O quê? Essa seria a primeira vez? — provoquei.
Ele me cutucou nas costelas, e eu soltei um gritinho. O som o fez gargalhar.
Ele ficou quieto.
— Sinto muito... pelo que aconteceu com você. E sinto muito pelo Don. Eu tentei. Eu vi a expressão em seu rosto. Eu não queria que você o perdesse.

— Ele era um bom papa — falei, apoiando a cabeça em seu ombro.

Comentários

Postar um comentário

Nada de spoilers! :)

Postagens mais visitadas deste blog

Trono de Vidro

Os Instrumentos Mortais

Trono de Vidro