Capítulo 9
— Não. Não tem mais lugar no trenzinho Cog — falei,
olhando para Taylor.
Ele estava arqueado, segurando os joelhos.
— Olha — falei.
Os picos e vales abaixo de nós se espalhavam por quilômetros
sob um lençol verde que, mais ao longe, ficava azul. Estávamos acima das
nuvens. Estávamos acima de tudo.
Taylor tomou um longo gole do cantil, que mantinha
pendurado na alça verde larga sobre o ombro e atravessada ao peito, depois o
deixou cair no quadril. Então vestiu o suéter preto de microfibra, que
mantivera amarrado na cintura durante a maior parte da escalada e recolocou os
óculos escuros.
— É lindo, mas o Ponto do Relâmpago também era. — E
virou para a construção atrás de nós. — Tem uma porra de loja de lembranças
aqui em cima? Sério? — Sua respiração ainda estava difícil, então ele bebeu
mais um gole de água. — Uma loja de lembranças e nenhum jeito de descer.
— E um restaurante. Achei que vocês, bombeiros,
estivessem sempre em forma.
— Eu estou em forma — disse ele, erguendo-se um
pouquinho. — Quase vinte quilômetros de escalada íngreme em terreno rochoso e
com ar rarefeito não faz parte dos meus exercícios diários.
— Talvez você devesse parar de fumar — falei,
arqueando uma sobrancelha.
— Talvez você devesse começar.
— Faz mal.
— Aquela barrinha energética cheia de xarope de milho
carregado na frutose e gordura saturada que você comeu uma hora atrás também
faz.
Apontei para um senhor de cabelos grisalhos posando
com a esposa na placa do Ponto Máximo.
— Ele não está reclamando.
O rosto de Taylor se contorceu em repulsa.
— Provavelmente ele subiu até aqui de carro. — Ele
colocou as mãos nos quadris e deu uma olhada na paisagem. — Uau!
— Exatamente — falei.
As duas vezes em que subi a trilha Barr eu estava
acompanhada dos meus pais, e éramos alguns dos poucos moradores da cidade que
haviam subido o pico uma vez, quanto mais duas. Meus pais sempre gostaram de
aproveitar as oportunidades, e não subir uma trilha famosa que ficava
praticamente no quintal de casa quando centenas de milhares de pessoas viajavam
para fazer isso certamente seria desperdiçar uma bela oportunidade.
Isso aconteceu quando eu era a Falyn deles — a garota
que eles acharam que tinha morrido na noite em que me encontraram no banheiro,
agachada e toda suada, rezando por uma ajuda que eu não podia pedir. Mas a
Falyn que eles conheciam não tinha morrido. Ela nunca existiu, e provavelmente
era isso que eles tinham tanta dificuldade em aceitar — que eles nunca tinham
me conhecido e que agora nunca conheceriam.
Taylor e eu caminhamos pela montanha. As pessoas
estavam conversando, mas o local estava silencioso. Havia muito espaço para ser
preenchido com vozes. Taylor tirou fotos nossas com o celular, depois pediu
àquele casal mais velho de quem faláramos mais cedo para tirar uma foto nossa
ao lado da placa, fincada no alto da montanha.
— Você precisa comprar um celular — disse Taylor. —
Por que não um daqueles prépagos?
— Eu guardo todo o dinheiro que não uso para pagar
contas.
— Mas pensa em todas as fotos que está perdendo. — E
levantou o celular. — Vou guardar essas aqui como reféns.
Dei de ombros.
— As pessoas esqueceram como usar a memória. Elas olham
a vida através da lente de uma câmera ou da tela de um celular, em vez de se
lembrarem das aparências, dos cheiros — respirei fundo pelo nariz —, dos sons —
minha voz ecoou pelos picos menores lá embaixo —, das sensações. — Estendi a
mão para tocar o antebraço dele.
Algo familiar brilhou em seus olhos, e eu me afastei,
enfiando as mãos no bolso da frente do casaco.
— Esse é o tipo de coisa que eu quero guardar, não
uma fotografia.
— Quando tivermos a idade deles — disse Taylor, apontando
para o casal mais velho —, você vai ficar feliz por termos a fotografia.
Tentei não sorrir. Provavelmente ele não quis dizer o
que pensei.
Taylor chutou o meu pé.
— Foi um dia ótimo. Obrigado por me arrastar até aqui
em cima.
— Eu sabia que você aguentava.
— Só estou feliz porque vim com você.
Nossos olhos se prenderam por tempo demais. Eu sabia
que devia desviar o olhar, que era estranho estarmos nos encarando, mas eu não
conseguia sentir vontade de olhar para mais nada.
Ele deu um passo.
— Falyn?
— Sim?
— Hoje não foi só ótimo. Acho que foi o meu melhor
dia até agora.
— Tipo... desde sempre?
Ele pensou por um instante.
— E se eu disser que sim?
Pisquei, segurando a alça da minha mochila.
— É melhor a gente descer.
A decepção tomou o rosto de Taylor.
— É isso? Eu te digo que você é o meu melhor dia, e você
só consegue me dizer vamos embora?
Fiquei inquieta.
— Bom... eu não trouxe uma barraca. Você trouxe?
Ele me encarou, sem acreditar, e ergueu as mãos,
irritado.
— Talvez a gente possa pegar uma carona com os
funcionários da Casa do Pico.
Balancei a cabeça.
— Não, mas podemos pedir carona ali — falei, apontando
para a estrada.
— Pedir carona na estrada?
— Não se preocupe. Eu te protejo.
Taylor deu uma risadinha enquanto me seguia até a
estrada. Caminhamos uns bons cinquenta metros com os polegares levantados até
uma minivan vermelha parar. A motorista deu as caras, e pareceu tão surpresa
quanto eu.
— Corinne! — falei, reconhecendo a mãe de Kirby. — O
que está fazendo aqui em cima?
— Pegando o Kostas — ela respondeu.
O irmão adolescente de Kirby se inclinou para frente,
os olhos me analisando e depois disparando para Taylor. A pele sob a bandana da
bandeira americana, que cobria a maior parte da testa, estava manchada de
sujeira.
— Oi, Kostas — falei.
— Ei, Falyn. — Seus olhos voltaram para a tela do Nintendo
3DS em suas mãos, e ele se apoiou no banco reclinado, os pés sujos no painel do
carro.
— Só precisamos de carona até o início da trilha. A
caminhonete dele está estacionada lá.
— Entra — disse Corinne, acenando para entrarmos. —
Vai chover a qualquer minuto!
Taylor me seguiu para a parte traseira da van.
No instante em que os pneus começaram a rodar,
Corinne se encheu de perguntas.
— A Kirby me falou que você tinha um amigo novo. —
Ela olhou para Taylor pelo retrovisor, como se um animal selvagem estivesse em
seu banco traseiro. — Ela estava brincando quando disse que ele era da elite
dos bombeiro, né?
— Não — respondi, pigarreando.
Os cantos da boca de Taylor se curvaram, mas ele
conseguiu evitar um sorriso completo.
Corinne mirou Taylor de novo, depois olhou para
frente, com as duas mãos no volante.
— Apapa, Falyn — ela me repreendeu, com o sotaque
grego perfeito. — O que sua mãe diria? — Agora suas palavras não tinham sotaque
nenhum.
— Um monte de coisas, provavelmente.
Corinne suspirou e balançou a cabeça, em
desaprovação.
— De onde ele é?
— Illinois — Taylor respondeu.
Corinne não gostou de ele ter falado diretamente com
ela, por isso parou com as perguntas. Diminuiu a velocidade no estacionamento,
e nós a guiamos até a caminhonete de Taylor. Então ela se virou para trás para
nos ver saindo da van e encarou Taylor, furiosa, como se tentasse jogar uma
praga grega sobre ele com os olhos.
— Obrigada, Corinne — falei. — Tchau, Kostas.
— Até mais — ele respondeu, ainda concentrado no
jogo.
Corinne se afastou, fazendo cara feia para Taylor,
até decidir que era hora de prestar atenção na estrada.
Taylor apertou o botão para destrancar a porta, e eu
a abri e entrei, esperando que ele deslizasse para o meu lado.
— Quem é ela? — perguntou Taylor, tirando o suéter.
Sua camiseta se ergueu de leve quando ele fez isso, revelando dois de seus
músculos abdominais inferiores.
Tem que ter
mais quatro para combinar com esses e com aquele v maravilhoso que desce até...
Para.
— Corinne — respondi, piscando. — Mãe da Kirby.
— Que língua era aquela?
— Ela é grega. O pai da Kirby era canadense, eu acho.
A Corinne queria chamá-la de Circe, em homenagem a uma bruxa grega. O pai
proibiu, felizmente. A Kirby agradeceu.
— Muito bem, Canadá. Onde ele está agora?
Dei de ombros.
— Tudo o que a Kirby sabe é que ele era da elite dos
bombeiros. — Deixei Taylor com esse pensamento, sem dizer mais nada.
Dirigimos pela maior parte dos dois quilômetros e
meio de Pikes até Springs em silêncio. Taylor entrou na Tejon Street antes de
estacionar seu mamute preto bem em frente à entrada do Bucksaw.
Então saltou, esperando que eu fizesse o mesmo. Assim
que meus pés encostaram no asfalto, o céu desabou, e a chuva começou a cair
torrencialmente. Corremos para dentro, rindo de exaustão, surpresa e da
vergonha que Corinne havia provocado.
Nossa risada morreu, e um silêncio constrangedor se
tornou a terceira presença indesejada no ambiente.
— Não estou mentindo para você — disse Taylor. — Essa
é a sua proposta?
— Não tenho uma proposta. Do que você está falando?
— Obrigada, Taylor. Você também foi o meu melhor dia,
Taylor. Estou desesperadamente apaixonada pelos seus músculos abdominais
maravilhosamente esculpidos, Taylor — disse ele, erguendo a camisa para revelar
a melhor coisa que eu já tinha visto nos últimos tempos.
Pressionei os lábios, reprimindo um sorriso.
— Você ainda está pensando nisso? Vai chorar? Precisa
de um abraço? — Pisquei e fiz biquinho com o lábio inferior. Ele não esboçou nenhuma
reação, então cedi com um suspiro. — Foi um dia ótimo. Eu curti cada segundo,
de verdade.
— Uau. Não se prejudique, Ivy League.
Revirei os olhos e segui em direção à escada.
— Ei, ainda não terminamos — disse Taylor.
— Então sobe — falei.
Ele me seguiu, e, quando fechou a porta depois de
entrar no loft, eu fechei a porta do banheiro.
— Vou tirar a montanha de mim no banho — gritei.
— Sou o próximo.
Antes de meu cabelo estar totalmente molhado, Taylor
bateu à minha porta.
— Falyn?
— Eu?
— Meu irmão acabou de me mandar uma mensagem. Ele
está na cidade.
— Qual deles? — perguntei, enfiando a cabeça debaixo
d’água.
— Faz diferença? — ele perguntou.
— Acho que não.
— Tyler, o terceiro mais velho.
Eu quase conseguia ouvi-lo sorrindo.
— Ele está no hotel.
— Você não sabia que ele vinha?
— Não. A gente se visita sem avisar. É comum. Quer ir
comigo?
— Até o hotel?
— Ao Cowboys.
— Na verdade, não.
— Ah, vamos lá. Você se divertiu na última vez, não
foi?
— Acho que vou ficar aqui.
A porta gemeu ao abrir, e eu imediatamente agarrei a
cortina do boxe, espiando de trás dela.
Taylor cruzou os braços, os bíceps tatuados parecendo
ainda maiores em cima dos punhos.
— Posso entrar? Detesto falar com você através da
porta.
— Tanto faz.
Ele baixou os ombros enquanto deixava os braços
caírem na lateral.
— Quero que você vá. Quero que conheça o meu irmão.
— Por quê?
Ele franziu a testa.
— Qual é o problema? Você vai conhecê-lo em algum
momento.
— Exatamente.
— Ele mora comigo em Estes Park.
— E daí?
— E daí... nada — rosnou ele, irritado. — Deixa pra lá.
— Ele abriu a porta, mas não saiu. Em seguida a bateu com força e virou, com a
cara fechada. — Para com isso.
— Para com o quê? Só estou tentando tomar banho!
— Para de ser tão... impenetrável.
— Impenetrável? Essa é uma palavra séria para você.
— Vai se foder. — Ele abriu a porta e a bateu com
força depois de sair.
Menos de dois segundos depois, ele a abriu de novo.
— Desculpa. Eu não queria dizer isso.
— Sai do meu banheiro.
— Tá bom — ele retrucou. Taylor estava comicamente
arrasado, olhando para mim e, ao mesmo tempo, tentando pegar a maçaneta,
errando algumas vezes.
— Sai — soltei.
— Estou... indo. — Ele finalmente abriu a porta e a
fechou depois de sair.
Ouvi a porta da frente bater com força.
Levei os dedos até a boca, reprimindo a risadinha que
estava desesperadamente tentando borbulhar até a superfície. Eu não ria assim
havia muito, muito tempo.
Essa garota é má, gosta de brincar com ele, coitado do Taylor
ResponderExcluirAcho que ela é pior do que a Abbi, Cami e Liis... pq ela naum dá chances para ele kkkkk tadinho! 😂😂 mas ainda brm q pelo menos ela contou a vdd para ele, pelo menos a parte em q ele estava sendo um pouco usado 🤔
ResponderExcluir