Prólogo

Shepley

— Para de ser mulherzinha — disse Travis, me dando um soco no braço.
Franzi a testa e olhei ao redor para ver quem tinha escutado. A maioria dos meus calouros estava ao alcance do ouvido, passando por nós rumo ao refeitório da Universidade Eastern para receber orientações. Reconheci vários rostos do Colégio de Eakins, mas havia muitos mais que eu não conhecia, como duas garotas que andavam juntas — uma delas com um cardigã e uma trança castanho-clara, a outra com cabelos dourados e ondulados e short curto. Ela olhou na minha direção por meio segundo e depois continuou, como se eu fosse um objeto inanimado.
Travis levantou as mãos, exibindo um grosso bracelete de couro preto no pulso esquerdo. Eu queria arrancá-lo e bater nele com o bracelete.
— Desculpa, Shepley Maddox! — ele gritou meu nome enquanto olhava ao redor, parecendo mais um robô ou um ator canastrão. Depois sussurrou, se aproximando: — Esqueci que não posso mais te chamar assim... pelo menos, não no campus.
— Em lugar nenhum, seu babaca. Por que você veio, se era pra ser tão idiota? — perguntei.
Com os nós dos dedos, Travis deu um tapinha sob a aba do meu boné, quase o derrubando antes de eu conseguir pegá-lo.
— Eu lembro direitinho do dia da recepção aos calouros. Nem acredito que já se passou um ano. Sinistro, porra. — Pegando o isqueiro no bolso, ele acendeu um cigarro e soprou uma nuvem de fumaça cinza.
— Você que é sinistro, porra. Valeu por me mostrar aonde ir. Agora se manda.
— Oi, Travis — disse uma garota na beira da calçada.
Travis fez um sinal com a cabeça para ela e depois me deu uma cotovelada com força.
— Até mais tarde, primo. Enquanto você estiver escutando um monte de merda chata, eu vou estar com as bolas enfiadas naquela morena.
Travis cumprimentou a garota, quem quer que fosse. Eu já a tinha visto nos porões do campus no ano anterior, quando vim com Travis ver suas lutas no Círculo, mas não sabia o nome dela. Eu poderia observá-la interagindo com Travis e descobrir tudo que eu precisava saber. Ela já estava conquistada.
A contagem semanal de Travis tinha diminuído um pouco desde o primeiro ano na faculdade, mas não muito. Ele não dizia nada, mas eu percebia que ele estava entediado com a falta de desafios representada pelas colegas do campus. E eu estava louco para conhecer uma garota que ele não tivesse curvado sobre o nosso sofá.
A porta pesada precisava de mais do que apenas um empurrão, e eu entrei, sentindo o alívio imediato do ar-condicionado. Mesas retangulares unidas, ponta com ponta, formavam cinco fileiras, estrategicamente separadas em áreas para facilitar o fluxo e o acesso à fila da comida e ao bufê de saladas. Havia uma única mesa circular num canto, e lá estava a loira com sua amiga e um cara chamativo com um falso moicano descolorido que parecia ter dado de cara numa parede.
Darius Washington estava sentado na ponta da fileira de mesas, perto o suficiente da mesa redonda, e eu esperei que ele me visse. Quando me olhou, acenou para mim, como eu imaginava, e eu me juntei a ele, empolgado por estar a menos de três metros da loira.
Não olhei para trás. Na maioria das vezes, Travis era um babaca arrogante, mas estar perto dele significava ter aulas gratuitas de como chamar a atenção de uma garota.
Lição número um: Vá atrás, mas não corra.
Darius acenou para as pessoas sentadas à mesa redonda.
Acenei com a cabeça para ele.
— Você conhece esse pessoal?
Ele negou.
— Só o Finch. Conheci ontem, quando me mudei pro dormitório. Ele é hilário.
— E as garotas?
— Não, mas elas são gostosas. As duas.
— Preciso conhecer a loira.
— O Finch parece ser amigo dela. Os dois estão conversando desde que sentaram.
Vou ver o que consigo fazer.
Coloquei a mão firme no ombro dele, olhando discretamente para trás. Ela encontrou meu olhar, sorriu e olhou para outro lado.
Fica calmo, Shep. Não estraga tudo.
O tédio extremo de esperar o término da recepção aos calouros só piorou com a expectativa de conhecer aquela garota. De vez em quando, eu a ouvia dando risinhos.
Prometi a mim mesmo que não olharia para trás, mas fracassei várias vezes. Ela era linda, com enormes olhos verdes e cabelo comprido e ondulado, como se tivesse acabado de sair do mar e deixado o cabelo secar ao sol. Quanto mais eu me esforçava para ouvir sua voz, mais ridículo me sentia, mas havia alguma coisa nela, desde aquele primeiro olhar, que me fazia querer planejar maneiras de impressioná-la ou fazê-la rir. Eu faria qualquer coisa para chamar sua atenção, mesmo que fosse por cinco minutos.
Depois que recebemos nossos pacotes, e o mapa do campus, os planos de refeições e as regras foram explicados ad nauseam, o reitor, Sr. Johnson, nos dispensou.
— Espera até a gente sair — falei.
Darius fez que sim.
— Relaxa. Eu vou te ajudar. Como nos velhos tempos.
— Nos velhos tempos, a gente corria atrás de meninas do ensino médio. Ela definitivamente não é uma menina do ensino médio. Provavelmente nem quando ela estava no ensino médio — falei, seguindo Darius até o lado de fora. — Ela é confiante. E
também parece experiente.
— Nem, cara. Ela me parece certinha.
— Não esse tipo de experiente — bufei.
Darius riu.
— Calma. Você ainda nem conheceu a garota. É melhor ter cuidado. Lembra da Anya? Você ficou tão enrolado com ela que a gente achou que você ia morrer.
— E aí, comedor — disse Travis embaixo de uma árvore frondosa, a uns cem metros da entrada. Ele soprou a última nuvem de fumaça e apagou a bituca, esmagando-a no chão com a bota. Exibia um sorriso satisfeito, típico de um homem depois do orgasmo.
— Como? — perguntei, sem acreditar.
— O quarto dela é logo ali — disse ele, apontando para o Morgan Hall.
— O Darius vai me apresentar pra uma garota — falei. — Só... fica de boca fechada.
Travis arqueou uma sobrancelha e depois fez que sim com a cabeça.
— Tudo bem, querido.
— É sério — falei, olhando para ele. Enfiei as mãos nos bolsos da calça jeans e respirei fundo, observando Darius puxar assunto com Finch.
A morena já tinha ido embora, mas, felizmente, a amiga dela parecia interessada em ficar por ali.
— Para de se remexer — disse Travis. — Parece que você está quase mijando na calça.
— Cala a boca — sibilei.
Darius apontou na minha direção, e Finch e a loira olharam para Travis, ao meu lado.
— Merda — falei, olhando para meu primo. — Fala comigo. Estamos parecendo dois tarados.
— Você está com cara de sonhador — disse Travis. — Vai ser amor à primeira vista.
— Eles estão... estão vindo pra cá? — perguntei. Meu coração parecia prestes a sair do peito, e tive uma vontade súbita de dar uma surra no Travis por ser tão petulante.
Ele rastreou a área com sua visão periférica.
— Sim.
— Sim? — falei, tentando esconder um sorriso. Um fio de suor escapou do meu couro cabeludo, e eu o sequei rapidamente.
Travis balançou a cabeça.
— Vou te dar um chute no saco. Você já está surtando pela garota e ainda nem a conheceu.
— Oi — cumprimentou Darius.
Virei e apertei a mão que ele estendeu para mim, em algo entre um high-five e um cumprimento normal.
— Esse aqui é o Finch — disse Darius. — Ele mora no quarto ao lado do meu.
— Oi — disse Finch, apertando minha mão com um sorriso paquerador.
— Eu sou a América — disse a loira, estendendo a mão para mim. — A orientação foi cruel. Graças a Deus que só somos calouros uma vez.
Ela era ainda mais bonita de perto. Seus olhos brilhavam, seu cabelo cintilava sob a luz do sol, e suas pernas esguias pareciam o paraíso naquele short branco com franjas. Ela era quase tão alta quanto eu, mesmo de sandália, e o modo como mexia a boca ao falar, além dos lábios carnudos, era sexy pra caramba.
Peguei sua mão e a apertei.
— América?
Ela deu um sorrisinho.
— Vá em frente. Pode fazer a piadinha suja. Já ouvi todas.
— Já ouviu “Eu adoraria te foder pela liberdade”? — Travis perguntou.
Dei uma cotovelada nele, tentando manter o rosto sem expressão.
América percebeu meu gesto.
— Na verdade, já.
— E aí... aceita a minha oferta? — provocou Travis.
— Não — ela respondeu sem hesitar.
É. Ela é perfeita.
— E se fosse o meu primo? — ele perguntou, me empurrando com tanta força que tive de dar um passo para o lado.
— Para com isso — falei, quase implorando. — Não liga pra ele — eu disse para América. — Nós não deixamos ele sair muito.
— Dá para perceber o motivo. Ele é mesmo seu primo?
— Eu tento esconder das pessoas, mas é.
Ela analisou Travis e depois voltou a atenção para mim novamente.
— E aí, você vai me dizer o seu nome?
— Shepley. Maddox — acrescentei.
— O que você vai fazer no jantar, Shepley?
— O que eu vou fazer no jantar? — perguntei.
Travis me cutucou com o braço.
Eu o empurrei para longe.
— Vai se foder!
América deu uma risadinha.
— É, você. Eu definitivamente não chamaria o seu primo para um encontro.
— Por que não? — Travis indagou, fingindo se sentir ofendido.
— Porque eu não namoro crianças.
Darius caiu na gargalhada, e Travis sorriu, sem se abalar. Ele estava sendo babaca de propósito, para me fazer parecer o Príncipe Encantado. O companheiro perfeito de paquera.
— Você tem carro? — América perguntou.
— Tenho — respondi.
— Te espero em frente ao Morgan Hall às seis.
— É... tudo bem. Até mais tarde — falei.
Ela já estava se despedindo de Finch e se afastando.
— Puta merda — sussurrei. — Acho que estou apaixonado.
Travis suspirou e, com um tapa, segurou minha nuca.
— Claro que está. Vamos nessa.



América

Grama recém-cortada, asfalto fervendo sob o sol e fumaça de escapamento — esses eram os cheiros que me fariam lembrar do instante em que Shepley Maddox saltou de seu Charger vintage e subiu os degraus do Morgan Hall até onde eu estava.
Seus olhos examinaram meu vestido longo azul-claro, e ele sorriu.
— Você está ótima. Não, mais que ótima. Vou ter que usar minha melhor cartada.
— Você está mediano — falei, observando sua camisa polo e o que provavelmente era sua melhor calça jeans. Eu me aproximei. — Mas seu perfume é incrível.
O rosto dele ficou vermelho o suficiente para ser notado na pele bronzeada, e ele me deu um sorriso sagaz.
— Já me disseram que a minha aparência é mediana, mas isso não vai me impedir de jantar com você.
— É mesmo?
Ele fez que sim com a cabeça.
— Essa pessoa estava mentindo. E eu também. — Passei por ele, descendo os degraus.
Shepley passou apressado na minha frente e pegou a maçaneta da porta do passageiro antes de mim, abrindo-a num movimento amplo.
— Obrigada — falei, me acomodando no banco.
O couro estava frio sob a minha pele. O interior parecia ter sido aspirado e polido recentemente e tinha cheiro de aromatizador genérico.
Quando ele se sentou e virou para mim, não consegui evitar um sorriso. Seu entusiasmo era adorável. Os garotos do Kansas não eram assim tão... ávidos.
Pelo tom dourado da pele e os músculos sólidos em seus braços, que inchavam toda vez que ele os mexia, presumi que ele devia ter trabalhado ao ar livre durante todo o verão — talvez montando blocos de feno ou carregando algo pesado. Seus olhos verde-mel praticamente cintilavam, e o cabelo escuro — não tão curto quanto o de Travis — tinha sido clareado pelo sol, me lembrando da cor de caramelo do cabelo da Abby.
— Eu ia te levar ao restaurante italiano aqui da cidade, mas está fresco ao ar livre pra...
Eu... eu só queria passar um tempo com você e te conhecer melhor, em vez de ser interrompido a toda hora pelo garçom. Então eu fiz isso — disse ele, apontando com a cabeça para o banco de trás. — Espero que não seja um problema.
Fiquei tensa e me virei lentamente para ver do que ele estava falando. No meio do banco de trás, presa com o cinto de segurança, havia uma cesta sobre um cobertor dobrado várias vezes.
— Um piquenique? — perguntei, sem conseguir esconder a surpresa e a alegria na voz.
Ele expirou, aliviado.
— É. Pode ser?
Eu me virei novamente no banco, quicando quando olhei para a frente.
— Veremos.
Shepley dirigiu até um pasto particular, ao sul da cidade. Estacionou numa entrada estreita de cascalho e saiu apenas para destrancar o portão e abri-lo. O motor do Charger rosnava enquanto ele dirigia sobre duas linhas paralelas de terra, no meio de hectares de grama alta.
— Você já veio tanto aqui que criou um caminho de terra, né?
— Esse terreno é dos meus avós. Tem um lago lá embaixo, onde o Travis e eu vínhamos pescar direto.
— Vinham?
Ele deu de ombros.
— Somos os netos mais novos. Perdemos os dois casais de avós quando estávamos no fim do ensino fundamental. Depois disso, além de estarmos ocupados com os esportes e as aulas do ensino médio, parecia errado vir pescar aqui sem o nosso avô.
— Sinto muito — falei. Eu ainda tinha todos os meus avós e não conseguia imaginar perder nenhum deles. — Os dois casais? Você não quer dizer os três casais? — perguntei, pensando em voz alta. — Ai, meu Deus, desculpa. Fui grossa.
— Não, não... tudo bem. Já ouvi essa pergunta várias vezes. Nós somos primos em dobro. Nossos pais são irmãos, e nossas mães são irmãs. Esquisito, né?
— Não, na verdade é bem legal.
Depois que nos aproximamos de uma pequena colina, Shepley estacionou o Charger embaixo de uma árvore frondosa, a três metros de um lago com uns dois hectares. O
calor do verão tinha ajudado a florescer as tifas e ninfeias, e a água estava linda, ondulando com a brisa leve.
Shepley abriu a porta, e eu desci na grama recém-cortada. Enquanto eu olhava ao redor, ele se abaixou no banco traseiro, reaparecendo com a cesta e uma colcha. Seus braços não tinham nenhuma tatuagem, bem diferente do primo, que tinha muitas. Eu me perguntei se havia alguma sob a camisa. E tive uma vontade súbita de tirar sua roupa para saber a resposta.
Ele estendeu a colcha multicolorida com um sacolejo, e ela caiu com perfeição no solo.
— Que foi? — perguntou ele. — É...?
— Não, este lugar é incrível. Só estou... Essa colcha é tão linda. Acho que eu não devia sentar nela. Parece novinha. — O tecido ainda tinha cores vivas e marcas de dobrado.
Shepley inflou o peito.
— Minha mãe que fez. Ela já fez muitas dessas. Essa ela me deu quando eu me formei. É uma réplica. — Seu rosto ficou vermelho.
— Do quê?
Assim que perguntei, ele fez uma careta.
Tentei não sorrir.
— É uma versão maior do seu cobertorzinho de infância, né?
Ele fechou os olhos e fez que sim com a cabeça.
— É.
Sentei na colcha e cruzei as pernas, dando um tapinha no espaço ao meu lado.
— Vem cá.
— Não sei se consigo. Acho que acabei de morrer de vergonha.
Olhei para ele, semicerrando um dos olhos por causa do raio de sol que escapava por entre as folhas da árvore acima.
— Eu também tenho um cobertorzinho de infância. O Murfin fica no meu quarto do dormitório, embaixo do travesseiro.
Seus ombros relaxaram e ele sentou, colocando a cesta diante de si.
— Cobe.
— Cobe?
— Acho que eu tentava falar “coberta”, que acabou virando Cobe.
Sorri.
— Gostei de você não ter mentido.
Ele deu de ombros, ainda envergonhado.
— Não sou muito bom nisso, de qualquer maneira.
Eu me aproximei, cutucando o ombro dele com o meu.
— Também gostei disso.
Shepley ficou radiante e abriu a cesta, pegando um prato com queijos e biscoitos salgados, uma garrafa de zinfandel e duas taças plásticas de champanhe.
Abafei uma risada, e Shepley soltou um risinho.
— Que foi? — perguntou.
— É que... esse é o encontro mais fofo que eu já tive.
Ele serviu o vinho.
— Isso é bom?
Espalhei o queijo brie num biscoito e mordi, fazendo que sim com a cabeça, depois tomei um gole de vinho.
— Você definitivamente ganhou A pelo esforço.
— Que bom. Mas não quero ser tão fofo a ponto de virar amigo — disse ele, quase que para si mesmo.
Lambi o biscoito e o vinho dos lábios, olhando para os dele. O clima entre nós mudou. Ficou mais pesado... elétrico. Eu me inclinei em direção a ele, e Shepley fracassou na tentativa de esconder a surpresa e a empolgação em seus olhos.
— Posso te beijar? — perguntei.
Suas sobrancelhas dispararam para cima.
— Você quer... você quer me beijar? — Ele olhou ao redor. — Agora?
— Por que não?
Ele piscou.
— É só que... hum... uma garota nunca...
— Estou te deixando desconfortável?
Ele balançou a cabeça rapidamente.
— Isso definitivamente não é o que estou sentindo agora.
Ele envolveu meu rosto com as mãos e me puxou sem hesitar. Abri a boca de imediato, saboreando a umidade do interior de seus lábios. Sua língua era macia e quente e tinha gosto de hortelã.
Gemi, e ele se afastou.
— Vamos, hum... Eu fiz uns sanduíches. Você prefere presunto ou peito de peru?
Levei a mão aos lábios, sorrindo, depois forcei um rosto sério. Shepley parecia totalmente perturbado, no melhor sentido possível. Ele me entregou um quadrado embrulhado em papel-manteiga, e eu abri um canto com cuidado, puxando até ver o pão branco.
— Graças a Deus — falei. — Pão branco é o melhor!
— Não é? Não suporto pão integral.
— Que se danem os descolorantes e as calorias!
Abri o papel e saboreei o sanduíche cuidadosamente preparado de peito de peru, queijo suíço, alface e tomate, além de algo que tinha cheiro de molho ranch apimentado.
Olhei para Shepley, horrorizada.
— Ai, meu Deus.
Ele parou de mastigar e engoliu.
— Que foi?
— Tomate?
Seus olhos se encheram de pavor.
— Merda. Você é alérgica? — Ele olhou freneticamente ao redor. — Você tem um antialérgico aí? Ou é melhor eu te levar pro hospital?
Caí para trás, engasgando e segurando a garganta.
Shepley pairou sobre mim, sem saber onde encostar ou como me ajudar.
— Merda. Merda! O que eu faço agora?
Agarrei sua camisa e o puxei, me concentrando em falar. Finalmente, as palavras saíram.
— Boca a boca — sussurrei.
Ele ficou tenso, depois todos os seus músculos relaxaram.
— Você está me zoando?
E se sentou enquanto eu caía na gargalhada.
— Meu Deus, Mare, eu quase surtei!
Minha risadinha morreu, e eu sorri para ele.
— Minha melhor amiga me chama de Mare.
Ele suspirou.
— Pronto, vou virar amigo...
Levantei a mão acima da cabeça, enrolando no dedo alguns fios do meu cabelo comprido, sentindo a grama fria sob o braço.
— Melhor afastar essa possibilidade com um gesto de carinho mais agressivo.
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Não sei se consigo dar conta de você.
— Você só vai saber se tentar.
Shepley se ancorou com os braços nas minhas laterais, depois se abaixou, encostando os lábios nos meus. Levei as mãos para baixo, puxando minha saia, e sorri quando a bainha ficou acima dos joelhos. Seus lábios trabalhavam nos meus enquanto ele se posicionava entre as minhas pernas, num movimento suave.
Suas mãos eram tão agradáveis na minha pele que meus quadris se mexeram em reação. Ele colocou a mão atrás do meu joelho, puxando-o até sua cintura.
— Puta merda — disse ele nos meus lábios.
Eu o puxei para mais perto. A dureza atrás de seu zíper fazia pressão contra mim, e eu gemi, sentindo o jeans na ponta dos dedos enquanto abria sua calça.
Quando coloquei a mão lá dentro, Shepley congelou.
— Eu não trouxe... Eu não estava esperando isso. Nem um pouco.
Com a mão livre, peguei um pequeno pacote na lateral do meu sutiã tomara que caia.
— Quer uma dessas?
Shepley olhou para o quadrado de alumínio na minha mão, e sua expressão mudou.
Ele recuou e se apoiou sobre os joelhos, me observando, enquanto eu me erguia nos cotovelos.
— Deixa eu adivinhar — falei, sentindo a acidez das minhas palavras. — Acabamos de nos conhecer. Eu sou sexualmente ousada e trouxe uma camisinha, então isso deve significar que sou uma vagabunda, o que te deixa totalmente desinteressado.
Ele franziu a testa.
— Pode falar. Fala o que você está pensando — comentei, provocando-o. — Pode mandar a real. Eu aguento.
— Essa garota é articulada, divertida e provavelmente a criatura mais linda que eu já vi na vida. Como foi que eu consegui estar aqui com ela? — Ele se inclinou para a frente, meio confuso, meio maravilhado. — E não tenho certeza se isso é um teste. — Ele olhou para os meus lábios. — Porque, pode acreditar, se for eu quero passar.
Sorri e o puxei para mais um beijo. Ele inclinou a cabeça, se aproximando com ansiedade.
Eu o segurei a poucos centímetros da minha boca.
— Eu posso ser rápida, mas gosto de beijos demorados.
— E eu posso te dar.
Os lábios de Shepley eram carnudos e macios. Ele exalava nervosismo e inexperiência, mas o modo como me beijava contava uma história diferente. Ele deu um beijinho na minha boca, se demorando um pouco antes de se afastar, depois me beijou de novo.
— É verdade o que dizem? — sussurrou. — Que garotas rápidas não costumam ficar por muito tempo?
— Essa é a questão de ser rápida. Você só sabe o que vai fazer quando faz.
Ele expirou.
— Só me faz um favor — disse, entre um beijo e outro. — Quando você estiver pronta pra ir embora, tenta me abandonar com calma.
— Você primeiro — sussurrei.

Ele me deitou de costas na colcha, terminando o que eu tinha começado.

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