Capítulo 7


— Este — disse Jojo, colocando a mão sobre um armário de metal com um metro e meio de altura — é nosso banco de dados de backup. As cópias físicas, quando tivermos, ficam aqui. Na mesa dos fundos, perto da parede, ficam o scanner e a impressora... eu te ensino a mexer neles mais tarde... e no canto fica a parte mais importante do seu trabalho, a cafeteira.
Repleta de pacotes de adoçante vazios e cápsulas de café usadas, a mesa estava manchada de água e balançava quando alguém encostava nela. No entanto, a lata de lixo ao lado estava vazia.
Balancei a cabeça.
— Não — disse Jojo. — Ele não sabe jogar nada no lixo. A Dawn faz a limpeza à noite, mas meu pai bebe umas seis xícaras por dia, então tenta facilitar o trabalho dela. Ela é boa, mas não faz mágica. E, como aqui é o primeiro lugar que qualquer pessoa que vem para falar com o Wick vai ver, seria uma boa ideia não parecer um depósito de lixo.
— Anotado — falei, jogando algumas cápsulas e pacotes na lata de lixo.
Jojo apontou para a porta do escritório de Wick.
— Fica fechada quando ele está de bom humor, e aberta quando não está.
Ergui uma sobrancelha para a porta fechada.
Jojo ergueu a mão, colocando os dedos perto da boca. E sussurrou:
— É pra todo mundo escutar melhor quando ele gritar.
— Anotado também.
Ela puxou a cadeira, e automaticamente eu me sentei. Jojo não sabia que era uma reação instintiva da minha parte sentar numa cadeira que fosse puxada para mim, e senti o sangue subir pelo rosto quando me dei conta do que eu tinha feito.
Ela apertou a barra de espaço no teclado.
— Crie seu login e senha aqui, mas anote em algum lugar, para o caso de eu precisar acessar o computador e você não estar aqui. — Ela esperou enquanto eu digitava meu login de sempre, EQuadrado, e a senha DuploE5150!. Apesar dos avisos constantes do meu pai, esse login fora criado quando eu estava no ensino médio, e, desde então, eu o usava para tudo. Se Jojo tivesse prestado atenção, poderia ter entrado nas minhas redes sociais ou até no meu banco online, se quisesse.
Ela me explicou o programa que eu usaria para a agenda de Wick e os lembretes. Parecia bem simples. No fim da primeira hora, eu já sabia verificar meus e-mails e os de Wick, e tinha acesso aos seus contatos e ao que dizer quando seus amigos e falsos amigos ligassem.
Wick abriu a porta, e eu esperei pacientemente que ele gritasse, mas, em vez disso, ele enfiou a mão no bolso da frente para pegar o maço de cigarros e inclinou a cabeça na direção da porta dos fundos.
— Seu cérebro já está cheio, Ellie? — ele perguntou.
— Não.
— Que bom. Vamos fumar.
— Pai... — disse Jojo, nada contente. — Ela é paga por hora. Não a contratamos para ser sua nova companheira de fumaça.
— Ele já tem dois — falei.
Jojo deu um sorriso forçado.
— Ah. Você conheceu o Tyler e o Zeke?
— Você os conhece? — perguntei.
— O Zeke é um grande ursinho de pelúcia. Ele parece mau, mas é do tipo de cara que abre a porta e dá flores. O Tyler é um canalha.
Wick pareceu ofendido.
— Jojo, pare de falar isso para as pessoas. Ele não é mau.
Jojo estreitou os olhos para ele, depois seu olhar voltou para mim.
— Ele fica do lado do Tyler todas as vezes. É um assunto delicado entre nós. — Ela olhou de novo para o pai. — Sendo assim, não vou dar o prazer de responder a sua opinião ignorante sobre o Maddox, mas ele é um canalha. Se você conhece o cara, é porque já dormiu com ele, então tenho certeza que não preciso te falar isso.
Wick e Jojo ficaram me observando, esperando uma resposta.
— Então? — perguntou Jojo, colocando as duas mãos sobre a minha mesa. — Você fez isso?
— Dormir com o Tyler? — perguntei, engolindo em seco. Cruzei os braços, inquieta, e limpei a garganta enquanto tentava achar um jeito de mudar de assunto. Normalmente, eu não me importaria de encontrar uma resposta dura e verdadeira demais para uma pergunta tão inadequada, mas manter a sobriedade ainda era uma coisa confusa para mim. — Você já dormiu com ele?
Wick virou para a filha e colocou um cigarro na boca, segurando-o entre os lábios rachados.
Agora era Jojo quem parecia inquieta e se remexia de um jeito desconfortável. Ela se empertigou.
— Acho que esse não é um assunto adequado para o ambiente de trabalho.
— Que merda, Jojo! Agora eu vou ter que dar um tiro no meu companheiro de cigarro preferido, porque todos nós sabemos que eu não consigo dar uma surra nele!
Jojo revirou os olhos e girou nos calcanhares, dobrando o corredor em direção à sua mesa. Wick me esperou vestir o casaco e me conduziu para o beco dos fundos. Uma pequena construção de aço que servia de depósito atrás do prédio principal da revista criava um cubículo entre nós e a entrada de carros. Um espaço cimentado oferecia vagas para Wick e Jojo, e um gramado coberto de neve e pedras aparecia aqui e ali, diante de uma paisagem repleta de abetos azuis e choupos.
— Aquela estação do corpo de bombeiros do outro lado da rua... é a dos bombeiros de elite?
— E a segunda da cidade. Mas alguns dos caras que trabalham lá são temporários... como o Tyler e o Zeke. Durante a temporada de incêndios, eles moram no alojamento Alpino.
— O que faz um bombeiro de elite temporário?
— Durante a temporada de incêndios, eles comem, dormem e viajam pelo país combatendo incêndios. Isso dura de três a seis meses por ano.
— Ah — falei, me perguntando se Tyler já havia partido.
Wick acendeu o cigarro e deu um trago, depois me passou o isqueiro para eu fazer a mesma coisa com uma das sobras velhas do meu pai. O maço tinha três cigarros bem amassados, e eu tinha apenas trinta e quatro dólares do dinheiro que Finley me deixara. Eu não costumava me atentar ao preço das coisas, mas tinha certeza de que não poderia comprar cigarros antes de receber o primeiro salário.
— Novecentos por semana significa que você me paga toda semana ou você só estava falando sobre o valor do salário? — perguntei, passando a mão na cabeça. Eu podia sentir uma dor se aproximando.
— Toda semana. Do mesmo jeito que pago aos funcionários do bar.
— Então... sexta-feira?
— Sexta-feira.
Segundos depois de Wick responder, ouvi botas esmagando a neve. Zeke e Tyler dobraram a esquina, fumando e conversando. Os dois pareciam felizes, mas não surpresos ao me ver, e se revezaram para apertar a mão de Wick.
— Taylor! — disse meu chefe, notando as roupas comuns ao mesmo tempo que eu. — Você deve estar de folga hoje.
Franzi a testa, me perguntando se Wick estava tentando ser engraçadinho ou tinha entendido errado o nome de Tyler.
— Ouvi dizer que você finalmente arrumou alguém pra aguentar as suas merdas, Wick — Tyler comentou.
No dia anterior, Wick contara a Zeke e Tyler que eu havia sido contratada. Agora ele agia como se tivesse descoberto por meio de outra pessoa.
Zeke deu um trago no cigarro, depois puxou a manga do meu casaco acolchoado azulmarinho.
— Confusa?
Arqueei uma sobrancelha, sem saber se era uma pergunta ardilosa.
A risada deles foi interrompida pelo som do pager de Zeke. Ele tirou o clip do cinto e o ergueu, estreitando os olhos.
— É comigo.
Então deu um tapinha nas costas de Tyler conforme fazia um sinal com a cabeça para Wick.
— Talvez eu me encontre com vocês hoje à tarde. É só uma reunião.
Acenei para ele, depois cruzei os braços. O ar entre nós rapidamente se tornou desconfortável.
Tyler e Wick trocaram sorrisos convencidos, claramente compartilhando uma piada à minha custa. Olhei furiosa para os dois, aliviada quando Jojo colocou a cabeça para fora, pela porta dos fundos.
— A Annie está no telefone.
— Estou no intervalo — rosnou Wick.
— Você devia atender. É a geladeira de novo.
— Droga, droga, droga! — exclamou Wick, jogando o cigarro e errando a lata de lixo.
A porta dos fundos bateu com força depois que ele entrou, e eu peguei a guimba ainda acesa e a enterrei na areia.
— Ainda bem que você pegou isso — disse Tyler.
— Já ouvi essa — falei, dando um trago.
Tyler puxou o boné sobre os olhos e enfiou as mãos nos bolsos. Antes que eu pudesse perguntar como ele conseguia tirar uma folga, ele sorriu.
— Como é? Trabalhar para o Wick? — perguntou ele.
— Não é tão ruim quanto eu imaginava.
— Isso é uma surpresa.
Dei outro trago, observando-o apagar um cigarro e acender outro.
— Você vem aqui todo dia?
— Durante a temporada de incêndios, sim. Fora da temporada, só se eu estiver por aqui.
— E quando é que você não está por aqui?
— Quando estou viajando.
— Ah.
— Ah? — perguntou ele. Dava para perceber o desejo familiar em seus olhos, mesmo por trás da sombra do boné. A covinha da bochecha esquerda se aprofundou, e ele se inclinou um pouquinho na minha direção.
Essa simples reação simbólica me fez desejar uma garrafa de uísque e um quarto escuro.
Engoli em seco. A velha Ellie estava há apenas dois dias de distância, e não estava enterrada o suficiente para suportar o modo como Tyler a olhava. Minha vontade era me esconder embaixo do corpo dele e trocar a dor pelos seus dedos se enterrando nos meus quadris, observando-o tenso enquanto ele se enfiava em mim, me fazendo esquecer de tudo, exceto de suas mãos calejadas na minha pele nua, deixando a doce fuga da intoxicação me levar.
— Pare de me olhar desse jeito — soltei.
— De que jeito?
— Como se tivesse me visto nua.
— Eu vi?
Revirei os olhos, me abaixando para apagar o cigarro.
— Ei — disse ele, estendendo a mão. Então analisou meu rosto, como se tentasse se lembrar.
— Desculpa. Eu não quis te ofender.
Dei de ombros.
— É melhor eu voltar lá pra dentro. Eu meio que preciso desse emprego agora.
— Hum... O Zeke sente alguma coisa por você?
— O Zeke? — falei, minha voz subindo uma oitava. — Não. Quer dizer, acho que não. Não, definitivamente não.
— Você sente alguma coisa por ele?
Minha expressão se contorceu.
— Por que diabos você está me perguntando isso?
— Você conheceu o meu irmão?
Fiquei parada, totalmente confusa.
— Você está parecendo completamente maluco agora.
— Só estou me certificando antes de dar em cima de você.
— Dar em cima de mim? Por acaso ainda estamos no primeiro ano do ensino médio?
Suas sobrancelhas se aproximaram. Ele estava realmente se concentrando, e parecia tão confuso quanto eu.
— Eu só fiz o ensino fundamental.
— Acho que ainda não saiu de lá.
Ele soltou uma risada.
— O que vai fazer mais tarde?
— Nada com você.
Ele engasgou com o trago que tinha acabado de dar, e a fumaça saiu da sua boca junto com uma gargalhada.
— Calma, amorzinho. Assim você me magoa.
— Escuta, estou com dificuldade para voltar ao trabalho, o que significa uma coisa: você precisa ir embora e ficar longe de mim. Estou tentando ser uma boa pessoa, e você... não. Não é bom... pra mim... de jeito nenhum.
Ele tocou no próprio peito.
— Eu sou bom — disse ele, fingindo se sentir ofendido.
Sua confiança fez minhas coxas formigarem.
— Não. Você é mau. E eu sou má. E você precisa voltar para a estação ou para o quartel ou sei lá como se chama, para eu poder manter meu emprego.
— Vou ao Turk mais tarde. Você devia me encontrar lá.
Balancei a cabeça, recuando.
— Não. Definitivamente não.
Ele deu um passo à frente, se divertindo com meu recuo. Ele sabia o efeito que tinha sobre mim e estava gostando disso.
— Estou te deixando nervosa?
Minhas costas encontraram a porta. Suspirei, olhando para o céu nublado.
— Vou ser demitida. — Eu me estiquei até seu rosto e dei um beijo violento em sua boca.
Tyler não hesitou, agarrando meu casaco e me puxando para si. Seus lábios eram vagamente familiares, exigentes e determinados. Ele enfiou a língua lá dentro, e eu gemi, fechando os olhos e o deixando me conduzir para outro lugar — qualquer lugar — que não fosse o cenário surreal e caótico em que eu estava.
Eu o empurrei, sem fôlego.
— Sua caminhonete está por perto?
— Minha caminhonete?
— É, aquela que tem banco traseiro. — Estendi a mão até a rocha por trás do seu zíper.
— Está... na estação. — Ele gemeu, segurando minha bunda com as duas mãos. Depois me levantou, me pressionando contra si.
Fiquei feliz de estar vestindo uma calça jeans e uma blusa de flanela. Se eu estivesse com a calça de couro e o suéter leve do dia anterior, nem a trepada me esquentaria.
— O Wick deixa aquele depósito trancado durante o dia? — perguntei.
Tyler recuou, me olhando, a respiração difícil. Em seguida sorriu.
— Você está falando sério?
— Dá uma olhada na porra da porta, Tyler.
Ele encolheu o queixo e piscou.
— Tyler?
— Que porra é essa? — disse outra voz atrás dele.
A cópia idêntica de Tyler agarrou a parte de trás do seu casaco e o puxou, jogando-o no chão.
Zeke ficou parado atrás dele com os olhos arregalados, antes de levantar as mãos.
— Calma, calma, calma! Eles não sabiam! Eu não falei pra ele. Nem pra ela!
Limpei a boca e ajeitei minhas roupas.
— Que diabos está acontecendo aqui?
O Tyler que estava no chão não sabia muito bem o que pensar, enquanto o que estava em pé parecia claramente preparado para a guerra.
Zeke apontou para o Tyler que eu tinha acabado de agarrar.
— Ellie, esse é o Taylor, irmão gêmeo do Tyler.
— Ai, caralho — falei. Eles não eram apenas gêmeos, eram reflexos um do outro. Não dava para notar nenhuma diferença. — O quê... Por que você não me falou? — gritei.
— Merda. Essa é a Ellie? — perguntou Taylor, levantando as mãos, com as palmas para a frente. — Você não me disse que ela trabalhava aqui!
Tyler apontou para o irmão.
— Você nem perguntou a porra do nome da garota antes de enfiar sua maldita língua na garganta dela?
— Você está de sacanagem comigo? — indagou Taylor, sentando devagar. — Não finge que não fez isso umas mil vezes, seu babaca.
— Você sabe muito bem, Taylor! A gente sempre pergunta antes. Que diabos há de errado com você?
— Ela... — disse ele, olhando para mim. — Eu perguntei sobre o Zeke! Perguntei sobre você!  Ela não agiu como se... Ela não falou nada!
— Você disse a porra do meu nome ou simplesmente perguntou sobre seu irmão? Não é a primeira vez que alguém se confunde.
Taylor deu de ombros, sem graça, e Tyler foi na direção dele.
Levantei as mãos.
— Eu beijei ele! — soltei.
Tyler congelou.
— Eu beijei ele! — repeti, levando uma das mãos ao peito e deixando a outra estendida na direção de Tyler. — Não foi culpa dele!
Taylor se levantou e limpou a neve e a lama do casaco e da calça, com o rosto vermelho e os dentes trincados.
Tyler olhou furioso para o irmão.
— Te devo uma, babaca.
— Tá bom, você me deve uma. — E olhou para mim. — Prazer em te conhecer, Ellie.
— É só isso? — rosnou Tyler.
O maxilar de Taylor se contraiu.
— Desculpa pelo mal-entendido.
Meus ombros desabaram.
— Me desculpa também.
Taylor desapareceu por trás do depósito, e Zeke o seguiu. Tyler girou os ombros para trás e olhou para mim com decepção nos olhos.
— Não — falei, apontando para ele. — Você não tem direito de sentir ciúme. Você mal me conhece.
— Não estou com ciúme. Ele é meu irmão, Ellie.
— Caramba — desprezei. — Como se isso nunca tivesse acontecido... Com base nos quarenta e cinco minutos que passei com vocês dois no total, tenho quase certeza de que vocês compartilharam uma dezena de mulheres ou mais, em algum momento. Talvez até sem saber.
— Não — disse Tyler, quase fazendo biquinho. — Temos um esquema. Normalmente funciona.
— Tenho que voltar para o trabalho.
— Ellie?
— Sim — respondi, irritada.
— Você estava falando a verdade ou estava só tentando evitar uma briga?
— O quê?
— Você disse que o beijou... achando que era eu.
— E daí?
— Achei que você tinha falado que não repetia os caras.
Suspirei.
— Vou ser direta com você, Tyler. Eu fiz merda. Meus pais cortaram minha grana. Estou falida e preciso desse emprego. Fiz uma coisa horrível com a minha irmã e estou tentando mudar as coisas para que, se e quando ela descobrir, ela saiba que não sou mais essa pessoa.
Um dos lados da boca de Tyler se curvou, e a mesma covinha na bochecha esquerda apareceu.
Comprimi os lábios, formando uma linha fina.
— Foi só um momento de fraqueza. Não repito os caras. Ainda mais, agora.
Tyler processou minhas palavras, assentindo.
— Faz sentido.
Soltei uma risada.
— Está bem, então. Aproveite Colorado Springs.
— Colorado Springs? — Tyler perguntou, confuso. O reconhecimento iluminou seus olhos, e ele pareceu envergonhado por mim. — Ah. Esse é o Taylor.
Meu rosto queimou.
— Estou feliz por ficar longe de você. Essa coisa de gêmeos é demais para mim, quando estou sóbria.
Tyler riu e estendeu a mão, dando um aceno rápido enquanto se afastava.
— Adeus, Ellie Edson. Foi divertido.
— A Ellie divertida morreu. Só sobrou a Ellie falida-e-sozinha — provoquei.
Tyler parou.
— Ela não morreu. Só está em fase de transição. Como uma borboleta.
— Isso é profundo, Maddox.
— Já estive mais fundo — disse ele com um sorriso cínico, puxando o boné para baixo, do mesmo jeito que o irmão fizera menos de dez minutos antes, e se afastou.
Revirei os olhos e balancei a cabeça, puxando a porta dos fundos. Wick e Jojo quase caíram para a frente, depois fingiram, muito mal, que estavam fazendo alguma coisa diferente do que ouvir atrás da porta.
— Estou demitida? — perguntei.
— Demitida? — indagou Jojo. — Claro que não! Nunca me diverti tanto no trabalho desde que o meu pai construiu este lugar!
Wick segurava um cigarro e passou se espremendo, e eu segui Jojo para dentro. Ela voltou para a própria mesa, e eu fui para a minha, encarando o computador por um minuto antes de conseguir me concentrar.
— Ellie? — chamou Jojo pelo alto-falante.
Apertei o botão.
— Sim?
— Você parou na marra?
— Hum... sim?
— Meu pai está sóbrio há nove anos. Estamos impressionados.
— Obrigada.
— De nada. Chega de intervalos por hoje.
— Entendido. — Soltei o botão e cobri os ouvidos. A tinta da nova Ellie ainda nem estava seca, e eu já tinha conseguido amassar a primeira porta que se abrira. Esfreguei as têmporas, sentindo outra onda de dor de cabeça. Eu queria um drinque; minha boca parecia seca, e minha mente brincou com a ideia de pedir para José parar na loja de bebidas no caminho para casa.
— Ellie? — chamou Jojo da porta, me dando um susto.
Tirei a mão do rosto.
— Sim?
— Você está indo na direção certa. Ninguém faz nada com perfeição na primeira vez. Vai dar tudo certo.
Ninguém poderia ter falado nada melhor para mim naquele instante. Essas três frases simples acalmaram minha alma.
— Obrigada — foi tudo o que consegui dizer.
Jojo piscou para mim e voltou para sua mesa. Cliquei algumas vezes para navegar até as configurações do computador e selecionei “Mudar  Login/Senha”.

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