Capítulo 24
A festa já estava bem animada quando entrei no
apartamento de Taylor e Tyler. Reconheci alguns rostos — Jubal e alguém que
imaginei ser sua esposa. Watts, Smitty, Taco e Docinho da estação do corpo de
bombeiros também estavam lá.
Tyler correu na minha direção, oferecendo um abraço e
um beijo demorado.
— Uau. Você está linda. Sensacional.
— Obrigada — falei, olhando para a jardineira
listrada com lantejoulas e para os sapatos de salto que Finley tinha me
emprestado. — Desculpa por chegar tarde. Eu estava arrumando tudo isto — falei,
apontando para o cabelo e a maquiagem —, depois a Finley me ligou. Ela quer conversar
hoje à noite.
— Oh-oh — disse Tyler.
— Ela parecia feliz, na verdade.
— Ah. Isso é bom, né?
— Acho que sim — falei, segurando seu braço quando um
dos saltos balançou.
O apartamento estava pouco iluminado, sem nenhum tipo
de decoração, exceto por uma única luminária num canto, que lançava um
arco-íris de pequenos círculos nas paredes e no teto.
Os alto-falantes bombavam com músicas que reconheci
da playlist de Tyler, e me perguntei se os vizinhos chamariam a polícia ou
deixariam as pancadas do baixo passarem por ser noite de Ano-Novo.
— Não é um jeito ruim de comemorar seu aniversário
todo ano — gritei no ouvido de Tyler.
— É como se o mundo inteiro estivesse comemorando com
a gente! — disse ele, me puxando pela mão através da multidão, até onde estavam
Taylor e Falyn.
Ela era linda; o brilho em seu vestido marfim
refletia a luz do ambiente, e o cabelo louro volumoso e as sardas
proporcionavam o perfeito equilíbrio entre garota da casa ao lado e gatinha sexy.
Tentei não encarar seus lábios e me lembrar que Tyler já os tinha saboreado,
apesar de haver uma época, não muito distante, em que eu não me importaria de
tê-los saboreado também.
Assim que Tyler se movimentou para nos apresentar, a
multidão se abriu, e Paige apareceu, com um jeito nervoso, mas esperançoso. Seu
cabelo agora estava prateado, num penteado pompadour recém-aparado. Estava com
mais tatuagens e piercings do que eu me lembrava, e a doce inocência tinha
desaparecido há muito tempo de seus olhos. Ela me deu uma cerveja num copo Solo
vermelho, batendo a dela na minha.
— Há quanto tempo — disse ela.
— Como você está? — perguntei.
— Na merda. E você?
— Ainda sou alcoólatra — falei, tomando um longo
gole. — Mas a internet diz que sou uma alcoólatra funcional, então tenho isso a
meu favor.
Ela balançou a cabeça e sorriu.
— Sempre tão engraçada.
Tyler beijou meu rosto.
— Não quero ser grosseiro, baby, mas o Taylor...
— Baby? — disse Paige, encolhendo o queixo. — O que
vocês são? Um casal, agora?
Inclinei a cabeça, surpresa com a prepotência vinda
de um pacote tão pequeno.
— Na verdade, somos — respondi.
Paige abafou uma gargalhada, depois continuou a dar
risinhos, cobrindo a boca e acenando na frente do rosto.
Tyler e eu trocamos olhares, depois ele se inclinou
para sussurrar em meu ouvido.
— Não a convidei. Parece que agora ela está morando
no prédio.
— Ah — falei, fazendo que sim com a cabeça e
arregalando os olhos. — Que ótimo. —
Tomei a bebida toda, e Paige pegou o copo, estendendo
a mão para trás e pegando mais uma.
— Baby — alertou Tyler. — Existe uma linha tênue
entre ser funcional e ser apenas alcoólatra.
— É noite de ano-novo — disse Paige. — Qual é o
problema?
A porta se abriu, e Finley entrou, encarando com
olhos arregalados, fascinada com todos os corpos no espaço minúsculo. Tomei
mais uma bebida, engolindo metade do copo antes de ver Sterling entrar também.
Engasguei, e Tyler deu um tapinha nas minhas costas
enquanto eu engolia o conteúdo ainda na boca e tossia.
— Jesus, Maria e Joseph Stalin, porra — falei,
balançando a cabeça, sem acreditar.
Finley acenou enfaticamente e puxou Sterling pela
multidão. Ele parecia tão enjoado com o desastre iminente quanto eu.
— O que eu faço? O que eu faço? — perguntei, entrando
em pânico.
— Me impede de matar o Sterling? — respondeu Tyler. —
Isso deve deixar sua mente longe da Finley.
Olhei para ele, vendo-o olhar furioso para o
acompanhante de Finley. Engoli o resto da cerveja que Paige tinha me dado e
entreguei o copo para Tyler. Nenhuma quantidade de álcool me ajudaria a
enfrentar os próximos minutos.
— Ellie! — disse Finley, jogando os braços ao meu
redor.
— Fin... você bebeu — falei, fazendo um esforço
enorme para não ter contato visual com Sterling.
— Um pouco de champanhe pra comemorar — disse ela,
estendendo a mão esquerda. Um diamante enorme brilhava no dedo anular.
Segurei seus dedos e os puxei para perto, depois
semicerrei os olhos para Sterling. Ele balançou a cabeça, implorando para eu
não fazer um barraco.
— Vamos nos casar! — gritou Finley.
— Não entendo — falei. — Vocês nem estavam namorando.
Desde a faculdade, pelo menos.
O sorriso de Finley desapareceu, e ela puxou a mão da
minha, assumindo uma postura reservada.
— O Sterling e eu nos conhecemos há muito tempo,
Ellison. O papai e a mamãe estão muito felizes. Achei que você também ia ficar.
— Talvez, se isso fizesse algum sentido — falei,
ainda olhando furiosa para Sterling.
— Você não fala comigo há muito tempo, Ellie. O
Sterling e eu nos tornamos muito próximos e...
— Oi! — disse Paige, me trazendo um copo novo. Bebi
tudo de uma vez e lhe devolvi o copo.
— Baby — alertou Tyler.
— Obrigada, Paige — falei, secando a boca.
Toquei o braço da minha irmã.
— Finley, tem uma coisa que você precisa saber,
antes.
— Fin, é melhor a gente ir. A Ellison não está num
bom momento — disse Sterling.
— O que importa? — recriminou Tyler. — Não fez
diferença antes. Você não tem nenhuma pílula pra isso?
Sterling pigarreou.
— Vamos, querida.
— Essa é a Finley? — disse Paige, acariciando o
vestido caro de minha irmã. — Ah, sim! Eu lembro de você! Do bar! Tentando
trepar com o Tyler!
O súbito interesse de Paige na situação me deixou
nervosa.
— Claro que eu não estava fazendo isso — disse
Finley, alisando o cabelo. — Você deve ter me confundido com outra pessoa.
— Não, não, era você. Você e seu amante latino nos
deram uma carona naquela no... Ai, meu Deus! — Ela segurou a mão de Finley e
analisou seu dedo. — O que é isso? Você está noiva?
— Estamos — respondeu Finley, puxando a mão de volta.
— Desse cara? — Paige apontou para ele, sem se
impressionar. — Não era dele que você estava tentando se livrar no bar?
— Não — disse Finley, piscando. Ela não estava
acostumada a se ver numa situação tão desconfortável.
— Paige — falei.
— Não... não — ela enrolou as palavras, dando um
tapinha no meu peito esquerdo —, agora eu entendo. Achei que era só eu. — E
pressionou a palma da mão no próprio peito. — Mas são vocês. — Girou o dedo
indicador, apontando para Finley, Sterling, Tyler e depois para mim. — Vocês
são tipo... pervertidos sexuais fodidos sem nenhuma consideração pelos
sentimentos dos outros. Como vocês dois. — Ela apontou para Tyler e para mim. —
Que porra vocês estão fazendo juntos? Eu fui legal com você, Ellie. Ele
simplesmente te largou, e nós dividimos uma cama... eu fiz biscoitos pra você —
cantarolou ela. Depois fez uma careta para Sterling. — E aí você trepou com
ele, e agora sua irmã está noiva dele depois de tentar trepar com o Tyler e fracassar.
Vocês todos são muito errados e deviam procurar apoio psicológico.
Imediatamente.
— O que ela está falando? — disse Finley, encolhendo
o queixo.
Fechei os olhos.
— Fin...
— Ela acabou de dizer que você trepou com o Sterling?
— Na verdade — disse Paige. — Ele fodeu a sua irmã. —
Ela pressionou os lábios e fez que sim com a cabeça, claramente uma dedo-duro
arrependida.
Meus olhos arderam, e eu estendi a mão para minha
irmã.
— Finley...
Finley se afastou, depois virou para Sterling.
— Você fodeu a minha irmã?
Sterling estendeu as mãos.
— Não. Quer dizer, sim, mas, querida... foi um erro.
Ela estava chateada, e nós tomamos algo que não devíamos... eu nem sei direito
o que aconteceu. Não me lembro de nada, nem ela.
Finley olhou para mim, chocada.
— Ele está dizendo a verdade?
Hesitei, depois assenti, meus olhos se enchendo de
lágrimas.
— Eu ia te contar.
— Você... — Finley olhou ao redor. — Você ia me
contar? Isso serve pra corrigir as coisas?
— Não — falei, balançando a cabeça. — Nem um pouco.
— Foi por isso que você ficou tanto tempo sem falar
comigo? Era isso que você estava escondendo de mim?
Não consegui falar nada, só fiz que sim com a cabeça.
Tyler apontou para Sterling.
— Vocês precisam ir embora.
Sterling estendeu a mão para Finley, com lágrimas lhe
escorrendo pelo rosto.
— Fin. Por favor. Sei que você está com raiva, e tem
todo o direito de estar, mas foi há muito tempo.
— Há quanto tempo? — perguntou Finley.
— Pouco depois de você ir para Sanya — soltou
Sterling.
Finley pegou o celular e digitou furiosamente uma
mensagem.
— Quem é? — perguntou Sterling.
— Marco — respondeu Finley. — Pedi pra ele vir me
buscar.
— Querida, não. Temos que discutir isso. — Ele tocou
o braço dela, mas ela ergueu os punhos.
— Não! — gritou ela, com as mãos trêmulas.
Todo mundo ao nosso redor virou para olhar.
Ela tirou o anel e enfiou no bolso do smoking de
Sterling, dando um tapinha no peito dele.
— Seu filho da puta. Você ia deixar eu me casar com
você sem me contar.
O lábio inferior de Sterling tremeu.
— Finley, pelo amor de Deus...
— E você — disse ela, apontando para mim. Uma lágrima
escapou e escorreu pelo seu rosto.
— Pode esperar. Vou trepar com o Tyler, e aí você vai
ver como é.
— Eu queria te contar — gritei. — Mas eu não podia
voltar atrás e não queria que você me odiasse.
— Não posso te odiar — disse ela. — Você é minha
irmã. Mas você... — ela continuou, olhando furiosa para Sterling — você eu
posso odiar. — O celular de Finley se acendeu, e ela sorriu e acenou. — Feliz
Ano Novo, seus putos — disse ela, fechando a porta ao sair.
Sterling foi correndo atrás dela, e Tyler envolveu o
braço ao meu redor, beijando meu cabelo.
— Sinto muito, baby.
Fechei os olhos, sentindo as camadas de rímel secando
em meu rosto.
— É seu aniversário, baby. — Peguei o copo de alguém
e engoli o conteúdo. — Vamos festejar.
Quando meus olhos se abriram, só consegui ver uma
pilha de edredons estranhos. Pisquei algumas vezes para focar e vi um
porta-retratos de Taylor e Falyn na mesinha de cabeceira.
Sentei, tentando engolir, mas sentindo que havia agulhas
na minha garganta. Eu estava deitada no meio da cama do Taylor, sozinha. Andei
pelo corredor até o banheiro, parando quando ouvi o chuveiro, depois continuei
até a sala de estar, sem reconhecer as pessoas que ainda estavam desmaiadas e
largadas nos móveis.
— Tyler? — chamei, olhando ao redor. Cambaleei até a
cozinha para pegar um copo d’água.
No instante em que o líquido gelado encostou na minha
garganta, senti um segundo de alívio antes de vomitar violentamente na pia.
Quando achei que tinha terminado, meu estômago se contraiu de novo e de novo,
esguichando uma mistura de cerveja, vinho e tequila, em cima de todos os pratos
que tinham sido deixados na cuba de aço inoxidável.
Abri a torneira para limpar a minha bagunça. Liguei a
lava-louças e me arrastei pelo corredor em direção ao quarto.
— Tyler? — falei, empurrando a porta.
Tyler levantou a cabeça, esfregando os olhos.
— Oi, Ellie. — Ele piscou algumas vezes, tentando se
concentrar na minha expressão. —
Algum problema?
— Bom dia — disse Finley ao lado dele.
Tyler saiu da cama quase num pulo e depois procurou
lençóis para cobrir o corpo. Finley estava casualmente em pé em sua forma
perfeita e entrou no vestido, fechando o zíper e pegando os sapatos.
— Que porra é essa? — gritou Tyler, parecendo
envergonhado e confuso.
— Eu mereço isso — falei, com a voz falhando.
Tyler balançou a cabeça, levando a palma da mão até a
testa, tentando se lembrar do que acontecera.
— Não. Você... você estava bêbada e foi para o quarto
errado. Deixamos você lá pra você
poder dormir, Ellie. Não trepei com a sua irmã. Onde
está a Falyn?
Dei de ombros.
— Por que eu deveria saber onde está a Falyn?
— Juro por Deus, Ellie — implorou ele, apontando para
Finley. — Não aconteceu nada! Não tenho a menor ideia de por que ela estava nua
nessa cama.
Finley piscou para Tyler e parou ao meu lado na
porta.
— Como você se sente?
Soltei uma respiração trêmula, sentindo os olhos
queimarem com as lágrimas.
— Morta.
— Então estamos quites. O Marco está nos esperando lá
fora. Ele vai te dar uma carona pra casa.
Ela passou por mim e me deu uma ombrada, e eu olhei
para Tyler. Ele soltou o lençol, procurando, furioso, suas roupas.
— Não vá embora. Ellie — alertou ele. — Não saia
daqui com ela, porra. Precisamos conversar.
— Eu merecia isso — falei, com o rosto desabando. —
Mas você não. Sinto muito por você ter sido envolvido nessa... nesse meu mundo
fodido. Eu realmente achei... — Soltei uma respiração lenta, tentando não
soluçar. — Não importa.
Tyler encontrou a cueca boxer e a vestiu.
— Ellie, espera.
Girei nos calcanhares, disparando pelo corredor e
empurrando a porta. Conforme prometido, Marco estava me esperando num Lexus
alugado, com minha irmã recém-comida no banco do passageiro. Deslizei para o
banco traseiro, e Marco saiu com o carro assim que Tyler apareceu correndo
porta afora com apenas uma toalha enrolada na cintura.
— Não para — falei, ouvindo Tyler gritar meu nome até
virarmos a esquina um quarteirão depois.
— Acho bom você desligar seu celular até poder trocar
de número — disse Finley. — Foi isso que eu tive que fazer com o Sterling. Você
vai pro seu apartamento ou pro castelo?
— Pro meu apartamento — soltei, olhando pela janela.
Meu celular zumbiu, e eu me atrapalhei para
desligá-lo.
— Te falei — disse Finley. Ela cheirou o próprio
cabelo e fez um ruído de nojo. — Eca, ainda estou com o cheiro dele.
— Cala a porra da boca, Fin. Cala a boca.
Marco me levou até o prédio da revista. Depois que
subi, vesti uma camiseta, uma calça de moletom, lavei o rosto e escovei os
dentes. A caminhonete de Tyler parou numa vaga do estacionamento, e eu o ouvi
socando a porta dos fundos.
Olhei para ele lá embaixo pela janela. Ele estava
usando apenas uma camiseta e calça jeans, com as botas ainda desamarradas. Dava
para ver sua respiração saindo em nuvens brancas, e ele esfregando as mãos
entre uma batida e outra.
— Ellie! — gritou ele. — Não vou embora, porra. Abre
essa porta!
Destranquei a janela e a empurrei sem esforço, me
apoiando no peitoril enquanto olhava para Tyler lá embaixo.
— Não estou com raiva.
Ele olhou para mim.
— Então me deixa subir.
— Vai pra casa, Tyler.
Ele estendeu as mãos.
— Está frio pra caralho aqui fora.
— Então entra na sua caminhonete e vai pra casa.
— Não trepei com a sua irmã! Eu estava no chuveiro
hoje de manhã. Você cambaleou até o quarto do Taylor, e eu dormi lá com você.
Te abracei a noite toda, porra. O Taylor deve ter dormido no meu quarto, e sua
irmã psicótica deve ter se esgueirado pra cama com ele, achando que era eu.
Você pegou a Finley com o Taylor!
Franzi a testa, sabendo que eu conseguia distinguir
os dois, agora, mas eu tinha acabado de acordar e estava irritada. Talvez...
— Me deixa subir. Por favor? Vou começar a perder os
dedos daqui a pouco.
— Você vai deixar o Taylor assumir a culpa por você? Isso
é mais do que enganar os professores na escola, não acha?
— Juro por Deus. Deixa eu subir pra explicar. Podemos
ligar pro Taylor, se você quiser.
— Ele mentiria por você.
— Ellie, por favor? É meu aniversário. — Sua covinha
apareceu, mas eu continuei forte.
— Então vai encontrar seu irmão pra comemorar.
Ele balançou a cabeça, sorrindo.
— Quero passar o dia com você. Mesmo que isso
signifique passar o dia tentando descobrir que diabos aconteceu ontem à noite.
— Está fazendo menos dezesseis graus, Tyler.
— Então me deixa entrar — disse ele, o sorriso
desaparecendo. — Não posso ir embora. Isso vai estragar o meu dia.
— Acho que você estragou o seu dia quando dormiu com
a minha irmã!
— Eu não dormi com a sua irmã! Que inferno! — gritou
ele, chutando a porta.
— Para! O Wick vai me expulsar daqui!
Tyler apoiou as mãos nos quadris, respirando com
dificuldade. Balançou a cabeça, depois olhou para cima.
— Abre essa porta, Ellie, ou eu vou derrubá-la, juro
por Deus.
— Você é um canalha — falei.
Ele estendeu a mão.
— E sua irmã é uma vaca.
Fechei a janela e desci a escada, pisando duro. Girei
a fechadura e abri a porta. Tyler passou por mim, correndo até o apartamento.
Quando voltei para a sala de estar, ele estava tremendo no sofá, enrolado no
edredom da minha cama.
Revirei os olhos e liguei a Keurig.
— Quase peguei uma hipotermia por causa disso — disse
ele.
— Você devia ter colocado uma roupa mais quente —
soltei.
— Eu não tive tempo, já que o meu irmão entrou
desesperado no banheiro pra contar uma versão meia-boca da história, e eu tive
que correr atrás de você um quarteirão inteiro, usando só uma toalha, e depois
voltar. Peguei a primeira roupa que eu vi, e saí porta afora. A única mulher em
quem encostei na noite passada foi você. Você tem que acreditar em mim.
— Vou te fazer uma xícara de café, depois você vai
embora.
Tyler se levantou.
— Espera aí! Você sabe que isso não está certo. Pensa
bem!
Deixei as mãos caírem na lateral do corpo.
— E daí? A minha irmã voltou e deduziu que era o seu
quarto por causa das nossas fotos na parede, tirou a roupa e subiu na cama com
um Taylor nu e apagado?
— Talvez! Não tenho ideia, mas isso é mais provável
do que eu achar que ela era você.
Eu me empertiguei.
— A Finley não faria isso.
— Ah, mas ela treparia com seu namorado por vingança?
Meu rosto se contorceu de desgosto.
A cafeteira apitou, e eu coloquei uma caneca embaixo
do bico e uma cápsula no suporte, apertando o botão de coar. Abri a geladeira e
peguei uma cerveja e o creme de avelã preferido de Tyler.
Dei a xícara a ele e abri minha cerveja.
— Não mexi — soltei.
— Inferno — disse ele, ofendido. — Achei que você
tinha dito que não estava com raiva.
Olhei furiosa para ele enquanto ele bebia o café com
um sorrisinho no rosto.
— Não tem nada de engraçado nisso!
Ele deu uma risada, incrédulo.
— Eu nunca faria isso com você. Graças a Deus a sua
irmã não consegue nos distinguir, mas estou meio preocupado, porque você também
não consegue.
Cruzei os braços.
— Eu tinha acabado de acordar e peguei você com a
minha irmã. Talvez eu não estivesse enxergando bem.
— Então você acredita em mim.
— Para de falar.
— Você tem que saber isso. Eu te carreguei pra cama.
Você estava supermal. Eu nunca te deixaria. A única coisa que não consigo saber
é onde estava a Falyn.
O celular dele tocou, e ele atendeu.
— Você a encontrou? — Ele fez que sim com a cabeça,
olhando para mim. — Vou te colocar no viva-voz.
— Ellie? — disse Taylor enquanto Tyler segurava o
celular. — A Falyn foi até o mercado comprar umas coisas para o café da manhã
de aniversário. Ela deixou a Finley entrar. Ela não sabe de nada, e eu gostaria
que você não contasse pra ela. Eu não dormi com a sua irmã, e seria bem
complicado tentar explicar isso.
Cobri os olhos com a mão.
— Não vou falar nada. Sinto muito, Taylor.
Tyler desligou o telefone e o guardou no bolso
traseiro.
— Vem cá — disse ele, estendendo as mãos.
Mantive o rosto coberto.
— Sinto muito mesmo.
— Não é culpa sua — disse Tyler. Ele veio em minha
direção e nos cobriu com o cobertor.
Encostei a testa no peito dele, inspirando o cheiro
de cigarro antigo e sua colônia.
Eu o deixei e fui sentar no sofá, acendendo um
cigarro. Ele sentou ao meu lado e deixou a cabeça pender para trás até encostar
na parede.
— Não sei qual de vocês duas devia odiar mais a
outra.
— Você ouviu o que ela disse. Somos irmãs. Não
podemos nos odiar.
— Eu posso odiá-la — resmungou ele. — Tenho que saber
como ela subiu na cama do Taylor sem ele saber. Ele deve ter achado que era a
Falyn que tinha voltado pra cama.
Dei um trago e passei o cigarro para Tyler. Ele deu
um trago e o devolveu.
— Minha família fodida oficialmente envenenou a sua.
Tyler pegou a cerveja da minha mão.
— Você estava desmaiada de bêbada ontem à noite e
está bebendo de novo. Achei que você ia parar. Preciso parar com você?
— Acabei de perder a minha irmã. Não é o melhor
momento para parar de beber.
— Nunca vai existir um bom momento, se você tiver que
beber todas as vezes que estiver chateada. As merdas acontecem. Você tem que
aprender a lidar com elas sem álcool. Eu te amo de qualquer jeito, mas você
precisa acordar, Ellie.
Minhas sobrancelhas se juntaram conforme eu encarava
a parede.
— Não posso acordar. Isso não é um sonho.
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