Capítulo 26

Jon Bon Jovi estava tocando na jukebox no canto, e o brilho amarelo, verde e azul dela era uma das únicas fontes de luz no Turk, além das lâmpadas fluorescentes do bar.

Um pequeno grupo de praticantes de snowboard estava bebendo tequila no canto, e, apesar dos meus ocasionais olhares de flerte na direção deles, os caras não queriam dividir.

Annie estava ocupada atrás do balcão, aproveitando as últimas gorjetas da temporada de esqui. Eu estava sentada num banco em frente à sua mangueira de água com gás, observando-a misturar drinques que eu não podia comprar. Jojo já havia me comprado dois, e eu não ia pedir mais um. Infelizmente, ninguém estava tentando paquerar uma garota animada, de ressaca, com jetlag e pobre demais para festejar.

Olhei ao redor, me sentindo mais desesperada conforme os minutos passavam, ouvindo Jojo falar sem parar sobre Liam e seu convite para encontrá-lo na Carolina do Norte.

Uma dose foi colocada na minha frente, e eu virei para agradecer. Meu sorriso desapareceu quando avistei um penteado pompadour platinado e um sorriso doce.

— Parece que você já teve dias melhores, Ellie — disse Paige, ajeitando um de seus enormes brincos dourados de folha.

Olhei para a frente.

— Vai embora, Paige.

— Isso não é muito simpático. Acabei de te pagar um drinque.

Inclinei o pescoço para ela.

— Minha irmã não fala comigo por sua causa.

Jojo se inclinou para a frente.

— Não acredito que você fez isso, Paige. Que porra você estava pensando?

— Eu não estava pensando — disse ela sem pedir desculpas. — Eu estava bêbada e, talvez, muito doida.

Jojo franziu o nariz.

— O que aconteceu com você? Você era tão doce. Agora está cheia de buracos e coberta de arte barata.

— Vai dar para um canguru, Jojo.

— Você é uma babaca, Paige. Esse seu sorriso falso e inocente não convence ninguém — acusou Jojo, virando para olhar para a televisão no alto.

Paige pareceu não se abalar, apoiando o queixo na palma da mão.

— Eu não estava tentando ser má. Eu não sabia que era segredo.

— Se você vai tentar algo tão hediondo, pelo menos admite. Eu te respeitaria mais — falei, pegando a dose e lançando-a na garganta.

— Quer mais uma? — perguntou ela, arqueando uma sobrancelha. Ela tinha planos para mim, e eu não me importava quais eram. Eu só queria ficar bêbada e não me importar por uma noite.

— Depende. O que você colocou nessa dose?

— Nada divertido, a menos que você peça.

— Aceito só mais um drinque.

Paige fez um sinal para Annie, que assenti.

— Onde está seu namorado? — perguntou Paige, levantando a perna para sentar no banco à minha direita. Ela estava usando uma calça jeans justa e camiseta por baixo de uma blusa de flanela, mostrando as curvas e o decote ao mesmo tempo em que se mantinha aquecida.

— Não está aqui — respondi, engolindo a outra dose que Annie colocou na minha frente.

— Ei — disse Paige com uma risadinha. — Espera por mim. — Ela ergueu o queixo, e o líquido escuro escorreu garganta abaixo. Em seguida colocou o copo de cabeça para baixo e o deslizou na direção de Annie, pedindo dois duplos.

Eu os bebia com a mesma rapidez que Annie os preparava. Por fim, Paige me interrompeu:

— Você vai beber todo o meu salário. Cheguei com uma nota de cinquenta, e já gastei tudo.

— Obrigada — falei, levantando o copo vazio.

— Vai com calma — disse Jojo. — Quando meu pai exagera, é mais fácil ele se recuperar quando não está de ressaca.

— Já estou de ressaca — falei. — Ou estava... seis drinques atrás.

— Você está contando? — perguntou Paige. — Isso é impressionante.

Jojo bufou.

— Contar até seis só seria impressionante pra você, Miley Cyrus.

— Por que você a trouxe pra um bar, se ela está limpa, Jojo? — perguntou Paige, inclinando-se para a frente.

— Por que você levou cerveja para a casa dela? E por que está pagando doses pra ela agora? Eu só queria beber uns drinques e conversar, não deixar a coitada bêbada pra convencê-la a fazer sacanagem.

— Tem certeza? — perguntou Paige com um sorriso doce.

— Vai se foder, Paige.

— Meninas — falei, sorrindo quando senti o calor se instalando nos músculos. — Não precisam brigar pra saber quem me apoia mais.

— Isso não é engraçado — disse Annie, olhando furiosa para nós com os olhos redondos cor de chocolate enquanto secava furiosamente um copo. — Vocês são duas babacas, se ela estava tentando ficar sóbria. — E olhou para mim. — Você está proibida, Ellie. Saia daqui.

Minha boca se abriu.

— O que foi que eu fiz?

— Você me deixou servir drinques para uma alcoólatra. É melhor eu não te ver aqui de novo, senão eu chamo o Wick. Jojo... que vergonha.

Jojo fez uma careta.

— Ah, por favor. Como se meu pai não viesse aqui ficar bêbado quando briga com a minha mãe.

— Ele não vem aqui há muito tempo — disse Annie, e seus cachos castanhos na altura dos ombros balançaram enquanto ela repreendia e trabalhava ao mesmo tempo. — Leva ela pra casa.

— Tudo bem, tudo bem, já estamos indo — falei, levantando para pegar minhas coisas.

— Eu te levo — disse Paige.

— Não. — Balancei a cabeça. — Você ainda não pediu desculpas pela noite de Ano-Novo.

Paige deu um passo em minha direção, ficando muito perto de mim.

— O que você acha que estou tentando fazer?

Ela se aproximou, inclinou a cabeça e pressionou os lábios nos meus. Os caras do snowboard no canto gritaram, como se seu time preferido de hóquei tivesse marcado um gol.

— Paga um drinque pra essas garotas! — gritou um deles, apontando para nós.

Olhei para Annie, mas ela apontou para a porta.

Paige me levou para fora pela mão, mas, assim que chegamos ao beco, ela encostou na parede e me puxou para si. O piercing que ela tinha na língua bateu nos meus dentes, e suas mãos seguraram meu rosto firmemente.

Ouvi alguém dar uma risadinha à esquerda, virei e vi uma mulher na mesma posição de Paige, puxando o rosto de Sterling para si. O joelho dela estava enganchado no quadril dele.

Os olhos de Sterling estavam vermelhos e se desviaram. Quando ele me reconheceu, percebi que estava tão bêbado quanto eu, se não mais. Observamos um ao outro durante muito tempo, depois a amiga de Sterling o puxou para encará-la de novo, exigindo sua atenção.

Paige tentou fazer a mesma coisa, mas eu recuei.

— Ellie? — disse Paige, confusa.

Fui em direção à rua, passando por Sterling e sua nova amiga e virando em direção ao centro da cidade. Parei na esquina, olhando para baixo quando um carro da polícia passou por mim. O sinal mudou de cor, e eu atravessei a rua correndo, até a única loja de conveniência vinte e quatro horas da cidade.

— Banheiro? — perguntei.

O atendente apontou para os fundos, e eu corri.

— Ei. Ei! Nada de vomitar lá dentro!

Passei voando pela porta e me apoiei nela, deslizando até o chão. Pedaços de papel higiênico e toalhas de papel estavam largados ao meu redor, e eu senti a bunda da minha calça jeans ficar molhada por causa das inúmeras poças que haviam no chão. Peguei o celular no bolso traseiro, com o polegar flutuando sobre a tela.

Antes que eu pudesse mudar de ideia, apertei o último nome que achei que discaria — um número que Finley tinha programado no meu celular três meses antes.

O telefone tocou duas vezes antes de ela atender.

— Ellison? Meu Deus, que bom saber de você!

— Sally — comecei. — Estou no banheiro de uma loja de conveniência. Acho que é a única aberta na cidade.

— Onde?

— Estes Park. Preciso de um carro pra ir até a clínica de reabilitação mais próximo. Tentei parar de beber... Eu... — Respirei fundo. — Não consigo fazer isso sozinha. Estou bêbada neste momento.

— Alguém vai te pegar aí em quinze minutos. Aguente firme, Ellison. Vamos te curar.

Coloquei o alarme para despertar no celular e esperei no chão sujo. Antes de o som desligar, o atendente bateu à porta.

— Ei, moça! Tudo bem aí dentro?

— Estou bem — respondi, fungando. Engatinhei até a parede mais distante e peguei um pedaço de papel higiênico no rolo, secando os olhos entre um soluço e outro.

— Tem um cara aqui fora. Disse que veio te pegar.

Cambaleei até levantar, surpresa com meu reflexo no espelho. Duas faixas de rímel, muito pretas e grossas, manchavam meu rosto, dos olhos até o maxilar. Meu cabelo estava emaranhado, meus olhos, entorpecidos e vidrados. Abri a porta e, ao lado do atendente, vi Tyler parecendo enorme em comparação com o garoto baixinho e magrelo.

Ele suspirou, aliviado.

— Ellison... eu te procurei em toda parte.

Sequei as mãos na calça jeans e tentei andar sem tropeçar. Tyler me seguiu até lá fora, pronto para me pegar se eu caísse. Ele colocou seu casaco sobre meus ombros e ficou agitado.

— Sinto muito, porra — soltou ele. — Eu não queria falar aquilo. Não queria falar nada daquilo.

— Eu sei.

— Não — disse ele, estendendo a mão para mim. — Não, você não sabe. Você não tem a menor ideia de como eu te amo, porra. Só estou... sem ideias. As coisas estavam tão boas antes do meu aniversário. Eu só quero voltar àquela época de algum jeito.

Oscilei para trás, mas ele me puxou para si.

— Quanto você bebeu? — perguntou ele.

— Muito — respondi, o lábio inferior tremendo. — Vi o Sterling.

A expressão de Tyler passou de preocupação para raiva.

— Onde? Ele te falou alguma coisa? Como foi que você chegou aqui? Com ele?

Balancei a cabeça e cruzei os braços.

— Vim andando.

— Meu Deus, Ellie, está congelando lá fora.

— Não quero ser como ele.

— Como o Sterling? — Tyler pareceu pego de surpresa. — Você não é. Você não é nem um pouco como ele.

— Sou exatamente como ele. Uma babaca bêbada e egoísta, que não se importa com ninguém. — Virei para Tyler. — Não posso te amar. Não consigo amar nem a mim mesma...

Tyler agiu como se o ar tivesse sido retirado de seus pulmões. Em seguida deu de ombros.

— O que eu posso dizer? Você vive me tratando mal e eu continuo voltando, achando que uma hora você vai parar com isso. Eu te amo. E sei que você também me ama, mas... eu não sou um saco de pancadas. Não sei quanto tempo mais vou aguentar.

— Não cabe a você me salvar. Tenho que fazer isso sozinha. Em outro lugar.

Ele ficou pálido.

— Do que você está falando?

Um carro preto parou, e o motorista desceu.

— Srta. Edson?

Fiz que sim com a cabeça.

Tyler franziu a testa.

— Quem é esse aí, porra?

— Minha carona.

— Posso te levar. Pra onde você vai?

Dei de ombros.

— Não sei.

— Quem é esse cara? Ele trabalha para os seus pais?

— Não exatamente — respondi. Sally sabia tão bem quanto eu que meus pais pagariam por uma carona que me levasse à reabilitação.

Tirei a jaqueta dele, mas Tyler estendeu a mão.

— Fica com ela. Me devolve quando voltar pra casa.

Estendi a mão para o rosto dele, ficando na ponta dos pés para beijá-lo, e ele jogou os braços ao meu redor, fechando os olhos com força e me abraçando como se fosse a última vez.

— Volta — disse ele nos meus lábios, ainda de olhos fechados.

— E se eu voltar diferente? E se demorar muito?

Ele balançou a cabeça.

— Amei todas as suas versões e vou amar a que voltar.

Meu rosto se retraiu, e eu fiz que sim com a cabeça, acenando um adeus.

O motorista estava parado ao lado do carro e abriu a porta quando viu que eu caminhava em sua direção. Ele a fechou quando sentei no banco traseiro. O cheiro de couro e de carro novo me fez lembrar da minha outra vida, da antiga Ellison que não teria percebido que estava tão suja enquanto o carro estava tão limpo. Eu não pertencia àquele carro nem àquela vida, mas ali estava eu disposta a me submeter àquilo tudo para poder me curar completamente.

— Coloque o cinto, srta. Edson — pediu o motorista. — Temos uma longa viagem.

Fiz que sim com a cabeça, estendi a mão para a alça atrás do ombro e a puxei. Eu não sabia para onde o motorista estava me levando, mas chorei o caminho todo.

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