Um Conto de Duas Cidades


Terno e violento. Essa adjetivação antagônica talvez dê conta do fulgor narrativo de Um conto de duas cidades. Repleto de aventura, romance e tragédia, o romance teve como inspiração a obra História da Revolução Francesa, publicada em 1837 pelo escritor, ensaísta e historiador escocês Thomas Carlyle (1795-1881). Longe de abandonar características dickensianas como o realismo e a forte tensão sentimental, incorpora contudo elementos que conferem a esta obra uma feliz singularidade dentro do legado do autor inglês. Deixando um pouco de lado a comicidade que costuma permear seus personagens - ela está, sim, presente no texto, mas em proporção diminuta se comparada a outros trabalhos -, Dickens embarca aqui em uma emocionante pintura da Revolução Francesa. A peculiaridade deste romance começa na condição indissociável da escrita de Charles Dickens: é obviamente com o olhar estrangeiro e não raro antagônico de um inglês que ele dá vazão à sua trama. No entanto, isso não o impede de ir ao fundo de questões fundamentais e de compor um quadro impressionante do que foi aquele período da história da França para os homens da época. O autor evita o posicionamento político, centrando a narrativa nas observações de cunho social e no impacto individual que aquele processo impingiu a pessoas de todas as camadas. O aristocrata, o burguês, o camponês, o malandro, o vagabundo. Estão todos ali. De um lado, encontramos personagens como o ex-prisioneiro da Bastilha, doutor Manette; Charles Darnay, o aristocrata que rompe com a família e com sua classe social; o senhor Lorry, a personificação do inglês sistemático e virtuoso; a senhora Defarge, face cruel e impiedosa das jacqueries; o enigmático Sidney Carton, aquele que confere à trama o que ela tem de mais romanesco e sem dúvida um dos grandes personagens da literatura inglesa. Todos eles de personalidades marcantes, na melhor tradição do romance folhetinesco. De outro lado, contrapõe-se a multidão: o povo miserável de Paris e de seus arrabaldes, ora animalizado na pobreza à qual os empurrou uma voraz aristocracia, ora plateia ensandecida do espetáculo dantesco de 'La Guillotine'. Acusado por vezes de abusar de certas cores melodramáticas, de jogos de acasos e coincidências quase impossíveis, Dickens não se exime aqui de tais 'delitos': ao contrário, ali estão eles, preciosos, conduzindo o leitor entre Paris e Londres, entre a felicidade e o patíbulo, evitando que se sinta vertigem ou repugnância enquanto se passeia na circularidade tenaz de seu enredo.


Primeira Parte: De Volta À Vida

Capítulo I - O Período
Capítulo II - A Mala Posta
Capítulo III - As Sombras da Noite
Capítulo IV - A Preparação
Capítulo V - A Taberna
Capítulo VI - O Sapateiro

Segunda Parte: O Fio Dourado

Capítulo VII - Cinco Anos Mais Tarde
Capítulo VIII - Uma Visão
Capítulo IX - Desapontamento
Capítulo X - Congratulações
Capítulo XI - O Chacal
Capítulo XII - Centenas de Pessoas
Capítulo XIII - O Marquês na Cidade
Capítulo XIV - O Marquês no Campo
Capítulo XV - A Cabeça de Medusa
Capítulo XVI - Duas Promessas
Capítulo XVII - Uma Decisão
Capítulo XVIII - Um Homem Sensível e Delicado
Capítulo XIX - Um Homem Insensível e Indelicado
Capítulo XX - Um Honrado Negociante
Capítulo XXI - O Tricô
Capítulo XXII - Madame Defarge Continua a Tricotar
Capítulo XXIII - Uma Noite
Capítulo XXIV - Nove Dias
Capítulo XXV - Uma Opinião
Capítulo XXVI - Uma Defesa
Capítulo XXVII - Passos Ecoando
Capítulo XXVIII - O Mar Ainda se Agita
Capítulo XXIX - Ergue-se o Fogo
Capítulo XXX - Atraído pelo Abismo

Terceira Parte: Os Caminhos da Tormenta

Capítulo XXXI - Em Segredo
Capítulo XXXII - A Pedra de Afiar
Capítulo XXXIII - A Sombra
Capítulo XXXIV - Calmaria em Meio à Tormenta
Capítulo XXXV - O Serrador
Capítulo XXXVI - Triunfo
Capítulo XXXVII - Uma Batida na Porta
Capítulo XXXVIII - Uma Partida de Cartas
Capítulo XXXIX - Feito o Jogo
Capítulo XL - A Substância da Sombra
Capítulo XLI - Anoitecer
Capítulo XLII - Trevas
Capítulo XLIII - Cinquenta e Duas Cabeças
Capítulo XLIV - Encerra-se o Tricô
Capítulo XLV - Os Últimos Ecos

Comentários

Postar um comentário

Nada de spoilers! :)

Postagens mais visitadas deste blog

Trono de Vidro

Os Instrumentos Mortais

Trono de Vidro